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domingo, 8 de janeiro de 2023

ENVELHECER





ENVELHECER

 

 

Me inscrevi em um canal no YouTube cuja proposta pensei ser, inicialmente, falar sobre o envelhecer.

 

Cancelei a inscrição após um dia.

 

O canal é uma sucessão de vídeos sobre mulheres velhas ou muito velhas dizendo que não estão velhas, que a velhice está apenas na cabeça. Elas usam maquiagem pesada e saem para dançar usando roupas de bailarinas de cabaré, afirmando sempre que a velhice não existe. Nos vídeos, a maioria das pessoas nesses grupos são de mulheres, e elas fazem questão de mostrar a quantidade de álcool que consumem durante seus “brindes à vida.”  Há poucos homens, o que faz com que elas acabem tendo que dançar umas com as outras durante o baile. Acho isso um espetáculo triste.

 

Nos comentários, algumas pessoas usam adjetivos que, ao meu ver, são muito pejorativos: “Vovós danadinhas!” “Isso mesmo, é preciso ter um coração jovem, que gracinha!”

 

Minha mãe frequentava esses grupos e ela me contava sobre as disputas das velhas pela companhia masculina – havia poucos homens – inclusive, minha mãe me contou que chegou a sofrer ameaças vindas de uma das velhas, que a abordou na rua, enquanto ela estava no ponto de ônibus, fazendo um pequeno escândalo e dizendo que ia bater nela se ela dançasse com o fulano outra vez. Minha mãe ficou um bom tempo sem voltar àquele clube. Detalhe: ela tinha mais de 80 anos quando aquilo aconteceu.

 

O que vou escrever aqui sobre o envelhecer é a minha visão, e entendo que há pessoas que enxergam isso de outra maneira, embora eu ache que elas estejam perdendo uma grande oportunidade de verdadeiramente amadurecer.


Não acho que velho tenha que ser triste ou austero o tempo todo, mas negar a velhice, na minha opinião, não é uma decisão inteligente. Imagino essas senhoras chegando em casa do baile, removendo a maquiagem pesada, a peruca, as roupas inadequadas de dançarinas de cabaré e os saltos torturantes, dando um suspiro de alívio ao entrar em um caftan confortável e chinelos macios. De repente, elas se olham no espelho, e nesse momento, pinta o desespero. Quem sabe, a depressão.

No dia seguinte, elas vestem novamente suas fantasias de jovens, chamando umas às outras de “Meninas” e recomeçam seu jogo de negação. Acho isso triste.

 

Penso que isso tem mais a ver com desespero do que com aproveitar a vida.

 

Sei que aos 58 anos eu tenho muito mais chão atrás de mim do que terei pela frente. Eu quero poder ler os livros que ainda não li, tentar me preparar mais para o meu grande encontro com a morte – sim, não há nada de mórbido nisso, pois a morte é um fato da vida – viajar, estar com as poucas pessoas que ainda consigo suportar, assistir aos meus filmes favoritos, e por que não, dançar, se a ocasião for propícia, sem forçar a barra ou ter que me fantasiar de dançarina de cabaré, o que seria ridículo. Eu quero tentar entender, mesmo que seja difícil, essa pessoa que sou eu, essa mulher na qual eu me tornei. Quero ter uma alma velha, antiga. Quero ser a tia meio bruxa, quem sabe, meio reclusa, que estuda muito e fala bem pouco.

 

Não vou aqui tentar recuperar o tempo perdido, pois o que foi perdido não pode ser reencontrado, pelo simples fato de que não há caminho de volta, nem nunca houve. É daqui para frente. É fazer o melhor que eu puder agora e viver uma vida que seja de verdade. Não quero jamais me tornar uma caricatura de mim mesma. Não vou tentar me infiltrar em grupos de pessoas mais jovens ou me enfiar em grupos de  “Melhor idade”, “Terceira idade” ou seja lá como for que os chamem. Prefiro ficar entre as pessoas que eu gosto, as que sempre conheci. Não me interessa fazer novos amigos, mas se acontecer naturalmente, por afinidade, por que não?

 

Eu gosto mesmo é da minha casa e de estar perto da natureza. Gosto de conversar com as árvores, admirar as plantas e os bichos e aprender sobre eles. Adoro estudar sobre assuntos que remetem à espiritualidade, e não tento impor minhas crenças a ninguém. Amo ler e escrever. Ainda trabalho, e amo o que eu faço. Vivo uma vida tranquila e me considero uma pessoa feliz a maior parte do tempo. Tenho tudo o que preciso e quase tudo o que sonhei. Tenho vivido uma vida com experiências boas, muito boas, ruins e muito ruins, e tento aprender com tudo. Não tento sair dos momentos ruins sem antes refletir e aprender. Tem gente que prefere “passar uma borracha” sobre a tristeza e colocar um sorriso no rosto, mesmo que seja falso.

