witch lady

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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O Gato



Caminha o gato sobre o muro,
A cauda erguida pra o céu
Lá onde brilha a lua cheia.

Um uivo o assusta de repente,
E ele estica o corpo, a pele,
Salta bem alto sobre a estrela.

E lá de cima, ele percebe
Os outros gatos que caminham
Por sobre o muro, sobre a sebe.

As patas sangram nos espinhos,
E eles disputam as cabeças
Dos peixes já apodrecidos.

O gato pula sobre a nuvem,
E fecha os olhos, tão tranquilo,
Esquece a fome dos sentidos.

Não tem mais medos ou desejos,
Os uivos tão assustadores
Lá não lhe alcançam; ele está leve.


quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A VIDA DO LADO DE DENTRO






A Vida do lado de dentro 

 Poema escrito por um jovem prisioneiro anônimo.

 

Ele diz  seu número
Ao  entrar  pela porta
Em suas largas roupas de cor laranja e cinza;
Não sente mais estranheza.

Ele não quer estar aqui,
Ele fecha os olhos e se lembra.

Luzes borradas passam pela van da prisão.
De pé no pequeno espaço branco,
Ele olha para a escuridão negra lá fora.
Na janela, ele pode ver sua própria face.

Ele não quer estar aqui,
Ele fecha os olhos e se lembra

Ele está no banco dos réus, indiferente,
Enquanto o juiz o sentencia a três anos
Fora de seu campo de visão, sua mãe
De pé, seus olhos transbordando
De lágrimas dolorosas.

Ele não quer estar aqui,
Ele fecha os olhos e se lembra

“Você vai se mudar?” Ele pergunta,
Imaginando como ele poderá escolher
Enquanto eles anunciam o divórcio.
Qual deles, ou ambos, ele vai perder?

Ele não quer estar aqui,
Ele fecha os olhos e se lembra...

Nenhuma preocupação no mundo,
Ele encontra amigos para ir pescar
Dirige-se ao mar em um barco
Apenas as ondas, o silêncio e o desejo...

Ele gosta daqui.


Este poema, cujo autor desconhecido é um prisioneiro, fala de como ele fez para encontrar um momento bom de sua vida que lhe servisse como válvula de escape. Aos poucos, ele vai mergulhando cada vez mais profundamente, em retrocesso, nos fatos que o levaram até aquele momento e aquele lugar – a prisão – e ele faz o caminho de volta, finalmente encontrando o último momento feliz antes de estar ali.
Este texto foi retirado da revista Speak Up de dezembro, e traduzido por mim. Tentei deixá-lo o mais próximo possível do original, sem modifica-lo demais, fazendo apenas algumas adaptações para que pudesse ser melhor compreendido - inclusive, a pontuação.
Este texto faz parte de um projeto chamado Writers in Prison Network, onde o escritor Hugh Stoddart ensina prisioneiros da Prisão de Brixton, em Londres, a liberar seu lado criativo... e escrever!
Abaixo, o texto original:


Life Inside

He gives his number
As he walks through the door
In his orange and grey baggy clothes
It doesn’t feel strange anymore.
He doesn’t want to be here
He shuts his eyes and thinks back
Lights blur past the prison van
Upright in the tight white space
He looks out into the back
In the window he can see his face.
He doesn’t want to be here
He shuts his eyes and thinks back
He stands in the dock, numb,
As the judge sentences him to three years
Screened from view, his mother
Stands, her eyes flooding with painful tears.
He doesn’t want to be here
He shuts his eyes and thinks back
‘And you moving out?’ He asks
Wondering how he can choose
As they announce their divorce
Which one, or both, will he lose?
He doesn’t want to be here
He shuts his eyes and thinks back
Not a care in the world
He meets up with his mates to go fishing
Heads out to sea in the boat
Just the waves, the silence and the wishing
He likes it here.







quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Dos Armários





Meus armários precisam de uma arrumação e limpeza urgentes! Tanta coisa acumulada... e olha que eu vivo doando tudo! Compro algo novo, doo algo usado. Mesmo assim, há coisas demais. Acho que o tempo que passa nos mostra o que é realmente necessário e o que é dispensável. 

