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Eu amava a arquitetura desta casa, que foi construída no início dos anos 50. Infelizmente, os novos proprietários a modificaram e descaracterizaram completamente. Subiram um outro andar, acabaram com os tijolinhos e com a varanda. Hoje, ela é uma casa totalmente diferente; perdeu seu estilo. |
Mexendo em gavetas, encontrei algumas fotos antigas e resgatei um pouco da minha história.
Eu já morei nesta casa. Foi sete anos após termos nos casado. Esta foi a primeira casa que compramos, e que eu pude, finalmente, chamar de minha. Moramos nela durante sete anos, fomos felizes e infelizes, tivemos momentos ótimos e outros nem tanto... ela tornou-se uma parte importante da minha vida.
Nunca me esquecerei do primeiro dia, a primeira manhã que despertei nela: estava frio, e quando abri os olhos, mal pude acreditar que estava acordada; parecia um sonho! Enquanto meu marido dormia, eu me levantei, fui preparar o café e comecei a andar pela casa - ainda havia caixas cheias de objetos na sala de jantar - e no silêncio daquela manhã, tomei posse da casa pela primeira vez. Percorri cada cômodo, e o cheiro de café misturado ao cheiro do sinteco novo é algo de que nunca me esqueço. Foi um dos dias mais felizes para mim.
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Este canteirinho ficava sob a casa, que tinha um espaço vazio por baixo da varanda. Criamos este canteiro para preenchê-lo. |
Era uma casa peculiar: nos meses de maio, junho, julho e agôsto, até meados de setembro, ela não recebia sol no jardim, apenas no telhado. Era uma casa fria, e precisávamos espalhar muitos anti-mofo nos armários, que precisavam ser arejados todos os dias. Mas a partir de setembro, até meados de abril, era tanto sol, que às seis da tarde, a parede do nosso quarto, dentro de casa, estava iluminada por ele.
O quintal dos fundos era bem pequeno - uma faixa de cimento - e tão privado, que alguém poderia tomar sol totalmente nu, sem o risco de ser visto. Confesso que fiz isto algumas vezes: ligava o aparelho de som, e lá ia eu, tomar sol.
Era uma casa prática, pois era toda térrea e muito fácil de limpar. A sala de estar era enorme e conjugada à sala de jantar, que também era muito grande. Tínhamos dois quartos: um pequeno e um grande, e o banheiro, que reformamos quando já estávamos morando, era um dos banheiros mais bonitos que eu já vi. Pena que não tive a ideia de fotografá-lo também! Era todo azul, e o piso era de azulejo quadriculado de piscina. Parecia que estávamos dentro de uma enorme piscina azul, e uma das paredes era toda espelhada. Nunca vi um banheiro mais bonito.
A cozinha não era lá grande coisa, mas conseguimos torná-la aconchegante. O maior problema da casa, eram as aranhas... passamos alguns anos lutando contra elas, até que, finalmente, pusemos telas nas janelas dos fundos, e elas diminuiram. Mas era um tal de encontrá-las sob toalhas, nas paredes, debaixo de sofás... e a cada vez, um grito. Eram enormes e peludas. Não sei como eu consegui ficar tanto tempo na casa. À noite, o ritual era sempre examinar o quarto e as cobertas, para checar se a 'costa estava limpa.'
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Este quadradinho de jardim, onde plantei várias roseiras, ficava abaixo da casa, e tinha acesso por uma escadinha de ferro. Passei muitas horas felizes nele, cuidando das plantas, aparando roseiras e brincando com meu falecido Rottweiller, o Aleph. |
Um dia, andando pela casa, tive a sensação de que me despedia dela... ainda nem estávamos pensando em ir embora, mas a sensação foi forte e inequívoca: um ano depois, encontramos esta casa onde hoje moramos, e começamos a negociá-la; foi difícil, mas após quase um ano, conseguimos chegar a um acordo. Dois anos e meio após aquela sensação de despedida, nós mudamos para cá.
Lembro-me que eu chorei muito ao voltar lá pela última vez, a fim de pegar alguns objetos e trancar a casa pela última vez. Foi como deixar uma parte de mim para sempre! Hoje, quando passo por lá e vejo o quanto a modificaram - na verdade, a obra ficou boa, mas não existe mais aquela casa dos anos 50 que adorei desde a primeira vez - fico feliz que eu tenha estas fotos.