segunda-feira, 11 de agosto de 2014
TUDO FICA BEM NA TUA BOCA
Tudo fica bem na tua boca,
O sorriso torto,
Os lábios caídos
Num esgar de riso,
Os dentes trincados
De medo e de raiva,
A palavra mais suja,
Mais rasa.
A injúria traçada
Pelas linhas tortas
Da língua ferina,
O sopro de lava
Que queima e que trava
A minha palavra.
Tudo fica bem
Na tua boca aberta,
Escancarada:
O fel da mentira,
O sabor da ira,
O beijo amargoso
Que fere meu rosto.
Tudo fica bem na tua boca,
Ah, e que coisa mais louca
Esse poder que ela tem
De refletir, de mostrar
Exatamente
Sem necessidade de lentes,
O que teu coração guarda!
OSMOSE
Sempre a mesma dose!
No fundo do copo, o mais forte,
O que sobrou
Do absinto
Eles me servem.
Aprendo não por palavras,
Não pelas travas,
Mas por osmose,
Aos trancos,
Pelos barrancos
E arrancos
De quem me aponta
E de si mesmo
Foge.
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
NUNCA MAIS É SÓ ATÉ AMANHÃ
É comum a todo ser humano, após passar por alguma experiência traumática, dizer coisas como: “Nunca mais faço isso!” ou “Nunca mais eu me apaixonarei de novo!” e “Nunca mais terei outro cachorro!” Não queremos repetir as experiências negativas que o fim sempre traz. No momento em que estamos sofrendo, só pensamos no que está sendo ruim e tendemos a esquecer o que foi bom, os momentos felizes que aquela convivência nos trouxe. Talvez, se pudessem lembrar-se do que foi bom, as pessoas não odiassem tanto os seus ex. Quem sabe...
Nem percebemos que, se a separação ou o fim de alguma situação nos dói tanto, é porque foi bom! E quando nos recusamos a tentar novamente, a começar de novo, nos protegemos não apenas das dores, mas também das alegrias que as coisas trazem. E estas últimas são geralmente bem maiores – nós é que temos sempre a estranha mania de focar no que é ruim.
Depois que choramos pela despedida, depois que nos acostumamos à ausência de algo ou de alguém que se foi, as feridas começam a cicatrizar, e a vida (ou o instinto de sobrevivência) nos força a começar a pensar em procurar a felicidade novamente; se isto não acontecer, é porque nossas almas adoeceram, e precisamos de ajuda para superar. E muitas vezes, o melhor remédio para superarmos uma perda, é dar-nos a chance de começar tudo de novo, com pessoas ou coisas novas, e em outros lugares, talvez.
Por isso, estamos trazendo para casa um novo cão. Mootley (como naquele desenho animado onde Dick Vigarista sempre grita, ao meter-se em alguma enrascada: “Mootley! Faça alguma coisa!” E o cachorrinho, cobrindo a boca, começa a dar risadas). E eu sinceramente acredito que Mootley fará mais que apenas alguma coisa por nós: ele trará de volta à casa a velha alegria de uma presença que é mágica e confortadora. Ele trará de volta a inocência, a espontaneidade, a simplicidade e o deslumbramento que significa a presença de um cão para aqueles que, como nós, amam os animais.
Ninguém jamais substituirá nossos antigos cães; eles tem presença cativa em nossos corações, e seus nomes estão escritos nas pedras do jardim, no buraco da cerca viva por onde eles passavam (que nunca mais voltou a crescer), nas imagens que registramos dos muitos momentos felizes que vivemos ao lado deles, nos brinquedinhos que guardamos de lembrança, enfim, nas nossas memórias. Jamais os esqueceremos ou deixaremos de amá-los e de nos lembrarmos deles com todo carinho e saudade. Mootley não os substituirá, e nem pretendemos tal coisa. Ele virá para ocupar o seu próprio lugar e escrever sua própria história na história de nossas vidas.
quarta-feira, 6 de agosto de 2014
O que eu Vejo
Eu vejo
Os ponteiros do tempo
Nas tuas pupilas
Quando tu me olhas.
Eu vejo os acontecimentos
Percorrendo os trilhos
Das nossas histórias
Que se cruzam,
Seguem paralelas
E voltam a cruzar-se
Em uma configuração
Aparentemente aleatória.
Eu vejo a poesia
Passando como o vento
Deixando sussurros
Que eu recrio
E reinvento.
Mas o que mais fica,
É o tempo,
Que passa voando,
Que passa correndo
Enquanto me olhas...
Vida na Casa
O que dá vida a uma casa?
Muitos dirão: crianças, bichos, plantas. Concordo plenamente, mas dizer que apenas as crianças, bichos e plantas dão vida a uma casa, é quase como afirmar que em casas onde não existem crianças, bichos ou plantas, não há vida.
É preciso que haja vida na casa, e vida que descanse além das presenças. Já visitei casas antigas, habitadas por poucas pessoas, onde me senti viva, e casas cheias de gente onde simplesmente não consegui me sentir bem. Mas então, além das crianças, plantas e bichos, o que dá vida a um casa?
Para mim, é a personalidade do dono. Gosto de casas por onde a gente anda e sente, em cada canto, uma escolha carinhosa que foi colocada ali por algum motivo (sem que se importasse tanto com a decoração ou se combina ou não com as outras coisas). Livros antigos já lidos e manuseados muitas vezes, objetos trazidos de viagens ou fotografias de família, por exemplo; ou quem sabe, algo feito pelo próprio morador. É preciso morar alguns anos em uma casa para que a nossa personalidade possa integrar-se a ela, e mais do que tudo, ter coragem para desafiar regras do que os outros consideram bonito, moderno ou adequado, dando asas à própria imaginação e gosto.
