witch lady

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domingo, 27 de julho de 2014

Canarinhos no Jardim

Pousados no meio da rua, eles comem a canjiquinha. Pombas-rolas, canários, goderos, sabiás...





Canjiquinha: é disto que eles gostam!

Sempre fiquei mordida de inveja ao passear pelas ruas do bairro e ver os canarinhos pousados nos gramados vizinhos. O que eles faziam para atraí-los?

As bananas e outras frutas que eu coloco para trazer as saíras, sanhaços, sabiás e bem-te-vis não fizeram qualquer efeito sobre eles. De repente, reparei que no chão, entre os paralelepípedos, um de meus vizinhos colocara algo amarelo, que ficava cheio de passarinhos de todas as cores. Cheguei mais perto para ver melhor: era canjiquinha!

Foi espalhar canjiquinha pelo gramado, e pronto: eles vieram! São tantos, que parecem pontinhos amarelos de luz sobre o verde. Pena que ainda não consegui fotografá-los - eles são tímidos e espantados, e fogem a qualquer tentativa de aproximação, e minha câmera não tem um zoom muito bom; esta foto foi tirada na rua, de dentro do carro.




Trazer passarinhos para a casa é uma coisa mágica, que faço desde que mudei-me para cá. Mas gosto deles livres, voando soltos, pousando nas árvores, no muro, no gramado, e depois, voando para longe, manchas coloridas no céu... e eu voo com eles.

Que me perdoem os que prendem pássaros em gaiolas e cortam asas de periquitos, maritacas e cacatuas, mas eu sou absolutamente contra estas práticas. Penso que, se tivéssemos asas, não gostaríamos que alguém as cortasse ou nos colocasse entre barras de ferro. Entretanto, é isto o que as pessoas fazem às pobres aves.

Pássaros não cometeram crimes. Tem asas para voar, e merecem ser livres.



Gotejou














A Flor Branca




Parecia ser a alma
De alguma princesa
Há muito morta.

Derramava-se toda
Sobre a verde folhagem
Junto à porta.

Seu meigo perfume
Era algo entre o velório
E as rosas.

Uma flor branca,
nasceu sem ser plantada,
Sem ser querida...

Mais uma discrepância,
Doce ironia
Da vida.




quinta-feira, 24 de julho de 2014

Os Bulbos da Callas

Callas


Há alguns meses, ganhei de meu marido dois vasos com esta flor africana, chamada Callas. Parece um Copo de Leite negro, embora sua cor seja, na verdade, a mesma que encontramos nas cascas das berinjelas. Tem ares misteriosos, folhas brilhantes e nenhum perfume - mas uma beleza mágica!

Ela permaneceu florida durante muito tempo, mas aos poucos, as folhas foram murchando e caindo, juntamente com as flores. Restaram apenas os vasos com terra e adubo.

Ontem, quando procurava um vaso para plantar um molho de rúcula que veio com a raiz, deparei com os vasos de terra, ricos em adubo, e pensei em utilizá-los. Enquanto revolvia a terra, senti na ponta da pazinha algo duro. Eram os bulbos da Callas, cheios de brotos! Replantei-os em um canto do jardim, e espero que renasçam.

Assim é a vida. Nunca sabemos o que está por dentro da terra...



quarta-feira, 23 de julho de 2014

Não Sei




Não sei se é a carta marcada,
Ou se é uma dor chorada,
Teu semblante tão sem cor
(Ou face escura do Nada?...)

Se foi a poeira da estrada,
Ou fruto do desamor,
Não sei se é pacto feito
(Ou será puro despeito?...)

Não sei se a vida é bandida,
Ou se é praga rogada
A linha escrita da trilha;
Eu já não sei de mais nada!

Mas sei do sol que ilumina
Tua estrada amargurada
A qual, tu pensas, é sina,
Mas é bênção disfarçada!

Não sei se há uma saída,
Talvez haja uma chegada
Não te dou uma resposta;
-A palavra é sempre vasta...





Crianças Quebradas




Aqui, uns ouvidos,
Ali, um sorriso,
Acolá, um abraço
-Mas sem braços.

Um grito calado
Do lado de lá,
No chão, espalhados
Sonhos em pedaços...

Futuro? Passado!...
Olhares quebrados
Perdidos no caos
De um mundo tão louco..

Crianças aos cacos,
Destinos selados
Nas dobras rasgadas
De um breve presente
Que já foi tão pouco...



Como se Libertar das Relações Tóxicas






Trechos de "Como se Libertar das Relações Tóxicas"  Edição Kindle- por Lucy Beresford


"Aceitar não significa aprovar ou gostar. Tem a ver com reconhecer que alguém pode nunca se modificar. Permita-se decidir quanta interação você deseja ter com essa pessoa que não pode ou não deseja mudar. Lembre-se de que tem o direito de se afastar caso essa pessoa crie um ambiente ruim ou aja de forma a magoar você e as pessoas a quem você ama."






De Leonard Cohen: "Há uma rachadura em todas as coisas. É assim que  a luz entra."

