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domingo, 5 de outubro de 2014

Frida - A Biografia

Diego e Frida



Ao conhecer Frida Kahlo, o renomado pintor Diego Rivera caiu de encantos pela menina determinada e forte. Ela decide pedir-lhe uma opinião sobre suas pinturas, já que nutre por ele grande admiração e quer saber se seus quadros são realmente bons ou se ela deve desistir de pintar. Achei lindo este trecho do livro, que fala do começo do amor entre eles... Um trechinho do livro Frida - A Biografia, de Hayden Herrera. Disponível na amazon.com.br



"...Eu me senti profundamente comovido de admiração por aquela menina. Tive de me refrear para não cobri-la de elogios tanto quanto eu queria. Mas não consegui ser totalmente insincero. Eu estava intrigado pela atitude dela. E perguntei por que ela não  confiava no meu julgamento. Ela afinal não tinha ido me ver justamente pra ouvir a minha opinião? "O problema", ela disse, "é que alguns amigos seus me aconselharam a não dar muito valor ao que você diz. Eles me contaram que quando é uma mulher que pede sua opinião, e desde que ela não seja feia, você logo se derrama todo sobre ela e a enche de atenções apaixonadas. Bom, eu quero que você me diga só uma coisa. Acha mesmo que devo continuar pintando, ou devo procurar outro tipo de trabalho?" "Na minha opinião, por  mais que seja difícil pra você, você deve continuar pintando", respondi de imediato. "Então vou seguir seu conselho. Agora, eu gostaria de te pedir mais um favor. Pintei outros quadros que eu gostaria que você visse. Já que você não trabalha aos domingos, será que poderia ir até a minha casa domingo que vem para ver as telas? Eu moro em Coyacán, avenida Londres, 126. Meu nome é Frida Kahlo." No momento em que ouvi o nome dela, eu me lembrei que meu amigo Lombardo Toledano, quando era diretor da Escola Nacional Preparatória, tinha reclamado de uma menina de  mesmo nome. Ela era líder, ele dizia, de um bando de delinquentes juvenis que causavam tantos tumultos que ele tinha pensado em pedir demissão do emprego por causa deles. 



pintura de Frida Kahlo


Eu me lembrei de que uma vez ele me apontou quem era a menina, depois de deixá-la na sala do reitor para uma reprimenda. Então outra imagem surgiu em minha mente, a daquela menina de doze anos que desafiara Lupe (nota: Lupe, na época, era esposa de Rivera), sete anos antes, no auditório da escola onde eu estava pintando murais. Eu disse: "Mas você é..." Ela rapidamente me interrompeu, tão ansiosa que quase colocou a mão na minha boca. Seus olhos  adquiriram um brilho diabólico. Em tom ameaçador, ela disse: "Sim, e daí? Eu era a menina do auditório. mas aquilo não tem absolutamente nada a ver com o agora. Ainda quer ver -me no domingo?" Tive grande dificuldade de não responder "Mais do que nunca!". Mas se eu demonstrasse minha empolgação, ela talvez nem me deixasse ir. Por isso, respondi somente: "Sim." Então, depois de recusar a minha ajuda para carregar as pinturas, Frida foi embora, com as enormes telas balançando debaixo dos braços. No domingo seguinte me vi em Coyacán, procurando a avenida Londres, 126.  



Quando bati na porta, ouvi alguém assoviando "A Internacional" por cima da minha cabeça. No topo de uma árvore alta, vi Frida, de macacão, começando a descer. Rindo alegremente, ela segurou minha mão e me levou para dentro de casa, que parecia estar vazia, e para dentro do quarto dela. E então ela me exibiu todas as suas pinturas. O desfile das telas, o quarto dela, sua presença radiante, me encheram de uma maravilhosa alegria. Eu ainda não sabia, mas Frida já tinha se tornado o fato mais importante de minha vida, e continuaria sendo até o momento de sua morte, 26 anos depois.  



Dias depois de visitar Frida em casa, eu a beijei pela primeira vez. Assim que concluí meu trabalho no prédio do Ministério da Educação, comecei a cortejá-la a sério. Embora ela só tivesse dezoito anos (vinte ou vinte um; Frida mentia sobre sua idade) e eu mais do que o dobro, nenhum de nós se sentia nem um pouco constragido. A família dela parecia aceitar  que estava acontecendo. Um dia, o pai dela, don Guillermo Kahlo, que era um excelente fotógrafo, me chamou de lado: "Vejo que está interessado em minha filha, não é?" ele me perguntou. "Sim," respondi. "Do contrário não faria  essa viagem toda até Coyocán para vê-la." "Ela é um demônio," ele disse. "Eu sei." "Bom, eu avisei," ele disse, e saiu andando.


