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segunda-feira, 21 de maio de 2018

Em Casa







Sinto prazer em estar em casa... gosto de cuidar de tudo, andar pelo jardim, aproveitar o sol. Gosto de ir lá para fora olhar minhas plantinhas e brincar com meus cães. Meus melhores momentos, eu passo dentro da minha casa. 

Domingo fez um dia lindo, do jeito que eu gosto: quase frio, ensolarado (o sol não esquenta demais, e sim aquece na temperatura certa). Havia uma luz bonita sobre as coisas, passando mais rente à copa das árvores da mata em frente, pois a Terra já se inclina em direção ao inverno. Era uma luz diferente, clara, mas que não feria os olhos, e deixava o céu ainda mais azul. Amo esta época do ano!

Deixei as janelas bem abertas o dia todo, e no final da tarde, fechei-as para conservar o calor do sol dentro de casa por mais tempo. Passarinhos nas árvores, se alimentando das frutas que colocamos nos comedouros. Colibris tomando sua água doce e pousando nos galhinhos mais finos. Os cães dentro da casinha, dormindo placidamente sobre seus cobertores. 

Hora de comer alguma coisa - café com bolo de fubá. E depois, ver um filme. Assisti ao filme abaixo - é muito, muito bom! Conta a história de uma curandeira em uma aldeia no México, sob o ponto de vista de seu pequeno neto. É uma história sobre crescer, e sobre enfrentar preconceitos. Valeu a pena!

Aliás, o dia todo valeu à pena, em companhia de minha cara-metade, deitados sobre a pedra do jardim, absorvendo alguns raios de sol.



Espero que vocês possam ter um tempinho para assistir ao filme. Tenham uma ótima semana!





domingo, 31 de dezembro de 2017




ELLE 

Diretor: Paul Verhoeven
Com: Isabelle Ruppert, Laurent Lafitte, Anne Consigny e outros.
Lançamento: 17/11/2016
Gênero: suspense
Sonny Pictures
Nacionalidade: Franco-alemã


Premiado com o César em 2016 nas categorias melhor filme e melhor atriz (Isabelle Ruppert)

Michèle Leblanc, brilhantemente interpretada por Isabelle Ruppert, é um caso a se pensar. E pensar muito! Ela é o tipo de pessoa que adoramos ver em um filme, mas que raramente suportaríamos ter em nosso círculo de amigos (ou de inimigos) na vida real.

Ela é um poço de controvérias: extremamente moralista em relação à mãe, mas dorme com o marido de sua melhor amiga e sócia; sofre um estupro dentro da própria casa, mas ao invés de reportar o caso à polícia, torna-se amante de seu estuprador; não quer mais saber do ex-marido, embora sejam amigos, mas morre de ciúmes de sua atual namorada. Michèlle Leblanc, cujo pai está na prisão há quase 30 anos por ter matado em uma só noite 27 pessoas, seis cachorros e dois gatos (mas estranhamente, poupando um hamster) traz na veia algumas gotas de maldade. Herança genética?

Apesar de estar classificado sob a categoria “suspense,” o filme Elle me fez rir muitas vezes. Porque o bizarro surpreende, distrai, enfim, o filme é uma viagem de mais de duas horas pela vida de uma personagem egocêntrica que tem certeza que o mundo gira em sua volta – e ele gira, na verdade. Ninguém pode prever qual será a atitude dela diante dos fatos que se desenrolam. Quando esperamos por uma determinada reação, ela dá a volta e faz  coisa totalmente diferente. Implacável diante das pessoas de quem ela não gosta, Michèle é capaz de humilhá-las da maneira mais sutil, de modo que só elas mesmas possam perceber, enquanto os demais estão distraídos e totalmente envolvidos pela sua personalidade forte, extremamente sexy e absorvente. Cenas que nos fazem gargalhar, mas apenas quando as presenciamos através de uma tela. Pessoas como Michèle, na vida real, são intoleráveis.

A cena da festa de natal vale ser vista mais de uma vez. O filme todo merece ser assistido mais de uma vez – e eu o fiz duas vezes, dois dias seguidos. Não é muito fácil rever, logo no dia seguinte, um filme que tem mais de duas horas de duração. Na verdade, isso nunca me aconteceu antes. Mas existe alguma coisa em Michèle que nos atrai e nos repudia com a mesma força. É possível adorá-la em uma cena e odiá-la cinco minutos depois. Quando o filme terminou, eu fiquei olhando para a tela, lendo os créditos, ainda tentando entender o que eu tinha acabado de assistir. A história é uma mistura de encantamento, indignação, surpresa, raiva, e muitas, muitas gargalhadas.

O final é impactante. Mais impactante ainda, é a postura de Michèle diante do que acontece. E é claro, no fim de cada história, ela sempre consegue afirmar seu fascínio sobre as outras pessoas, não importa o que ela faça. Embora não tenha estudado psicologia, pude sentir ali alguns traços de psicopatia, alternados e emaranhados a sentimentos de ternura bizarros – ou dissimulados?

Um filme imperdível, embora esta frase seja um clichè. 







segunda-feira, 27 de março de 2017

Sabedoria ou Inteligência?







Estou lendo um livro de Eddie Van Feu - uma autora brasileira que encontrei na Amazon. Ela fala muito sobre magia e rituais mágicos. Eu acredito que tais rituais servem para ajudar a concentrar e harmonizar intenção, vontade e ação. Podem ajudar, se alguém precisa deles. Não direi aqui que sou contra, ou que não acredito, justamente porque eu já testei algumas vezes os meus próprios, e deram resultado. Só não devemos usar o pensamento concentrado para fazer mal aos outros, porque realmente pode funcionar, e aquilo que emitimos conscientemente para os outros, sempre volta para nós. Mas aqueles que não acreditam, estão no seu direito - desde que respeitem o direito de quem acredita!

Há alguns dias, eu estava pensando na diferença entre sabedoria e inteligência. Muita gente acha que são a mesma coisa. Embora todas as pessoas e animais possuam inteligência - só que de uma maneira diferente -  nem todo mundo age com sabedoria. Bem, eu acho que ninguém aqui age com sabedoria o tempo todo. Somos humanos, falhamos. Mas é possível tentar agir de maneira sábia a maior parte do tempo. Isto já é, por si, sabedoria. Haverá tropeços e quedas; é natural.  Sempre há aqueles dias em que nos levantamos da cama com o pé esquerdo, e metemos os pés pelas mãos... o importante, é reconhecer o erro, respirar fundo, tentar consertá-lo se possível e seguir em frente.

Mas vamos a um trechinho do livro da autora Eddie Van Feu, que fala de sabedoria e inteligência, e que tem tudo a ver com o que eu penso: 

O LIVRO DE OURO DA PROSPERIDADE E DA SORTE – EDDIE VAN FEU

Um pouco sobre Sabedoria e inteligência...

"(...) Procure manter o coração sempre puro. Isto não quer dizer que você não poderá nunca sentir raiva ou tristeza, decepção ou frustração. A vida é feita dessas coisas também, fazem parte do seu aprendizado. Mas você terá que ter um coração leve, ou seja, um coração livre de sentimentos densos como ódio, ira, rancor, inveja, apego, orgulho e cobiça. Todos esses sentimentos são distorções, excessos, um desequilíbrio facilmente consertável se você estiver disposto a melhorar. 