"Como psicoterapeuta, tenho consciência de que uma pista sobre o empobrecimento da saúde de uma pessoa é a falta de cuidado que ela demonstra ter consigo mesma."






terça-feira, 22 de julho de 2014

Incerteza




Na boca, um riso guardado
Voando sobre as planícies,
Pairando azul sobre os prados.

No coração, o silêncio
Descansando no perfume
Macio dos musgos e cravos.

No olhar, tantas paisagens
Guardadas no coração
Durante a sua viagem...

E na alma, a incerteza
Bordando o pano da vida
De magia e de beleza.



segunda-feira, 21 de julho de 2014

Música



A tarde penetra pela porta aberta da casa, trazendo consigo alguns raios mornos do sol de inverno. Ligo meu aparelho de CD e escolho: "Solaris." Música maravilhosa ecoando pela casa, subindo as escadas, chegando aos quartos, saindo pela janela e indo fazer fundo ao canto dos passarinhos nos galhos do cedro... 

Nada como boa música para encher a casa de boas energias!

Gosto de música desde que me recordo de mim mesma. Quando eu era pequena, minhas irmãs ouviam as músicas daqueles tempos, os anos sessenta: Roberto e Erasmo, Wanderléa, Os Mutantes, Paulo Sérgio, The Beatles, Jerry Adriani. Eu não gostava de todos eles, mas de tanto escutar, acabei aprendendo a cantar várias músicas, e se as ouço hoje, lembro-me daqueles tempos em que minhas irmãs mais velhas usavam sutiãs com enchimento de espuma e sapatilhas de bico fino. Lembro-me da velha rádio-vitrola automática, na qual minhas irmãs colocavam vários discos de vinil ao mesmo tempo, e eles iam caindo e tocando um a um. 

Havia um disco totalmente empenado, pois elas o levaram para a praia com elas: um disco dos Fevers. Estava tão empenado, que só tocava as últimas músicas. 

A música tem esse poder de evocar memórias, despertar sensações, acalmar, agitar, comover e até irritar. É preciso ter cuidado com o tipo de música que tocamos na casa, conforme a ocasião. 

Quando estou faxinando, gosto de ouvir um rock mais agitado, pois ele me ajuda a ter energias para fazer uma boa limpeza. Quando termino, coloco uma música suave - Enya, New Age ou outra neste estilo - e deixo que as camadas de energia se assentem devagarinho.

Mas nada melhor do que as músicas da coleção Solaris para um final de tarde ensolarado... e há sempre aqueles momentos nos quais a melhor música, é o silêncio!



Rubem Alves - Sobre a Morte e o Morrer







Sobre a morte e o morrer

Rubem Alves


O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de
um ser humano? O que e quem a define?



Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...

Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?". Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore, que eu vou te abraçar..." Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.

Cecília Meireles sentia algo parecido: "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto...” 

Da. Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. Na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante. "Minha filha, sei que minha hora está chegando... Mas, que pena! A vida é tão boa...” 

Mas tenho muito medo do morrer. O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, porque já não sou mais dono de mim mesmo; solidão, ninguém tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte, medo de que a passagem seja demorada. Bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza.

Mas a medicina não entende. Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho. As dores eram terríveis. Era-lhe insuportável a visão do sofrimento do pai. Dirigiu-se, então, ao médico: "O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos, para que meu pai não sofra?". O médico olhou-o com olhar severo e disse: "O senhor está sugerindo que eu pratique a eutanásia?".

Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum. Seu velho pai morreu sofrendo uma dor inútil. Qual foi o ganho humano? Que eu saiba, apenas a consciência apaziguada do médico, que dormiu em paz por haver feito aquilo que o costume mandava; costume a que freqüentemente se dá o nome de ética.

Um outro velhinho querido, 92 anos, cego, surdo, todos os esfíncteres sem controle, numa cama -de repente um acontecimento feliz! O coração parou. Ah, com certeza fora o seu anjo da guarda, que assim punha um fim à sua miséria! Mas o médico, movido pelos automatismos costumeiros, apressou-se a cumprir seu dever: debruçou-se sobre o velhinho e o fez respirar de novo. Sofreu inutilmente por mais dois dias antes de tocar de novo o acorde final.

Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue. Eu também, da minha forma, luto pela vida. A literatura tem o poder de ressuscitar os mortos. Aprendi com Albert Schweitzer que a "reverência pela vida" é o supremo princípio ético do amor. Mas o que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os ziguezagues nos vídeos dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais?

Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais. A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia.

Muitos dos chamados "recursos heróicos" para manter vivo um paciente são, do meu ponto de vista, uma violência ao princípio da "reverência pela vida". Porque, se os médicos dessem ouvidos ao pedido que a vida está fazendo, eles a ouviriam dizer: "Liberta-me".

Comovi-me com o drama do jovem francês Vincent Humbert, de 22 anos, há três anos cego, surdo, mudo, tetraplégico, vítima de um acidente automobilístico. Comunicava-se por meio do único dedo que podia movimentar. E foi assim que escreveu um livro em que dizia: "Morri em 24 de setembro de 2000. Desde aquele dia, eu não vivo. Fazem-me viver. Para quem, para que, eu não sei...". Implorava que lhe dessem o direito de morrer. Como as autoridades, movidas pelo costume e pelas leis, se recusassem, sua mãe realizou seu desejo. A morte o libertou do sofrimento.

