Sábado à tarde fomos à casa de minha sogra fazer-lhe uma visita. Mal chegamos, meu marido pediu-lhe licença e apanhou uma caixa com algumas fotografias antigas, trazendo para mim um pequeno álbum. Estendeu-o para mim, todo sorridente, dizendo:
-Ana, dá uma olhada nestas fotos antigas e olha só que moça bonita que eu namorei.
Comecei a olhar as fotografias, e numa delas, lá estava uma moça bonita em um biquine azul posando para a foto, ao lado de meu marido. Corpo impecável, longos cabelos pretos presos em um rabo de cavalo. A fotografia tinha sido tirada na Praia do Peró, há muitos e muitos anos. Um pouco antes de começar a sentir-me enciumada, constatei quem era minha rival:
A moça no biquine azul era eu!
Quase não pude acreditar! Nossa, como o tempo passa rápido... eu nem me recordo do momento em que aquela foto foi tirada, muito menos, daquele biquine azul. Fugira-me da memória o fato de que um dia, eu fui aquela moça. Pensei: "Ah, se eu pudesse ser novamente aquela moça..."
Mas logo em seguida, conclui que tinha pensado uma grande bobagem! Eu ainda sou aquela moça. Parte dela ainda vive dentro de mim. Só que agora, mais madura e experiente, muito mais completa. Não gostaria de voltar a ser aquela mocinha tímida e insegura que eu fui.
Sei que, daqui a alguns anos, estarei sentada em algum lugar, olhando velhas fotos de como fui antigamente e de como sou hoje. Espero que quando este momento chegar, a maior parte de minhas memórias sejam boas e saudáveis, e que eu sinta um aconchego dentro de mim, por saber que aquela mulher cuja imagem retratada nas fotos foi se modificando com o tempo, ainda permanece. Só que melhor.
Publicado em: 10/09/2010 10:47:23 no Recanto das Letras