Dia desses, como eu sempre faço há anos, subi em uma das prateleiras do armário a fim de alcançar algo que estava mais alto. Ela quebrou. Para que o armário todo não desmoronasse, peguei a prateleira quebrada e coloquei-a no lugar da pilastra de madeira que se partiu, escorando as outras. Senti o peso das coisas inúteis quando aquela prateleira se quebrou. Tanta roupa, sapato, lenço, edredom, cobertor, lençol, bijuteria, bolsa... para quê?

Ano que vem completo cinquenta anos. Já passei da metade da vida. Tenho mais de meio caminho andado. Hora de rever, revisar, separar e escolher as coisas e situações que desejo manter ou encerrar, e meu armário bagunçado reflete esta necessidade.


Bob Marley




"Os ventos que às vezes tiram
algo que amamos, são os
mesmos que trazem algo que
aprendemos a amar...
Por isso não devemos chorar
pelo que nos foi tirado e sim,
aprender a amar o que nos foi
dado.Pois tudo aquilo que é
realmente nosso, nunca se vai
para sempre..."






segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Pensamentos de Lord Byron e um Poema






Sol dos Insones


Sol dos insones! Ó astro de melancolia!
Arde teu raio em pranto, longe a tremular,
E expões a treva que não podes dissipar:
Que semelhante és à lembrança da alegria!

Assim raia o passado, a luz de tanto dia,
Que brilha sem com raios fracos aquecer;
Noturna, uma tristeza vela para ver,
Distinta mas distante-clara-mas que fria!




"Aqueles que se recusam a serem chamados à razão, são intolerantes; aqueles que não conseguem, são idiotas; e aqueles que não se atraem, são escravos".


"Ainda que tivesse que ficar só, não trocaria a minha liberdade de pensar por um trono."


"Ainda que tivesse que ficar só, não trocaria a minha liberdade de pensar por um trono."


"O ódio é de longe o mais longo dos prazeres: amamos depressa mas detestamos com vagar."


"A morte, assim chamada, é algo que faz os homens lamentarem: e ainda assim um terço da vida é passado no sono."


"Toda a história humana prova que desde o dia em que Eva comeu a maçã, a felicidade do faminto homem pecador depende em grande parte do almoço. "

Lord Byron

Poeta inglês (1788-1824). Sua obra e sua personalidade romântica têm grande repercussão na Europa do início do século XIX. 

George Gordon Noel Byron nasce em Londres e, em 1798, herda o título nobiliárquico de um tio-avô, tornando-se o sexto Lord Byron. Em 1807 publica Horas de Ócio, livro de poemas mal recebido pela crítica. 

Com apenas 21 anos ingressa na Câmara dos Lordes e viaja pela Europa e pelo Oriente, regressando em 1811. No ano seguinte publica o poema A Peregrinação de Childe Harold, sobre as aventuras de um herói e a natureza da península Ibérica, sucesso em vários países europeus. 

Muda-se para a Suíça em 1816, após o divórcio de Lady Byron, causado pela suspeita de incesto do poeta com a meia-irmã da esposa. Escreve o terceiro canto de A Peregrinação de Childe Harold, O Prisioneiro de Chillon (1816) e Manfred (1817). 

Transfere-se para Veneza , onde escreve em 1818 Beppo, uma História Veneziana, sátira à sociedade local. Um ano depois começa o inacabado Don Juan. Torna-se membro do comitê londrino para a independência da Grécia, país para onde viaja em 1823 para lutar ao lado dos gregos contra os turcos. Morre quatro meses depois, em Missolonghi.

Preparação





Eu acredito no espírito natalino. Nessa época, a gente não pode deixar que nossos pensamentos sejam contaminados por qualquer tipo de negatividade, a não ser que seja estritamente inevitável. Em 2012, meu natal não foi dos melhores, devido à doença de minha mãe. Em 2013 também não foi muito bom... Mas este ano, eu quero que ele seja um bom natal. Um ótimo natal!

Para este fim, estou me preparando por dentro e por fora. Já montei a minha árvore e pus luzinhas na janela e na varanda. Estou cuidando da mente, do coração e dos sentimentos. Estou cuidando da casa. Da casa física e da casa espiritual. Não quero que nada estrague este momento. 