E o caminho para tudo isso é a sabedoria. É com ela que adquirimos compreensão de tudo o que nos cerca, das coisas que nos acontecem e até como lidar com aquilo que não compreendemos ou nos magoa. Afinal, entender que levou uma facada nas costas não torna menos doloroso o fato em si! Para quem não sabe definir o que é sabedoria, por favor, não confunda com inteligência. E não confunda inteligência com acúmulo de informações. Meu PC é cheio de informações, o que não lhe dá inteligência, e muito menos, sabedoria.

Estamos vivendo num mundo onde temos informação demais e pouco tempo para digeri-la. Muita gente lê livros, vê filmes, assiste a novelas, e não consegue dizer o que gostou ou o que não gostou, e muito menos, porquê. Quando dava aulas para crianças e adolescentes de roteiro e quadrinhos, sempre promovia uma discussão sobre um filme que todos tivessem visto. Salvo uma rara turma que tive, que chamo até hoje de “Turma de Ouro,” as outras turmas (que também amei e que muito me ensinaram) geralmente respondiam com uma opinião direta de ‘amei’, acompanhados de adjetivos como ‘ridículo’, ‘muito bom’, ‘horrível’ e ‘lindo.’ Quando eu me dirigia a um deles e perguntava diretamente: “Por que?”, a turma mergulhava em silêncio. Se eu ouvisse um “Porque sim”, aí todo mundo tomava esporro, porque aluno meu não pode ser irracional.

E foi à base de muito esforço, e de muito esporro, que comecei a ouvir explicações mais coerentes. Tudo o que eu queria é que eles aprendessem a ver além, a ver a mensagem que estava sendo passada para eles em cada novela, filme ou propaganda, para que não se permitissem ser manipulados, uma geração de trouxas. Essa compreensão é sabedoria. Saber dados específicos sobre um fato e repetí-lo com ar superior, não é. Ter uma opinião embasada em argumentos honestos é sabedoria. Tentar impô-la aos outros não é.

Num resumo, inteligência é olhar as nuvens negras no céu e saber que são cúmulos cheios de água que cairá sobre  a terra numa reação natural, talvez provocando raios e trovões ao se tocarem. Sabedoria é pegar o guarda-chuva antes de sair de casa."


O que vocês acham?




domingo, 17 de julho de 2016

O Jogo da Imitação - Resenha

Imagem: Google








TÍTULO ORIGINAL: IMITATION GAME

ANO: 2014
Diretor: Morten Tyldum
Autores: Graham Moore, Andrew Hodges (book)
Estrelando: Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode

Baseado em fatos reais, o filme conta a história de Alan Turin (23 de junho de 1912 — 7 de junho de 1954), matemático, lógico e criptoanalista que decifrou códigos de comunicação alemães para o exército britânico, ajudando a salvar as vidas de mais de 14 milhões de pessoas durante a Segunda Guerra Mundial, E encurtando em mais de dois anos a sua duração - um fato que foi mantido em segredo durante cinquenta anos pelos britânicos.
O verdadeiro Alan Turin

Mesmo após decifrar o código, Alan Turin foi acusado de espionagem e indecência por ser homossexual, e obrigado a submeter-se a tratamentos hormonais a fim de corrigir o seu ‘problema’ a fim de não ser condenado e preso.

O filme é excelente, e os atores, maravilhosos. Foi indicado ao Oscar em oito categorias, vencendo o de melhor roteiro adaptado.

Chocou-me o fato de que a sexualidade do matemático tenha sido considerada por muitos mais importante do que seus feitos a favor da humanidade, o que ressalta a hipocrisia e a ingratidão de muitos seres humanos. Foi através da “Máquina de Turin,” desenvolvida a fim de decifrar os códigos nazistas, que surgiram os primeiros computadores da história.

Alan Turim suicidou-se um ano após o início de seu tratamento para a ‘cura’ homossexual. Viveu e morreu em ostracismo, e apenas em 2009, o primeiro-ministro britânico Gordon Brown fez um pedido oficial de desculpas público, em nome do governo britânico, devido à maneira pela qual Turing foi tratado após a guerra. Em 24 de dezembro de 2013, Alan Turing recebeu o perdão real da rainha Elizabeth II, da condenação por homossexualidade.



A vida é irônica.








terça-feira, 31 de maio de 2016

DIGITAIS DA ALMA - Resenha







DIGITAIS DA ALMA
AUTORA: LUCY MARA MANSANARIS
119 PÁGINAS
EDITORA SUCESSO – SP
 ANO 2015





“O poeta é como o príncipe das nuvens. As suas asas de gigante não o deixam caminhar.”
Charles Baudelaire



Publicar um livro – especialmente, um livro de poemas – em um país onde as pessoas em geral não gostam de ler (segundo o Ministério da Cultura, o número de livros per capita no país é de 1,7 ao ano), é uma grande vitória. É preciso investimento próprio, muitas vezes, e Lucy Mara teve esta coragem e este empenho.

Nestes tempos truculentos em que vivemos, falar de poesia é como encontrar um caminho para algo mais suave. As energias estão pesadas, e as pessoas, descrentes e sem esperanças. É preciso procurar um pouco de delicadeza e sensibilidade no viver, e acrescentar pitadas de beleza no dia a dia. Através das artes, como a poesia, é possível encontrar um caminho que nos leve diretamente ao nosso centro, ao nosso tão negligenciado – e essencial – silêncio.

Ao ler um poema, abrimos uma janela para dentro da alma do autor. Alguns poemas nos falam bem perto do coração, e nos identificamos com eles. Assim são os poemas do livro de Lucy Mara Mansanaris, Digitais da Alma. Ela nos traz esta delicadeza, usando as digitais de sua alma para tocar o coração do leitor.

Gosto de ler um livro de poemas da seguinte forma: aleatoriamente. Simplesmente abro uma página ao acaso, e deixo que a poesia me fale. Como neste momento; abro o livro e leio:




Do Clarear

“É quando busco alguma paz
que te encontro.

E quando penso que não dá mais
reinventas-te, dentro dessa tua doce rotina
de sempre me querer bem.”

E até mesmo nos momentos de tristeza, a autora consegue transformar tudo na mais delicada tessitura de palavras:

Doente

"Ai... Como me dói a vida!
Doem-me as feridas do viver
dói-me profundamente ser!

Aquele plano de felicidade
mais parece mágoa antiga
Deus, quanta morte há na vida?"


Digitais da Alma é um livro para ler e guardar, e reler várias vezes, sempre que estivermos precisando resgatar momentos de doçura, leveza e introspecção. Como escreveu Clarice Lispector, “A palavra é meu domínio sobre o mundo.” A poesia torna-se mais que necessária nos dias de hoje, em que a maioria das palavras ditas são de rancor.

Lucy Mara mantém um blog – http://digitaisdaalma.blogspot.com.br/








terça-feira, 15 de setembro de 2015

Feliz da Vida!!!



 


Acabo de receber esta mensagem da amazon.com:


Hello,
Your book, “Por que Não Aprendo Inglês?” (B00P6JK91K), was included in a huge promotion we're scheduling here in Brazil. It will start on 9/16 and last 4 days on Amazon.com.br.
Don’t forget to spread the word! Besides your book being among almost 4,000 other promotional titles, this promo's marketing email will reach a huge client base. We've created a special graphic for you to post on social media, but it's in Portuguese - do post if you think it's relevant for your public. Simply add your book cover to the image in the link below and post it!
Thanks,
KDP Team

Eles estão dizendo que meu livro, junto com mais quatro mil outros, foi selecionado para uma promoção no Brasil que durará quatro dias, começando em 16/09. Isto significa que ele será divulgado por e-mail pela amazon não só no Brasil, mas no mundo todo!

