Retirado do G1:
Em Pernambuco, a história de um cordel foi parar na Justiça.
O ateliê de Davi Teixeira é povoado de bonecos, todos feitos por ele. A arte deste artesão também se manifesta na poesia do cordel.
O mosquito da dengue, o telefone celular, a bolsa da sogra... Muita coisa inspirou o poeta. Davi já escreveu mais de 30 folhetos e só tem um que se tornou um problema na vida dele.
A Lei da Previdência para a aposentadoria fala da visão do autor sobre a situação de quem quer se aposentar. “Essa tal de aposentadoria, que agora vou destrinchar, pede tanto documento, dá vontade de chorar”.
O folheto circula há oito anos. Há cinco meses, Davi foi chamado à Procuradoria Regional no Recife. A Advocacia Geral da União considerou que o cordel tinha informações a ofensivas à imagem do INSS.
“Deu uma tremedeira. Eu senti na pele que o negócio estava sendo mais complicado. Veio de Brasília um documento me proibindo uma literatura de cordel”, diz Davi, que correu para recolher os folhetos que estavam espalhados em 90 pontos de venda na cidade e se comprometeu a fazer um novo cordel, alterando o texto.
“Essa aposentadoria que agora eu vou destrinchar pede apenas documento. Nem precisa esperar. É somente alegria, você pode acreditar”.
O superintendente do INSS no Nordeste disse que não houve censura. “Isso foi uma coisa muito pontual. Um procurador viu aquele cordel e achou que em determinado momento ele criticava algo da Previdência, das leis da Previdência”, declarou João Maria Lopes, super. do INSS – NE.
Antes de distribuir o novo cordel, Davi recorreu à Justiça e ganhou, por uma decisão liminar, o direito de voltar a publicar o texto original.
“Eu tomei a decisão buscando garantir a livre manifestação de pensamento de um cidadão brasileiro, já que vivemos num estado democrático, e resguardar algo que vem da cultura popular nordestina”, explica o juiz Frederico Azevedo.
E o superintendente do INSS diz que não houve censura?! Felizmente, o juiz que julgou o caso foi sensato e defendeu a liberdade de expressão. Mas o que me encantou, foi a inteligente ironia de Davi Teixeira, ao reescrever o cordel. Doce, fina ironia!