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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Desapegando dos Meus Paninhos de Prato







Há meses venho planejando arrumar minhas gavetas de panos de prato. Isso mesmo, no plural: gavetas! Tenho muitos, e recentemente estive um uma loja em Juiz de Fora – lindíssima, por sinal – onde comprei dois conjuntos novos, prometendo – a pedido do meu marido, que estava comigo quando os comprei – que faria uma limpeza geral nas gavetas. Ele disse: “Mais panos de prato? Mas você já tem tantos!” Ele tem razão. Mas eu sou uma mulher estranha, uma espécie em extinção, do tipo que ama paninhos de prato e coisinhas para a casa. Quer me dar um presente, mas não sabe o que comprar? Panos de prato! 

Adiei o quanto pude, até que hoje de manhã, eu disse a mim mesma: “É hoje; ou vai ou racha!” E abri minhas gavetas, retirando-as do lugar e colocando-as no chão da cozinha, em volta de mim. Sentada no chão, comecei a examinar as gavetas. Tinha alguns já bem amarelados, de tanto ficarem guardados, pois não dou conta de usar todos os que tenho; outros – meus favoritos – já velhinhos, meio puídos, são os que “enxugam bem.” Ah, esses eu não posso tirar! 

No meio do processo, meu marido aparece na cozinha para tomar café da manhã: “Finalmente!” E de soslaio, ele me observa, enquanto dobro e coloco de novo na gaveta os panos mais velhinhos. Ele arrisca: “Ana, isso não está velho demais não? Por que não joga fora?” Pensei: como jogar fora os meus melhores panos, os que enxugam? Mas novamente, ele tem razão. Mas só que não. Não dá para jogar fora. Ele parece ler meus pensamentos, e sugere: “Estou precisando de uns paninhos velhos na garagem, para limpar o carro. Você podia deixar alguns lá!” Essa possibilidade me anima: melhor do que jogar fora. Ele escolhe dois. Apenas dois. 

Então me animo, e separo alguns para deixar guardados na área de serviço, como panos de limpeza. Ainda sobram muitos depois disso! Decido coloca-los junto com as roupas que separei para doação. Meu marido ergue as sobrancelhas, e sei exatamente o que ele está pensando: ”Quem vai querer ficar com isso???” Respondo: “Podem ser úteis para alguma coisa! E se não quiserem, que joguem fora.” 

E recomeço a separar os panos. “Olha esse! Compramos na viagem para Natal, lembra?” Ele concorda, e me aponta um outro que trouxemos de Recife, todo bordado e amarelado. Mostro a ele um verde com um desenho de um pescador, que tenho desde que nos casamos (meu marido adora pescar, e alguém nos presenteou para brincar com ele). Passamos por um conjunto que tem os dias da semana, um em cada paninho. “Lembra desses? Ela me deu dois pacotes. Deve ter sido difícil para ela pagar por eles...” A pessoa que nos presenteou não tinha boas condições financeiras, e já faleceu. Não tenho todos, a maioria já gastou, mas sobraram a segunda, duas quintas e uma sexta. Separo dois para a área de serviço e guardo os outros na gaveta. 




Ele se despede para ir trabalhar, mas antes olha um todo bordado, feito pela mãe dele. “Esse aqui não foi a minha mãe que bordou?” Concordo, e ponho de volta na gaveta. E tem aquele outro, presente de aniversário da fulana. E outro que compramos naquela viagem à parte histórica de Minas. Um de Fortaleza. Um lindo, com um cordão de papais-noéis em croché na borda, daquela lojinha fofa de Itaipava que infelizmente, já fechou. 

Enfim: tive que fazer um esforço para me desapegar de alguns deles, mas acabei arejando bastante as gavetas. Antes, eu precisava de três gavetas, e agora ocupo apenas duas. Aproveitei a que ficou vazia para guardar alguns utensílios de cozinha. 

Os paninhos de prato são lembranças de lugares por onde viajamos, momentos felizes que vivemos, presentes de pessoas que já não estão mais aqui e de outras que ainda estão e que são tão queridas... tenho alguns presenteados por alunas e ex-alunas, pessoas de quem eu gosto muito. 

As pessoas que vão receber alguns deles, mesmo que amarelados, não fazem ideia do carinho que tenho por eles. Espero que eles sejam usados; espero que alguém enxugue sua louça com eles, ou limpe a sua cozinha, e que seja num dia de festa muito feliz, entre conversas na cozinha e música tocando na sala.




17 comentários:

  1. Para mim esse tipo de desapego é impossível. Vou gastar, não compro nem mais um, mas não desapego. Não consigo. Nem quero. Beijo

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  2. Falo por mim, custa-me certos desapegos...

    Hoje:- Os meus desígnios

    Bjos
    Votos de uma óptima Quinta - Feira.