Preparando para meus alunos uma aula sobre mensagens de Natal, deparei com uma muito bonita, que traduzo aqui do inglês para o português:

A fé torna todas as coisas possíveis,
A esperança faz todas as coisas funcionarem,
O amor torna todas as coisas bonitas,
Que você possa ter as três no seu Natal.

É isso. É o que eu desejo para mim e para todo mundo: fé, esperança e amor.




Eu Fui Lá Fora e Achei a Poesia




E naquela manhã tão fria,
Eu fui lá fora e achei a poesia
A brincar nas asas de uma libélula,
Pousada no muro, entre as heras,
Pendendo do bico de um pássaro,
Caída em gota de orvalho sobre a pétala.

Tentei retê-la, mas bastou piscar,
E ela se foi através da manhã
Assim que pensei no que tinha que ser feito,
Na praticidade da vida, o afã...

Ao final da tarde, cheguei à janela;
-E lá estava ela,
Navegando nas formas das nuvens,
Caindo no mesmo vento das folhas secas,
Sussurrando no barulho do rio,
Um mergulho espontâneo na vida!

Eu fui lá fora, e achei a poesia,
E calada,
Fechei os olhos para não perdê-la...










sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Freud Explica?...




"Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos." - Sigmund Freud

Todos temos segredos. Alguns permanecem conosco até a morte, mas existem alguns segredos que nem sequer sabemos que temos, e muitas vezes, passamos a vida toda sem sabê-lo. Porém, estes segredos são visíveis aos outros que conosco se relacionam, e os percebem. Estes segredos gritam verdades sobre nós através das nossas imperfeições.

Penso ser essencial tentarmos conhecer algumas delas (não acho possível conhecer a todas, pois acho que ninguém está pronto para admití-las completamente), e eu confesso que emprego boa parte de meu tempo nesta busca por mim mesma, por quem eu sou e o que me leva pelos caminhos que eu percorro. E sei também que seria bem mais difícil conhecê-las se eu não admitisse, para mim mesma, que estas imperfeições existem.

Quando apontamos os outros frequentemente a fim de justificarmos o que acontece de ruim conosco, estamos perdendo a oportunidade de aprender mais sobre nós mesmos. 

Acho muito triste ver pessoas que se julgam perfeitas, e que do alto de sua arrogância, culpam aos outros por tudo de ruim que acontece em suas vidas, legando a si mesmas apenas os méritos pelo pouco que acontece de bom.

A frase acima, do psicanalista Sigmund Freud, caiu em meu colo esta manhã, quando examinava postagens antigas do meu blog "Passagem," e deparei com esta sobre Freud e seus pensamentos. É engraçada  a maneira como a vida nos oferece as respostas que estamos buscando, fazendo com que elas apareçam na hora certa!

"Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca cala, falam as pontas dos dedos." E nesses tempos de internet, onde muitos de nós passamos parte do nosso tempo dedilhando palavras com as pontas dos nossos dedos, nem sequer percebemos que nossos segredos vão ficando pelas entrelinhas do que escrevemos! E eles podem ser realmente muito óbvios - infelizmente, mais para quem lê do que para quem escreve.

Eu percebo, às vezes, que na internet algumas pessoas desenvolvem uma verdadeira fixação por outras. O que as leva a este ponto? Existem muitas respostas... talvez, a primeira delas, a que mais nos ocorre, seja aquela velha forma de admiração apaixonada e não admitida, conhecida pelo nome de inveja; outras vezes, pode ser complexo de inferioridade - quase sempre, disfarçado em frases que exaltam a si mesmo e às suas próprias obras, e que à primeira vista, é confundido com complexo de superioridade. Mas também existem casos de loucura pura e simples, que pode ser tratável, ou senão, pelo menos atenuada através de medicamentos.

De qualquer forma, quem se fixa na personalidade de alguém, vive uma história que oscila entre o amor e o ódio, a admiração e a perversidade. Perde-se no outro enquanto perde-se de si mesmo. Um grande desperdício de tempo e de vida. 

Mas, se para todas as coisas existe uma explicação (embora nem sempre possamos alcançá-la), espero que Freud tenha desenvolvido uma boa explicação para esse tipo de atitude. E eu vou continuar procurando por ela.







quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Será que o fim da vida é tão lindo quanto o fim do dia?