Feliz da vida!


QUEM QUISER DAR UMA OLHADINHA, BASTA IR NA AMAZON.COM.BR E DIGITAR ANA BAILUNE NO SITE DE BUSCA.


Meu livro fala sobre os porquês das dificuldades de quem deseja aprender inglês. Conta a minha própria história com o Inglês, traz um teste que eu selecionei para ajudá-lo a conhecer melhor seu perfil como aluno - visual, auditivo ou cinestésico - e muitas dicas práticas e diretas sobre como aprimorar seu aprendizado no inglês. 

Agradeço profundamente a todos os meus alunos, ex-alunos e futuros alunos, que através das nossas aulas, ensinaram-me, ensinam-me e me ensinarão a jamais me esquecer de afiar as minhas ferramentas de ensino. 

Obrigada por acreditarem em mim! Obrigada por serem meus alunos.






segunda-feira, 7 de setembro de 2015

STILL LIFE - UMA VIDA COMUM - RESENHA





Imagem: Google




STILL LIFE – UMA VIDA COMUM
Ano: 2013 – Reino Unido / Itália
Direção: Uberto Pasolini
Com: Eddie Marsan


John May é um simples funcionário público inglês, sem família e sem amigos, cujo trabalho consiste em tentar encontrar amigos ou familiares de pessoas que morreram sozinhas. Ele tem um grande coração e muito respeito pelas pessoas, e por isso, tenta saber um pouco mais a respeito delas a fim de escrever um obituário decente. E ele o faz com competência, mesmo sem jamais tê-las conhecido em vida, cuidando também dos seus velórios, cremações ou sepultamentos – aos quais ele assiste respeitosamente, sempre sozinho, pois nas raras vezes em que ele consegue contatar algum parente ou conhecido do morto, estes não demonstram qualquer interesse em comparecer ao velório.

Após dedicar-se por 22 anos ao seu trabalho, John May recebe a notícia de sua demissão, e sente-se perdido; passa a pensar em sua vida solitária, e acredito que talvez descubra que ele mesmo poderá ter um fim igual ao das pessoas cujos parentes ele tenta encontrar. Mas seu último caso – Billy Stoke, um homem que morava em frente à sua janela, mas que ele não conhecia, faz com que sua vida mude de rumo.

Um filme sem grandes sobressaltos, mas com um significado profundo, verdadeiro e poético. O final, surpreendente, dá à história sempre cinzenta uma nova tonalidade, mais colorida e absolutamente comovente.

Aqui termina a resenha.

VISÃO PESSOAL SOBRE O TEMA

Fiquei pensando no quanto muitos de nós são como aquelas pessoas que morrem sozinhas em seus apartamentos sem que ninguém saiba ou se importe, a não ser quando os corpos começam a exalar mau-cheiro. Indo um pouco mais profundamente, penso na inutilidade de todos os velórios, tanto para os mortos quanto para os vivos. Considero-os uma tradição cruel e dolorosa para os poucos que realmente amaram o morto, e uma espécie de circo para a maioria dos que comparecem. Para mim, não fará a menor diferença se eu tiver um, e se tiver, o número de pessoas que comparecerem também não fará a menor diferença. Quando deixamos esta vida, deixamos para trás tudo o que ficou nela, quer haja uma vida após esta ou não. Como disse um dos personagens, “Os velórios não são para os mortos: são para os vivos, e quando não há nenhum vivo que tenha algum interesse em acompanhá-lo, para quê prepará-los?”

Daí a não-necessidade de tanto orgulho, desejo de poder, fama, autoafirmação ou reconhecimento, se aquilo que realmente somos não interessa a mais ninguém, a não ser a nós mesmos, e mesmo assim, muitos passam por esta vida sem sequer atinar para esta questão do autoconhecimento, saindo dela como chegaram: totalmente alheios. Para mim, aqueles que se tornaram célebres por algum motivo que não tenha sido apenas a vaidade, vieram com uma missão importante, embora muitos a percam pelo caminho. São como faróis para os outros, mas sua missão mais importante sempre terá mais a ver consigo próprios do que com os outros.

Viver bem é trocar-se por alguma coisa. Alguns dedicam-se a causas humanitárias, e é triste perceber o quanto a maioria destas pessoas apenas visem o reconhecimento público pela sua ‘bondade’ e ‘solidariedade.’ Outros, dedicam-se à família, ou aos amigos, e até mesmo a eles mesmos, o que, visto através de um ponto de vista menos preconceituoso, pode ser a missão da maioria das pessoas, e isto não significa que elas sejam egoístas; quem saberá, com certeza, qual a verdadeira missão de alguém, e por que esta missão não pode estar centralizada na própria pessoa? Nem todos estamos aqui para sermos avatares, profetas ou salvadores. Quem sabe, salvando a nós mesmos e estendendo a mão aos que estão mais próximos, ao nosso alcance – considerando que todos fizéssemos isto – o mundo não daria um salto evolutivo?

Alguns buscam suas respostas nos grandes filósofos e sábios, e outros, de forma mais simples, acabam descobrindo-as sem fazerem perguntas, através da simples observação da natureza e das próprias experiências – ou seja, cuidando da própria vida! Existe um significado profundo no viver, e conforme os anos avançam sobre mim, mais eu percebo este fato. Igualmente percebo que este significado é muito pessoal, e que convivemos uns com os outros não para apontá-los e criticá-los, velada ou publicamente (embora muitas vezes o façamos), mas para tê-los como um espelho às nossas atitudes. Aquilo que desperta a minha repulsa pelo outro, eu não devo praticar – caso contrário, serei um hipócrita.

Existe hoje em dia uma sede pela felicidade, como se ela fosse um prêmio a ser alcançado, e quem conseguir demonstrá-la mais convincentemente, será o vencedor. Parece que o objetivo das pessoas é terem um velório concorrido, no qual haja muitas pessoas chorando, tirando “selfies” na frente do caixão e publicando os pêsames nas redes sociais. Quantas curtidas serão possíveis? Acho isto bem mais mórbido do que o simples compartilhamento de uma imagem – como a do garotinho afogado – dentro de um contexto que faça sentido e que expresse os verdadeiros sentimentos de alguém a respeito do mundo em que vivemos.

Para mim, velório nenhum seria o ideal. Quando eu morrer, quero ser totalmente esquecida e deixada em paz. Melhor morrer sozinha a morrer cercada de abutres.




quarta-feira, 26 de agosto de 2015

RESENHA - O SOL É PARA TODOS






O SOL É PARA TODOS 
AUTOR: HARPER LEE
Editora José Olympio, ano 2015
categoria - Romance

Esta resenha não é bem uma resenha; na verdade, ela é o relato de um reencontro entre amigos. Vou explicar melhor: li este livro pela primeira vez quando tinha doze anos de idade. Fiquei fascinada pelos história, e minha mente de pré-adolescente, que se impressionava com muita facilidade, apaixonou-se pelos personagens. Eu também queria conhecer pessoalmente Boo Radley, o recluso que morava próximo da casa dos Finch. Desejei poder ser amiga de Jem e Scout Finch, as crianças curiosas das quais Calpúrnia, a criada negra, ajudava Atticus Finch a cuidar. Eu quis viver naqueles conturbados anos da Primeira Guerra, durante os quais aquelas pessoas viviam. 


