witch lady

Free background from VintageMadeForYou
Mostrando postagens com marcador CRÔNICAS. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador CRÔNICAS. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

TRISTE VERDADE

 



 

 

Sejamos realistas: algumas batalhas são ganhas e outras perdidas. Ora desse povo acampado em frente aos quartéis voltarem para casa. Não existe nada lá para a Direita brasileira. As pessoas estão perdendo seu tempo alimentando falsas esperanças – muitas vezes, fomentadas por canais do YouTube sensacionalistas em busca de ‘likes’ e seguidores.

No caso de Bolsonaro e das urnas eletrônicas inauditáveis, ele confiou no respaldo das Forças Armadas. Entretanto, já não se fazem mais Forças Armadas como antigamente, e esses generais deveriam trocar suas fardas por pijamas de bolinhas cor-de-rosa. Mas continua o povo iludido nas ruas, acampados em frente aos quartéis clamando por um deus que não existe e achando que esse deus os ouvirá, quando os únicos que poderiam ajudar, se acovardaram.

Não acho que as eleições devessem ser anuladas. Se Lula está lá, é porque o povo merece exatamente isso, e quem sabe, esses quatro anos de PT sejam necessários para que aqueles que ainda acreditam neles se desiludam de vez. Não acredito no acaso.

Porém, existem algumas pessoas que se acham donas do poder, representadas por um ditador que se denominou o proprietário do país, e estas pessoas deveriam ser presas, e as chaves, jogadas no lixo. Para isso – e apenas para isso – eu acho que as Forças Armadas deveriam ter feito uma intervenção, já que o senado não passa de um bando de covardes com rabos presos.

Muitos dirão que isso seria inconstitucional; mas a nossa constituição já está sendo utilizada como papel higiênico há muito tempo. Ela foi reinterpretada, rasurada, amassada, e finalmente, rasgada e queimada.

Não vejo nenhuma solução. Acho que o povo deveria recolher sua esperança e voltar para casa a fim de aproveitarem seus últimos dias de liberdade, pois ao amanhecer de 2023 poderemos nos surpreender com as Forças Armadas rebaixadas à guarda nacional particular do PT e batendo continência ao Lula. Sinto muita pena de nós. Lamento profundamente por um país riquíssimo, que sempre teve tudo para se tornar o melhor do mundo e que nunca conseguiu devido à corrupção e ao egoísmo de alguns.

Concordo com quem diz que é uma luta do bem contra o mal, mas não é como nos filmes, quando o bem sempre vence. Aqui é a vida real. Já vimos o mal vencer e se alastrar inúmeras vezes. Basta ligar a TV ou o YouTube e vemos notícias sobre guerras, corrupção, assassinatos. O Mal venceu, como acontece na maioria das vezes. E isso vai continuar acontecendo enquanto a maioria das pessoas se alinharem com o Mal.

Admitimos que um criminoso corrupto fosse novamente erguido à posição de presidente  desta nação, e agora nada mais há a ser feito. E nem adianta rezar; Deus também se cansa dos imbecis.

terça-feira, 15 de novembro de 2022

UM DIA INTEIRO

 


 

 

Não consigo dormir até mais tarde, e à medida que envelheço, tenho a impressão de que meus dias estão começando cada vez mais cedo. Hoje, feriado de 15 de novembro, abri os olhos à 4:45 da manhã e não consegui mais dormir.

 

Os sons dos passarinhos na árvore à janela do quarto me atraem feito um ímã. Logo, a luz avermelhada do sol começou a entrar através das cortinas. Peguei meu Kindle e fui sentar-me na varanda para ver o sol nascer – e ele nasceu lindo, entre nuvens pesadas  cinzentas e arredondadas, caprichosamente formatadas pelo vento. Olho para as copas das árvores e vejo que as criaturas da natureza despertaram bem mais cedo do que eu – sabiás na lida, maritacas voando em bandos pelo céu, meu casal de tucanos, que fez ninho em um tronco de árvore morta, se esforçando para alimentar o filhote. Bem-te-vis cantam, trocando mensagens à distância. As cambaxirras andam pelo muro com seu filhotinho, que bate as asinhas pedindo comida.

 

Olho lá para baixo e vejo Mootley, meu cachorrinho, caminhando pelo jardim. Faço silêncio, pois se ele descobrir que já estou acordada, fará um escândalo, e isso acordará minha outra cachorrinha, a Leona, e ambos passarão a latir e esmurrar a porta da cozinha até que eu vá até eles.

 

Gosto de acordar sempre cedo, pois na minha opinião, dormir até tarde é viver apenas a metade do dia, o que significa, no final das contas, viver pela metade. O dia será longo, e haverá muitas tarefas a serem feitas: preciso limpar a geladeira e passar a roupa. Preciso cuidar do almoço e também preparar as minhas aulas para amanhã. E quanto mais cedo eu começar, mais tempo livre eu terei no decorrer do dia.

 

Tive tempo até mesmo de escrever esta breve crônica.

 

Bom dia a todos.

 

 



sexta-feira, 28 de outubro de 2022

SÍNDROME DE ESTOCOLMO

 

 


Em 23 de Agosto de 1973, o assaltante Jan-Erik “Janne” Olsson, munido de explosivos e uma metralhadora, entrou na filial do Kreditbanken, na praça de Norrmalmstorg, centro da capital sueca. Após seis dias de sequestro aos funcionários e clientes de um banco, estes começaram a se identificar com os ladrão e seus comparsas. No último dia do sequestro, a polícia conseguiu dominar os bandidos, que estavam sendo PROTEGIDOS pelos seus reféns. A despedida entre eles se deu com abraços. Desde esse episódio, a psicologia identificou a síndrome de Estocolmo, que é a cumplicidade entre vítimas e seus abusadores.

Anos depois, em 1975, Patricia Hearst, a neta de um rico magnata americano, foi sequestrada por um grupo terrorista e ficou dois meses sendo dominada por eles, ameaçada de morte, e muitas vezes, trancada em um armário. Porém, ela passou a desenvolver empatia por seus captores. Para surpresa de seus familiares, ela apareceu sendo filmada durante um assalto de banco junto com os terroristas, portando uma arma, e usando o codinome “Tania.” A polícia então passou a procurá-la, não como vítima, mas como cúmplice, e quando ela foi finalmente capturada, suas palavras foram: “Digam a eles que eu estou feliz. Digam a eles que eu estou sorrindo.” Sendo neta de um milionário, ela conseguiu o perdão do Presidente Jimmy Carter e hoje vive rica e feliz em sua mansão. Na época de sua prisão, a fim de escapar, ela alegou estar sofrendo de Síndrome de Estocolmo, e alegou ter sido forçada pelos terroristas a praticar o assalto.

