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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

AS CARTAS DE JOHN LENNON






Recebi de presente de meus alunos Priscila e Rafael - irmãos - um livro que mal posso esperar para começar a ler e depois, resenhar: As Cartas de John Lennon, de Hunter Davies.

Sabendo da minha Beatlemania, os dois não poderiam ter agradado mais!

Obrigada, Priscila e Rafael. Pessoas como vocês fazem com que a gente se sinta querida e valorizada. Obrigada também pela dedicatória. Se vocês tivessem simplesmente escrito estas palavras em um cartão, sem presente, agradariam tanto quanto me agradaram escrevendo-as no livro.



UMA REDE NA VARANDA





Uma Rede na Varanda


Para ler na rede, tem que ser leve. Tem que combinar com natureza, silêncio, pensamentos como plumas de pássaros. Para ler na rede, tem que ter um balanço suave entre sonho e realidade. 

Assim é o novo livro de Lu Narbot, "Uma Rede na Varanda," que li prazerosamente deitada... em minha rede, na varanda!

As crônicas de Lu são tão bem escritas, que a gente se sente caminhando ao lado dela, enquanto ela nos mostra o seu mundo, o mundo que ela enxerga através de seu olhar às vezes terno e doce, às vezes crítico, às vezes saudosista. narrativas que encantam e fazem relfetir. Crônicas para ler com cuidado, devagar, parando às vezes para olhar as copas das árvores, ou as pessoas passando lá em baixo na calçada (se você morar em um prédio).

Minhas três favoritas:

"O Cão" (não poderia deixar de escolher esta) que narra as aventuras de Zé, um cão de rua adotado pelos moradores.

"Just Walking in the Rain," pois fez com que eu lembrasse muito de mim mesma.

"Voz Discordante", pois é vai direto ao assunto: não acredite em tudo o que lhe dizem, pois nem sempre, quem avisa amigo é.

Enfim: gostei de todas. Mas estas são as minhas favoritas.

Li, recomendo, e agradeço a Lu por estes momentos agradáveis que passei esta manhã, lendo seu livro em minha rede.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Redenção - Resenha





Redenção - baseado em fatos reais



Baseado na autobiografia de Sam Childers, "Another Man's War."
Com: Gerard Butler, Michelle Monaghan e grande elenco.
Gênero: Ação / drama / policial
Ano: 2011
Direção: Marc Forster
Nacionalidade: Estados Unidos da América


Redenção é a história de Sam Chindlers, um ex-drogado e bandido que virou pastor e abraçou a causa de salvar crianças abandonadas na guerra civil Africana. Convivendo com as dificuldades enfrentadas pelas crianças, cujos pais são mortos por guerrilheiros, e que passam a ser abusadas sexualmente, torturadas e mortas pelos terroristas caso não concordem em entrar para o seu bando, o pastor Sam Childers decide ajudá-las; abrindo mão de suas próprias economias e arrecadando dinheiro com muito esforço, ele consegue construir um orfanato para ajudar as crianças, colocando em risco a sua própria vida quando decide atuar no combate aos terroristas.

Entretanto, a relação com sua família, que continua vivendo nos Estados Unidos enquanto ele muda-se para a o Sudão, acaba sendo deixada para segundo plano, o que causa-lhe muitos conflitos e dúvidas. 

De repente, a sua causa mostra-se mais difícil do que ele pensaria que poderia ser, pois Childers percebe que ela não é encarada com a mesma urgência pelos membros da sua igreja e banqueiros nos Estados Unidos, que mostram-se reticentes em contribuir com o dinheiro que ele necessita. Este fato o torna amargo e ainda mais violento.

Ele precisará recobrar as origens de seu idealismo e a doçura que o moveu até a África, voltando às origens dos sentimentos que o levaram a abraçar uma causa tão difícil. E ele o consegue, através da ajuda de um menino africano.

Para mim, o filme não é apenas mais uma história que mostra cenas violentas. Ele fala de uma causa que ninguém deseja defender, preferindo negar a existência de tais acontecimentos. Melhor continuar dentro de sua igreja, arrecadando fundos através de jantares dançantes e almoços comunitários, empregando o dinheiro nos arredores do próprio quintal, a arriscar a vida defendendo crianças pobres, negras abandonadas e sem esperanças, esquecidas pelo mundo, que vegetam tristemente no coração da África.

É preciso ter uma coragem e um desprendimento que a maioria de nós jamais terá. Pessoas como este pastor vem ao mundo em missão. Pertencem a uma estirpe superior a da raça humana. E é muito difícil para elas compreenderem que a sua causa não tem a menor importância para a maioria das pessoas que deveriam estar verdadeiramente preocupadas com ela. É preciso livrar o coração da amargura que fica após esta constatação. Um ótimo filme.





segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A Arte da Guerra - Resenha


Palácio Rio Negro, Petrópolis






A Arte da Guerra - por Sun Tzu

Tradução de Frater Sinésio
Organização de Rafael Arrais

Edição Kindle, 
Ano 2013

"Se não quiser lutar, pode impedir o inimigo de atacar, mesmo que as linhas do acampamento estejam apenas marcadas no chão.
Basta atirar algo fora do normal e inexplicável em seu caminho." - Sun Tzu


A arte da Guerra é um livro muito antigo. Segundo o site Wikipedia, "A Arte da Guerra é um tratado militar escrito no século VI antes de Cristo. O tratado é composto por treze capítulos, cada qual abordando um aspecto da estratégia de guerra, de modo a compor um panorama de todos os eventos e estratégias que devem ser abordados em um combate racional. Acredita-se que o livro tenha sido usado por diversos estrategistas militares através da história como Napoleão, Zhuge Liang, Cao Cao, Takeda Shingen e Amo Tse Tung."