Eu era apenas uma criança, e tive que reler várias passagens para poder compreender melhor o que estava acontecendo na história, pois não estava familiarizada com julgamentos ou com certos conceitos e termos. Hoje, eu sei que o foco principal da história foi o fato de um advogado branco defender um homem negro acusado de estupro, e isto, no Alabama, onde reinavam o preconceito e a Ku-klux Klan. Mas, naquela época, o meu foco eram as crianças e suas aventuras. Confesso que desenvolvi uma paixonite por Boo Radley, e cheguei até mesmo a sonhar com ele uma noite.

Ao terminar de ler o livro, tive que devolvê-lo, pois não me pertencia, e foi como despedir-me de pessoas reais das quais eu tinha aprendido a gostar muito, e eu o fiz com grande pesar. Durante anos, tentei adquirir um novo exemplar em sebos e mais tarde, pela internet, mas só consegui há um mês, na livraria virtual da amazon. com. Encomendei a edição de papel, pois queria ter a mesma sensação que tive ao ler o livro pela primeira vez.

Estava um pouco apreensiva; será que ao reler o livro, agora como uma mulher adulta, eu perceberia que era apenas mais um livro? A magia da primeira leitura teria sido apenas fruto da imaginação fértil de uma criança?


No filme de 1962, Robert Duval interpretou Boo Radley...

Finalmente, o livro chegou, e assim que pude, comecei a lê-lo. Mal o tinha aberto, e parecia ter entrado nas páginas e reencontrado velhos amigos, dos quais eu me lembrava com saudade, e abracei-os um a um. A minha paixonite, desta vez, não foi por Boo Radley, mas por Atticus Finch, o advogado que defendeu Robinson. As crianças, que permaneceram crianças, despertaram-me uma ternura diferente, e finalmente, pude compreender Tia Alexandra e sua quase obsessão em proteger Scout e Jem. Eu não gostara muito dela na primeira leitura.


...E Gregory Peck ficou com o Oscar de melhor ator interpretando Atticus Finch

Ao terminar o livro, agora com uma compreensão bem mais abrangente de tudo o que o autor tentou mostrar, fiquei feliz ao perceber que a magia não morreu: pelo contrário, ela aumentou, ganhando novos significados.

O Sol é Para Todos é um livro que deveria ser lido por todo mundo, crianças e adultos, e debatido em salas de aula e grupos de leitura. Ele ensina a compreensão, a reflexão e a tolerância, num mundo onde todas as conclusões são tomadas rapidamente e sem maiores considerações. Ele ensina o valor da amizade, dos bons vizinhos e da gratidão. Desnecessário dizer que é uma linda história, mas direi assim mesmo.


terça-feira, 16 de setembro de 2014

O HOMEM DOS IPÊS AMARELOS

Ipê que fica no jardim de um prédio, em frente à Praça da Liberdade, Petrópolis



Era uma vez
Um homem que transcenderia o tempo,
Que caminhava pelas alamedas das palavras
Entre ventos e pensamentos.
Contemplava a vida,
Fazendo a diferença
Em almas estranhas ou queridas.

Um homem de fé,
Que perdeu a fé
Nos templos, entre os homens,
E redescobriu-a entre as crianças,
E nas flores do ipê.

Era uma vez um homem
Sem meias palavras,
Sem meias verdades,
Sem metades,
Um homem inteiro,
Que veio ao mundo para encantar.

Tinha uma mensagem
(Eu a escutei):
"Amem os ipês amarelos!"
E eu amei.
"É preciso ter cuidado
Com o pássaro pousado no dedo,
Pois ele um dia, voa..."
E eu ouvi,
E ele voou...


Singela homenagem a Rubem Alves pela passagem de seu aniversário 15/09





quinta-feira, 17 de julho de 2014

Conversa Com a Vida - Resenha




CONVERSA COM A VIDA
Cenyra Pinto
Editora Vecchi S.A – 1977


Este é um belíssimo livro, no qual a escritora espírita Cenyra Pinto convida várias pessoas a dar depoimentos sobre momentos difíceis em suas vidas nos quais elas poderiam ter mais de mil razões para desistirem de viver; no entanto, estas pessoas deram a volta por cima, reafirmaram sua força e sua fé, construindo um caminho de aprendizado que tornou suas vidas mais ricas e bem melhores. São histórias verdadeiras, reais e carregadas de emoção. Com toda certeza, elas farão com que os leitores pensem sobre seus problemas e façam melhores escolhas.
Entre os belos trechos contidos no livro, escolhi alguns para transcrever aqui; o primeiro deles, é parte da história do escritor Fernando Jorge Uchôa, portador de paralisia, que começou a manifestar-se quando este contava três anos de idade:
“Fui operado. Uma, duas, seis vezes. Meu fim neste mundo quase chegou. Tive tétano, grangrena, septicemia. Desastres cirúrgicos. Certas partes dos membros ficaram definitivamente lesadas; outras melhoraram. Depois de muitas lutas e com aparelhos consegui a posição vertical.”
.............
“Quando retornei à Vila Militar, costumava ficar debaixo das mangueiras ouvindo os pássaros cantar, ou perto dos pés de ingá, cajá-manga, jabuticaba e das laranjeiras. As cigarras ciciavam no verão, ventos de longe zumbiam, borboletas passavam exibindo suas belas asas amarelas, azuis, cor de barro. Eu via, ficava em silêncio, isolava-me. Aprendia retiros. Não gostava de piedade. Era sensível. Passava do encantamento à agressividade. Mentia dizendo que entendia os pássaros. É possível que de algum modo os entendesse. Ouvia os sanhaços com admiração. Os canários da terra festejavam as coisas da manhã. Os bem-te-vis afirmativos fiscalizavam o dia. O que os pássaros cantam? Cantam sua vida. Voar é bom. Frequentar distâncias torna a alma vasta. Saber cantar é importante. A vida deve ser uma canção. E um voo. E o homem um aprendiz. Eu aprendia a ver, a bater as asas da imaginação.O louva-deus é de silêncios e gestos leves. Isso eu compreendia. O grilo é comedido e estranho. Eu o tocava com um pedacinho de galho, tentando ver como suas asas se movimentavam. Ele, esquivo, erguia a perna, reprovando minha impertinência que agredia a serenidade leve de seus gestos. Saltava. Distanciava-se.”
............

“Eu devia me tornar forte para enfrentar experiências difíceis. Todos tem que aprender com o imprevisto, inclusive o fracasso, se for o caso. Às vezes, existe o aprendizado pelo fracasso, uma estranha e incompreensível maneira de vencer.”

............

“Atualmente, no outono da vida, volto a ser acidentado. Retornei aos hospitais, nos quais não pretendia mais entrar como paciente. Nova cirurgia. Meses de internação em três hospitais. A agressividade destrutiva do imprevisto voltara a me atingir. Retorno na cadeira de rodas. Meses de preocupação extrema e debilidade física; nervos abalados; úlcera, irregularidades provocadas por excesso de medicação. Responsabilidades a me pesarem no corpo débil, recolhimento, renovação. Esforço-me. Deus me ajuda. Deixo a cadeira de rodas. Levanto-me outra vez para os passos que somados se tornam o caminho de minha vida até aqui.”
.......
“Que os abatidos meditem no valor da vida e não a gastem inutilmente como um passatempo.
A vida é a oficina onde se elabora a liberdade.
A fogueira de onde sairá a luz.
O tumulto de onde nascerá a paz.
Vale a pena viver com Deus que é Amor.
Põe em teu amor o amor de Deus.”