Nos dias de hoje, eu tenho visto novamente as pessoas sofrendo desta Síndrome de Estocolmo aqui no Brasil. Apesar de terem pleno conhecimento de que o candidato da esquerda é um ladrão, tais pessoas continuam dando a ele suporte e afirmando que votarão nele, e algumas ainda alegam coisas como “Ele não vai roubar muito, pois estarão de olho nele” ou então justificam seu voto com frases vazias como “Bolsonaro fala palavrão,” “Bolsonaro é machista/fascista/nazista,” “Bolsonaro disse que não é coveiro.”

Mas Bolsonaro não é ladrão. Apesar do fato de que Bolsonaro, mesmo diante de tanta opressão e boicote aos seus projetos, ter sido capaz de nos fazer atravessar uma pandemia e uma guerra e sairmos do outro lado apresentando crescimento, deflação e queda nos níveis de desemprego, ele e seus feitos não são reconhecidos pelos que sofrem da Síndrome de Estocolmo.

 Mas mesmo assim, acho que o simples fato de que ele não é ladrão, deveria ser levado em conta pelas pessoas de bem. Enquanto isso, o outro candidato é tão ladrão, que rouba até mesmo as ondas do rádio.

Simples assim: não vote em Barrabás. Não lave suas mãos. Tome responsabilidade e faça uma escolha sensata, uma escolha que ajudará a você mesmo e ao seu país a não mergulhar na era negra do socialismo e da roubalheira.

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

EMPATIA

 



Empatia nos dias de hoje é uma palavra que se tornou antipática, pois tem sido usada para propósitos ideológicos. Desenvolvi uma enorme antipatia pela palavra empatia. 

Mas antigamente o significado psicológico desta palavra costumava ser colocar-se no lugar do outro e sentir o que ele sente, compreendendo-o melhor. Empatia nada tem a ver com ser doce (conheço pessoas que destilam açúcar pelos poros, mas têm o coração amargo), falar bonito (as maiores falácias saem das bocas de pessoas letradas, envoltas na maciez de palavras cuidadosamente selecionadas para disfarçar suas verdadeiras intenções), ou fazer aquilo que todos esperam que seja feito (mesmo que isso signifique cometer erros a fim de obter a aprovação alheia). 

Hoje, ter empatia significa pertencer ao grupinho “do bem”, que se senta confortavelmente nos restaurantes caros de países estrangeiros a decidir o futuro de um país ao qual eles nem mais pertencem. Empatia significa concordar com tudo o que alguém faz, mesmo que seja errado, mesmo que seja criminoso, mesmo que tudo seja mentira, pois admitir que passou anos acreditando em uma falácia é algo muito difícil de se fazer. Melhor tentar encontrar justificativas para continuar rezando ao santo do pau oco. Ter empatia é acreditar que alguém que passou ANOS predando um país na maior cara de pau, e que foi preso e condenado por isso (mesmo que tenha sido solto através de uma das brechas da nossa (in)justiça falha), possa, de repente, decidir que vai ter caráter daqui para frente.

Sinto muito, se isso é ter empatia, eu não tenho nenhuma.





segunda-feira, 3 de outubro de 2022

A VITÓRIA DO MAL

 


Ao amanhecer do primeiro turno, acordo com um gosto metálico na boca, cansaço e uma sensação de desânimo. E não, não é covid. Olho em volta e percebo que as árvores estão no mesmo lugar, os passarinhos cantam do mesmo jeito e a minha montanha continua lá, onde sempre esteve, muito antes que eu e minha geração viéssemos a existir. E o céu ainda é essa imensidão misteriosa – hoje coberta por uma macia névoa branca.

Mas essa sensação terrível já me acompanha há algum tempo, é como se eu fosse continuamente seguida por alguém me dizendo o tempo todo: “Não adianta. Essa trégua é temporária.”

Assistindo ao primeiro episódio de O Senhor dos Anéis na Prime Video, muito me impactou a frase de um personagem, uma "elfa" guerreira:

A cena mostra que  ao redor dela havia apenas paz, beleza e cascatas brilhantes caindo em rios cristalinos. Os outros elfos zombavam dela porque, desde a última batalha contra os Orcs que aparentemente, tinham sido derrotados, ela jamais descansava: sempre atenta, sempre de olhos abertos e coração fechado, esperando por algo que todos consideravam exterminado.

Um de seus amigos elfos diz a ela que já estava na hora de relaxar, voltar à paz da Terra dos Elfos, afinal, o Mal tinha sido derrotado. E então ela responde: “Evil never ends. It hides.” (“O Mal não acaba nunca. Ele se esconde”).

Sinto que estamos vivendo exatamente a mesma coisa. Temos aí, iminente, o retorno do Mal. Acho que negligenciamos o poder dele, o tempo todo, achando que por termos vencido uma batalha, tínhamos vencido a guerra. Acreditamos que o poder vem de Deus, que não deixaria coisas ruins acontecerem, quando na verdade, a própria Bíblia nos manda orar e vigiar. Descansamos sobre os louros. Deixamos que o mal comesse pelas beiradas, achando que jogar “dentro das quatro linhas” com quem sempre rouba no jogo nos faria vencer. E estamos perdendo. E vamos perder.

Tínhamos que ter chutado o pau da barraca lá atrás, tínhamos que ter sido mais fortes. Menos falatório e ameaças, mais ação. Não adianta usar verde e amarelo achando que afirmações como “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” nos manteriam a salvo. Não dá para ser bonzinho no inferno, combatendo capetas.

E sabem o que vai acontecer? Bolsonaro vai perder e Lula voltará à cena do crime. Temos pouco tempo para continuar dando nossas opiniões, pois dentro em breve, tudo será censurado. Estamos vivendo o último mês de nossa pseudoliberdade de expressão, que daqui por diante será censurada, simples e diretamente.

Estamos nos aproximando cada vez mais de situações como as que vivem outros países – Argentina, Chile, Venezuela, Bolívia, Nicarágua. Você que ama seus cachorrinhos e gatinhos, esconda-os enquanto pode, pois logo poderão virar comida na sua mesa. Faça um grande estoque de comida e papel higiênico: vai precisar. Não se esqueça de comprar velas, fósforos e um fogareiro para cozinhar.

