“A vida é como jazz. A maior parte é improviso; não se pode controlar todas as variáveis. Devemos viver com insolência e estilo, não importa o que aconteça.”
Do livro “As Coisas que Você só vê Quando Desacelera,” do monge budista Haemin Sunim.
Este livro traz várias reflexões, algumas inéditas para mim – coisas que eu nunca tinha parado para pensar sobre, talvez porque eu achasse que eu não tinha tempo para tal. Mas quando a gente começa a desacelerar, é como se estivéssemos há muito tempo à janela de um trem em alta velocidade, tendo um vislumbre das cidades pelas quais passamos, sem conhecer as pessoas que vivem nelas ou o interior das casas – e de repente, escolhemos parar em cada uma dessas pequenas cidades e visitar cada um de seus moradores (e todos eles são você).
Sim, a vida é aprender a tocar de improviso. Sendo que quem toca de improviso, apenas toca, sem ter tempo de aprender nada, e mesmo assim, adquire cada vez mais conhecimento musical sobre ritmos, melodias, estilos e canções diferentes. Mas sempre há aquela vez em que precisamos inventar uma nova canção, criar um novo instrumento, desenvolver uma nova maneira de compor a vida, assim “de ouvido,” e sem muito tempo. Nunca temos muito tempo. A vida é como jazz – uma música rápida e sincopada, às vezes um tanto chata e sem sentido, mas que de repente explode em melodias contagiantes e inesquecíveis. Aprendamos a entender a vida, esse improviso, mesmo sabendo que sairemos daqui sem compreender nem uma pequena parte dela, e talvez esta seja a maior compreensão que possamos ter a respeito da vida.
Devemos viver com insolência e estilo. Insolência a fim de sermos atrevidos o suficiente para fazermos exatamente aquilo que desejamos fazer de nossas vidas, enfrentando as chantagens emocionais daqueles que anseiam que sejamos como eles querem, que nos adaptemos àquilo que eles mesmos entendem quanto ao que é certo e o que é errado. Precisamos ter um olhar calmo e solene sobre tais pessoas, e dizer branda e definitivamente: “NÃO!”
Precisamos criar nosso próprio estilo, sem tentar copiar estilos alheios, embora devamos aprender sobre eles, pois os caminhos das outras pessoas podem nos trazer vislumbres importantes sobre como encontrarmos o nosso.
“Viver com insolência e estilo. Não importa o que aconteça.” E não pense que nada acontecerá; não fique aí pensando que as pessoas vão compreender quando você resolver sair da caixinha do sistema que elas criaram. Sair da caixinha e não entrar mais em caixinha nenhuma – este é o desafio, pois a maioria das pessoas anda em busca de ideologias que não passam de caixinhas que as caibam, e elas nada mais são que diferentes rebanhos por onde o gado segue, aparentemente rebelde porém submisso, para o matadouro dos sonhos individuais, sem fazer muitas perguntas, apenas obedecendo o mestre. E ainda acreditam que estão sendo originais. Acreditam que estão criando um novo mundo, quando estão apenas servindo de pavimento aos ideais de dominação alheios.
Viver com insolência e estilo pode significar ficar sozinho, não ser compreendido, não ser aceito, ser criticado, chamado de esquisito, mas de repente, no meio disso tudo, descobrir-se inteiramente feliz e tranquilo, com a certeza de que não necessita de aprovação, de companhias que lhe cobrem atitudes, de críticas, e nem sequer, de elogios. O topo da montanha, a caverna mais escura, a ilha distante no meio do oceano: faça a sua escolha. É exatamente em lugares assim que você passará grande parte da sua vida, se ousar viver com insolência e estilo. E se tentar voltar ao velho mundo conhecido, sentirá que já não há um lugar para você por lá, e se surpreenderá ao descobrir que não deseja, na verdade, esse lugar.
Será que você consegue sentir-se bem estando em sua própria companhia a maior parte do tempo? Será que você consegue mergulhar em seu próprio mundo, encontrar sua alma, encará-la nos olhos? Será que você tem capacidade para escutar seus próprios medos, admitir suas mentiras e ficar entre seus fantasmas sem enlouquecer ou fugir?
A insolência necessária à vida não se refere aos outros, mas a nós mesmos. O estilo que buscamos deve ser o nosso próprio, e não uma moda passageira criada por outros. A canção precisa ser a nossa própria canção, o nosso próprio jazz, tocado de improviso, usando os instrumentos que temos disponíveis e que devemos manter cuidadosamente afinados.
E o mais importante: não importa se haverá ou não uma plateia para nos vaiar ou aplaudir.