Despertou-me a curiosidade enquanto eu navegava pelo site virtual da amazon.com.br justamente pelo título, que tem tudo a ver com os acontecimentos que o mundo vem enfrentando ultimamente - já que estamos todos correndo o risco iminente de entrarmos em uma nova guerra, quem sabe, de proporção mundial. 

O livro traz aforismos muito interessantes; e sua maior contradição, é que ele não incentiva a guerra, nem exalta a batalha. Pelo contrário, prega que a guerra deve ser evitada sempre, mas se como último recurso ela dever ser travada, que o seja com arte e respeito pelo inimigo.

Alguns pensamentos interessantes retirados do livro: 

"Todos podem ver as sua táticas no campo de batalha, mas não podem saber qual a estratégia que lhe trouxe a vitória."

"Não podemos formar alianças sem conhecer as intenções dos nossos inimigos."

"Ó, a divina arte da sutileza e do sigilo! Através dela aprendemos a nos movimentar invisíveis e inaudíveis. Através dela marchamos sem deixar rastro, como misteriosos espíritos da floresta. Através dela, temos o destino do inimigo em nossas mãos."

"Servir-se da harmonia para desvanecer a oposição, não atacar um exército inocente, não fazer prisioneiros ou tomar saques por onde passa o exército, não cortar as árvores nem contaminar os poços, limpar e purificar os templos das cidades e montanhas do caminho que atravessa, não repetir os mesmos erros de uma civilização decadente, a tudo isto chamamos de Tao e suas leis."

"A grande sabedoria não é algo óbvio, o grande mérito não se anuncia. Quando você é capaz de ver o sutil, é fácil ganhar; quem tem isto que ver com a inteligência ou a bravura? Quando se resolvem os problemas antes que eles surjam, quem chama a isso de inteligência? Quando há vitória sem batalha, quem fala em bravura?"

A Arte da guerra tem muitos conselhos que podem ser postos em prática até mesmo em tempos de paz - e um deles, que sempre sigo à risca, é o de não proclamar meus planos e objetivos antes de concretizá-los. Esta é uma estratégia que pode desviar de nós a inveja e a negatividade.

Este livro é usado não apenas por estrategistas de guerra, mas também por empresários e pessoas comuns.

Um livro útil, de leitura bastante agradável a todos que gostam de ter uma vida pacífica - mas que não se acovardam diante das batalhas impostas pelas circunstâncias do viver.


domingo, 9 de junho de 2013

Orfandade - O Destino das Ausências - Pe. Fábio de Melo



Orfandades – O Destino das Ausências – Pe. Fábio de Melo

Editora Planeta – 2012 – 158 páginas



Quem espera que este livro lhe traga algum tipo de conforto espiritual após uma grande perda, não deve lê-lo; da mesma forma, quem pensa encontrar aqui soluções espirituais e respostas para as coisas da vida e da morte, acabará se decepcionando. Este livro foi escrito por Fábio de Melo – o homem, não o padre.

Mas quem deseja uma leitura verdadeira e cheia de poesia, que traz a dor e suas facetas cruas e sem máscaras; quem tem a coragem de assumir que a espiritualidade e a religião não trazem todas as respostas às nossas dores e mazelas, e que não nos protegem contra aquilo que estamos acostumados a chamar de ‘mal,’ encontrará neste livro uma leitura que, embora seja difícil (ninguém gosta de caminhar pela Estrada da Dor), será envolvente, surpreendente e inesquecivelmente bela.

Padre Fábio de Melo ausenta-se por algum tempo, é dá lugar ao homem Fábio de Melo, que nos escreve dezenove contos que falam da perda, do medo, da dor e da morte. Um livro para leitores corajosos. Os contos de “Orfandade” arrancarão lágrimas e despertarão lembranças. Além de oferecer beleza e poesia, ao ler este livro nos lembraremos do quanto somos todos tão parecidos na hora da dor e da perda, e o quanto estamos todos igualmente vulneráveis a elas. 

O livro nos fala das ausências e dos desejos reprimidos que muitos já sentimos, desejos de deixar tudo para trás e atravessar até o outro lado do rio, levando na bagagem apenas a cara e a coragem (“O Outro lado” e “O Mapa”). Talvez ele consiga expressar toda a dor de nos sentirmos órfãos (“Mãe Morta” e “Pai de Poeira”) ou o nosso medo de assumirmos a nossa própria vida e nos responsabilizarmos por nossas próprias escolhas ( “A mulher Acabada” e “A Escolhida”). Enfim; para cada um de nós haverá um personagem que nos custará assumir, mas que nos fará mais humanos e, ao mesmo tempo, transcendentes.


Trecho de “O Mapa”

“Queria o dom de esquecer. Que confortante, viver a oportunidade de olhar para o muro e nele não encontrar rosto familiar. Andar pelos cômodos da casa e deixar de ouvir as vozes dos que partiram, mergulhada numa estranheza, como se tudo fosse visto pela primeira vez. Todas as coisas reduzidas a serem o que são. A pedra é pedra. Nada mais. Nenhuma abertura de sentido para a materialidade.”