Dizem as escrituras sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a "morienterapia", o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a "Pietà" de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo.


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sexta-feira, 18 de julho de 2014

Eu e Minha Melhor Amiga






Era tão bom, quando caminhávamos juntas no comecinho da noite, a lua e o céu estrelado como testemunhas. Ela me olhava, como quem agradece a companhia, e embora em silêncio, tanta coisa era dita! 

Quando pequena, precisei encontrar uma maneira de domar seu caráter voluntarioso e conseguir chegar até ela, para que ela me aceitasse. Foram tempos muito conturbados! Cheguei a dizer que não gostava dela, e que não desejava a sua presença em minha vida. Mas ela me ensinou que o amor verdadeiro e a paciência sincera podem transformar-se em uma ponte entre dois corações, e logo, ficamos inseparáveis; daquele tipo de amigas que se compreendem sem nada dizer.

Excelente ouvinte, ela prestava atenção... sabia esperar quando eu precisava me ausentar, e não importava quanto tempo eu ficasse fora: era sempre recebida com sorrisos e carinhos, comemorações e alegria pela minha volta.

Minha amiga não falava muito com a boca, mas dizia tudo através de um simples olhar.  Eu a amava, e ela me amava!

Tão bom, quando nos deitávamos no tapete da sala ouvindo música baixinho nas tardes de sexta-feira! Impossível sentir solidão, mesmo na casa silenciosa, enquanto no corredor, o relógio marcava a presença do tempo que nos afastaria... e eu já sabia. Nós adormecíamos assim, deitadas ao lado uma da outra, e quando eu despertava, dava com aquele par de olhos me olhando, me olhando... às vezes eu ficava intrigada com a maneira como ela me olhava com tanta insistência, como se visse em mim alguma espécie de líder a quem devesse seguir. Ela mal sabia que  era ela quem sempre ditava as regras da nossa amizade!

Lembro-me da última vez que acordei com aquele par de olhos amorosos sobre mim: eu estava deitada na rede da varanda, dormindo ao sol, após uma noite em claro na qual eu e ela lutamos para que ela permanecesse viva. Eu escutava os ruídos da vida bem ao longe, exatamente como alguém semi adormecido; de repente, eu despertei num sobressalto, e foi aí que deparei com aqueles olhos de jabuticaba em mim pela última vez. Quando a vi, sentada na grama ali perto, sentei-me na rede e chamei-a para o meu lado. Ela veio, e estava feliz. Quem não soubesse de sua história, diria que ela estava perfeitamente saudável e tranquila. 

Ela veio ficar ao meu lado, e enquanto eu a acariciava, ela adormeceu... para despertar aflita logo depois, tentando respirar. Ergueu-se, caminhando com certa dificuldade, e tentou comer alguma coisa; mas quando filetes de sangue desceram de suas narinas, ela desistiu, e não voltou a tentar novamente. Naquele instante, eu sabia que eu a estava perdendo. 

E depois, foi a corrida angustiante contra o tempo, e a busca por uma resposta diferente que nos trouxesse um pouco de esperança. Ela olhava pela janela aberta do carro, e todo movimento lá fora chamava a sua atenção. Parecia estar despedindo-se das coisas. Olhava, olhava, olhava tudo, virando a cabeça para acompanhar o que passava diante dos seus olhos atentos pela janela do carro. Eu tentava tranquilizá-la, pois sabia que estava com muitas dificuldades para respirar. Não conseguia deitar-se no banco, pois isto significava o aumento de suas dificuldades respiratórias. E eu me perguntava o que faríamos para que ela (e nós) pudéssemos novamente voltarmos a ter uma noite de sono.

As palavras de esperança que buscávamos não chegaram. Antes, ouvimos outras palavras, que selavam o destino dela, e o final de uma amizade que durou mais de dez anos. Foi declarado que não havia mais jeito, e que dali para frente, as coisas haviam de piorar muito, e que o que aconteceria com ela seria doloroso tanto para ela quanto para nós. Ouvir aquelas palavras tirou-nos do eixo. Eu olhava para ela, que estava entretida com o movimento que passava pela porta de vidro, sem saber que estávamos decidindo seu destino. Quase não era possível escultar seus pulmões. Intoxicada pelos remédios, minha amiga estava muito inchada e dolorida.

Achei que tinha chorado todas as lágrimas que restavam enquanto me abraçava a ela, que evitava me olhar. Ela não olhou mais para mim, nem mesmo quando chamei seu nome; mantinha seus olhos fixados na porta de vidro. 

Um mês se foi e ainda choro a falta dessa minha amiga. Acho que de vez em quando, ainda chorarei. Como hoje à tarde, quando adormeci na rede da varanda e despertei sem aqueles olhos cálidos me olhando.

 A despedida é um longo processo, e acho que jamais nos despedimos completamente.


Nossas brincadeiras, quando ela se deitava de barriga para cima... não parece um jacaré?





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