Este é um dos mais lindos depoimentos do livro, sem desmerecer os outros. Talvez porque foi feito através da alma sensível de um escritor. No final do livro, há algumas páginas psicografadas que também transmitem fortes mensagens. As que mais me chamaram a atenção – porque mais tema  ver com meu momento atual:

“Vigiai vossos pensamentos e sentimentos, mas não tenteis levar mentalmente uma norma de vida para ninguém, porque estareis fazendo mais mal do que bem.”

“Cada modificação é precedida por uma demolição. E é justamente essa demolição que tememos, porque não estamos preparados para os avanços da evolução. Precisamos abrir os olhos do entendimento para que possamos, ao nos deparar com situações dolorosas, estar em condições de ajudar e suster aqueles que se deixam abalar pelo pavor.”

“A vida tem mistérios insondáveis. Ninguém sabe que experiências lhe reserva o próximo minuto. Julgar as causas que levam as pessoas a um estado de miséria material ou moral, e acusá-las, sobre qualquer pretexto, revela profundo desconhecimento da condição humana. Ninguém pode constituir-se em juiz das causas alheias.

A razão das coisas se perde na noite dos tempos. Muitas provas não são punição, mas aprendizado resultante de nossas próprias ações, ou experiências que o homem pede ao voltar à Terra, com o objetivo de desenvolver novos valores, que o tornem mais uma consciência capaz de atingir as dimensões da Luz e da Verdade.”
.....
 “Portanto, quando alguém sofre, não tentemos auscultar-lhe os motivos, mas ofereçamos o socorro que estiver em nosso alcance. Se revolvermos as chagas alheias com o propósito de condenar, estaremos preparando para nós momentos bem difíceis, em um futuro próximo.”

“Você carrega um fardo de acusações contra a vida e as criaturas, sem jamais ter parado para refletir no porquê de tudo o que acontece. Nunca tentou dialogar com você mesmo, com a própria vida; e por isso não sabe se é válido o seu modo de interpretar os acontecimentos. Criou uma couraça, escondeu-se dentro dela e de lá atira pedradas naqueles a quem você acusa de responsáveis pelo seu estado atual de desilusão. Você nem pensa, sequer, se aqueles aos quais você acusa como responsáveis por sua revolta contra a vida e as criaturas são realmente culpados, ou as acusações não passam de produto de sua imaginação, ou de sua incapacidade de superar as condições adversas e de tentar vencer aquilo que lhe parece obstáculo intransponível a impedir que você se realize. Cada um é como é; você nunca poderá mudar as criaturas. O que você precisa é mudar-se a si próprio, em relação aos outros.”

E entre as mensagens, existe uma intitulada “A Vida é o que é”.  Só o título já nos traz a compreensão da inutilidade de indagar a si mesmo ou culpar a Deus quando os reveses chegam. Eles são parte da vida, e chegam a todos nós, cedo ou tarde.”

Para mim, entre outras mensagens e depoimentos que li, fica impresso em minha mente a frase:

“A VIDA É O QUE É.”

“Conversa Com a Vida” é um livro que segue a Doutrina Espírita verdadeira, a que não se coloca como dona da verdade, a que não se impõe sobre criatura alguma, não condena ninguém, entende que cada um tem o seu tempo de compreender as coisas da vida, e que na verdade, todos nós, sem exceções, sabemos muito pouco. A Doutrina Espírita que está além de dogmas e religiões, e mesmo assim, não condena nenhuma destas coisas. A que dá a cada um o direito de ser – mas lembrando a importância de nossas escolhas na história de nossas vidas e de outras vidas que nos tocam.


terça-feira, 27 de maio de 2014

Quem me Roubou de Mim?





Resenha

Pe. Fábio de Melo – Kindle edition, Amazon.com.br
Ano: 2013

Basta um minuto para nos apaixonarmos; um minuto que pode trazer luz a todos os nossos significados, ou que pode tornar-se o maior engano de nossas vidas. Ou então permitimos que nossos melhores amigos, sempre bem intencionados, tomem posse do nosso ser, e deixamos de ser quem somos para sermos quem eles esperam que sejamos. Ou vestimo-nos dos trajes que nossos familiares confeccionaram para nós, mesmo que estejam apertados e nada tenham a ver com o nosso estilo.

Destas relações vampirescas, onde o sangue sugado é voluntariamente doado muitas vezes sem que a vítima perceba, fala o livro “Quem me Roubou de Mim?”, de Fábio de Melo.

Ao lê-lo, impossível não fazer uma lista mental (curta ou longa) de pessoas que conhecemos e encontram-se em relacionamentos assim, onde um domina e o outro é dominado, como em um sequestro no qual a vítima acaba se convencendo da necessidade de dar-se bem com seu sequestrador a fim de continuar vivendo e acaba apaixonando-se por ele, pois passa a não se reconhecer sem o domínio do outro: a famosa Síndrome de Estocolmo. E esta forma de domínio, segundo Fábio de Melo, pode ser muito sutil; ela pode vir de pequenas chantagens emocionais que provocam culpa e submissão à vontade do chantageador.

Há pessoas que não sabem nascer através de si mesmas, e por este motivo ocupam um lugar dentro das outras pessoas, que passam a gestá-las, como no filme Alien, o Oitavo Passageiro. Posição extremamente cômoda, a de dominador, a de quem se põe a sonhar contando com o outro para realizar seus sonhos e satisfazer suas vontades... mas para quem é sugado e dominado sem perceber, há o risco de que tal situação só seja percebida depois de muitos anos e de muita vida perdida (ou roubada). Relacionamentos assim nascem entre pessoas dominadoras que encontram um útero vazio em pessoas inseguras ou com baixa autoestima. Passam a explorá-las; sequestram-nas delas mesmas. Os envolvidos nem percebem o quanto este tipo de relação castra não somente o dominado, mas também aquele que toma a posição de dominador; pois este não constrói uma vida para si, apenas sobrevive feito um parasita, alimentando-se do outro.

O caminho de volta a si mesmo pode ser difícil e doloroso, e requer muita coragem e bom- senso. É preciso, em primeiro lugar – segundo Fábio de Melo – que o dominado perceba-se como tal, e tenha coragem de tirar seus óculos cor de rosa, enxergando seu algoz como ele realmente é.

Alguns trechos do livro:

“Permitimos, ainda que inconscientes, que a amizade virtual nos retire da necessidade de construir artesanato afetivo com os que nos cercam. E então, o prejuízo.As horas que poderíamos aproveitar com uma boa leitura, um bom filme ou uma boa conversa, desperdiçamos na manutenção de um perfil virtual onde prevalecem as falas superficiais, as contendas, as disputas pela notoriedade(...).”

“Ser pessoa consiste em dispor-se de si e dispor-se aos outros. Trata-se de um projeto audacioso de pertencer-se para doar-se.”

“A subjetividade refere-se a essa capacidade que o ser humano tem de ser singular. Antes de ser comunidade, o ser humano é pessoal, particular, reservado, privado, porque segue a mesma regra do mosaico. Junta-se aos outros para compor o todo, mas não deixa de ser o que é.”