Trecho de “Mãe Morta”

“Já posso morrer. A pedra posta me segura. “Aqui jaz Antonieta Bonaparte do Couto. Viveu, sonhou e amou.” O argentado das palavras reluz tristeza. Contradição. A frase triste está prenhe de esperanças que ainda não sei reconhecer. Minha mãe está morta. Repito. Digo a palavra mais dura, o recado mais tristonho. Mas no avesso da aterradora notícia há um travesseiro de conforto. Minha orfandade é alforria. O amargo da verdade se mistura ao doce de um futuro que posso ter. Sua partida me outorga direitos. Já posso morrer também. Não tenho mais a obrigação da vida. Posso aventurar-me sem medos, dar-me aos descuidos, avançar limites, ultrapassar fronteiras. Posso partir, posso morrer, desistir, ser infeliz.

Morrer requer ter nascido. Quarenta e dois anos e só agora o meu nascer terminou. O cordão que me atava ao outro corpo foi decepado. O ventre está lacrado. Nele não há respiro. Estou livre.”

Trecho de “A Consagrada”

“O amor me coloniza. Faz comigo o mesmo que Portugal fez com minha pátria. Arranca o ouro, devasta as reservas e me outorga misérias que frutificarão no futuro. Eu as descubro aos poucos como se a névoa da realidade me preservasse do susto de vê-las num mesmo movimento de olhos. Alguém deve ter rezado nessa intenção. Deus age como pode. Também Ele, ainda que goze de soberania e poder, vê-se impossibilitado de realizar proezas. Eu o limito, algemo suas mãos quando não sou capaz de encher as talhas para que o milagre aconteça. O vinho é resultado dele, dádiva de sua gratuidade, mas a água é atributo humano, é a parte que me cabe.

Amar é perder a pertença; ser invadida por outro, ver rasgada a cortina que me preservou por tantos anos indivisa, proprietária da decisão de descer escadas, cruzar a rua, realizar o simples da vida, o ordinário, o natural de ser livre. É desastroso amar assim.”



sexta-feira, 9 de novembro de 2012

CINQUENTA TONS DE CINZA - resenha






Cinquenta Tons de Cinza - por E.L James, tradução de Adalgisa Campos da Silva
455 páginas , editora Intrínseca
Ano: 2011

O que torna um livro um best-seller?

 Deveria ser a mensagem que ele contém, a beleza, quem sabe, a verdade - mesmo que nua, dura e crua. Senão a verdade, talvez a fantasia que enleva o espírito, ou a trama que prende e amedronta, enfim, o que torna um livro um best-seller, deveria ser algo mais além da mídia.

Mas vivemos em uma época na qual o escândalo e o consumo rápido são o que encanta. Não importa o que um livro contenha, desde que ele seja anunciado por todos os meios de comunicação, apareça nos programas de TV e nas resenhas de jornais. Que ele esteja exposto nas vitrines das livrarias importantes, e que se faça dele tanta propaganda, que lê-lo torne-se uma obrigação. E diz a amiga: "Ainda não leu?! Em que planeta você vive?"

Tive a infelicidade de receber de presente o livro "Cinquenta Tons de Cinza." A pessoa que, com todo o carinho e boa vontade me presenteou, avisou que tratava-se de um livro talvez um pouco pesado (embora ela mesma não o tivesse lido; comprou-o por tratar-se de um best-seller). Pensei em outros livros um tanto pesados que eu lera e gostara imensamente, como os de Rubem Braga, Dalton Trumbo (Uma Arma Para Johnny), Nelson Rodrigues, enfim, livros que contém violência e erotismo existindo dentro de um contexto lógico e interessante.

Cinquenta Tons de Cinza conta a história da jovem estudante de literatura Anastasia, que conhece o jovem bilionário Christian Grey, atraente e misterioso, e os dois iniciam um relacionamento. Até aí, nada de novo, a não ser pelo fato de que Grey promete casar-se com ela apenas se ela concordar em assinar um bizarro contrato, entregando-se totalmente às suas vontades sádicas. Bem, isto é o resumo do que está resumido na contra-capa. E não é preciso ler mais nada, pois o resto do enredo, pelo que percebi das páginas que li,  é apenas trocas de mensagens entre os dois, cenas de sadomasoquismo onde Anastasia, submissa,  obedece às perversidades de seu algoz dizendo coisas como 'Sim senhor' (total degradação da mulher) enfim,  pornografia barata  de péssima qualidade.

Se você gosta de pornografia, não precisa gastar $35,00 para comprar este livro; por menos que a metade, você poderá adquirir alguma coisa semelhante (sem as tentativas bizarras de aspirar tornar-se literatura, ou seja, 'cutting the crap') em qualquer sebo ou banca de jornal. E sem sentir-se enganado.






quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O FIM - TAGORE





O FIM


Já vou, mãe. É chegada a minha hora... Quando, na escuridão da madrugada solitária, estenderes teus braços buscando o teu menino, em tua cama, eu te direi: "Teu menino já não está..." Mãe, eu já vou.

Me converterei no ar delicado para acariciar-te; serei as ondas da água, em que te irás banhar, e te beijarei sem descanso. Nas noites de tempestade, quando a chuva sobre as telhas rumorejar, ouvirás meu sussurro, e meu riso voltará a brilhar com o relâmpago por tua janela aberta.

Se pensando em teu filho o sono te deixar, eu, das estrelas, cantarei: "Dorme, mãe. Dorme." Virei num raio de lua e me espalharei em tua cama e me acolherei em teu peito enquanto dormes. Me farei sonho, e me acolherei no mais fundo de teu descanso, e quando despertares sobressaltada e mirares ao redor, sairei voando como mariposa na escuridão.