Frida, já muito doente, pintando em sua cama, ao lado de Diego Rivera, seu marido.



sábado, 4 de outubro de 2014

Intensa





Ah, tarde vermelha que entra pela janela,
Salpicada pelos cantos molhados dos sabiás
E pelos cheiros doces das flores e do mel dos colibris!
Ah, tarde, tuas vozes de velhos amores,
Rostos derretidos de gris, na sépia do tempo,
Que já nem aparecem mais nas fotografias!...

Ah, tarde, que me trouxe uma canção distante,
Cheia de lembranças de almas errantes
Que passaram, que se foram para sempre, e antes,
E que nunca, nunca mais aqui voltaram!

Ah, tarde se eu pudesse!... - te prometo, e te juro,
Mergulhava de vez nesse anoitecer escuro
Cujas pontas seguras entre os dedos duros!



terça-feira, 30 de setembro de 2014

FASES...










INGRATIDÃO







Precisava de um vestido,
Precisava de um ouvido.

Bateu à porta, contrita,
Um fiapinho de vida,
Os olhos postos no chão.

Precisava de um vestido,
Precisava de um ouvido.

Viu a estendida mão,
Pegou-a, sem cerimônias,
Colocou no coração.

Precisava de um vestido,
Precisava de um ouvido.

Deitou a necessidade
Que assolava sua vida,
Derramou sua saudade.

Precisava de um vestido,
Precisava de um ouvido.

Recebeu seu lenitivo,
Encontrou uma saída,
Reviu a felicidade.

Precisava de um vestido,
Precisava de um ouvido.

E depois, virou as costas
Saindo através da porta
Sem nem mesmo olhar para trás.

Precisava de um vestido,
Precisava de um ouvido.

Relegou ao esquecimento
Aquele que lhe salvara,
E não voltou nunca mais...

Precisava de um vestido,
Precisava de um ouvido...



segunda-feira, 29 de setembro de 2014

UM LUGAR PARA OLHAR O CÉU





Acho que toda casa deveria ter um lugar para olhar o céu; seja uma janela, um canto de jardim, uma poltrona, um pedacinho de chão. Lembro-me que quando eu e meu marido nos mudamos para nossa primeira casa (e tivemos, pela primeira vez, um quadradinho de jardim), nos deitávamos no chão nas noites de verão (geralmente, aos sábados) e ficávamos conversando e olhando o céu.

No último sábado, ao fazer compras em um supermercado por aqui, achei umas poltronas de jardim que me atraíram. Ao olhar para elas, que são largas e feitas de material plástico, com braços confortáveis e assentos baixos com encostos reclinados, imediatamente imaginei que seriam boas para olhar o céu. Compramos duas, e coloquei-as no jardim ontem de manhã. O tempo não estava muito ensolarado, mas mesmo assim, sentei-me em uma delas e relaxei - os cães brincando à minha volta. 

Comecei a ler um dos livros que baixei para o meu e-reader, mas em poucos minutos comecei a sentir-me sonolenta e fechei os olhos. Passei a escutar e tentar identificar os cantos dos pássaros que voavam pelo jardim e pela mata próxima... sabiás... coleiros...  canários da terra... bem-te-vis... maritacas... cambaxirras... um tucano... saíras... e assim, contando passarinhos, eu dormi. Apenas por alguns minutos, mas dormi. Despertei com pinguinhos de chuva no rosto, e ao abrir os olhos, dei com o céu cinzento e as copas das árvores. Debaixo das cadeiras, dormiam meus cachorrinhos...

Mal posso esperar por uma noite estrelada, para que possamos nos sentar nas cadeiras e olhar as estrelas.


VORACIDADE




Almoçando ontem em um excelente restaurante de comida mineira, em Juiz de Fora, eu e meu marido, sentados próximos ao bufê (único lugar vago quando entramos)  observávamos o comportamento de alguns clientes. Era um destes restaurantes tipo “all-you-can-eat”, no qual as pessoas pagam um preço único e servem-se o quanto desejarem. Em uma das mesas, onde estavam sentados um casal e o filho pequeno, a moça foi ao bufê muitas vezes, e a cada vez, voltava para a mesa com pratos cheios – obviamente, eles não devem ter conseguido comer toda aquela comida! Enquanto isso, reparei em um senhor que encheu o prato quatro vezes. Seu estômago volumoso e seu rosto vermelho demonstravam o esforço que seu organismo deveria estar fazendo para digerir toda aquela comida.

