Ontem à noite estávamos - eu e meu marido - lendo um trecho do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo. Temos feito isso todas as noites: escolhemos um livro entre alguns selecionados para esta atividade, e depois, abrimos uma página ao acaso, lendo em voz alta e refletindo sobre o que lemos. Ontem, o livro escolhido foi o já citado, e a página aberta, a que falava sobre vingança.
Ninguém aqui é santo, e a maioria das pessoas pode ter alguma reação intempestiva ao ser afrontado ou ofendido. Eu, por exemplo, embora esteja tentando muito mudar isso, posso reagir intempestivamente e dar uma resposta curta e grossa a alguma abordagem ofensiva, mas depois, eu esqueço; não fico guardando ódio ou pensando em vingança. Acho que as grandes questões dos relacionamentos devem ser resolvidas à medida em que aparecem com uma boa conversa, e após resolvidas (ou não), devemos seguir em frente e focar nas coisas boas, no que realmente vale a pena e nos faz felizes, e não em vinganças.
É tão mais fácil pedir desculpas ao cometermos um erro, ou tentar conversar e entender o que levou uma pessoa a agir de forma que nos desagradou, mas ao invés de sentar e conversar, as pessoas estão guardando e alimentando o ódio e transformando-o na força destrutiva da vingança, partindo laços que são importantes, afastando pessoas que são ou poderiam transformar-se em amigas verdadeiras. Desconsideram o lado bom do relacionamento, não levam em conta o quanto estarão perdendo ao guardarem suas mágoas para usá-las em uma vingança ao invés de tentarem conversar e esclarecer o assunto.
Algumas pessoas orgulham-se de suas vinganças, contando aos outros sobre elas, achando-se muito espertas e inteligentes. Gastam boa parte do seu tempo e da sua energia planejando, observando e armando o bote para finalmente pular no pescoço de suas vítimas com toda a fúria e toda a negatividade que puderem despejar. Fico pensando no quanto estas pessoas despendem um tempo precioso nesta rotina infame, ao invés de se cuidarem, tratando da saúde física, mental e espiritual.
Percebo também que ao longo do tempo, estas pessoas, por mais bonitas que sejam, vão mudando. Cada vez mais, seus rostos adquirem um aspecto taciturno e infeliz, e sua postura vai tornando-se rígida e atarracada como se estivessem prestes a saltar sobre alguém a qualquer momento. O tom de voz também muda, tornando-se mais grave e gutural. Passam a desconfiar de todos a sua volta, reagindo com raiva e agressividade a qualquer um que tente aproximar-se e que elas achem que de alguma forma as ameacem ou às suas posições na vida.
Conheci uma moça que era linda em todos os aspectos: morena, cabelos negros e longos, alta, um sorriso muito branco. Mas ela fez tantas maldades contra pessoas - especialmente pessoas que a ajudaram - que acabou tornando-se feia. Fiquei impressionada com a mudança que vi nesta moça alguns anos após conhecê-la, ao passar por ela na rua.
No livro que lemos há um trecho que fala no quanto as pessoas se afastam de gente assim, e que de repente elas se encontram sozinhas e não sabem o porquê. Nem sequer tomam um pouco de seu tempo a fim de meditar e tentar entender o que aconteceu, fazendo uma retrospectiva sobre as pessoas que ofendeu e prejudicou com a sua vingança, e muitas vezes, apenas porque tais pessoas não agiram como elas desejavam.
As religiões, em sua maioria, dizem que aquilo que mandamos para o universo, nos é devolvido em triplo. Acredito muito nisso. O ocultismo diz que tudo o que abraçamos no mundo oculto, nos abraça de volta. Fico aqui imaginando quais braços estão em volta destas pessoas, e quais energias pesadas elas estão atraindo para elas mesmas.