Casa aconchegante e viva é casa com personalidade.
SONO
O dia foi curto,
Mas a tua noite, será longa.
Sem mais delongas,
Vem te deitar.
Já pendurei,
Uma por uma
As estrelinhas
Para enfeitar
Os sonhos teus;
Venha sonhar!
Fecha teus olhos,
Esqueças logo
Todo esse medo
De adormecer.
Verás que é fácil,
É só deitar,
Fechar os olhos,
É como morrer!
Traga um brinquedo
Para abraçar,
Um travesseiro
Pra sustentar
Tua cabeça
Já tão cansada
De só pensar.
Quem sabe, eu cante
Uma canção
Pra te ninar?...
Venha deitar,
Venha esquecer,
Venha sonhar,
Venha morrer.
terça-feira, 5 de agosto de 2014
POEMA SUJO
Poema Sujo
(Ferreira Gullar)
turvo turvo
a turva
mão do sopro
contra o muro
escuro
menos menos
menos que escuro
menos que mole e duro
menos que fosso e muro: menos que furo
escuro
mais que escuro:
claro
como água? como pluma?
claro mais que claro claro: coisa alguma
e tudo
(ou quase)
um bicho que o universo fabrica
e vem sonhando desde as entranhas
azul
era o gato
azul
era o galo
azul
o cavalo
azul
teu cu
tua gengiva igual a tua bocetinha
que parecia sorrir entre as folhas de
banana entre os cheiros de flor
e bosta de porco aberta como
uma boca do corpo
(não como a tua boca de palavras) como uma
entrada para
eu não sabia tu
não sabias
fazer girar a vida
com seu montão de estrelas e oceano
entrando-nos em ti
bela bela
mais que bela
mas como era o nome dela?
Não era Helena nem Vera
nem Nara nem Gabriela
nem Tereza nem Maria
Seu nome seu nome era…
Perdeu-se na carne fria
perdeu na confusão de tanta noite e tanto dia
(Trecho de Poema Sujo, de Ferreira Gullar).
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
A TRAÇA
A TRAÇA
A traça ameaça
Roer, corroer,
Esburacar tecidos
E antigos livros.
Tão ruim, tão sem-graça
O mote da traça!
A traça quer jaça,
A traça faz pirraça,
A traça estica o olho
E olha no buraco
Do ferrolho.
A traça
Quer desgraça,
E isto não passa!
Entala-se de linho podre,
Mordisca ataduras
Úmidas de pus.
Penso:
"Entre dois polegares,
Cala-se a traça."
Abrem-se as vidraças
E morre de frio
A traça.
quarta-feira, 30 de julho de 2014
TAPETES
Nos meses de outono, inverno e no comecinho da primavera, o clima em minha cidade pode ser bastante frio. Assim, não é muito adequado usar pisos cerâmicos - ou pisos frios - para forrar o chão das casas petropolitanas. E quem o faz, acaba quase sempre estendendo um tapete por cima nos meses mais frios.
O ideal para climas como o nosso, são os pisos de madeira, os carpetes (embora eu não os aprecie muito devido a poeira que acumulam e ao cheiro que adquirem após algum tempo) e os pisos laminados, que oferecem uma variedade enorme de padrões e preços, além da rapidez na colocação e facilidade na hora da limpeza. Aqui temos no chão de toda a casa, exceto cozinha e banheiros, o Duraflor padrão Freijó Rústico, que já vai completar dez anos de uso sem o menor sinal de desgaste. É bonito, liso, silencioso ao pisar e de qualidade impecável. E o melhor: resistente a arranhões.
Mas eu, particularmente, não vivo sem tapetes. Gosto de trocá-los de lugar sempre - da sala para o quarto, do quarto para a sala ou para o outro quarto, e assim vou. E por causa dessa mania de viver trocando tudo de lugar, os tapetes de minha casa raramente são muito caros, já que eu enjoo facilmente do padrão e acabo quase sempre doando os antigos e adquirindo novos.
O chão que a gente pisa é uma parte importante da casa. Devemos nos sentir confortáveis andando descalços - pois após um dia cansativo de trabalho, nada melhor que tirar os sapatos e andar descalços pela casa! Por isso, gosto de sentir as fibras macias dos tapetes sob os pés. É relaxante e aconchegante. Tapetes emprestam um colorido especial à decoração, e podem tornar-se seu ponto central. Eu adoro os que tem vermelhos em sua composição. Recentemente, adquirimos um tapete vermelho e laranja para a sala de estar que parece ter dado nova vida ao ambiente. Para equilibrar, no ambiente onde fica a TV, colocamos um tapete preto decorado com tons bege. Acho que ficou bonito. Porque o importante em uma casa, é que a gente ache que ficou bonito.
Ela Estava Ali
Ela Estava ali,
No vácuo morno
Daquele momento,
E um por-de-sol vermelho
Escorria, lento,
Pelas primeiras rugas de sua testa.
Cenho franzido,
Ela observava
E absorvia.
Ela estava ali...
Mas e depois,
Para onde ela foi,
Onde ela estava?...
Uma outra flor se abriu,
E um outro sol se pôs
Para outros olhos
Que ali chegaram.
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