 

A ditadura da felicidade, tão propagada nas redes sociais, também tem sido aplicada ao envelhecer. Lembro de uma Instagrammer de mais de 80 anos de idade, ex modelo, que postava fotos de biquine nas suas redes sociais, super maquiada, calçando saltos altíssimos que, com certeza, ela não conseguiria usar para caminhar. Eu sempre pensava: o que essa criatura está tão desesperadamente tentando provar? Que ainda é jovem? Que ainda é bonita e sensual? Que ainda “está podendo?” Seja o que for, ela falhou.

 

Não quero o “ainda.” Jamais me esforçarei para provar que eu “ainda.”  Quero o que é possível, sem me submeter a papéis ridículos. Quero ser respeitada, e não ser chamada de “gracinha,” “fofinha,” ou seja lá o que for. Não quero que me digam que eu não aparento a minha idade. Nunca vi isso como um elogio. Tais comentários só afirmam que, apesar das aparências, você envelheceu.

 

Não vou negar a minha idade, não porque eu ache que a velhice seja a melhor idade, ou a melhor fase na vida de uma pessoa. A melhor fase é entre os 15 e os 30 anos, pelo menos é o que eu acho. Envelhecer é ruim. Envelhecer dói, significa perder a beleza física, ter que lidar com possíveis problemas de saúde, perder a vitalidade, preferir ficar em casa a ir à uma festa simplesmente porque se sente cansada.

 

Envelhecer significa ter que lidar com vários tipos de julgamentos e preconceitos, trocas de olhares entre pessoas mais jovens toda vez que você esquece uma luz acesa, não consegue se lembrar do nome de alguém ou queima a comida, mesmo que essas sejam coisas que acontecem frequentemente entre os jovens. Talvez por isso essas senhoras dos vídeos tentem fingir que ainda são jovens. Talvez venha daí o desespero de mostrarem que ainda podem, que ainda conseguem, que ainda estão na moda: o medo dos mais jovens. O medo de serem confinados em casas de repouso pelos membros mais jovens da família. O medo de estarem quietinhos lendo um livro e serem classificados como depressivos.

 

Esta não é a primeira vez que escrevo sobre isso – tem um outro texto na minha escrivaninha do Recanto das Letras onde abordo o mesmo assunto. Mas lendo o que escrevi naquela ocasião e o que escrevi hoje, vejo que minha opinião não mudou. Fui procurar o texto e descobri que foi escrito há quase exatamente dois anos, no dia 09/01/2021. Muita água já rolou por baixo e por cima do meu telhado desde então. E não me arrependi de nada que foi escrito naquele dia.

 

 

 

 

 

 



segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

QUEM NUNCA?


 



Quem nunca se sentiu

Idiota,

Motivo de riso,

Chacota,

Presa na linha de partida

Da vida?


 Quem nunca se viu

Na ponta de uma língua

Bipartida,

Diante de si, o nada,

Sem ter uma linha

De chegada?


 Não se iluda:

É sua a culpa,

Ter boa vontade

Não basta,

Falar a verdade

Desgasta!


 E o que resta?

Recolher os restos

Da festa,

Respirar bem fundo

E partir,

Criar para si

Novo mundo,


 Ter ambos os olhos

Abertos,

Ter todo cuidado, enfim,

Ser bem mais esperta,

E pensar

Bem antes de tudo,

Em mim!





 


 






sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

ALERTA


 




Algumas coisas

Deveriam deixar-te sempre

Em estado de alerta:

Um sorriso

De quem geralmente te ignora,

Palavras doces

Vindas das bocas da escória,

Aplausos repentinos

Entre as palmas de quem antes

Te esmagava.


 Preste atenção, erga tuas travas

Todas as vezes em que, entre salamaleques,

Uma boca se cobrir com o leque

Enquanto o olhar malicioso te devora!

Esteja atento

Quando alguém que antes, só te magoava,

Subitamente, te estende uma braçada de flores;

-Não as leve junto ao peito!

Deite-as fora!


 Certas pessoas nunca mudam,

Apenas fingem mudar

Conforme o tamanho da necessidade

Ou enquanto duram os interesses.

Há muita maldade escondida entre a suposta bondade,

E certas almas não nasceram para ti;

Olhe para trás, e lembrarás

Que a única vontade que sempre as motivou

Foi que tu sofresses. 


 Algumas coisas

Deveriam fazer-te tremer!

A ingenuidade é a estrada

Que traz de volta, sempre

Aquele que porta a adaga

E a crava novamente, com vil intenção,

Dentro do teu sempre inocente

Coração.