Na grande festa de Puja, quando vierem brincar em tua casa as crianças vizinhas, fluirei eu diluído na música de uma flauta, e latirei com o cão todo dia em teu coração. Alguém virá da feira com presentes e perguntará: "E teu menino, irmã, onde está?" Mãe, e tu dirás: "Está na menina de meus olhos, está em meu corpo, está em minha alma."


* * * *

Para meu sobrinho Ricardo - não te esqueci. Parabéns pelos 26 anos de idade que você teria completado ontem.





quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A Grande Transição da Terra - Resenha





Hoje em dia, qualquer um que erga a cabeça acima do próprio mundinho e veja, com olhos críticos, o caminho que estamos seguindo - tirando óbvias conclusões sobre aonde ele vai dar - é chamado de fanático, pessimista e até mesmo, louco.

Muito se ouve sobre o fim do mundo. Há pessoas que exageram nas cores, com o mero intuito de causar pânico e sensacionalismo, mas há também aquelas que, baseadas em uma visão crítica, trabalho de pesquisa e até mesmo, uma previsão de futuro que tem suas raízes na lógica, e não no misticismo exacerbado, podem chegar a tristes quadros sobre a nossa jornada aqui neste planeta que tanto maltratamos.

O mais incrível de tudo isto, é que somos a todo momento expostos às notícias, que nos mostram catástrofes ecológicas, crises financeiras, guerras e violência ocorrendo logo ali, na calçada de nossa casa, e após nos indignarmos por alguns breves instantes, logo saímos para o trabalho e esquecemos o fato. Nós não nos lembramos de tirar alguns minutos de folga para recostar a cabeça no coração do planeta, e ver que ele está batendo mais fracamente...

Uma destas pessoas que tem visão crítica (que passa bem longe do fanatismo e do sensacionalismo) e que tenta alertar-nos sobre o que está por vir, é Denis Moreira, em sua obra "A Grande Transição da terra," livro lançado em abril deste ano, e portanto, contendo as mais atualizadas pesquisas científicas, sócio-culturais e religiosas. Com muita sabedoria e bom senso, Denis Moreira fala-nos não do fim do mundo, mas do fim dos mundinhos. O fim dessa mania pervertida que temos de enxergarmos apenas os próprios umbigos e de nos preocuparmos apenas com o que vem ao encontro de nossos interesses pessoais e bem-estar momentâneos, sem darmos a mínima para as outras criaturas e para o planeta em que vivemos - como se pudéssemos viver sem ele!

Citando autoridades mundiais em meio-ambiente, como o cientista James Lovelock e o ambientalista Tim Flannery, Denis Moreira nos conduz a repensar nossas atitudes, alertando-nos de que a Grande Transição não está para começar a qualquer momento, mas que já estamos passando por ela, e que o doloroso desfecho, que está mais próximo do que se pensa, e que será visto ainda em nosso tempo de vida, já é irreversível. A alternativa? Preparar-nos para ele.

Quando acontece uma infecção bacteriana, para livramo-nos dela, é preciso que tomemos fortes medicamentos para matar as bactérias e re-estabelecer o equilíbrio do organismo. E foi exatamente nisto que nos transformamos: perigosas bactérias planetárias, de poder altamente destrutivo. O que virá daqui por diante, será apenas uma cura para o planeta.

Não haverá um fim do mundo, e sim, o fim dos mundinhos e o extermínio de grande parte da população da terra. O que, em minha humilde opinião, será uma graça para o planeta.

Com toda certeza, daqui a pouco, todos os que riem de homens como Denis Moreira, Tim Flannery, Stephen Hawking e James Lovelock (que foi ridicularizado pelos seus colegas nos anos sessenta) estarão chorando lágrimas amargas! 

Agora podem voltar aos seus mundinhos.






segunda-feira, 23 de julho de 2012

Aos Olhos do Observador-Conto




Dois amigos passeavam pelo jardim da casa de um deles - mais favorecido pelas posses. Este último tinha convidado o primeiro para visitá-lo, pois sentia-se vazio e infeliz, e necessitava de alguém com quem conversar. Vamos chamá-los de Zé (o mais feliz) e Chico (o infeliz).

Enquanto Zé caminhava pelo jardim, reparava na beleza das árvores: seu amigo tinha plantadas várias fruteiras: goiabeiras, pitangueiras, limoeiros, laranjeiras, jabuticabeiras, pessegueiros e ameixeiras, onde pousavam passarinhos de todas as cores, cantando felizes. Algumas frutas maduras tinham caído no chão e permaneciam sob as copas das árvores, e alguns esquilos alimentavam-se delas. Logo, Chico reclamou:

"Não sei mais o que faço para acabar com esses pássaros malditos! Comem todas as frutas!"

O amigo Zé percebeu, mas ficou calado,  que se não fossem pelos pássaros, as frutas apenas apodreceriam nas fruteiras, pois o amigo não as colheria jamais.

Passaram por um lindo córrego, pequeno, mas que dava ao jardim um ar de beleza e frescor, além de emitir um ruído reconfortante. Zé achou aquilo maravilhoso, mas Chico observou com amargura:

"Estou pensando em mandar aterrar este riacho. O barulho me incomoda durante a noite."

Enquanto caminhavam, eram seguidos de perto por Bibo, o cão vira-latas de Chico. O animalzinho cheirava as moitas, corria, brincava e pulava; de vez em quando, trazia um galho seco, que Chico jogava para ele, que saía correndo e latindo atrás do galho, trazendo-no de volta para que Chico o jogasse novamente. De repente, Chico bradou com impaciência:

"Sai daqui, animal estúpido! Deixe-me em paz!"