“É muito fácil a gente se perder na pluralidade do mundo. É muito fácil entrar nos cativeiros dos que nos idealizam, dos que nos desconsideram, dos que pensam que nos amam, dos que nos viciam, dos que pensam por nós.”

“É preciso estar emocionalmente amadurecidos para que sejamos capazes de nos opor aos que  ameaçam nossa subjetividade. Por que? Porque a imaturidade nos faz pensar que deixaremos de ser amados se não fizermos o que os outros esperam de nós.”

“Nem sempre o amor ama. Por vezes, ele é o disfarce do egoísmo.”

“O que nos atrai no outro é a terceira pessoa que conseguimos fazer nascer quando estamos com ele.”

“Os inimigos só podem sobreviver à medida que injetamos sangue em suas veias. O sangue da nossa permissão.”

“Conviver com quem optou pela inautenticidade causa uma infelicidade profunda. O gasto de energia para a mentira é muito mais elevado que para a verdade. Viver de projeções que não podem ser adequadas à realidade é o mesmo que não viver. A experiência das projeções nos coloca dentro de um mundo sem sustentação; e mundo projetado não é mundo que realiza, nem faz realizar.”

Um livro belíssimo e muito verdadeiro. Se lido com a atenção que merece, poderá abrir os olhos para muitos dos relacionamentos que nos roubam de nós sem que percebamos, e assim, o consentimos. Na tentativa de agradar aos outros e satisfazer suas expectativas, trilhamos um caminho amargo e árduo. Ralamos nossos joelhos até que sangrem em um calvário de privações pessoais e pensamos que este é o melhor caminho, chegando a nos convencer de que o desejamos realmente. Nós nos torturamos, nos tolhemos, nos mutilamos. Deixamos de ser quem nascemos para ser. Esquecemos dos nossos sonhos e os transformamos em pesadelos para que os sonhos dos outros – aqueles Aliens que se alimentam de nós – possam nascer.




domingo, 4 de maio de 2014

Reflexões sobre A Importância de Viver - Lin Yutang








nascimento: 10/10/1895 , China- morte: 26/03/1963, Taiwan


Lin Yutang - Uma reflexões sobre trechos de seu livro A Importância de Viver"-
publicado em Julho de 1937


"Quando um homem cria uma civilização própria, mete-se numa corrente de desenvolvimento que, pelo aspecto biológico, seria capaz de aterrorizar ao próprio Criador. No tocante a adaptação à natureza, todas as criaturas são maravilhosamente perfeitas, porque a natureza mata as que não de adaptam perfeitamente. Mas agora já não se nos exige que nos adaptemos à natureza; cumpre que nos adaptemos a nós mesmos, a isto que se chama civilização. Todos os instintos eram bons, eram sãos na natureza, mas na sociedade, chamamos selvagens aos instintos. Todo rato rouba- e ele não é menos moral ou mais imoral pelo fato de roubar -, todo cão ladra, todo gato se escapa de noite e estraçalha tudo aquilo em que põe as garras, todo leão mata, todo cavalo foge ao ver o perigo, toda tartaruga dorme durante as melhores horas do dia, e todo inseto, réptil, ave e besta reproduz a sua espécie em público. Bem, mas em linguagem civilizada, todo rato é ladrão, todo cachorro faz demasiado barulho, todo gato é um esposo infiel, quando não é um vândalo selvagem, todo leão ou tigre é um assassino, todo cavalo, um covarde, toda tartaruga é uma preguiçosa e, finalmente, todo inseto, ave, réptil, ave ou besta é obsceno quando cumpre as suas naturais funções vitais. Que transformação na massa dos valores! E esta é a razão pela qual nos quedamos a assuntar, espantados, por que nos teria feito Deus tão imperfeitos."



Segundo este trecho, que li e reli várias vezes, Lin Yutang discursa sobre o qaunto nos distanciamos de nossa própria natureza. Aquilo que era natural e nos ajudava a sobreviver, hoje é considerado pecaminoso, imoral ou pelo menos, desaconselhável. Acredito que chegamos a um ponto sem retorno; já criamos nossas regras para conviver em sociedade, e devemos seguí-las se quisermos evitar sérios conflitos com as outras pessoas, que também a elas, em sua maioria, adaptaram-se. Hoje, é inaceitável que nos reproduzamos em público ou que ajamos como os ratos, que roubam, e como os felinos, que destroem tudo no qual deitam suas garras - embora muitos ainda hajam desta maneira.

Mas acho que existem alguns instintos básicos que perdemos, e que seria muito interessante se pudéssemos resgatar; antigamente, as pessoas que trabalhavam nos campos tinham um incrível sincronismo com os rítmos da natureza. Plantavam e colhiam nas épocas certas, sabiam quando era melhor cortar os cabelos (segundo as fases da lua), entendiam os humores das marés sem que necessitassem de instrumentos muito poderosos. Elas viajavam guiando-se pelas estrelas, e raramente se ouvia falar de alguém que se perdera. Infelizmente, hoje nos tornamos dependentes da tecnologia para estes e outros fins. E quanto mais deixamos de usar os nossos instintos, mais os perdemos.

Tornamo-nos seres racionais e frios, e tratamos de apagar ou socar para o fundo qualquer tentativa de escutarmos os nossos instintos, pois isto significaria ser chamado de louco, irresponsável ou inconsequente. Aquela voz fininha que falava aos nossos ancestrais, hoje não passa de um murmúrio quase inaudível. Saímos por aí agindo 'racionalmente', e por isso damos racionais cabeçadas.

E cada vez mais, nos achamos no direito de criar regras aos outros. Quem se adapta a elas é considerado 'esperto', racional, inteligente, sociável; quem não concorda com elas, é anti-social, execrável, estúpido e digno de isolamento. E vamos matando nossos instintos, e assim, nossas almas vão se tornando pálidos espectros que vagam acima do mundo e acima de nós mesmos, desconectadas de nós, vítimas de depressão, sentimentos de inadequação, medo, preconceitos, urgência em agradar e ser aceito por aqueles que 'ditam as regras.'

Lin Yutang falava contra o nazismo em uma época na qual o Nazismo dominava grande parte da Europa; ele confrontava valores há muito estabelecidos, apontava novos caminhos e trilhas de pensamento, em uma época na qual judeus eram queimados em fornos da mesma maneira que hoje assamos frangos em microondas. Usando de seu inabalável senso de humor e coragem - e até mesmo, uma ponta de ironia - desnudava o verdadeiro caráter dos líderes de sua época, em trechos como:


"Perdoamos os grandes do mundo porque morreram. Por estarem mortos, sentimos que ficamos igualados a eles. Todo cortejo fúnebre carrega um estandarte em que estão escritas as palavras: "Igualdade Humana. (...) Vem daí, pois, o senso da comédia humana e o próprio material da poesia e da filosofia. Quem percebe a morte adquire o senso da comédia humana e logo se torna poeta."

E ainda:


"A diferença entre os canibais e o homem civilizado é, parece-me, que os canibais matam seus inimigos e os comem, ao passo que os civilizados matam seus inimigos e os enterram, plantam uma cruz sobre seus cadáveres e mandam rezar missas por suas almas." Lembrei-me muito de Ayrton Senna e toda perseguição que sofreu, quando li este trecho. Revi a cena do documentário sobre sua vida, onde um Prost compungido carrega uma das alças de seu caixão.