Acima dos pratos, na parede do bufê, o anúncio: “Por favor, Evitem desperdício de comida!” Acredito que ninguém o tenha lido. Pensei no quanto os seres humanos são vorazes e egoístas. Da mesma maneira que serviam-se naquele bufê (pegando mais comida do que seriam capazes de comer ou do que seria aconselhável à sua própria saúde), nós, “humanos,” depredamos florestas, secamos rios, eliminamos outras espécies e disputamos vagas em empresas passando por cima de outras pessoas – sabotando-as se preciso. E há os que dizem: “É a lei da sobrevivência!”

Nos queixamos dos políticos que estão lá, eleitos por nós, depredando o povo e os recursos do país, mas quantos faríamos diferente se estivéssemos no lugar deles? Para mim, eles apenas retratam as convicções da maioria das pessoas. A ordem da vida é pegar o máximo que for possível, encher os pratos e as mãos, comer até vomitar; afinal, é preço único, e ninguém quer ser chamado de tolo... a vida deve ser aproveitada “ao máximo.”

Na volta para casa, já anoitecendo, vemos na estrada quilômetros de florestas pegando fogo, e imaginamos quantos animais e quantas plantas estavam sendo destruídos ali; certamente, através das mãos de alguém egoísta que acha bonito ver o mato pegar fogo. Enquanto isso, passamos por uma senhora que lavava a calçada com jatos de mangueira, ignorando as queimadas, a estiagem e a falta d’água.

Chegamos em casa, e ao ligar a TV, vemos um grupo de adolescentes de skate surrando um cão que tentava desesperadamente escapar de dentro da pista escorregadia.

Amanheci pessimista.

Deus errou. Deveria ter descansado bem antes do sétimo dia. Antes de criar a raça humana.


sábado, 27 de setembro de 2014

MENSAGEM A UM DESCONHECIDO - CECILIA MEIRELES






Teu bom pensamento longínquo me emociona.
Tu, que apenas me leste,
acreditaste em mim, e me entendeste profundamente.


Isso me consola dos que me viram
a quem mostrei minha alma,
e continuaram ignorantes de tudo que sou,
como se nunca me tivessem encontrado.


Fevereiro, 1956



SOBRE O QUE SOMOS



Ao ler a entrevista do cantor canadense Michael Boublé à revista Speak Up, encontrei uma frase que eu considero muito correta. Ao explicar o porquê de não guardar nenhum dos prêmios, troféus e placas que recebe - nem mesmo o Grammy -  o cantor declarou:

"Se precisarmos ser lembrados de quem somos, podemos simplesmente nos olhar no espelho!"

Assim, Michael Bublé distribui seus prêmios aos seus pais, parentes, amigos e até mesmo lojas que frequenta em Vancouver, sua cidade natal. Fiquei pensando que, apesar de nos sentirmos envaidecidos e agradecidos quando recebemos prêmios pelo nosso trabalho, eles realmente não dizem quase nada sobre o que somos. Nossas profissões são apenas uma parte das nossas vidas. Posso dar aulas e ser chamada de professora, mas uma professora não é o que eu realmente sou. Existe uma essência por trás dos títulos que recebemos e conquistamos ao longo da vida que poucos de nós realmente chega a conhecer ou preocupar-se em conhecer.

E vamos nos adaptando e nos identificamos com o que os outros acham de nós, e cada vez mais, fazendo de tudo para que aquela imagem que tentamos tão arduamente construir permaneça sempre verdadeira aos olhos do próximo. É a criação da nossa máscara, da nossa persona. Com o tempo, a idade e a experiência de vida, vamos aos poucos compreendendo o quanto estas coisas são passageiras e sem importância.

Na minha idade - quase meio século de vida - só desejo uma coisa: ser feliz à minha maneira. Pouco me importa o que esperam de mim. Hoje, só vou aonde sei que sou bem vinda. Só entro onde sou convidada. Já não me importo com muitas das coisas que eu considerava importantes antigamente, e hoje eu vejo o quanto perdi tempo com elas. Aprendi a não dizer "sim" quando quero dizer "não." Aprendi a não dobrar-me àquilo que querem de mim, porque chantagens emocionais já não me comovem. Minha ética e minha maneira de ser são as únicas coisas que me importam. Respeito a quem me respeita. Ignoro a quem me ignora. Convivo com quem me faz bem, com as pessoas com quem eu sinto que não preciso me espremer, me dobrar ou me sangrar para ser como elas querem.

E se elas me esquecem, é um favor que me fazem.



segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Amor Verdadeiro



Amor verdadeiro não nasce do que é fácil,
Dos sorrisos de superfície 
E dos falsos abraços.

Talvez seja preciso ter noites em claro,
Porque amor de verdade, é raro,
Não brota assim, de qualquer jeito,
Do chão!

Amor de verdade nasce da dificuldade,
Da adaptação,
Da paciência e até mesmo da saudade,
Quem sabe, da ausência repentina,
Que sempre põe, nos 'is', os pingos certos...