O animalzinho assustou-se, e saiu correndo com a cauda entre as pernas, indo esconder-se sob uma moita. Penalizado, Zé entendeu que provávelmente, Bibo estava acostumado àquele tipo de tratamento, pois parou de seguí-los.

Finalmente, o passeio terminou na varanda, onde havia uma rede, duas cadeiras confortáveis e uma jarra de refresco de frutas esperando por eles em uma mesinha. Após servir-se de um copo, Zé falou:

"Você tem um belo espaço aqui, Chico! Uma beleza só... árvores de frutas, flores, passarinhos, um cão... e até um riacho! Luxo só!...

Suspirando fundo, Chico respondeu:

"Quer saber? Comprei este espaço para fugir da vida agitada da cidade grande, onde não aguentava mais viver. Tanta poluição e barulho, competição... mas acho que me decepcionei, não consigo ser feliz aqui, assim como não era feliz por lá. Minha mulher finalmente me deixou, levando os meninos, e fico aqui sozinho o tempo todo."

Desejando animar o amigo, mas sabendo que qualquer coisa que dissesse poderia ser inútil, Zé pensou bem antes de falar. Depois, tomando um gole de suco e olhando em volta, para a beleza do lugar, ele disse:

"Amigo, me desculpe, mas se você não é feliz aqui, não será em lugar nenhum! Olhe só em volta, tanta beleza e riqueza... sabe, eu acho que o que lhe falta, é deitar naquela rede ali, que está balançando sozinha pelo vento desde que cheguei... e de lá, observar o que você tem, e dar mais valor, ser mais grato por tudo. E ter paciência com as pessoas, pois você sempre foi tão 'estourado,' que acabou afastando todo mundo."

Chico olhou para o amigo,  pensando no quanto aquelas palavras eram simplórias... só mesmo o Zé para ter um pensamento tão bobo! Mesmo assim, sabia que ele estava tentando ajudar. Para agradá-lo, foi até a rede e deitou-se - algo que nunca tinha feito antes. E não é que a paisagem de lá era mesmo bonita?

De mansinho, Bibo foi se aproximando, e deitou sob a rede. O dono começou a acariciá-lo. O 'barulho' do rio tornou-se bem mais agradável, até que virou  um ruído relaxante e delicioso. Dali ele podia enxergar os passarinhos, e começou uma conversa com o amigo, na qual ambos, lembrando os tempos de infância em que brincavam perto de uma mata, começaram a identificar algumas espécies.

No final da tarde, Chico estava com as mãos sujas de terra - passaram algumas horas capinando canteiros e replantando mudas de flores - suado, e sentindo-se revigorado pelo trabalho. Além de tudo, sentia por dentro uma sensação que nunca tivera: a felicidade.

Descobriu-a dentro dele, ao deitar-se naquela rede.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Resenha - A Saga de um Pedro - Amor e Luta Traçando Destinos



A Saga de um Pedro - Amor e Luta Traçando Destinos -
122 páginas
Autor: Carlos Alberto dos Santos Lopes
Editora - Edições Bagaço - Recife - PE
Ano: 2012

A Saga de Um Pedro é a história de José dos Santos Gonçalves, pai do autor, narrada em primeira pessoa, o que dá ao texto mais realismo, e ao leitor, mais intimidade com os personagens reais desta história de família. Fala das aventuras e desventuras de um homem simples, mas cheio de sonhos, pelos quais não temeu lutar até vê-los realizados. 

Logo no início do livro, o jornalista Carlos Costa explica que: "O que importa é só a dimensão temporal dessa belíssima narrativa familiar." Não cabe ao leitor, ou a quem quer que seja, julgar certas atitudes do personagem, que, devido à veracidade da narração, não foram aliviadas pelo autor. Carlos Lopes faz questão de contar a história real de seu pai, exatamente como ela é, sem floreios ou omissões de fatos que poderiam até mesmo torná-lo antipático a alguns leitores.

Como o próprio autor explicou-me em uma troca de e-mails, ele não pretende ser reconhecido como escritor; e é justamente este fato que faz da história despretensiosamente contada, uma narrativa alegre, bem-humorada e fluida, que prende a atenção do início ao fim. Sem as pretensões e vaidades dos escritores profissionais, Carlos Lopes imprime realismo à narrativa, aproximando o leitor dos personagens. Em certos momentos, identificamo-nos com eles.

O livro fala também de importantes momentos da nossa  História e da nossa cultura, como por exemplo, o advento do rádio e da televisão, a vida difícil no Sertão Pernambucano e vários outros fatos que entrelaçam a vida dos personagens à vida da maioria dos habitantes do Brasil. 

A Saga de um Pedro é uma história imperdível. Vale a pena adquiri-la através do blog do autor:
http://gandavos.blogspot.com .





segunda-feira, 21 de maio de 2012

QUANDO FOI A ÚLTIMA VEZ QUE VOCÊ VIU SEU PAI?



Assisti, novamente, a este maravilhoso filme, estrelado por Colin Firth - meu ator predileto. Ele conta a história de um filho que retorna ao lar, a fim de assistir ao pai - que sofre de cancer de intestino em fase terminal. Ele redescobre e reavalia seu relacionamento com o pai durante vários momentos de suas vidas , na infância, adolescência e fase adulta. Percebe o quanto os julgamentos que fazia sobre o pai, muitas vezes, obscureceu-lhes o relacionamento. Lembra-se das vezes em que saíram juntos para acampar, dos piqueniques e jantares de família nos quais sentia-se ofuscado pelo brilhantismo do pai, e pela necessidade deste (quase doentia) de estar sempre em evidência e parecer simpático.