Acham que eu estou exagerando? Aguardem.

 

sábado, 17 de setembro de 2022

METAVERSO

 



Estive assistindo a alguns vídeos sobre a grande novidade do momento, o Metaverso  (ou seria a Metaverso? Sei lá...). E se você pensa que isso vai demorar para chegar até aqui, é porque com certeza ainda não reparou que, todas as vezes em que você abre seu Instagram, Facebook  ou Whatsapp, ele está lá: um ícone em formato de lemniscata, um símbolo da geometria sagrada que representa o infinito.




Em um dos vídeos que assisti, a protagonista decidiu passar 24 horas utilizando os aplicativos do Metaverso. Ela foi a festas virtuais, participou de reuniões de negócios, seguiu um programa fitness, jogou video games... e até tomou o café da manhã no alto de uma montanha acompanhada por um lhama, que pastava calmamente ao seu lado. Bem, não se pode parar o progresso. E como não desejo ser uma daquelas velhas chatas que não sabem sequer lidar com um celular, vou me atualizando.

Adoro tecnologia, e acho que ela veio para melhorar a vida das pessoas em muitos aspectos, desde saúde e entretenimento até qualidade de trabalho. Porém, nós, os humanos, temos os dedos podres que transformam coisas maravilhosas em grandes porcarias com um simples estalar de dedos. E o grande perigo do Metaverso, na minha leiga opinião, é que as lhamas virtuais e as montanhas de bites substituirão as reais. Pessoas de brinquedo substituirão pessoas de carne e osso. Passaremos horas e horas com aqueles enormes e desconfortáveis headsets (que, acredito, logo serão tão pequenos quanto qualquer par de óculos) na cara, vivendo uma realidade que não existe. Mas... quem pode definir o real do irreal? Uma coisa não se torna real a partir do momento em que foi criada?

Ainda temos muito chão pela frente até que possamos definir as vantagens e desvantagens da vida virtual. Eu por enquanto prefiro o cheiro das montanhas reais, e o toque da grama real nas pontas dos dedos. Gosto de sentir o sol real na minha pele, e andar sob a chuva de água real. Amo conviver com pássaros reais, flores reais, lua e estrelas reais. Nada como sentar lá fora à noitinha e escutar grilos reais, e ver vagalumes reais.

Quem sabe, em breve alguns de nós estejamos protestando em ruas virtuais pela volta da vida real?






quinta-feira, 8 de setembro de 2022

7 de Setembro

 



 


Há muito tempo eu não via uma manifestação patriota nas dimensões da que eu vi ontem. Todos os que estavam presentes o fizeram de livre e espontânea vontade. Finalmente, parece que o povo está aprendendo a valorizar o Brasil. Somos um grande país, mas infelizmente, muitos falam mal de nós lá fora (triste que sejam os próprios brasileiros que façam isso) e dão a todos uma ideia errada sobre nossa grandeza, quando deveríamos nos orgulhar do país maravilhoso que temos. 

Ao visitar alguns países da Europa, voltei para cá achando que nós temos muito, mas muito mais do que eles jamais tiveram. A diferença, é que eles valorizam cada coisa que possuem, enquanto nós não o fazemos - ou não o fazíamos. Os europeus e americanos acreditam que são grandes, e assim, cresceram. Agora espero que seja a nossa vez de mudar nosso "mindset" e começarmos a acreditar no Brasil.

E justamente por acreditar em meu país, jamais darei meu voto a quem o parasitou e depredou por anos. Jamais votarei em um ladrão redimido por um oportuno buraco na lei. Talvez as demais escolhas não sejam aquilo que eu sonhei, mas qualquer uma delas será melhor do que "reeleger um ladrão para que ele volte à cena do crime," como alguém bem já disse. 

Os resultados das pesquisas eleitorais não são verdadeiros, e não refletem a vontade da maioria. O povo nas ruas é bem mais eloquente do que qualquer pesquisa. Se alguns reclamam que o presidente transformou o 7 de Setembro em comício eleitoral, eles têm  razão, pois isso foi justamente o que ele fez; mas as pessoas que lá estavam compareceram por livre e espontânea vontade (ou necessidade). Os críticos deveriam lembrar-se que é bem mais digno fazer campanha eleitoral no 7 de Setembro a transformar o funeral da própria esposa em palanque.


É o que eu penso.


 



 



terça-feira, 19 de julho de 2022

O OUTRO NAO TE DEFINE

 






A excessiva preocupação em estabelecer uma imagem ou ideologia que vá ao encontro daquilo que as demais pessoas pensam ser correto é uma espécie de escravidão voluntária. Vejo pessoas que se consideram diferentes tentando desesperadamente serem aceitas e respeitadas por outras pessoas que nasceram em épocas diferentes, aprenderam conceitos diferentes e que não estão preparadas (ou dispostas) a compreender e aceitar certas mudanças dos tempos. E como elas vêm tentando provocar essa aceitação? Através da agressividade e da vitimização. Não percebem o quanto estão, elas mesmas, se desqualificando através dessa atitude. Tudo o que tenta opor-se forçadamente a uma ideia ou crença, apenas cria mais resistência. Somente através da compreensão, que é um processo que leva muito tempo e até mesmo, algumas gerações, existe a possibilidade de mudanças reais e duradouras.

Existem muitas características em mim mesma que algumas pessoas não compreendem ou aceitam. Na escola, sofri muito bullying por ser considerada fora dos padrões; não era rica, bonita, audaciosa ou arrojada como as demais meninas. E após a escola, o processo continuou.

Enquanto eu dei importância a tais pessoas que não me davam a importância que eu merecia, minha vida esteve travada e limitada. Até tentei modificar-me a fim de agradar as pessoas que me cercavam, o que, após algum tempo, causou-me frustações (porque quanto mais você cede o espaço que deveria ser seu aos outros, mais espaço eles ocupam e menos  o valorizam) e eventualmente, ressentimento. Quando dei por mim, não sabia mais onde minha vontade começava e a vontade deles terminava. E naquele momento em que finalmente dei por mim, meus relacionamentos tinham sido praticamente arruinados pela falta de limites e de amor próprio da minha parte. Porque quando você muda, as pessoas não mudam junto; elas passam a enxergar você como uma ameaça, uma espécie de criatura ingrata, revoltada, esquisita.