E em seu discurso sobre o senso de humor:


"(...) os capazes, os hábeis e os ambiciosos e orgulhosos são ao mesmo tempo os mais covardes e confusos, pois carecem da coragem, profundeza e sutileza dos humoristas. Estão sempre dedicados a trivialidades, ao passo que os humoristas, com seu maior descortino de espírito, podem pensar em coisas maiores. Conforme andam as coisas,, um diplomata que não fala cochichando, nem parece muito assustado e composto e cauteloso, não é um diplomata... Mas nem é preciso reunir uma conferência de humoristas internacionais para salvar o mundo. Em todos nós há uma suficiente qauntidade deste desejável ingrediente que se chama senso de humor. 


(...) Afinal, só o que maneja levemente suas ideias é senhor de suas ideias, e só o que é senhor de suas ideias não se vê escravizado por elas. A seriedade, enfim, é apenas um sinal de esforço, e o esforço é um sinal de imperfeita maestria. Um escritor sério sente-se pesado e a contragosto no reino das ideias, como um novo-rico na sociedade. É sério porque não chegou a sentir-se a gosto na companhia de suas ideias.


(...) Quando vemos um escritor a lutar com suas ideias, podemos estar certos de que as suas ideias é que estão lutando com ele."

Assim, seguindo as ideias de Lin Yutang, por que não levarmos a vida de maneira mais leve e despreocupada? Por que continuarmos fazendo questão de parecer o que não somos? Ninguém é perfeito, ninguém tem a chave da porta do Céu (ou do inferno), e ninguém tem o poder de destinar os outros a este céu (ou inferno) que concebemos.


domingo, 27 de abril de 2014

Cartas Entre Amigos - Sobre Ganhar e Perder (resenha)





Cartas Entre Amigos -Sobre Ganhar e Perder
Gabriel Chalita & Fábio de Melo
Editora Globo –Ano: 2010 -
225 páginas







Hoje em dia, quase ninguém mais escreve cartas; ficamos presos à rapidez e informalidade dos e-mails, redes sociais e mensagens por telefone. A beleza e a verdade da palavra cuidadosamente escrita (e refletida) parece estar, cada vez mais, perdendo-se. E é neste exato momento que me caiu às mãos o livro Cartas Entre Amigos – Sobre Ganhar e Perder, de Gabriel Chalita e Fábio de Melo. O livro, como deixa claro o título, é o resultado da troca de correspondência entre dois grandes amigos, onde ambos discursam e refletem intensamente sobre o mundo de hoje, as pessoas, os relacionamentos, suas agruras, tristezas e vazios; e no meio de tudo, eles encontram e nos mostram o caminho de sua fé, sem a qual ficaria ainda mais difícil seguir em frente.

O respeito e a reverência que os dois amigos demonstram um pelo outro também é uma grande lição nesses tempos em que relacionamentos ganham contornos cada vez mais superficiais, frágeis e artificiais, e onde a palavra amizade tornou-se um clichê e a barreira entre a amizade e o excesso de intimidade é tão facilmente (co)rompida.

Um livro para ser lido e relido bem devagar. As histórias dos dois amigos entrelaçam-se com as nossas, e nos sentimos, ao mesmo tempo, personagens e autores coadjuvantes nos cenários que eles tão bem descrevem.

Alguns trechos do livro:

Carta de Fábio de Mello:

“Meu amigo, a escolha do filtro é determinante para o que conseguimos como resultado final. A vida é dura em todo canto. É dura em mim, é dura em você, é dura em todos nós. O sofrimento é normativo na condição humana. Há sempre uma dor sendo gestada, sendo sofrida em algum canto deste imenso mundo.”

Carta de Chalita, sobre a amizade:

“Amigos são poetas da alma. São andarilhos duais, alegres e tristes. São malabaristas, e, se necessário, palhaços. Brincam para que o sorriso não se faça de rogado. Testemunham o aconchego de um fim de tarde. Exalam o perfume agradável de uma flor que não se encontra em atacado. Amigos tem o poder da unicidade e não merecem a economia de nossos sentimentos. Se o convite é para o banho de cachoeira, para que perder tempo com a bica rala?

É uma vitória ter amigos. É uma derrota querer que os amigos sejam a projeção de nossas frustrações. O outro não é um pedaço que vai preencher um buraco do manto que me aquece. O outro é um manto inteiro. Mas um outro manto. Diferente do meu, e portanto, necessário.

Amizades interesseiras não são amizades. Na solidão das nossas decisões e no vazio de nossas escolhas, vamos percebendo quem é necessário e quem não entendeu o que é amar. Nada de parasitas, nada de sugadores nem de bajuladores hipócritas. Quantos são os que oferecem o perfume da euforia para que o cheiro da falsidade fique imperceptível? Cedo ou tarde se esquecerão de usar o perfume, e o odor natural será sentido.”

Fábio de Melo, sobre seu pai:

Meu amigo, pude viver muitos aprendizados ao lado do meu pai, mas há um fato que se tornou muito marcante para mim. Um aprendizado que aconteceu ao longo da minha vida, fruto de uma atitude que o acompanhou a vida inteira. Ele tinha o hábito de lavar o prato em que comia. (...) Depois de tanto tempo, fico pensando na mística que estava escondida naquele gesto. Lavar os pratos era um jeito que ele tinha de consertar o mundo. Herbert Viana tem um verso muito bonito em “Vamos Viver” que propõe: “Vamos consertar o mundo/Vamos começar lavando os pratos.” Meu pai aceitou a proposta, mesmo sem tê-la ouvido. (...) Talvez quisesse mostrar que, se cada um de seus oito filhos repetisse o gesto, minha mãe poderia descansar mais cedo depois das refeições.”

Chalita, sobre o luto:

(...) O luto necessário fortalece. O choro nos aproxima de quem somos, seres dotados de emoção. As janelas fechadas significam que a casa está sendo arrumada, que a sujeira está sendo limpa e que os enfeites estão encontrando o seu espaço para adornar e dar aconchego. Há o tempo da reforma e o tempo da inauguração. Em tempos de reforma, é melhor não trazer muita gente. A poeira pode dar uma impressão desagradável, as toalhas sobre as poltronas não são tão convidativas. Quando tudo estiver organizado, os convidados serão bem-vindos.”

Fábio de Melo:

“Nosso empenho precisa estar nisso. Fazer caber nas mãos o que queremos da vida.”

“(...)É isso que nos faz reconhecer, com Fernando Pessoa, que nada, absolutamente nada somos:

Não sou nada
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.

(...) Leiam de novo:

Não sou nada.
Nunca serei nada.

E quantas vezes forem necessárias. Leiam Pessoa os críticos de plantão, os fofoqueiros ou futriqueiros, como queiram. Leiam Pessoa os sujos, os que se emporcalham na avidez de emporcalhar os outros. Leiam Pessoa os que maltratam aqueles que servem. (...) Mas o poema continua. Se ficássemos apenas na negativa do que somos e do que seremos, negaríamos a própria razão da existência.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

(...) Depois de constatar que não somos nem nunca seremos nada, Pessoa nos alívia com a água fresca dos sonhos. Temos em nós todos os sonhos do mundo. E só temos porque primeiro nos esvaziamos. Antes de saber que os sonhos do mundo moram em nós, precisamos concluir que não somos nada.”


quarta-feira, 12 de março de 2014

O Número de Dunbar





O Número de Dunbar (Dunbar's Number)


Recentemente, usei em minhas aulas um artigo da revista Speak Up - gosto muito desta revista, pois traz assuntos interessantes para discutir em sala de aula com meus alunos de inglês - sobre o Número de Dunbar. De acordo com a Wikipedia (outra de minhas fontes favoritas, pois é simples e direta), Robin Dunbar (28/07/1947) é um antropólogo evolucionista da Universidade de Liverpool, Inglaterra. Após pesquisas, ele criou o Número de Dunbar. A Wikipedia explica que:

"O número de Dunbar define o limite cognitivo teórico do número de pessoas com as quais um indivíduo pode manter relações sociais estáveis. Nesse tipo de relação o indivíduo conhece cada membro do grupo e sabe identificar em que relação cada indivíduo se encontra com os outros indivíduos do grupo-1 Esse número teórico fica entre 100 e 230 pessoas, entre parentes e amigos. Deve-se reparar que as pequenas comunidades - tribos, aldeias, grupos de interesse comum - costumam ficar mais ou menos nessa faixa."

