Cedo ou tarde,
Faz-se um silêncio
Pesado e denso
Dentro da gente.
Foge a palavra,
Esconde-se, cala-se,
Resvala pela fresta da janela
Põe-se como o sol
Num horizonte mudo.
Turva-se o mundo,
Envolve-se em neblina
E nem que se tente,
Por mais que se tema,
A palavra não surge,
Não amanhece o silêncio
Não há poema.
E é como o ar que nos falta,
A luz que não brilha,
Verão sem cigarras,
Fogo sem calor,
Guitarra sem canção,
Canção sem amor...
E a alma se perde,
Qual sombra a fitar-nos no espelho
Dentro de um olhar vazio
E taciturno.
E há de ser assim,
Para que não nos esqueçamos
De que palavra é dom,
E como dom,
É coisa dada,
Não nos pertence
E nos pode ser tomada.