Ter a coragem de dar um basta pode significar que você vai se tornar alguém bastante solitário, e que alguns relacionamentos não vão ser jamais recuperados. Mas viver a vida toda tentando ser aceito ou respeitado, seja através do servilismo ou da agressividade, é uma perda de energia e de vida imensurável. Hoje, penso que cada um deve ser como é, sem se importar se está agradando ou não aos outros. E ninguém vai agradar a todos.

Talvez, através de uma atitude agressiva, você consiga intimidar ou calar uma meia dúzia de pessoas, mas não se iluda ao pensar que elas mudaram, ou que de repente passaram a respeitá-lo, pois elas estão apenas guardando (e acumulando) seu ódio para mais tarde, para quando tiverem a oportunidade de expressá-lo com mais veemência. E quando essa hora chegar – e ela vai chegar – vai ser uma explosão muito mais violenta e perigosa, pois será inesperada. Melhor deixar que cada um seja como é, pois só assim não seremos pegos de surpresa.

Se nem mesmo Jesus Cristo foi aceito ou compreendido por todos, morrendo a morte mais violenta, injusta e dolorosa  de sua época, por que se iludir pensando que pode modificar o mundo e o coração das pessoas através de gritos e de agressividade? Melhor é viver a própria vida, e compreender que ninguém é uma coisa só, e que existem muitas formas de ser uma boa pessoa e ser feliz, mesmo sem agradar a todos.

Por outro lado, quem sabe essa importância que você acha que os outros estão dando ao que você é ou deixa de ser esteja mais em você mesmo do que neles? Quem sabe, essa visão de que os outros só enxergam em você aquilo que, bem lá dentro de si mesmo, você mais teme, não esteja causando a maior parte desse sentimento de inadequação que você carrega sobre os ombros?

Lembre-se: quando alguém se apresenta como sendo seu salvador ou seu libertador, existe uma grande chance de que ele esteja apenas tentando salvar a si mesmo, e não se sinta forte o bastante para isso. Ele precisa de alguém que o deixe seguro a respeito dele mesmo. Ele projeta nos outros a sua própria necessidade de salvar-se e aceitar-se, e de se sentir aceito. Na verdade, ele se sente tranquilo ao saber que existem pessoas que ele pode dominar e manipular, pois elas acham que precisam dele enquanto é ele quem precisa delas. Vemos isso o tempo todo no mundo, nos mais variados contextos - até mesmo nas guerras. Cria-se uma necessidade para que se venda uma solução.






 




segunda-feira, 18 de julho de 2022

AINDA FALTAM ALGUNS DETALHES



Ainda faltam alguns detalhes para terminar meu cantinho do banquinho e deixá-lo mais aconchegante, mas está ficando bacana. Coloquei dois vasos com lavandas para dar cheirinho e espantar as formigas, repintei minhas decorações de jardim antigas e pretendo ainda decorar mais em volta - as coisinhas que eu comprei só chegam daqui a alguns dias. 

Mas já pude "inaugurar" no domingo de manhã.


A foto aí em cima é da "vista" do banquinho. Sempre muito bem acompanhada pelos meus dois cãezinhos.



Simplesmente amo decorar jardim com pedras de rio. Essa é parte do meu caminho que leva ao banco. O jardineiro meu ajudou a colocar a ideia (Pinterest) em prática.

Eis porque ando tão ausente das redes...


.

.

.








 

segunda-feira, 11 de julho de 2022

DEBAIXO DE UMA ÁRVORE

 

 

À direita, o cedro, onde vai ficar o meu banquinho.


Sempre sonhei em ter um banquinho debaixo do cedro do meu jardim. Acabamos colocando, há alguns anos, um banquinho na entrada da casa, e outro feito de pedra nos fundos, e mais tarde, outro em uma curva do jardim, mas nunca um sob a árvore. Por que? Não sei, já que sempre foi minha ideia original ter um banquinho debaixo daquela árvore. Mas desta vez, cismei: escolhi o banquinho (que ia chegar no sábado, mas a entrega foi adiada para a terça-feira - amanhã - o que muito me frustrou; pedi ao jardineiro que construísse um caminho que leva ao local do banco com as pedras do rio, que pegamos na rua após uma tempestade muito forte que as fez transbordar para fora das margens, há vários anos. Ficou bem bonito o caminhozinho. 




Agora, aguardo o banquinho chegar. Pretendo passar muito tempo debaixo dele, lendo e escrevendo. E quando eu me cansar, descansarei as vistas na copa da árvore, entre ramos e passarinhos.

Esse banquinho me fez pensar nas coisas fáceis, nos tantos sonhos perfeitamente acessíveis que ficamos adiando sem saber sequer o motivo. Meu Deus, o quanto poderíamos ser felizes, se ao menos tivéssemos o trabalho de realizar pequenos sonhos! Será por preguiça que não o fazemos? Será por medo de provocar a crítica, o julgamento (ou a inveja) alheia? Ou será simplesmente por estupidez?




Eu vou sim, ter o meu banquinho debaixo da árvore, e vou enfeitar aquele cantinho com uma porção de coisas que eu gosto: luzes de fada, pequenas estatuetas, vasos de plantas. E sentada lá, eu vou ver os raios de sol entre as folhas do cedro, escutar o canto dos sabiás, ler centenas de livros e continuar, quem sabe, planejando outros cantinhos possíveis.

Dentro e fora.






 

quarta-feira, 6 de julho de 2022

DE REPENTE

 



 

De repente você acha que não vale mais a pena fazer planos para o futuro. Você envelheceu ou está envelhecendo, e acha que só restam alguns anos de vida, e então a melhor coisa a se fazer é curtir o que já conquistou e desistir de qualquer tipo de ambição.

De repente, você percebe que os livros que acumulou na estante são muitos, e que ainda não leu a maioria deles. Teme que o tempo de vida que ainda lhe resta não seja o suficiente para ler todos eles, e se sente frustrado, como se uma ampulheta estivesse enfeitando a estante.

De repente você está em casa, olhando pela janela, e se dá conta de que quase vinte anos se passaram desde que você olhou por aquela janela pela primeira vez, e que a paisagem não mudou - as árvores e montanhas são as mesmas, o céu é o mesmo, mas você... e então vem aquela sensação (ou certeza?) de que quando você não estiver mais por aqui, não fará falta nenhuma ao mundo. Você não existe para o mundo, e nem é importante para ele. É ele que existe para você. Você vai passar - está passando - e ele vai ficar.