 


 




 


 


 



sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

INTERAÇÃO FRATERNA DE NATAL - Luxo é ter Amor



 Este poema foi feito a convite da Rosélia, amiga blogueira, e fará parte de uma interação Nataliana para a qual ela me convidou. O tema foi proposto por ela: 

"Posso passar o Natal com você?"



Luxo é Ter Amor


 Na casa enfeitada, tão dourada,

A parte mais linda é o quintal...

Lá, onde nos dizem não ter nada,

Repousa o espírito do Natal.


Um cedro de plástico, na sala,

Ocupa um lugar especial...


Lá fora, a beleza em cena rara:

As aves enfeitam um pinheirinho

No topo, uma estrela lá do céu

A recordar-nos: “Tu não estás sozinho!”


 Natal é amor amealhado,

E conta uma história de paixão.

Natal de verdade só acontece

Se aquele que é homenageado

Está dentro do seu coração.







 


 


 

terça-feira, 29 de novembro de 2022

É SOBRE O TEMPO

 


 


 


 




E tudo isso é sobre nós,

Sobre o tempo que temos vivido,

O tempo que tem nos atravessado

E arrancado, aos poucos,

As nossas tintas.


É sobre a vontade, e sobre a vida,

A maneira como nos torcemos

Tomando formas mais sofridas,

Tentando ter o que não temos,

Ser o que não somos,

Saber o que não podemos.


 E tudo isso assim tem sido,

Desse jeito, exatamente,

E a mente cria correntes,

Obstáculos intransponíveis

Que nos mantém tão sem nós,

Tão sem voz,

Tão sem tempo...






 


 




segunda-feira, 28 de novembro de 2022

VOZ

 




 



Voz que viaja, se erguendo

De sustenido a sustenido

Mas nunca chega a um par de ouvidos.

 

Voz que se eleva, e que grita,

Aflita, inflama as amídalas,

Faz racharem as xícaras

E os copos

Na cristaleira de vidro.

 

Voz que ecoa, e se ergue

Com força

Num peito vazio,

Onde os ecos se sobrepõe,

E se repetem, incontidos.

 

Voz que chora, e se desfolha

Qual margarida entre os dedos

De alguém indeciso.

Voz que se cala, finalmente,

E que adormece, infeliz,

Em um calado grito

Que estanca, mas desagua em cascatas

Sobre o travesseiro, perdido.




 

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

TRISTE VERDADE

 



 

 

Sejamos realistas: algumas batalhas são ganhas e outras perdidas. Ora desse povo acampado em frente aos quartéis voltarem para casa. Não existe nada lá para a Direita brasileira. As pessoas estão perdendo seu tempo alimentando falsas esperanças – muitas vezes, fomentadas por canais do YouTube sensacionalistas em busca de ‘likes’ e seguidores.

No caso de Bolsonaro e das urnas eletrônicas inauditáveis, ele confiou no respaldo das Forças Armadas. Entretanto, já não se fazem mais Forças Armadas como antigamente, e esses generais deveriam trocar suas fardas por pijamas de bolinhas cor-de-rosa. Mas continua o povo iludido nas ruas, acampados em frente aos quartéis clamando por um deus que não existe e achando que esse deus os ouvirá, quando os únicos que poderiam ajudar, se acovardaram.

Não acho que as eleições devessem ser anuladas. Se Lula está lá, é porque o povo merece exatamente isso, e quem sabe, esses quatro anos de PT sejam necessários para que aqueles que ainda acreditam neles se desiludam de vez. Não acredito no acaso.

Porém, existem algumas pessoas que se acham donas do poder, representadas por um ditador que se denominou o proprietário do país, e estas pessoas deveriam ser presas, e as chaves, jogadas no lixo. Para isso – e apenas para isso – eu acho que as Forças Armadas deveriam ter feito uma intervenção, já que o senado não passa de um bando de covardes com rabos presos.

Muitos dirão que isso seria inconstitucional; mas a nossa constituição já está sendo utilizada como papel higiênico há muito tempo. Ela foi reinterpretada, rasurada, amassada, e finalmente, rasgada e queimada.

Não vejo nenhuma solução. Acho que o povo deveria recolher sua esperança e voltar para casa a fim de aproveitarem seus últimos dias de liberdade, pois ao amanhecer de 2023 poderemos nos surpreender com as Forças Armadas rebaixadas à guarda nacional particular do PT e batendo continência ao Lula. Sinto muita pena de nós. Lamento profundamente por um país riquíssimo, que sempre teve tudo para se tornar o melhor do mundo e que nunca conseguiu devido à corrupção e ao egoísmo de alguns.