A Receita Certa




Gosto muito de cozinhar, principalmente quando tenho tempo. Mas é irônico que, na maioria das vezes, a minha comida fique mais gostosa quanto mais improvisada ela for devido a, justamente, falta de tempo! Se tenho tempo demais, eu acabo tentando personalizar um pouco as receitas, e acabo personalizando demais... e não dá certo!

Mas toda vez que faço uma receita, percebo que no fim, para dar certo, é preciso o toque pessoal. Com cuidado, é lógico. Por exemplo: quando se fala em meio quilo de batatas, nem sempre se especifica qual o tipo ou o tamanho das mesmas. Há várias qualidades diferentes de batatas, algumas mais e outras menos aguadas. Talvez, para complementar a receita, seja preciso uma colherinha de farinha de trigo. Se alguém diz "mexer até dar ponto de calda," não se sabe se o cozinheiro está usando uma panela teflon ou de vidro, nas quais é mais difícil identificar se a calda está em ponto de calda... achei sensacional uma receita de calda caramelada que achei na internet, onde o cozinheiro, ao invés de somente dizer "deixar ficar em ponto de calda grossa," colocou uma fotografia com a cor que a calda deveria ter. Deu certinho!

Domingo passado eu fiz nhoque. Tem gente que acha que dá trabalho, mas eu faço num instantinho; é só cozinhar as batatas com sal a gosto (quantas? Depende da quantidade que você quer fazer), colocar uns dois ou três ovos, ir pondo o trigo e mexendo até a massa ficar durinha. Enquanto isso, já está fervendo uma panela de água com um pouco de azeite, sal e algumas folhas de louro. Depois, vou derramando a massa na nhoqueira e após escolher o tamanho que quero as bolinhas, vou apertando o êmbolo e cortando a massa com uma faca de cozinha comum, dentro da água fervendo. Assim que elas começam a boiar, retiro com escumadeira. Faço um molho rápido e fácil, colocando molho pronto à bolonhesa (ponho umas folhinhas picadas de manjericão daqui do quintal), salpico com queijo ralado grosso e ponho no forno até o queijo derreter. É rápido e fácil, e serve como prato único.


A minha nhoqueira é assim!

Lembro-me bem da minha primeira tentativa de brigadeiro: era aniversário de meu marido (estávamos casados a apenas um ano) e eu quis fazer uma surpresa; as panelas eram de teflon, e deixei a massa passar do ponto. As bolinhas, ao esfriar, ficaram tão duras, que quicavam na mesa. Mas nos divertimos, comendo as minhas... balas de chocolate!

Acho que a melhor receita para que a minha comida fique boa é: paciência, bom humor, uma boa música de fundo, dois cachorrinhos deitados no chão atrás do cozinheiro, a porta aberta para o canto dos passarinhos, algum tempo livre e a necessidade imprescindível de estar relaxada, tendo a capacidade de rir se não der certo... e muitas vezes, quando não dá certo, acabamos criando uma outra coisa!



segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Que eu Não Leve








Que a mentira não esteja gravada em minha lápide,
Que não seja de ódio a minha última palavra,
E mesmo que eu resvale entre as dores da morte,
Que eu possa lavar, no silêncio, meus cortes.

Que eu não deixe, trancados, os vãos das minhas portas,
Que eu não leve comigo as correntes que prendem
As palavras malditas às palavras caladas,
Que eu não saia daqui sem saber que sou nada.

Que a minha partida seja assim percebida:
Como algo casual, como algo da vida,
Que não haja mais dramas do que o necessário;
Quando é vera a saudade, em silêncio ela fica.

Que me seja poupada a vergonha de ter
Nas minhas últimas páginas, deixado escorrer
Só o ódio, o veneno, a mentira e o fel,
Pois que é necessário ter honra ao morrer.

Sei que ser esquecido é o destino de todos,
Mesmo assim, eu não quero apodrecer em vida,
Que eu não deixe aqui qualquer mal entendido,
Que eu só me decomponha após ter morrido.





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O TUCANO

O Tucano O TUCANO   Domingo de manhã: chuva ritmada e temperatura amena. A casa silenciosa às seis e trinta da manhã. Nada melhor do que me ...