De repente, você olha em volta e percebe que a casa poderia se beneficiar com uma pintura, alguns móveis novos, plantas, uma redecoração. Mas daí você se lembra de que está velho, e pensa: "Para quê isso, se vai ficar tudo aí? Melhor só guardar dinheiro para deixar de herança para quem ficar."

De repente, você percebe que ainda não fez muitas coisas, e que não vai ter tempo de fazer tudo, mas que ainda há tempo para se fazer muitas coisas. 

Conheci alguém que, aos sessenta e poucos anos, se sentia assim. Porém, ele não sabia que ainda viveria muito tempo. Morreu aos 96 anos, e perdeu um tempo enorme só esperando a hora chegar, ou seja, passou seus últimos 24 anos só esperando a morte. 

De repente, a vida é hoje. Só hoje. Mas de repente, não.




 


 






sexta-feira, 24 de junho de 2022

30 SEMANAS

 30 SEMANAS


 


 



Apesar de tentarem politizar tudo nesse país, até mesmo a vida particular das pessoas, gostaria de comentar este fato - sobre a menina de 11 anos que foi estuprada e fez um aborto após 30 semanas de gravidez - sem puxar para lado nenhum.

A foto que ilustra esta crônica tem a imagem do que seria um feto (ou um bebê?) de 30 semanas de idade. Na minha leiga opinião, é uma criança quase totalmente formada. E também, na minha opinião, foi um assassinato com respaldo da lei. E isto é muito grave, pois abre precedentes.

Sou totalmente favorável ao aborto em casos de estupro, se esta for a vontade da mãe. Mas quando a gravidez chega a um estágio tão avançado, penso diferente, pois é o mesmo que assassinar uma criança viva, que não tem como se defender. É crime. E o que penso não tem nada a ver com religião, pois não sou religiosa, e nem com política. Não é sobre ser "de direita" ou "de esquerda", e lamento que haja pessoas nas duas extremidades tentando politizar o assunto.

O procedimento foi uma cesariana, e há inúmeros casos de bebês ainda mais prematuros que este que sobreviveram. Poderiam ter preservado a vida da criança, já que havia tantas pessoas querendo adotá-la, mas fizeram questão de simplesmente assassiná-la no ventre. Por que? Por ideologia, suponho. 

A partir de agora, quem sabe, tornar-se- há perfeitamente legal assassinar bebês de qualquer idade - basta que a mãe não os queira. Estamos em óbvio processo de involução.

O mundo PRECISA acabar, urgente.

terça-feira, 14 de junho de 2022

LOW-PROFILE




AS VANTAGENS DE TORNAR-SE LOW-PROFILE

Nesses tempos de redes sociais, biquinhos de selfie e busca incessante por ‘likes’, seguidores  e comentários, tornar-me low-profile pode parecer estranho. Porém, não aparecer muito e não postar loucamente nas redes sociais significa ter muito mais tempo para viver a vida de verdade aqui fora; isso quer dizer ter mais tempo para ler, escrever, trabalhar e cuidar de mim, entre outras coisas.

Minha memória e concentração também estão bem melhores agora! Antes, mal tinha paciência de focar em uma leitura por um longo tempo. Agora, voltei a ler meus livros. A pilha dos livros para ler está diminuindo. Redescobri o prazer de ler, de passar horas sentada no jardim na companhia dos meus livros impressos e do meu Kindle. 

Minha conta de Facebook (aquele mundo à beira da extinção) é bastante blindada e tem apenas 26 amigos, todos pessoas que conheço pessoalmente, e só é mantida para que eu saiba as datas de aniversário dos membros da família, pois eu sempre me esqueço. Raramente posto alguma coisa.

Minhas contas de Instagram (eu tinha quatro delas, onde publicava sobre diferentes assuntos) foram deletadas; não, eu não as desativei. Deletei mesmo! Só ficou uma, porque perdi a senha e não consigo mais entrar nela a fim de deletá-la. Tentarei fazer isso de novo quando tiver tempo livre.

As vantagens de ser low-profile tem sido muitas, além das acima mencionadas. Me sinto mais leve. É como se uma tonelada de julgamentos e energias negativas tivessem sido magicamente removidos dos meus ombros. 

As redes sociais são espaços onde as pessoas tentam mostrar o quanto suas vidas são maravilhosas, seus relacionamentos, perfeitos, suas peles e cabelos, incríveis (através de fotoshop) e suas mentes, “brilhantes.” Ninguém enxerga nada além de si mesmo. E quando enxergam, é para criticar ou espalhar inveja; raramente para admirar ou apreciar.

Segui o conselho de Elon Musk: saí das redes sociais. E minha vida está bem melhor.








 

quarta-feira, 8 de junho de 2022

O CASAMENTO É UMA INSTITUIÇÃO FALIDA?

 




Refletindo sobre este assunto após ler um artigo que usei em uma das minhas aulas de inglês, cheguei à seguinte conclusão: o casamento não é uma instituição falida, mas uma instituição diferente. 

Nos dias de hoje, ninguém mais pensa em casamento como sendo um compromisso indissolúvel, onde o homem é o chefe da casa e o autor da maioria das decisões, enquanto a mulher é o ponto de equilíbrio da família, devendo cuidar praticamente sozinha da educação dos filhos e dos cuidados com a casa. As mulheres mudaram sua posição dentro da sociedade, e tornaram-se profissionais competentes que trabalham fora e têm outras prioridades na vida além da família. 

Porém, quanto aos verdadeiro papel da mulher dentro da sociedade e da família, em teoria, é exatamente o que escrevi acima, mas na prática, as mulheres continuam, em sua maioria, sendo responsáveis pela maior parte do trabalho de casa (ou todo ele) e pela educação dos filhos, e embora sejam profissionais, continuam ganhando menos que os homens e em algumas situações, ocupando cargos inferiores.

Mas voltemos ao tópico deste texto, que é o casamento. 

Ninguém mais se casa nos dias de hoje pensando que casamento é para sempre; é como se casamento fosse um negócio, uma sociedade que pode ou não dar certo, e no segundo caso, cada um não hesitará em procurar outro sócio e abrir outro negócio. Eu sinto que não existe mais interesse em esforçar-se para que o casamento dê certo; ninguém tem paciência de conhecer o outro, conviver com defeitos ou consertar os próprios defeitos a fim de se adaptar à vida a dois. 

