Eu, lendo um discurso no dia do aniversário de D. Franci - ao lado de sua filha vera, D. Franci e seu colar de botões |
Quando eu e minha irmã éramos pequenas, nossos pais não podiam pagar uma escola particular. Mas nós estudamos durante cinco anos em uma das melhores escolas particulares de Petrópolis naquela época, o Colégio Progresso. Graças à diretora da escola, Dona Franci (Francisca Ferreira de Souza). Assim como nós, havia muitos bolsistas naquela escola. Tinha até uma família de indiozinhos amazonenses. Ela tinha também uma classe para alunos especiais, que em 1971, ainda sofriam todo tipo de preconceito... lembro-me de como a Dona Franci e as demais professoras sempre faziam a interação entre nós - as crianças "normais" e os alunos excepcionais...
Ela adorava seu trabalho. Na hora do recreio, ela ficava em um ponto mais alto do pátio, observando as crianças brincando, e quando acabava o recreio, de vez em quando ela anunciava: "Mais dez minutos extra!" E era a maior festa!
Ela tratava a todos igualmente, e com muita educação, fosse criança ou adulto, rico ou pobre. Se alguém dizia que ia sair da escola porque não podia mais pagar, ela logo vinha com um bom desconto. Lembro-me que conosco, foi assim: minha mãe não podia pagar mais as mensalidades, e ia tirar-nos da escola; ela foi dando descontos e mais descontos, e quando minha mãe finalmente anunciou, muito envergonhada, que não poderia pagar de jeito nenhum, ela não hesitou: pediu à secretária que trouxesse nossos carnês de pagamento e rasgou a ambos. Simples assim. E determinou: "A partir de hoje, elas não pagam mais mensalidades."
Lembro-me de uma sala de aula enorme que tinha lá, a Sala do Turmão. Tinha um piano, e algumas vezes por semana, ela reunia todos os alunos de algumas classes para ensinar hinos: o Hino à Bandeira, o Hino Nacional, o Hino do Soldado, o Hino da escola... ela sentava-se ao piano, a professora escrevia a letra no quadro, nós copiávamos e cantávamos. Nunca me esqueço: "Companheiro, entoemos um hino/Que ressoe com grande sucesso/Que cantemos com força e entusiasmo: /Viva o Colégio Progresso!" E assim nós cantávamos, até o final...
Tenho várias fotos de mim mesma, lendo para ela homenagens em seu aniversário (eu era sempre escolhida para ler, pois era a que lia melhor entre os alunos). Ela sempre chorava durante essas homenagens!
Um dia, adoeceu. Nós, alunos, não sabíamos direito o que ela tinha. Quando ela morreu, foi um choque para todos, pois eu tinha ido visitá-la no hospital na semana anterior com minha mãe e minha irmã. Chegamos a escola um dia de manhã, e estava tudo fechado. Os alunos passavam a notícia: "Tia Franci morreu!"
Infelizmente, após a sua morte, a escola foi decaindo... cortaram todos os alunos bolsistas - incluindo minha irmã e eu. Alguns anos depois, a escola fechou.
Parte do prédio ainda existe, e não existe uma única vez que eu passe por lá e não me lembre da Dona Franci. Graças a ela, eu me tornei Ana Bailune.