sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
A Passagem do Tempo Sobre as Coisas
Adoro uma coisa nova. Aquele cheirinho que tem nas roupas novas, que vem daquelas lojas perfumadas com aromatizantes... cheiro de sapato novo de couro, de parede recém pintada, rosa recém aberta, madeira nova... adoro o cheiro que vem das caixas dos aparelhos eletrodomésticos novinhos em folha, e cheiro de carro novo.
Mas existe uma magia típica das coisas velhinhas, que já sentem a passagem do tempo... elas tem uma história para contar; testemunharam muitos acontecimentos. Sobreviveram a muitas pessoas que já se foram há tempos.
Aquele reboco que cai da parede envelhecida, um vasinho de planta lascado, a calçada com musgo nos cantinhos, uma joia de família. Não gosto de adquirir objetos usados sem saber a quem eles pertenceram, mas adoro quando alguma coisa de família vai passando de geração em geração; uma peça de mobília, por exemplo, ou aquela colchinha de retalhos que foi da tia-avó de alguém. Um paninho de crochê, uma poltrona velha e um pouco gasta, um quadro, um livro...
As coisas velhas trazem em si a energia das pessoas a quem elas pertenceram, por isso, devemos ser cuidadosos ao adquiri-las. Dizem que ao comprar coisas em antiquários ou sebos ( o que não tenho por hábito), é aconselhável lavá-las com água e sal - se não for possível lavar, pelo menos passar um pano umedecido nesta mistura - e depois, deixá-las ao sol durante algum tempo, a fim de 'desmagnetizá-las.' Por isso, apesar de adorar as coisas velhinhas, prefiro só adquiri-las se conhecer a procedência.
Não sou do tipo de pessoa que tende a acumular objetos; mas existem alguns que gosto de guardar, como por exemplo, meus discos de vinil.
A passagem do tempo sobre as coisas deixa marcas indeléveis. Tenho uma mesa na adega cujos pés tem as marcas dos dentes do Aleph quando ele ainda era um filhote. Mesmo quando ele for embora, algo que ele fez estará sempre ali. Jamais vou me desfazer daquela mesa.
Apesar da era digital, as fotos que revemos ao reunir a família, são as velhas fotografias de papel, algumas ainda em preto-e-branco.
Zé Ramalho
Chão de Giz
Eu desço dessa solidão
Espalho coisas sobre um chão de giz
Há, meros devaneios tolos a me torturar
Fotografias recortadas em jornais de folhas, amiúde...
Eu vou te jogar num pano de guardar confetes
Eu vou te jogar num pano de guardar confetes
Disparo balas de canhão
É inútil pois existe um grão-vizir
Há tantas violetas velhas sem um colibri
Queria usar, quem sabe, uma camisa de força ou de
vênus
Mas não vou gozar de nós apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar, gastando assim o meu batom
Agora pego um caminhão, na lona vou a nocaute outra
vez
Pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar
Meus vinte anos de boy, that's over baby! Freud
explica
Não vou me sujar fumando apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom
Quanto ao pano dos confetes, já passou meu carnaval
E isso explica por que o sexo é assunto popular.
No mais
Estou indo embora
No mais
Estou indo embora
No mais...
Garoto de Aluguel
Baby !
Dê-me seu dinheiro que eu quero viver
Dê-me seu relógio que eu quero saber
Quanto tempo falta para lhe esquecer
Quanto vale um homem para amar você
Minha profissão é suja e vulgar
Quero pagamento para me deitar
Junto com você estrangular meu riso
Dê-me seu amor que dele não preciso
Baby !
Nossa relação acaba-se assim
Como um caramelo que chegasse ao fim
Na boca vermelha de uma dama louca
Pague meu dinheiro e vista sua roupa
Deixe a porta aberta quando for saindo
Você vai chorando e eu fico sorrindo
Conte pras amigas que tudo foi mal
Nada aumenta a culpa de um marginal
Baby !
Nossa relação acaba-se assim
Como um caramelo que chegasse ao fim
Na boca vermelha de uma dama louca
Pague meu dinheiro e vista sua roupa
Deixe a porta aberta quando for saindo
Você vai chorando e eu fico sorrindo
Conte pras amigas que tudo foi mal
Nada aumenta a culpa de um marginal
Admirável Gado Novo
Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!
Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou!
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!
O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam esta vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível,
Não voam, nem se pode flutuar
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!
Um Futuro Sem Memórias
Histórias gravadas na pedra, papiros, pergaminhos, livros de papel... antes, tudo era registrado usando estes materiais, e acho que se não fosse por isso, nós não saberíamos tantas coisas sobre o passado quanto sabemos. Mas hoje, tudo é armazenado em nuvens que a qualquer momento, podem ser sopradas por algum vento virtual e desaparecer do céu; fotos, textos e reportagens são postadas em blogs e sites que podem sumir mais rapidamente do que piscamos os nossos olhos. Pendrives (já tive várias músicas e textos perdidos devido a pendrives defeituosos) e midias guardam nossas lembranças e memórias de família - que antigamente, ficavam em álbuns de papel.
E tudo pode sumir, desaparecer devido a uma simples pane na eletricidade ou na internet. De repente, um hacker pode invadir nossos espaços virtuais, apagando o conteúdo de toda uma vida, a obra de muitos anos. Sem falar na mais nova modalidade de sequestro - o sequestro de dados. Um cracker entra nos computadores de grandes empresas, e literalmente, sequestra todos os dados das mesmas, exigindo resgate para que volte a liberá-los.
Pendrives são tão frágeis! Um amigo me contou que perdeu quase todas as fotos de viagens que ele registrou desde 2006! E olha que ele viaja muito... eu mesma, ao formatar meu computador de forma descuidada, acabei perdendo várias fotos e aulas que eu tinha preparado.
E se, num futuro distante, houver uma hecatombe? O que sobrará da nossa história para aqueles que encontrarem nossas ruínas? haverá algum registro? Antigamente, havia as enciclopédias. Tudo o que alguém poderia desejar saber, estava armazenado nelas. Recentemente, a Enciclopédia Britânica anunciou que, pela primeira vez desde que começou a ser publicada em 1768, deixará de imprimir suas publicações. Achei um pouco assustador.
Vivemos em um mundo frágil. Nossa história recente transita por aí em nuvens virtuais, sites, blogs, leitores virtuais, pendrives, CDs e DVDs. Aos poucos, vamos entrando na era da informação flutuante. Mas... e se ela afundar?
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
Serenar
Ando aprendendo a serenar,
A cobrir-me de gotículas
Úmidas e frias
Que vão nascendo, qual brilhantes,
Por cima da minha pele.
Essas gotas serenantes
Que rebrilham ao amanhecer
(Como as que acordam sobre o gramado)
Refrescam a pele da alma,
Arrefecem as tristezas
E afastam maus agouros.
E se sobrevoam-me besouros
A procura de esterco
Vão pousar em outros cantos,
Pois aqui só há sereno.
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
Gabriel Chalita
Pensamentos e um texto de Gabriel Chalita
"Ter coragem é, sobretudo, ter certeza de que a fascinante aventura da vida não perderá os seus mais atrevidos e sedutores momentos".
"Aos velhos e jovens professores,aos mestres de todos os tempos que foram agraciados pelos céus por essa missão tão digna e feliz.Ser professor é um privilégio. Ser professor é semear em terreno sempre fértil e se encantar com a colheita. Ser professor é ser condutor de almas e de sonhos, é lapidar diamantes."
"O universo da procura é mais rico que o da descoberta."
"Razão sem emoção, alma sem corpo e dever sem prazer são maniqueísmos que prejudicam o equilíbrio das coisas."
"Ora a chuva poetiza a vida, ora o sol,
as vezes brincam de chegar juntos. As vezes
trazem o arco-íris para completar o espetáculo.
e vão embora. E ficam em nós".
"Não há poesia sem dor. A vida nasce da dor. O amor mais amado surge depois de uma dor prolongada. Amor de mãe!"
CECÍLIA,SILÊNCIO,SOLIDÃO E PERENIDADE
Tu o disseste, Cecília. "Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde foi nessa área que os livros se abriram, e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano."