Por um lado, isso é bom, pois ninguém mais perde a vida inteira tentando sobreviver em uma relação falida e infeliz; mas, por outro lado, isso é ruim, pois ninguém mais dedica um pouco de esforço que seja para tentar fazer dar certo, despedaçando sem dó uma família por motivos às vezes fúteis, como a pasta de dente aberta, a toalha molhada sobre a cama ou preferências diferentes no canal de streaming. 

O que eu penso ser a pior coisa de um casamento? A Síndrome de Gabriela (para quem não sabe, lembrem-se daquela música cuja letra diz “Eu nasci assim, eu cresci assim, e sou mesmo assim, vou ser sempre assim”). A falta de motivação para mudar, para se empenhar em fazer dar certo, o cuidado em não continuar cometendo sempre os mesmos erros. Quase tudo pode ser resolvido através de uma conversa, mas quando, após a conversa, as coisas continuam voltando a ser como eram antes, as pessoas se cansam de tentar, pois não enxergam nenhum desejo ou vontade real de mudança vindo da outra parte. Isso desgasta o casamento. E nem mesmo o amor mais forte do mundo resiste à má vontade e à teimosia. 

Um outro ponto é o seguinte: eu acredito que todo mundo que se casa precisa ser inteiro. Essa coisa de procurar pela “cara-metade” é doentia. Ninguém quer ser metade. Isso significa dependência, e nada mais chato do que uma pessoa grudenta, chorosa, que vive cobrando atenção. Mas isso não quer dizer que não deva haver momentos em que um precise ceder um pouco para se adaptar àquilo que o outro deseja fazer; se ela gosta de praia e ele de montanha, que ambas as preferências sejam respeitadas, e as férias sejam programadas para satisfazer a ambos. Se ela gosta de filmes românticos e ele de ficção científica, não há nada mal em respeitar e incentivar o gosto do outro, assistindo com ele (a) um filme de sua preferência. 

Uma outra coisa que pode acabar com um casamento, são as promessas quebradas; “Eu vou melhorar! Vou tentar chegar mais cedo do futebol / passar menos tempo com as amigas/ ajudar nas tarefas de casa.” Uma fileira de promessas quebradas são como rachaduras que vão aumentando, aumentando, até que a estrutura toda desaba. E isso pode levar meses ou anos.

E finalmente, uma das coisas que mais contribuem para que alguém queira manter a maior distância possível do outro (mesmo que tal distância seja emocional), é a grosseria. Falar alto, não escutar o que o outro tem a dizer, ridicularizar a opinião do outro, humilhá-lo na frente dos amigos ou familiares, chegar em casa de mau humor por causa do trabalho e “descontar” no cônjuge, tornar-se emocionalmente distante e pensativo, excluindo o outro do seu mundo pessoal, e ao ser indagado quanto aos motivos de tal distância, tornar-se verbalmente agressivo ou responder monossilabicamente, evadindo-se de uma conversa. 

Viram que eu nem falei sobre sexo? Porque o sexo vai bem quando tudo vai bem. Se o sexo está ruim, isso é uma consequência. A distância física começa com a distância emocional. E na minha opinião, quando um dos cônjuges nem se preocupa mais em tentar vencer a distância emocional, é porque o casamento está por um fio. Não há como vencer uma distância emocional quando um caminha na direção do outro enquanto ele se afasta.

Um bom relacionamento é feito de lealdade, reconhecimento, cumplicidade, amizade, sinceridade, carinho, atenção. Um casamento pode acabar quando aquele que sempre tenta consertar as coisas acaba se cansando, e de tanto ser ignorado e deixado de fora, tem a impressão de que está assistindo a um mesmo filme pela enésima vez, e já sabe o final da história.



 


sábado, 4 de junho de 2022

NOITE

 



Não consegui dormir.

Há tantas coisas acontecendo debaixo do silêncio de uma simples e inocente noite. Nesse exato momento em que estou aconchegada à maciez dos meus cobertores, escutando os grilos e a chuva fininha que cai lá fora, do outro lado do mundo, pessoas se encolhem de medo ou de fome.

Eu acho que sou uma pessoa de sorte – quem sabe, porque eu não sei o que o amanhã me reserva. E acho que é melhor não saber mesmo. Os arcanos tentam me mostrar o que eu, conscientemente, não quero saber. Mas não resisto a uma rápida olhada nas figuras das cartas, que me contam segredos e presságios. Penso que algumas delas podem estar mentindo. Isso me ajuda a continuar. 

Digo a mim mesma para ter fé. E é fácil ter fé quando tudo vai bem. Mas a fé verdadeira é aquela que resiste até mesmo àquilo que eu jamais desejaria que acontecesse. Peço a um Deus que eu não conheço que não teste a minha fé. 

Eu às vezes gosto de ficar sentada no gramado, apenas contemplando. Sempre na companhia dos meus cães. Esses momentos são cheios de paz. Meu pequeno mundinho protegido parece ser um lugar seguro, e eu vivo na ilusão de que ele seja, mesmo sabendo que não é. Acredito que as nossas pequenas ilusões – aquelas, que construimos para dar sentidos à vida, porque no fundo, achamos que a vida não tem muito sentido -  nos ajudam a caminhar.

Mas a vida é tão bonita quando a gente olha para dentro, ou então quando a gente olha para um lá fora que é feito de coisas simples, como cães, árvores, grama, passarinhos cantando, estrelas, barulho de chuva, orquestras de grilos ao anoitecer...

Meus momentos mais verdadeiros são aqueles em que estou cuidando das minhas coisas, lavando a minha louça, varrendo o meu chão. Porque são momentos em que eu estou completamente dedicada e integrada às minhas pequenas tarefas. E sinto que as coisas mais bonitas, são justamente aquelas com as quais ninguém se importa.

Então eu agradeço. Não sei bem a quem, mas eu agradeço, e o sentimento de gratidão vai me limpando de todo e qualquer desejo, de todos os meus miasmas.






terça-feira, 24 de maio de 2022

O Céu Me Trouxe




Eram tardes como a de hoje, de céu vermelho. Eu me sentava à mesa da cozinha a fim de fazer meus deveres de casa, ou então para ajudar minha mãe a escolher o feijão (gostava de separar os feijões coloridos para brincar mais tarde). Enquanto isso, ela ficava entre a pia e o fogão, cozinhando o jantar, lavando a louça, cortando os legumes. E naquelas tardes surgiam as histórias.

