Primeiro, você só se cala,
Guarda o medo na garganta;
E então você se dobra,
Tentando caber no espaço
Que lhe foi determinado.
Ignora a dor nas costas,
A vontade de correr,
E aquele “não” que te chega,
Você cisma em não dizer
Por medo de não ser aceito,
Por medo de não pertencer!
Depois, você não escuta,
Ou finge não entender
As indiretas agudas
Que te lançam por prazer.
E cala mais fundo a palavra,
Lavra a alma, mas não colhe
O suposto amor plantado,
Pois aquele que semeou
Usou sementes já secas,
Quebrou os dentes do arado.
Então, você já nem chora,
Pois já está acostumado
A comer só as migalhas
Daquilo que for partilhado.
Fecha os olhos e os ouvidos,
Cala a dor e aprende a ser
Dissimulado, fingido,
Acreditando que assim
É fácil sobreviver.
Mas quem sabe, um dia, acorda,
Sacode o pó da mentira,
Se estica, se desentorta,
Suportando a dor nos ossos
Que há muito tempo, são tortos?...
Respira um ar renovado,
Abra os olhos, solta o verbo!
Desfaz os nós do passado
E chega à beira do abismo,
Ensaiando um voo tímido
Sem temer ser machucado,
Pois saiba que a dor da queda
Iminente, é bem menor
Que a de ter “se adaptado!”