Descobre até que tem uma irmã, fruto de um caso amoroso do pai com uma prima de sua mãe, que durou muitos anos.

O filme é muito honesto, até o ponto no qual, durante uma conversa com uma namorada, ele admite que odeia seu pai (quem nunca odiou, nem que fosse por apenas um segundo, o pai ou a mãe, que atire a primeira pedra).

O filme tem cenas lindas e emocionantes, até o ponto de, sem perceber, você se ver chorando enquanto assiste.  No final, o que fica, o que realmente permanece da relação dos dois, é o amor. O grande amor que o pai sentia por ele, e ele, pelo pai. Um amor percebido, talvez, um pouco tarde em sua vida, mas nunca tarde demais. A cena mais tocante, em minha opinião, é justamente a última:

Ele está só no jardim da casa, após a família espalhar ali as cinzas do pai. E de repente, ele pensa: "Quando foi a última vez que você viu seu pai?' Não durante a doença, que o transformava e desfigurava a cada dia, mas a última vez em que esteve com ele e ele ainda era ele mesmo. E então, lembra-se de uma cena na qual os dois, juntos, instalavam um lustre na sala de estar. Uma cena corriqueira, mas marcante, pois fora a última vez em que o vira com saúde.

Daí, ele recorda o dia em que despediu-se dele para ir estudar em outra cidade. O abraço, antes de ir. E a cena vai mudando, e o menino que abraçava o pai, transforma-se no homem que ele é então, e a cena dos dois abraçados em uma despedida final, é simplesmente maravilhosa.

Fez-me lembrar da última vez em que eu vi meu pai: eu estava em meu horário de almoço, sentada à mesa da cozinha. Minha mãe terminava alguma coisa no fogão. Ele chegou, colocou sobre o armário um pacote de biscoitos - estava muito animado naquele dia - e sentou-se para almoçar. Dizia que, após o almoço, estaria jogando cartas na casa de uns amigos vizinhos. Eles sempre jogavam juntos. Lembro-me que, naquele dia, olhei para ele realmente, pela primeira vez em muito tempo. O que ficou mais marcado em minha memória, foi sua mão segurando o garfo. E depois, ao terminar, ele disse algumas coisas das quais não me lembro e despediu-se. A porta fechando-se atrás dele, disso eu me lembro. Naquela tarde,depois de algumas horas apenas, ele teve um derrame e morreu.

Aquela foi a última vez em que vi meu pai.


sábado, 5 de maio de 2012

CONVERSAS QUE TIVE COMIGO - NELSON MANDELA (RESENHA)


Terminei de ler “Conversas que Tive Comigo ,” de Nelson Mandela. O livro em si é até um pouco chato, e a leitura às vezes torna-se arrastada, pois é um apanhado de fragmentos de anotações pessoais, cartas e conversas que ele teve com pessoas, relatos de viagens, experiências que teve na prisão, encontros políticos... e até mesmo notas sobre sua saúde. Mas pesca-se  pérolas muito preciosas durante a leitura deste livro, o que seria impossível de não acontecer, devido a grandeza de quem o escreveu.


Mandela diz que a prisão é o melhor lugar para alguém pensar sobre a vida... às vezes, tem-se a impressão de que os vinte e sete anos que ele passou preso, na verdade, foram-lhe leves. Não vi nenhuma palavra de raiva dirigida contra seus opressores. Será porque as cartas eram censuradas?


O livro só faz aumentar a admiração que sempre tive por este homem único. E a certeza de que eu jamais, em milhões de vidas, seria capaz de ser como ele: entregar a minha vida e  a minha liberdade em defesa da causa de um povo. Arriscar-me a morrer para que outros pudessem ser livres. Pessoas como ele dão a mim uma noção exata de minha pequena pessoa, e de minha quase inexistente colaboração ao  mundo.


Em um dos relatos que mais me impressionaram até o momento, Mandela conta como, durante um julgamento, ele tinha certeza de que seria sentenciado à morte, e que ele não se importava. Tinha certeza, quando o juiz ia começar a ler a sua sentença, que ele estava morto. E a indiferença com que ele trata do assunto, surpreendeu-me; na verdade, chocou-me. É preciso uma grande dose de desprendimento, um idealismo fortemente arraigado dentro do coração, para ter uma reação assim. Qual de nós caminharia para a morte com tanta coragem e indiferença, com a certeza de que estaria fazendo uma troca justa: a vida pela causa?


Acho que pessoas como ele não são seres humanos comuns; são missionários. São maiores do que eles próprios. Não tem , em si, uma gota de egoísmo, e não podem ser comparados a nós, pobres seres humanos comuns.


Vinte e sete anos na prisão, sendo submetido a trabalhos forçados, passando fome, sendo mal-tratado e tendo seus escritos censurados. Durante um período, as visitas só eram permitidas a cada seis meses, e durante apenas trinta minutos. Acho que eu teria enlouquecido. Mesmo que , mais tarde, a dureza tenha sido relaxada, eu fico pensando no quanto a liberdade me é cara... mas eu estou falando apenas da minha pequena liberdade, essa coisinha egoísta de poder ir e vir quando eu quiser, a hora que eu desejar.