Amor de verdade percorre desertos,
E mata a própria sede com as águas das mágoas,
Quanto faltam outras águas,
Pois não se deixa morrer, assim, à toa,

Amor de verdade é coisa boa
Tirada de tudo o que for ruim,
Para que não venha o fim,
Por causa de qualquer desilusão,
Porque amor de verdade não morre
Sem que antes se tente
A ressuscitação.




JAMAIS SABEREI




Jamais saberei 
Como será a tua face de adulta,
Crescida, orgulhosa e resoluta,
Do reflexo das nuvens nas tuas negras pupilas,
Do sol brilhando sobre a tua figura...

Jamais saberei como será a tua vida,
Ou como será a tua voz,
Ou como seríamos juntas, nós,
Pois há nós demais nesses meus laços,
Travando meus passos,
Matando a amizade
Bem antes do abraço!

Jamais saberei como seria
Sentar-me ao teu lado, numa tarde de verão,
A fim de não fazermos nada,
A não ser contemplar a beleza das folhas,
Jamais saberei da tua alegria
Que guardaria minha casa em noites frias,
Velando meu sono enquanto sonho...

E quando estivermos ambas já bem velhas,
Não terei ao meu lado tua calma companhia,
Não te sentarás comigo ao alpendre,
Enquanto os beija-flores beijam as primeiras estrelas,
Não te verei olhar os pequeninos vaga-lumes,
Estarei bem longe de ti, e tu, de mim,
Da minha vida, bem distante!

E quem sabe, tudo volte a ser como antes,
Assim que eu te levar de volta onde nos conhecemos,
Assim que eu me virar de costas, para sempre,
Fechando para nós, a minha porta!

Te olho agora, e dormes tão tranquila aos meus pés,
E aos pés da minha mesa,
Dormes com a paz e a inocência de que és feita,
A sonhar com manhãs
Que infelizmente, nunca chegarão...

E eu sinto tanto, sinto tanto, tanto, tanto...
Mas é que ainda há dores pelos cantos,
São as escolhas que precisamos fazer,
Para que a vida não volte a morrer...



EIS A CASA





Deixo um poema de Cecília Meireles sobre uma casa na qual todos gostariam de viver:


Eis a Casa


Eis a casa
menos que de ar
imponderável,
no entanto é branca de camélia e tem perfume de cal.

Com seus corredores

Suas escadas

O alpendre
As janelas uma a uma

Vê-se o mar. As montanhas. O trem passando. O gasômetro.

Vêem-se as árvores por cima com suas flores

A casa impon derável

Mas de cimento madeira tijolos ferro vidro

A pintura prateada das grades cheira a óleo a fruta a luz

A água a pingar cheira a musgo
soa metálica, trêmula
insetos pássaros líquidos
pequenas estrelas
clarins muito longe

Peitoris gastos de braços antigos

Sombras de borboletas

Eu sei quem comprou a terra
quem pensou nos desenhos
quem carregou as telhas

Passam legiões de formigas pelos patamares

Eu sei de quem era a casa
quem morou na casa
quem morreu

Eu sei quem não pode viver na casa

É uma casa
com seus andares
suas escadas
seus corredores varandas
aposentos
alvenaria
muros

imponderável

Uma casa qualquer
Cruz que se carrega
Imponderavelmente, para sempre, às costas.



Um poema belíssimo, e nem é preciso dizer... nem percebemos o quanto somos como os caramujos, carregando nossas casas às costas - todas elas - as casas onde moramos, nascemos, crescemos e vivemos com nossas famílias. As casas onde fomos felizes e tristes, cujas paredes nos viram rir e chorar, temer e amar. As casas que nos comportaram e nos abrigaram quando nos sentíamos vazios de nós mesmos. As casas onde comemoramos nossos aniversários e choramos após nossos velórios. As casas cujas paredes ficaram impregnadas dos nossos sonhos e desejos, realizados ou não - e os sonhos e desejos não realizados sempre parecem eternos.

Carregamos muitas casas às nossas costas. Todas as casas em que moramos ou ainda vamos morar. Deixamos nelas pedaços de vida que ficam registrados em fotografias e lembranças. Cada mudança de casa é uma mudança de fase; até mesmo uma simples pintura na parede, uma troca de cortinas ou de cores, representa uma mudança, ou pelo menos, o desejo desta mudança.

Carregamos as nossas casas para sempre, quer as experiências que vivemos nelas tenham sido boas ou ruins. E finalmente, há casa derradeira, a casa que nos verá envelhecer. A nossa última morada.




Parceiros

Wyna, Daqui a Três Estrelas

Este é um post para divulgação do livro de Gabriele Sapio - Wyna, Daqui a Três Estrelas. Trata-se de uma história de ficção científica, cuj...