Concordo com quem diz que é uma luta do bem contra o mal, mas não é como nos filmes, quando o bem sempre vence. Aqui é a vida real. Já vimos o mal vencer e se alastrar inúmeras vezes. Basta ligar a TV ou o YouTube e vemos notícias sobre guerras, corrupção, assassinatos. O Mal venceu, como acontece na maioria das vezes. E isso vai continuar acontecendo enquanto a maioria das pessoas se alinharem com o Mal.

Admitimos que um criminoso corrupto fosse novamente erguido à posição de presidente  desta nação, e agora nada mais há a ser feito. E nem adianta rezar; Deus também se cansa dos imbecis.

terça-feira, 15 de novembro de 2022

UM DIA INTEIRO

 


 

 

Não consigo dormir até mais tarde, e à medida que envelheço, tenho a impressão de que meus dias estão começando cada vez mais cedo. Hoje, feriado de 15 de novembro, abri os olhos à 4:45 da manhã e não consegui mais dormir.

 

Os sons dos passarinhos na árvore à janela do quarto me atraem feito um ímã. Logo, a luz avermelhada do sol começou a entrar através das cortinas. Peguei meu Kindle e fui sentar-me na varanda para ver o sol nascer – e ele nasceu lindo, entre nuvens pesadas  cinzentas e arredondadas, caprichosamente formatadas pelo vento. Olho para as copas das árvores e vejo que as criaturas da natureza despertaram bem mais cedo do que eu – sabiás na lida, maritacas voando em bandos pelo céu, meu casal de tucanos, que fez ninho em um tronco de árvore morta, se esforçando para alimentar o filhote. Bem-te-vis cantam, trocando mensagens à distância. As cambaxirras andam pelo muro com seu filhotinho, que bate as asinhas pedindo comida.

 

Olho lá para baixo e vejo Mootley, meu cachorrinho, caminhando pelo jardim. Faço silêncio, pois se ele descobrir que já estou acordada, fará um escândalo, e isso acordará minha outra cachorrinha, a Leona, e ambos passarão a latir e esmurrar a porta da cozinha até que eu vá até eles.

 

Gosto de acordar sempre cedo, pois na minha opinião, dormir até tarde é viver apenas a metade do dia, o que significa, no final das contas, viver pela metade. O dia será longo, e haverá muitas tarefas a serem feitas: preciso limpar a geladeira e passar a roupa. Preciso cuidar do almoço e também preparar as minhas aulas para amanhã. E quanto mais cedo eu começar, mais tempo livre eu terei no decorrer do dia.

 

Tive tempo até mesmo de escrever esta breve crônica.

 

Bom dia a todos.

 

 



quinta-feira, 10 de novembro de 2022

VAI, CARAMELO!!!

 


 

Só nos resta rir (enquanto podemos), nesse país onde tias do zap enroladas em bandeiras do Brasil e pessoas de meia-idade são tratadas como nazistas e facistas quando se manifestam, e as quadrilhas do MST que invadem propriedade privada e assassinam gado à pauladas, são a turma do "amor." 

 

Vamos rir, afinal, este é um país onde a Constituição virou papel higiênico e aqueles que deveriam defendê-la, seus usuários.

 

Na verdade, as tias do zap têm mais culhões do que aquele pessoal lá do senado, e também são mais resistentes do que muito cabra macho por aí. Voltem para casa, tias, porque daqui a algum tempo, aqueles que as xingam de nazistas e duvidam da sua capacidade cognitiva, estarão em suas portas, mendigando por comida.

 

Escondam o Caramelo.



segunda-feira, 7 de novembro de 2022

MEMÓRIAS

 



Um pano branco, ou simples névoa,

Um vento solto sobre a relva,

Nuvem passando e indo embora

Apaga os traços da memória.


A gente esquece pra viver,

Porque “Reter é perecer”

Na solidão das águas claras

Flutuam as palavras raras.


E elas brincam de esconder

Entre as montanhas, nuvens, flores,

Guardam consigo as sementes

Do que morreu das nossas dores,


Para que um dia, replantadas,

Na terra fértil que ladeia

As curvas dessa nossa estrada,

Sejam história a ser contada. 




segunda-feira, 31 de outubro de 2022

ERVA DANINHA





A erva daninha crescia, devagar,

Junto ao muro de pedra.

Todos os dias, alguém vinha,

Puxava a plantinha,


Arrancava, sem dó,

A erva daninha.

Mas o que esse alguém não sabia,

É que as raízes cresciam, felizes,


Por baixo do solo,

Se espalhando,

Sem ninguém notar,

Indo crescer em outro lugar.


 E é esta a história 

De nossas vidas.




 




 




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