A liberdade da qual ele fala em seu livro e pela qual ele luta, é de outra esfera. Nem se compara à nossa. Nem ouso tentar compreendê-la.

terça-feira, 1 de maio de 2012

O EFEITO SOMBRA




Acabo de ler um livro sobre a nossa sombra - que todos carregamos - e como lidar com ela. Muito esclarecedor... gostei tanto, que comprei um outro, que ainda vou começar a ler. O título é "O Efeito Sombra - encontre o poder escondido na sua verdade." Autores: Deepak Chopra, Debbie Ford e Marianne Williamson.

A sombra é o que chamamos de nosso lado negro, ou ruim. Ela é aquilo que tentamos esconder desesperadamente das outras pessoas e até de nós mesmos. Ela traz em si as nossas maldades escondidas, nossos medos e as coisas horríveis que somos capazes de fazer, caso a necessidade ou a oportunidade apareçam.

Desde crianças, aprendemos a tentar criar um ideal de perfeição em nós mesmos, o que nos torna muito mais críticos em relação às outras pessoas, ao ponto de enxergarmos nelas aquilo que mais tentamos omitir em nós. Daí, passamos a perseguí-las e odiá-las, pois elam são como espelhos para nós, e é sempre insuportável dar de cara com a nossa verdadeira face.

Às vezes, a sombra que vemos projetada nos outros é o contrário; vemos nos talentos alheios as nossas frustações, e condenamos nos outros aquilo que gostaríamos de ser, mas não temos o talento ou a capacidade. É a temida inveja. E se não podemos ser iguais , nós destruímos! Mas após a destruição daqueles que projetam a nossa sombra - seja ela negativa ou positiva - o que sobra é um grande vazio. Não temos mais a quem odiar. Não temos mais a quem culpar pelas nossas falhas. Perdemos contato com uma parte muito importante de nós mesmos.

Uma das citações que aparecem na apresentação do livro que vou começar a ler é a seguinte:

"Ao tentar expressar apenas os aspectos que acrditamos nos garantir a aprovação e a aceitação dos outros, reprimimos algumas das nossas mais valiosas características, e nos sentenciamos a levar uma vida encenando a mesma peça com o mesmo roteiro desgastado. Reclamar as partes de nós que foram relegadas à sombra é o caminho mais confiável para realizarmos nosso potencial humano. Quando nos tornamos amigos dela, nossa sombra se torna um mapa divino que os reconecta à vida que deveríamos viver e às pessoas que deveríamos ser." - Debbie Ford

Nada mais verdadeiro!

Desde pequenos, somos ensinados por nossas famílias e professores, a reprimir nosso eu verdadeiro, a sermos polidos, sociáveis, religiosos, politicamente corretos, amáveis, oferecermos sempre a outra face, esconder sentimentos, repulsas, a sermos igual à maioria e a fazer sempre aquilo que esperam que façamos. Nada mais destruidor... e a sombra vai crescendo, e sendo reprimida, até que um dia, ela vem à tona de repente, causando muitos danos psicológicos, sustos e surpresas desagradáveis. Melhor é aprender a conviver com ela.

Melhor é aceitarmos que não somos e nem precisamos ser bonzinhos o tempo todo, e que a sombra oferece, entre outras coisas, autoconhecimento e um potencial criativo fenomenal.

Ler sobre a sombra, encarar a própria sombra, aprender a aceitá-la: tarefa que exige desprendimento e muita coragem, mas que para mim, tem valido muito a pena.

quinta-feira, 15 de março de 2012

A GAROTA DOS PÉS DE VIDRO








Resenha




“A Garota dos Pés de Vidro”
Autor: Ali Shaw
Editora Leya, ANO 2010 - 285 páginas



Bem vindos à ilha de Saint Hauda’s Land, onde nada é apenas comum. Tome muito cuidado ao caminhar pelos pântanos misteriosos, e jamais encare animais desconhecidos; você pode transformar-se em vidro!



Midas é um jovem e tímido fotógrafo, que vive assombrado pelas lembranças de seu pai, que suicidou-se ao descobrir um grave tumor próximo ao coração, e de sua mãe, que tivera um caso quando ele ainda era um garotinho, devido à incapacidade do pai de demonstrar-lhe afeto. 


Um dia, ele conhece a jovem Ida, que viera à ilha a fim de buscar a cura para sua doença misteriosa: seus pés estão se transformando em vidro! Decidido a ajudá-la, acaba apaixonando-se por ela, embora tente fugir de seus sentimentos; como seu pai, tem dificuldades em demonstrá-los. 


Conforme a leitura progride, chegamos a conclusão de que quase todos os personagens masculinos, habitantes de Saint Hauda’s Land, sofrem do mesmo mal: total impotência ao demonstrar sentimentos, embora eles sejam profundos.


Ida percebe, através do rápido progresso de sua doença, que não terá muito tempo, e decide que deseja viver a vida que lhe resta de maneira intensa; mas seus interesses chocam-se contra a aparente frieza e distância emocional de Midas.


Saint Hauda’s Land é um lugar onde o inusitado pode surgir diante dos seus olhos a qualquer momento: libélulas gigantescas, um rebanho de gado voador do tamanho de borboletas, animais cujo olhar transforma, gradualmente, seus observadores em vidro. Mas também é um lugar bastante comum, onde as pessoas nascem, vivem seus conflitos, amam, perdem seus amores, apaixonam-se e casam-se, tem filhos e morrem. Um lugar onde a vida acontece bem devagar, mas de maneira muito intensa; tão intensa, que seus habitantes nem sempre conseguem suportá-la.

