terça-feira, 5 de agosto de 2014
POEMA SUJO
Poema Sujo
(Ferreira Gullar)
turvo turvo
a turva
mão do sopro
contra o muro
escuro
menos menos
menos que escuro
menos que mole e duro
menos que fosso e muro: menos que furo
escuro
mais que escuro:
claro
como água? como pluma?
claro mais que claro claro: coisa alguma
e tudo
(ou quase)
um bicho que o universo fabrica
e vem sonhando desde as entranhas
azul
era o gato
azul
era o galo
azul
o cavalo
azul
teu cu
tua gengiva igual a tua bocetinha
que parecia sorrir entre as folhas de
banana entre os cheiros de flor
e bosta de porco aberta como
uma boca do corpo
(não como a tua boca de palavras) como uma
entrada para
eu não sabia tu
não sabias
fazer girar a vida
com seu montão de estrelas e oceano
entrando-nos em ti
bela bela
mais que bela
mas como era o nome dela?
Não era Helena nem Vera
nem Nara nem Gabriela
nem Tereza nem Maria
Seu nome seu nome era…
Perdeu-se na carne fria
perdeu na confusão de tanta noite e tanto dia
(Trecho de Poema Sujo, de Ferreira Gullar).
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
A TRAÇA
A TRAÇA
A traça ameaça
Roer, corroer,
Esburacar tecidos
E antigos livros.
Tão ruim, tão sem-graça
O mote da traça!
A traça quer jaça,
A traça faz pirraça,
A traça estica o olho
E olha no buraco
Do ferrolho.
A traça
Quer desgraça,
E isto não passa!
Entala-se de linho podre,
Mordisca ataduras
Úmidas de pus.
Penso:
"Entre dois polegares,
Cala-se a traça."
Abrem-se as vidraças
E morre de frio
A traça.
quarta-feira, 30 de julho de 2014
TAPETES
Nos meses de outono, inverno e no comecinho da primavera, o clima em minha cidade pode ser bastante frio. Assim, não é muito adequado usar pisos cerâmicos - ou pisos frios - para forrar o chão das casas petropolitanas. E quem o faz, acaba quase sempre estendendo um tapete por cima nos meses mais frios.
O ideal para climas como o nosso, são os pisos de madeira, os carpetes (embora eu não os aprecie muito devido a poeira que acumulam e ao cheiro que adquirem após algum tempo) e os pisos laminados, que oferecem uma variedade enorme de padrões e preços, além da rapidez na colocação e facilidade na hora da limpeza. Aqui temos no chão de toda a casa, exceto cozinha e banheiros, o Duraflor padrão Freijó Rústico, que já vai completar dez anos de uso sem o menor sinal de desgaste. É bonito, liso, silencioso ao pisar e de qualidade impecável. E o melhor: resistente a arranhões.
Mas eu, particularmente, não vivo sem tapetes. Gosto de trocá-los de lugar sempre - da sala para o quarto, do quarto para a sala ou para o outro quarto, e assim vou. E por causa dessa mania de viver trocando tudo de lugar, os tapetes de minha casa raramente são muito caros, já que eu enjoo facilmente do padrão e acabo quase sempre doando os antigos e adquirindo novos.
O chão que a gente pisa é uma parte importante da casa. Devemos nos sentir confortáveis andando descalços - pois após um dia cansativo de trabalho, nada melhor que tirar os sapatos e andar descalços pela casa! Por isso, gosto de sentir as fibras macias dos tapetes sob os pés. É relaxante e aconchegante. Tapetes emprestam um colorido especial à decoração, e podem tornar-se seu ponto central. Eu adoro os que tem vermelhos em sua composição. Recentemente, adquirimos um tapete vermelho e laranja para a sala de estar que parece ter dado nova vida ao ambiente. Para equilibrar, no ambiente onde fica a TV, colocamos um tapete preto decorado com tons bege. Acho que ficou bonito. Porque o importante em uma casa, é que a gente ache que ficou bonito.
Ela Estava Ali
Ela Estava ali,
No vácuo morno
Daquele momento,
E um por-de-sol vermelho
Escorria, lento,
Pelas primeiras rugas de sua testa.
Cenho franzido,
Ela observava
E absorvia.
Ela estava ali...
Mas e depois,
Para onde ela foi,
Onde ela estava?...
Uma outra flor se abriu,
E um outro sol se pôs
Para outros olhos
Que ali chegaram.
A LUZ NA PALMA DA MÃO
Branca, leitosa, macia
A luz na palma da mão
Singrando as linhas da vida.
Por entre estradas perdidas
Caminhos vários, silêncios
Um porto pra cada vida.
Mas se a luz não chega até
O porto do coração,
O brilho será em vão...
Palavras soltas, vazias,
Os dedos duros que apontam,
O fel da melancolia...
Perder-se na fantasia
De pensar poder voar
Sobre toda escuridão
Derramando certa luz
Que morre ao tocar o chão
Pois não sai do coração...
Ah, e o orgulho disfarçado
De santa sabedoria
Traz sob a manga, um punhal
Que golpeia, com certeza,
Embora entre mil disfarces
Sem piedade e sem arte!
Madre Teresa
Alguns pensamentos de Madre Teresa de Calcutá, para uma vida melhor.
"Todas as nossas palavras serão inúteis se não brotarem do fundo do coração. As palavras que não dão luz aumentam a escuridão."