Eram sobre os tempos em que ela tinha sido criança, e que por ter perdido a mãe muito cedo, precisou ficar sendo cuidada por várias pessoas diferentes enquanto meu avô ia trabalhar – e nem sempre, tais pessoas a tinham tratado bem. Finalmente, devido aos maus tratos, ele conseguiu vaga para ela em uma escola interna, onde ela passou a viver dos quatro até os dezoito anos de idade. E minha mãe me falava de muitas coisas: das freiras do colégio interno, algumas muito boas, outras muito más, das colegas de classe, do enorme dormitório com as caminhas arrumadas lado a lado, do banho coletivo gelado de manhã bem cedo em uma época em que Petrópolis era uma das cidades mais frias do sudeste, dos insetos encontrados às vezes na comida, e que as meninas eram instruídas pelas freiras a tirar do prato e continuar comendo. Havia o porão, onde viviam dezenas de gatos; havia a horta onde as meninas trabalhavam; havia a palmatória para punir as meninas mais travessas e desobedientes.

Às vezes, minha mãe pegava a caixa de fotografias e me mostrava velhas fotos amareladas de família, da “Italianada”, como a gente costumava se referir aos parentes que tinham vindo da Itália. Ela me apontava as pessoas na foto e dizia seus nomes, e um pouco sobre quem eles eram. Pena que não consigo mais me lembrar de todos aqueles nomes, embora os rostos tenham se tornado tão familiares.

Ela me contava histórias sobre como ela e meu pai tinham se conhecido – ele, um rapaz pobre, o mais velho de treze irmãos, que precisou começar a trabalhar muito cedo para ajudar a família, passava em frente da casa da prima com quem ela morava quando deixou a escola. Meu pai usava tamancos de madeira, e ela corria para a janela quando escutava o ruído dos tamancos nos paralelepípedos. 

Mais tarde, quando se casaram, meu avô cedeu para eles uma casa que pertencera aos seus pais, meus bisavós, em um bairro onde nada existia ainda. As outras casas do bairro foram sendo construídas ao longo dos anos, e hoje é um dos bairros mais populosos de Petrópolis. 

A casa de minha mãe, onde todos nós nascemos e crescemos, ainda existe. Uma de minhas irmãs vive lá. Ainda existem as marcas feitas à faca no portal, marcando o quanto eu estava crescendo; as enormes janelas de venezianas ainda são as mesmas. O forro de madeira do teto, apesar de bem velho, ainda está por lá. E ainda circulam por lá os fantasmas dos meus bisavós, avós, pais e de outras pessoas da família que viveram naquela casa e que lá morreram.

Hoje esse céu vermelho e o mês de maio - quando minha mãe aniversariava - me fizeram lembrar daquela casa.




quarta-feira, 18 de maio de 2022

O MONSTRO DO OUTRO LADO

 



“Não concordo com você.”

Esta simples frase, nos dias de hoje, é o suficiente para que se comece uma discussão com alguém – não uma discussão saudável, no sentido de troca de ideias e crescimento, mas no sentido de expressar agressividade, de necessitar demonstrar o quanto as minhas ideias são mais inteligentes, mais arrojadas. 

Quem não pensa como eu é burro, e pronto. Eu posso até ter acabado de conhecer alguém que eu começo a admirar, quando de repente, tal pessoa diz alguma coisa com a qual eu não concordo, e o verbo a ser conjugado vira imediatamente “cancelar.” Cancelo quem não concorda comigo, quem não gosta das mesmas coisas que eu gosto, quem não me obedece.

O mundo de hoje é um lugar enorme, cheio de pessoas vivendo em caixinhas, panelinhas, grupinhos, entrincheirados em suas próprias convicções, achando-se cheios de razão e propriedade. Ao mesmo tempo, vemos o filósofo incontestável, que por ter estudado a vida e a obra de vários outros filósofos, acha-se acima da maioria das pessoas, e por isso, tudo o que diz tem que ser endossado e aceito; quem não concorda, é burro. E quem concorda com tudo o que ele diz, nem percebe que, na maioria das vezes, ele está apenas repetindo alguma coisa que ele leu, algo que alguém que morreu há muitos anos disse um dia. 

Vemos os professores donos da razão, os políticos de bom coração, os coaches da positividade tóxica, os (péssimos) influenciadores digitais, todos cegos, guiando uma multidão de gente igualmente cega. Mas pelo menos, eles têm o dom da palavra, que muitas vezes lhes confere a capacidade de convencer aos que não o tem de que eles estão perdidos e necessitam de ajuda. 

Basta abrir uma página qualquer na internet e encontraremos gente pobre ensinando os outros a ficarem ricos, pessoas que já se casaram e se divorciaram várias vezes ensinando o segredo dos relacionamentos felizes, pessoas que fazem cursos de uma semana e se acham aptos a guiar e aconselhar os outros. Criam-se princípios que ninguém sabe de onde surgiram; coisas como:

- Existe um anjo/ um Superhomem/uma Mulher Maravilha dentro de você.

- Você é especial para Deus.

- Você tem o poder de realizar absolutamente tudo o que você quiser.

- Se você não é totalmente feliz a maior parte do tempo, está fazendo tudo errado.

- Se você não defende tal ideia/político/ideologia, você é um preconceituoso, nazista, fascista, esquerdinha, bolsominion, xenófobo, ignorante, BURRO.

Está cada vez mais chato viver nesse mundo, fazer parte dessa geração. Viver não é mais natural. Viver é sobreviver até o próximo embate e tentar não ser cancelado ou ridicularizado. Viver é tentar se adaptar àquilo que esperam de você e tentar agradar a todos. Viver é socar suas emoções lá para dentro, pois é feio sentir coisas como medo, raiva, indignação, tristeza, luto. 





segunda-feira, 16 de maio de 2022

ECLIPSE


O céu ontem estava incrível. Para quem não soube, houve um eclipse total com lua de sangue. Infelizmente, não tenho uma câmera superpoderosa para registrar momentos assim, então a foto acima foi o que consegui para poder registrar aquele momento.

Tem havido muitos eventos no céu em 2022: chuvas de meteoros, eclipses, super luas, luas de sangue. Acho que a bagunça aqui em baixo está tão grande, que já estamos começando a afetar o céu... será?


Para hoje temos previsão da chegada de uma frente fria que derrubará as temperaturas; dizem que teremos neve no sul, geadas em São Paulo e temperaturas baixíssimas na serra fluminense. Tenho sentido os pássaros daqui agitados. Espécies não nativas tem aparecido com frequência - e há algumas que nem consigo identificar. Ontem fotografei esse tucano no meu ipê. A definição está péssima, mas lá está ele.


