Quase todas as noites, eu e meu marido saímos para dar uma volta com a nossa cadela Rottweiler, a Latifa. Ela é um doce de pessoa, digo, de cadela, mas pensa que é gente (não sei porque), e detesta outros animais; toda vez que encontramos com outros cães, gatos e até mesmo esquilos, passamos por um verdadeiro estresse a fim de controlar os impulsos assassinos da Latifa.
Na noite passada, assim que terminamos de descer a ladeirinha da nossa rua com ela, meu marido avistou um animal estranho passeando no meio da rua escura, a uma certa distância de nós. Ele apontou-me o bicho, dizendo: "O que é aquilo? Uma galinha?!" E eu, apertando os olhos para enxergar melhor: "Não... onde já se viu, uma galinha passeando à noite? É um gato!" Fomos chegando mais perto, e constatamos que tratava-se de um galo com o pescoço pelado. Parecia ter passado por poucas e boas...
Voltei e toquei a campainha de meu vizinho, pois sei que ele cria aves e outros animais. Quando minha vizinha atendeu, perguntei se alguma de suas galinhas havia escapado. Ela disse:
-Não, Ana, este galo não é meu. Quando cheguei em casa, tinha uns homens estranhos, muito esquisitos, fazendo macumba ali na esquina. Estavam com esse galo, e um deles, parecia que ia cortar o pescoço dele com uma faca. Tem até umas velas acesas ali, olhe! Pensei até em chamar a polícia, mas eles foram embora."
Olhei para o pobre galo, e vi que suas penas e pescoço brilhavam, mas não consegui perceber o motivo. Era como se ele estivesse banhado em óleo, ou algo parecido. Em seguida, minha outra vizinha, a Helaine - que adora animais e recolhe todos os que aparecem por aqui, encaminhando-os para doação - apareceu com o filho dela e um lençol, a fim de capturar o galo. Foi uma linda cena: meu marido segurando a Latifa, que queria, de qualquer maneira, pegar o galo; eu e o menino cercando a ave, e Helaine, com um lençol esticado, tentando capturá-lo. Tudo sob a luz do luar, no meio da rua.
Neste ínterim, chega em casa o marido de minha primeira vizinha, e passa por nós de carro, olhando-nos, curioso e confuso. Enquanto ele entra em casa, Latifa tem um verdadeiro piti por causa do galo, e arranja o maior escândalo no meio da rua... mas conseguimos pegar o penoso, e Helaine o enrolou no lençol, trazendo-o para mais perto da luz de um poste. Percebemos que o coitado, além de ter tido todas as penas do pescoço arrancadas, foi completamente coberto com cera de vela quente, e sua pele está muito vermelha. Como as pessoas são cruéis! E acham que agindo assim - torturando animais - conseguirão alguma resposta positiva para suas vidas e seus problemas...
Acabada a 'festa,' vamos subindo a rua de volta para casa, e encontramos o marido de minha vizinha - a primeira mencionada -descendo a rua com seu filho. Paramos para conversar e damos boas risadas com a história do galo, e ele nos conta que estava vindo da casa de um outro vizinho, cujo gato invadira sua sala de estar e quase comera sua calopsita. Além disso, o felino arranhara todo o seu tapete e vomitara bolas de pelo pelo chão. Graças a Deus, a calopsita foi encontrada viva e passa bem. Reclamação feita, calopsita encontrada viva, Latifa acalmada, passeio terminado e galo resgatado, fomos todos para casa.
Mas na esquina da rua, ficaram um alguidar e uma vela acesa - mas sem o galo.