"Sei que o meu trabalho é uma gota no oceano, mas sem ele, o oceano seria menor."
"O dever é uma coisa muito pessoal; decorre da necessidade de se entrar em ação, e não da necessidade de insistir com os outros para que façam qualquer coisa."
"Não ame pela beleza, pois um dia ela acaba. Não ame por admiracão, pois um dia você se decepciona. Ame apenas, pois o tempo nunca pode acabar com um amor sem explicação."
ASSIM MESMO
Muitas vezes as pessoas são egocêntricas, ilógicas e insensatas.
Perdoe-as assim mesmo.
Se você é gentil, as pessoas podem acusá-lo de egoísta, interesseiro.
Seja gentil, assim mesmo.
Se você é um vencedor, terá alguns falsos amigos e alguns inimigos verdadeiros.
Vença assim mesmo.
Se você é honesto e franco, as pessoas podem enganá-lo.
Seja honesto assim mesmo.
O que você levou anos para construir, alguém pode destruir de uma hora para outra.
Construa assim mesmo.
Se você tem Paz e é Feliz, as pessoas podem sentir inveja.
Seja Feliz assim mesmo.
Dê ao mundo o melhor de você, mas isso pode nunca ser o bastante.
Dê o melhor de você assim mesmo.
Veja que, no final das contas, é entre você e DEUS.
Nunca foi entre você e as outras pessoas.
domingo, 27 de julho de 2014
Canarinhos no Jardim
Pousados no meio da rua, eles comem a canjiquinha. Pombas-rolas, canários, goderos, sabiás... |
Canjiquinha: é disto que eles gostam!
Sempre fiquei mordida de inveja ao passear pelas ruas do bairro e ver os canarinhos pousados nos gramados vizinhos. O que eles faziam para atraí-los?
As bananas e outras frutas que eu coloco para trazer as saíras, sanhaços, sabiás e bem-te-vis não fizeram qualquer efeito sobre eles. De repente, reparei que no chão, entre os paralelepípedos, um de meus vizinhos colocara algo amarelo, que ficava cheio de passarinhos de todas as cores. Cheguei mais perto para ver melhor: era canjiquinha!
Foi espalhar canjiquinha pelo gramado, e pronto: eles vieram! São tantos, que parecem pontinhos amarelos de luz sobre o verde. Pena que ainda não consegui fotografá-los - eles são tímidos e espantados, e fogem a qualquer tentativa de aproximação, e minha câmera não tem um zoom muito bom; esta foto foi tirada na rua, de dentro do carro.
Trazer passarinhos para a casa é uma coisa mágica, que faço desde que mudei-me para cá. Mas gosto deles livres, voando soltos, pousando nas árvores, no muro, no gramado, e depois, voando para longe, manchas coloridas no céu... e eu voo com eles.
Que me perdoem os que prendem pássaros em gaiolas e cortam asas de periquitos, maritacas e cacatuas, mas eu sou absolutamente contra estas práticas. Penso que, se tivéssemos asas, não gostaríamos que alguém as cortasse ou nos colocasse entre barras de ferro. Entretanto, é isto o que as pessoas fazem às pobres aves.
Pássaros não cometeram crimes. Tem asas para voar, e merecem ser livres.
A Flor Branca
Parecia ser a alma
De alguma princesa
Há muito morta.
Derramava-se toda
Sobre a verde folhagem
Junto à porta.
Seu meigo perfume
Era algo entre o velório
E as rosas.
Uma flor branca,
nasceu sem ser plantada,
Sem ser querida...
Mais uma discrepância,
Doce ironia
Da vida.
quinta-feira, 24 de julho de 2014
Os Bulbos da Callas
Callas |
Há alguns meses, ganhei de meu marido dois vasos com esta flor africana, chamada Callas. Parece um Copo de Leite negro, embora sua cor seja, na verdade, a mesma que encontramos nas cascas das berinjelas. Tem ares misteriosos, folhas brilhantes e nenhum perfume - mas uma beleza mágica!
Ela permaneceu florida durante muito tempo, mas aos poucos, as folhas foram murchando e caindo, juntamente com as flores. Restaram apenas os vasos com terra e adubo.
Ontem, quando procurava um vaso para plantar um molho de rúcula que veio com a raiz, deparei com os vasos de terra, ricos em adubo, e pensei em utilizá-los. Enquanto revolvia a terra, senti na ponta da pazinha algo duro. Eram os bulbos da Callas, cheios de brotos! Replantei-os em um canto do jardim, e espero que renasçam.
Assim é a vida. Nunca sabemos o que está por dentro da terra...
quarta-feira, 23 de julho de 2014
Não Sei
Não sei se é a carta marcada,
Ou se é uma dor chorada,
Teu semblante tão sem cor
(Ou face escura do Nada?...)
Se foi a poeira da estrada,
Ou fruto do desamor,
Não sei se é pacto feito
(Ou será puro despeito?...)
Não sei se a vida é bandida,
Ou se é praga rogada
A linha escrita da trilha;
Eu já não sei de mais nada!
Mas sei do sol que ilumina
Tua estrada amargurada
A qual, tu pensas, é sina,
Mas é bênção disfarçada!
Não sei se há uma saída,
Talvez haja uma chegada
Não te dou uma resposta;
-A palavra é sempre vasta...
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