Também tenho visto pássaros brancos e azuis escuros, grandalhões, parecidos com corvos ou gralhas. Elas gritam bastante e fazem um barulhão nas árvores. 

Enquanto escrevo este texto, uma saíra azul bate contra o vidro da minha janela, e uma borboleta entra na sala, parecendo assustada. Agora, olho para fora e tem um gavião enorme pousado na ponta do telhado do vizinho. 

Efeitos do eclipse?









 

segunda-feira, 9 de maio de 2022

OS PREPERS NÃO ESTÃO PREPARADOS

 



Devido a uma lição de inglês que eu dei e que mencionava uma classe de pessoas que, basicamente, preparam-se para o fim do mundo – os Prepers – decidi pesquisar mais sobre o assunto. Encontrei vários canais desses sobrevivencialistas no YouTube, que ensinam desde a armazenar comida em garrafas pet a cavar buracos no mar a fim de esconder comida e armas. Existem instruções sobre como sobreviver a ataques nucleares abrigando-se em bunkers (existem bunkers de todos os tipos sendo vendidos nesse exato momento em que você lê meu texto, alguns deles muito luxuosos, que custam milhões de dólares), purificar água contaminada, armazenar medicamentos e produzir eletricidade. 

Seguramente, eu penso que essas pessoas não têm uma verdadeira dimensão do que significaria sobreviver a um ataque nuclear, em um mundo onde quase tudo – plantas, animais, seres humanos – estará morto durante o tempo que restasse de vida aos sobreviventes. Se eu soubesse que uma guerra nuclear de proporções mundiais estivesse a ponto de começar, eu escolheria o lugar mais vulnerável possível para que eu fosse uma das primeiras a morrer. Não quero saber de sobreviver a isso.

As pessoas nos vídeos mostram seus bunkers, geralmente localizados nos porões de suas casas,e as coisas que estão armazenadas por lá e que possibilitariam que talvez eles sobrevivessem, quem sabe, alguns meses após um ataque nuclear. Fazem isso sorrindo, pedindo ‘likes’ e compartilhamentos, agradecendo aos que contribuem financeiramente para que seus canais “possam continuar existindo e ajudando as pessoas a sobreviverem.”

Para onde foi o bom senso da humanidade?

Prefiro dar uma chance ao mundo e às demais criaturas; diante de um ataque nuclear de proporções mundiais causado pela espécie humana, espero que apenas animais e plantas sobrevivam; assim, quem sabe, exista uma chance para o nosso planeta. 

O mundo não precisa de nós. Nós não servimos para nada. Vivemos a nossa existência em meio a superficialidades, intrigas, divisões políticas, ideologias absurdas, competições, invejas, ‘likes’, fofocas, “(des)harmonizações faciais que fazem com que pessoas fiquem se parecendo com bonecos infláveis, e saímos daqui tão sem noção quanto ao entrarmos.

Como disse Anitta, A Sábia, “Se o mundo acabar, acaba a internet.” E pelo que vejo, para a maioria das pessoas, é só isso que importa.






quinta-feira, 5 de maio de 2022

FAXINA MODERNA

 



Finalmente decidi testar os serviços oferecidos por uma firma de limpeza de residências, que conseguiu meu contato não sei como e insistia em enviar-me e-mails e mensagens.

Antes, é claro, fiz uma busca pela internet e cheguei até o site e o Instagram da tal firma a fim de checar sua idoneidade. Tudo certo. Através do site, entrei no ‘chat’ a fim de saber como agendar e ter informações adicionais. A conversa foi mais ou menos assim:

- Bom dia, senhora Ana. Como podemos ajudá-la?

-Bom dia. Eu queria mais informações sobre que tipo de serviços vocês prestam e também sobre valores.

-Então... oferecemos limpeza residencial, e o valor vai depender do que a senhora gostaria que fosse feito. Mas a limpeza básica fica em torno de duzentos e cinquenta reais.

Achei o preço altíssimo, mas como ando precisando de ajuda, decidi contratar a firma.

-Bem... queria alguém que pudesse fazer as coisas que eu não tenho tempo de fazer, como limpar janelas e organizar armários e gavetas.

- Não podemos limpar janelas. A senhora terá que contratar um serviço especializado para fazer isso.

- E quanto aos armários e gavetas?

- Então... não estamos autorizados a abrir armários e gavetas.

-Não? Mas eu tenho uma cama queen size com gavetas e queria alguém para removê-las e limpar sob a cama. As gavetas são pesadas, e...

-Sinto muito. Não poderemos “estar removendo” as gavetas da cama. Como eu já expliquei, não abrimos armários e gavetas.

-Não limpam armários e gavetas e nem janelas?

-Não, senhora.

-Então... quero alguém que retire os tapetes e arraste os móveis para limpar atrás deles.

- Não arrastamos móveis pesados, senhora Ana. E a limpeza dos tapetes é feita com os mesmos no lugar, usando o aspirador de pó.

-Bem, e quanto ao material de limpeza?

-O mesmo é fornecido pelo cliente.

-Ok, deixe eu ver se entendi: vocês me pedem duzentos e cinquenta reais para não limparem minhas janelas, não arrumarem gavetas e armários, não removerem móveis pesados para limpar atrás, não removerem os tapetes para limpar em baixo e eu ainda tenho que fornecer o material de limpeza?

- Bem... hã... nós varremos, removemos o pó e aspiramos os tapetes; limpamos os banheiros com pano de limpeza...

-Não lavam os banheiros?

-Hã... não. Limpamos apenas. O serviço de lavagem dos banheiros seria cobrado à parte. 

- Ok, obrigada, mas para limpar por cima eu mesma faço. Não preciso pagar duzentos e cinquenta reais.

Eis o serviço de faxina moderno.

Dizem que nos Estados Unidos e Europa é assim. Eles nunca lavam banheiros ou limpam janelas. Cozinhas e banheiros sequer possuem ralos para escoamento de água. Nada de passar pano no piso ou tirar as coisas do lugar. 

Será que eu estou exigente demais? Será que não acompanhei a evolução e por isso não percebi que os padrões de limpeza mudaram?






Parceiros

EU SÓ TENHO UMA FLOR

  Eu Só Tenho Uma Flor   Neste exato momento, Eu só tenho uma flor. Nada existe no mundo que seja meu. Nada é urgente. Não há ra...