"A garota dos Pés de Vidro" nos convida a refletir sobre nossas próprias artificialidades, e sobre o quanto deixamos que sentimentos profundos afundem, diariamente, no pântano de nossa aparente indiferença. Aprendemos que, pior do que a morte, ou de ter nossos pés sendo transformados em vidro, é permitir que esta transformação aconteça aos nossos corações.

Um livro imperdível.



segunda-feira, 12 de março de 2012

Resenha - "Cidadela" de Saint-Exupéry





Há muitos e muitos anos, quando eu era apenas uma recente pós-adolescente, achei um livro de Saint-Exupéry em uma feira de livros usados. Chama-se "Cidadela." Como está escrito na apresentação do livro, "Aqui temos um livro sem princípio, meio nem fim. Impossível medi-lo, extremamente difícil apreciá-lo, bastante ingrato ceder à veleidade de lhe facilitar o acesso."


O livro começou a ser escrito em 1943, mas o autor desapareceu em combate, tendo seu avião sido abatido na Bacia do Mediterrâneo, antes de terminar a sua obra. Assim, "Cidadela" tornou-se uma obra póstuma. 


É um livro sobre um rei e sua cidade, o império que ele construiu. 


É um livro sobre as cidades e impérios que construímos dentro de nós. 


Escolhi algumas frases favoritas para reflexão. 


Sobre o trabalho: 


"Pobre trabalho o teu, se não for o pão dos filhos ou transformação tua em alguma coisa superior a ti. Que vale o teu amor, se ele não for mais que procura de um corpo? A alegria que esse amor te desse, seria uma alegria fechada em si própria." 

Sobre o sofrimento e a alegria: 


"Aquilo que te causa os sofrimentos mais graves, traz-te também as maiores alegrias. Porque sofrimentos e alegrias são frutos dos teus laços, e os teus laços, das estruturas que te impus. Eu cá quero salvar os homens e obrigá-los a existir, ainda que os leve pela via que faz sofrer, como a prisão que separa da família, ou o exílio que separa do império." 


Sobre o egoísmo: 


"Onde se diz que há egoísmo, o que sempre encontramos é mutilação. E aquele que anda por aí sozinho a dizer: "Eu, eu, eu," como que anda ausente do reino. Assim a pedra fora do templo, ou a palavra seca fora do poema ou aquele fragmento de carne separada do corpo." 


Sobre a colaboração: 


"A pedra não tem esperança de ser outra coisa que não pedra. Mas, ao colaborar, ela congrega-se e torna-se templo." 



Sobre o amor e o ciúme: 


"Não confundas o amor com o desejo de possuir, que acarreta os piores sofrimentos. Porque, contráriamente à opinião comum, o amor não faz sofrer. O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, esse é que faz sofrer........ o amor verdadeiro começa lá onde não espera mais nada em troca." 


Sobre escrever: 


"Quando tu escreves ao homem, carregas um navio. Mas bem poucos navios chegam ao porto. Sossobram quase todos no mar. Poucas frases há que mantenham a sua ressonância através da história.......... Que me interessam as coisas que sabe aquele que tu me indicas? para isso há o dicionário. Interessa-me mais é o que ele é. E aquele acolá escreveu o poema e encheu-o de seu fervor, mas falhou na pesca do alto mar. Não trouxe nada das profundidades. Significou-me a primavera, mas não a criou em mim na medida em que poderia ter alimentado dela, o coração." 


Sobre o crescimento: 


"Depois de ter fundado um rosto, é preciso que ele permaneça............. Porque a minha verdade, para ser fértil, deve ser estável. O que é que tu amarás, que será de fato das tuas grandes ações se mudares de amor todos os dias? Só a continuidade permitirá a fertilidade do teu esforço. Porque a criação é rara. Se por vezes é urgente que, para te salvar, ela te seja dada, seria mau que te atingisse todos os dias. Para preparar um homem, preciso de várias gerações. E, a pretexto de melhorar a árvore, não a corto todos os dias, para a substituir por uma semmente." 

Sobre a morte e a vida: 


"Embora a morte e a vida se oponham uma a outra, como palavras que são, o certo é que só podes viver daquilo que te pode fazer morrer. E o que recusa a morte, recusa a vida. Se não houver nada acima de ti, não tens nada a receber. A não ser de ti próprio. Mas que hás-de tu ir buscar a um espelho vazio?" 

Sobre o poema: 


"O poema é belo por razões que não pertencem à lógica, já que se situa num outro andar. Ele é tão mais patético quanto mais se estabelece na extensão. O som que é possível extrair de ti e que tu podes dar é sempre o mesmo, mas nem sempre é da mesma qualidade. E é má música aquela que te abre caminhos mediocres no coração. E o deus que te aparece é débil. Mas há visitas que te deixam adormecida, por tanto teres amado." 


Um trecho da "Oração da Solidão": 


"A solidão, Senhor, é apenas fruto de um espírito que está doente. Ele limita-se a habitar numa pátria, a qual é sentido das coisas. Assim o templo, quando ele é sentido das pedras. Ele só tem asas para este espaço. Ele não goza com os objetos, mas apenas com o rosto que se lê através deles e que os liga uns aos outros. Fazei simplesmente com que eu aprenda a ler. Nessa altura, Senhor, ter-me-há acabado a solidão." 


É um livro belíssimo, e seria impossível escolher, entre tanta beleza, as frases certas para postar aqui. Escolhi aquelas que sublinhei há muitos anos, quando de minha primeira leitura. 


















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