Dunbar criou um sistema de anéis concêntricos onde você está no centro, e à sua volta, um grupo social de cento e cinquenta pessoas, sendo que o anel mais próximo de você é formado por 3 a 5 pessoas, enquanto o segundo anel contém 10 a 15 pessoas, e o terceiro, 30 a 45.  As pessoas compondo o primeiro anel podem ser consideradas nossos amigos de verdade. Ele explica que, apesar de podermos considerar as pessoas dos anéis mais distantes como amigos ou pessoas com quem temos coisas em comum, dificilmente alguém conseguirá manejar relacionamentos significativos com um número de pessoas maior que 35. Os membros familiares não estão incluídos nestes números.

Segundo Angelita Viana Corrêa Scardua, pioneira nos estudos de psicologia positiva no Brasil, "...amizade que é amizade tem o suporte dos sentidos! Amigo de verdade tem olhos para ver, nariz para cheirar, mãos para tocar, ouvidos para ouvir…”Amigo virtual” pode até ser bom para “enganar” a solidão, pode mesmo até ajudar a expandir o círculo social, contribuindo com mais informações para o processamento cerebral… Mas amigo que é só virtual dificilmente poderá contribuir para que o cérebro libere muitos dos neurotransmissores que nos ajudam a nos sentirmos mais relaxados, alegres e felizes. Afinal, a ocitocina, um hormônio muito associado ao vínculo afetivo, tem no contato físico um dos seus principais gatilhos. Não é a toa que a ocitocina é carinhosamente chamada pelos cientistas de “hormônio do abraço”!

Concordo plenamente com ela. O que sabemos, realmente, sobre as pessoas com quem 'encontramos' no mundo virtual? Apenas o que elas colocam na rede. Vemos as fotografias mais bonitas, onde elas estão vestindo suas melhores roupas em lugares maravilhosos, sempre sorridentes e felizes. E quem não faz como elas, ou seja, quem não demonstra estar feliz e sorridente o tempo todo - mesmo que esta felicidade seja totalmente falsa - é considerado esquisito e desajustado. É preciso ser feliz a qualquer custo (ou pelo menos, fazer os outros acreditarem que é assim que somos). Jamais discordar, ser sempre amigo de todos, fazer cara de paisagem mesmo nas situações que normalmente nos tirariam do sério aqui fora, pois é preciso manter uma imagem de perfeição e impecabilidade.

No Facebook - uma rede social na qual tenho, no momento, 384 pessoas em meu círculo de amigos - eu sinto o quanto o Número de Dunbar realmente faz sentido.

Eu acho perigoso acreditar que realmente temos trezentos, quinhentos ou até mais amigos online. Amizade e afinidade não são a mesma coisa. Sempre tomo muito cuidado ao considerar alguém como amigo, e não tenho nenhum tipo de ilusão romântica a esse respeito. Porém, acredito que, de perto, ninguém é normal, mas também não é tão esquisito assim.




sábado, 22 de fevereiro de 2014

ACROSS THE UNIVERSE - RESENHA



Imagem: Google




RESENHA
ACROSS THE UNIVERSE
MUSICAL – ANO: 2008 – Revolution Studios
DIREÇÃO: Julie Taylor
ELENCO: Jim Sturgess (Jude) , Evan Rachel Woods (Lucy), Joe Anderson (Max), Dana Fuchs (Sadie), Martin Luther MacCoy (Jojo), T.V. Carpio (Prudence); participações de Joe Cocker e Bono Vox.

Obs: não-recomendado para quem não for fã incondicional dos Beatles.


Anos sessenta; o mundo, um caldeirão onde cozinham mudanças e revoluções. No meio de todos aqueles acontecimentos que mudaram radicalmente toda uma geração, Jude e Lucy se apaixonam. Ele, de origem proletária, nascido em Liverpool e criado pela mãe, decide largar sua vida e ir até Nova Iorque em busca do pai que nunca conhecera. Lucy, uma estudante de classe média alta que vive a vida como em um conto de fadas, logo vê seu castelo ruir ao saber que seu namorado, enviado ao Vietnã, não mais voltará.

Across the Universe é muito mais que um musical produzido apenas com músicas dos Beatles; é o relato histórico de uma época em que os Estados Unidos entraram na guerra do Vietnã, causando passeatas de protesto que chegaram a reunir seiscentas mil pessoas, e vários outros acontecimentos que tomaram de assalto a antes patética, apática e hipócrita sociedade americana, como o assassinato de Martin Luther King, a Kul Klux Klan, os Panteras Negras, a revolução feminista, sexo, drogas e muito ‘rock and roll.’

Naquele contexto de intensas mudanças, um grupo de jovens se encontra e passa a dividir um velho apartamento na Big Apple, e assim suas vidas se entrecruzam para depois tomarem diferentes rumos. Lucy torna-se uma manifestante contra a guerra do Vietnã quando seu irmão Max é convocado. Passa a tomar parte ativa nas manifestações – o que começa a afastá-la de Jude – mas logo vem a desilusão ao chegar ao comitê de manifestantes e vê-los fabricando bombas. Ela para à porta decepcionada, e diz: “Eu pensei que fossem eles que jogassem as bombas.”

Impossível não associar esta cena do filme ao que hoje acontece durante as manifestações no Brasil: o idealismo sincero transformado em massa de manobra, incitando a violência e a corrupção que tanto primava por combater.

O visual dos personagens Sadie e Jojo são baseados em Janis Joplin e Jimmi Hendrix. Sadie é vocalista, e tem o mesmo tom de voz rouco de Joplin, enquanto Jojo é o guitarrista de sua banda – quase uma cópia fiel de Jimmy Hendrix. Os nomes dos personagens também são todos tirados de canções dos Beatles - Sadie, Jo-jo, Lucy, Prudence, Max e Jude.

Destaque para a participação de Bono Vox cantando “I Am the Walrus”. Momento psicodélico que retrata fielmente as ideologias dos anos sessenta.

Um filme lindo, inesquecível, importante, indispensável. As canções dos Beatles ficaram perfeitamente adaptadas ao contexto do filme, e as interpretações, memoráveis. Quando o filme termina, ficamos durante algum tempo ainda sentados no sofá, os pelos dos braços arrepiados, a emoção presa na garganta e uma saudade enorme de uma época na qual tudo aconteceu. Mesmo que não a tenhamos vivido pessoalmente.

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EU SÓ TENHO UMA FLOR

  Eu Só Tenho Uma Flor   Neste exato momento, Eu só tenho uma flor. Nada existe no mundo que seja meu. Nada é urgente. Não há ra...