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  3. Por vezes,Ana, é difícil mesmo. Eu sou bem desapegada, mas algumas coisinhas vão e vem, acabam voltando às gavetas!rs beijos, adorei teu texto! chica

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  4. Isso acontece muito e as pessoas, na maioria dos casos tem dificuldades em se desapegar.
    Um abraço.
    Élys

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  5. Boa noite, querida amiga Ana!
    Sabe como o desapego me vence?
    Mudando-me para outro estado... Sou obrigada a deixar muita coisa para trás e venco um por um...
    Costumo ser já desapegada, não porque seja 'boazinha', mas porque sou obrigada a me desfazer e fico muito feliz com o resultado...
    Não sofro mais. Que sorte!
    Numa recente mudança, muita coisa foi para a roça.
    Se fosse perto, iria lhe pedir pra me doar uns porque, de tanto me desfazer, acabei ficando com uns pouquinhos... vou ter que providenciar uns novos...
    Tinha 3 novos(que enxugam) e dei para filha no Natal.
    Gostei muito de refletir sobre desapego, me fez muito bem...
    O excesso me traz desassossego, Ana.
    Felicidades e bênçãos para você!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

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  6. Hahahahahaha, que postagem gostosa!
    A gente tem dessas coisas né? Eu também tenho algumas coisinhas guardadas que não consigo desapegar!
    Mas se você ver pelo lado bom, você pode fazer um catálogo dos paninhos que se desfez, e voltar nos lugares que comprou para encher de novo a gaveta vazia!
    Olha que ideia boa!

    Um abraço!

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  7. Ana, amei a sua postagem, até porque "apego" é o meu sobrenome. O meu companheiro dizia que quando eu estivesse velho, iria ser um acumulador. E é bem verdade hahahahaha.

    Tenho exatamente 43 canecas! Ganhei de várias pessoas queridas ao lonogo dos anos, e me desfazer de pelo menos uma, seria digamos "doloroso" sabe? rs, enfim te entendo. Muito linda a sua história.

    Fiquem na paz,
    Dan.

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  8. Querida Ana, que lindos os seus panos de pratos, deve ser difícil mesmo pra quem não consegue se desapegar,
    Sou pisciana, meio desatenta e não acúmulo nada, muitas vezes me desfaço de coisas que nem mostro ou pergunto aos meus, porque eles sim são apegados!
    Mas amo coisas novas e bonitas, uso tudo o que compro, sem guardar nada, totalmente o oposto do que descreves aqui.
    Uso sempre meus panos de pratos novos, adoro ver a cozinha colorida, os velhos, ah, faço como o seu marido sugeriu, ficam como panos de limpeza.
    Enfim... A delícia de te ler é que aqui a gente parece que se sente em casa, um bom papo!
    Amei!
    Abraços bem apertados!

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  9. Olá Boa noite! Estou de volta ao meu blog e ao poetizando. Com minha participação, lhe convido a apreciar meus rabiscos.
    Amei sua postagem,essa lindeza de arte tão delicada nos dão a dimensão da sua capacidade criativa e o zelo com que faz. Lindas peças, amei! Parabéns!

    Abraços feliz fim de semana.

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  10. Gostei muito do texto. Cheio de memórias e um carinho muito lindo pelos paninhos, por todos os que os ofereceram e pelas lembranças bonitas.
    Estou certa que alguns serão usados, "num dia de festa muito feliz, entre conversas na cozinha e música tocando na sala." 😘
    Beijinho

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  11. Tive que rir, pois eu também sou assim. Apegado por demais em tudo. rs

    Beijão

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  12. Totalmente parecida consigo, Ana! Me apego tanto que amo gastar com a casa esquecendo até de mim mesma! Você citou Itaipava e eu morei lá e realmente as lojinhas de lá eram lindas! Meu marido faleceu lá e não tive mais coragem de lá voltar. A vida segue! Beijos!

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  13. É muito difícil a gente se desapegar de algo que nos traz boas lembranças e que nos foi tão útil. Eu tenho livros de quando lecionava Língua Portuguesa, Educação Religiosa e romances e para me desapegar deles é muito muito difícil.
    Beijos e uma semana feliz!

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  14. Adorei! Você é incrível! Cada estilo, cada poema ou texto uma faceta de você, adorei conhecer a dona de casa, uma delícia este texto, leve e gostoso de se ler, eu não sou apegada, acho que só a fotos, bilhetes, cartas do passado, disto não me desfaço, são minhas memórias. Beijos linda!

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  15. Quando os panos têm memória torna-se mais difícil separarmo-nos deles. Percebo o que sente pois eu também tenho dificuldade em separar-me de algumas coisas… Gostei do seu texto.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  16. Olha onde vim parar!
    Sou bem assim, mas jurei que esse mês de junho colocarei muita coisa fora, aliás, doarei. Não sei onde minha diarista coloca tudo o que daqui resolvo tirar. Mas esvaziar um pouco a casa faz bem à alma! Mas como é difícil!!!
    Gostei de ler esse post, andando por aqui.
    bjs

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