Torturo-te devagar
Para que não morras
De dor extrema.
Dou-te um pouco de cor,
Dou-te um poema.
Vou ceifando laços
Do que não mais serve
E não quer ficar.
Deixo-te uma cena
Bucólica, amena,
Um braço de mar.
Torturo-te decepo
Ligações forçadas,
Forjadas no ninho;
Nos tocos doridos
Faço com que surjam
Novos caminhos.
E a graça de tudo
São as luzes que eu penduro
Por entre a escuridão
Que eu mesma provoco
Sempre que eu te toco
Com minha fria mão.
Torturo-te aos poucos
Com vários requintes
De doce crueldade,
Pois quero que saibas
Na ponta da espada
O que é realidade.
Se há um motivo,
Ninguém jamais disse,
Mas cumpro minha sina
De morder e assoprar,
De dar-te e tomar-te.
Assim é a vida.