Tu o disseste, Cecília: "Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade."
Tu o disseste, Cecília. "Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno."
Pariu poemas. E pariu uma constelação. As três Marias, suas filhas com o pintor português Fernando Correia Dias: Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda.
Tu o disseste, Paulo Rónai. "Considero o lirismo de Cecília Meireles o mais elevado da moderna poesia de língua portuguesa. Nenhum outro poeta iguala o seu desprendimento, a sua fluidez, o seu poder transfigurador, a sua simplicidade e seu preciosismo, porque Cecília, só ela, se acerca da nossa poesia primitiva e do nosso lirismo espontâneo... A poesia de Cecília Meireles é uma das mais puras, belas e válidas manifestações da literatura contemporânea."
Tu o disseste, num improviso, Manuel Bandeira: "Cecília, és tão forte e tão frágil. Como a onda ao termo da luta. Mas a onda é água que afoga: tu, não, és enxuta."
Tu o disseste, Mário Faustino, voz dissidente. "D. Cecília publica demais. O melhor que se poderia fazer em prol de sua glória seria preservar o "Romanceiro" completo, fazer uma antologia de seus cinqüenta grandes poemas ("Mar absoluto" seria o maior contribuinte) e queimar o resto. Mas não nos esqueçamos de perguntar; quantos poetas em nossa língua já assinaram cinqüenta grandes poemas? A outra pergunta que nos ocorre: por que D. Cecília publica tanto?"
Mas a academia desmentiu a dissidência. Ainda que in memoriam. Entregou a ela o Prêmio Machado de Assis de 1965, pelo conjunto da obra. Foi a primeira mulher a receber essa láurea da Academia Brasileira de Letras. E foi assim que, depois da morte, deixou de ser sozinha.
Mas outro ramo da intelectualidade lhe prestou homenagem: a principal sala de concertos do Rio de Janeiro, no Largo da Lapa, recebeu a denominação de "Sala Cecília Meireles". E foi assim que, depois da morte, deixou de ser silêncio.
Cecília Meirelles é estrela de nossa poesia, perene como esta confissão:
Aqui está minha vida.
Esta areia tão clara com desenhos de andar
dedicados ao vento.
Aqui está minha voz,
esta concha vazia, sombra de som
curtindo seu próprio lamento.
Aqui está minha dor,
este coral quebrado,
sobrevivendo ao seu patético momento.
Aqui está minha herança,
este mar solitário
que de um lado era amor e, de outro, esquecimento.
Atualmente Chalita é professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, professor do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU e Membro de Conselho Editorial da Revista Profissão Mestre. É membro da União Brasileira de Escritores, da Academia Paulista de Letras e recentemente foi eleito por unanimidade na Academia Brasileira de Educação.
Apresenta, através do Sistema Canção Nova de Comunicação, o programa Papo Aberto, pelo rádio e pela televisão. (Wikipedia)
NO CHÃO DA COZINHA
Minha cozinha é o local mais fresco da casa durante o verão, pois há duas portas, uma diante da outra, que mantenho abertas (a não ser quando estou cozinhando, ou o fogão não fica aceso), causando uma contínua corrente de ar. Latifa adora deitar-se ali, nos azulejos frios, sentindo o vento, e só sai já ao finalzinho do dia, quando o calor arrefece.
Numa tarde muito quente, após chegar em casa cansada do calor da rua, deitei-me com ela. Imediatamente, ela virou-se de barriga para cima e encostando a cabeça na minha, dormiu. Fiquei desfrutando daquele momento, sabendo que daqui a alguns poucos anos, ela já não estará mais aqui.
Ao mesmo tempo, descobri minha casa de um ângulo que eu nunca tinha olhado: o teto branco, a parte inferior da mesa, as copas das árvores lá fora, o contato do azulejo gelado contra minhas costas. Senti o vento passando por cima de nós, e fiquei escutando as maritacas que passeavam pela tarde quente. Por um momento, esqueci-me de qualquer compromisso ou responsabilidade: não pensei nas aulas a preparar, no jantar a fazer ou nas teias de aranha que já recomeçavam a surgir no telhado da varanda. Deixei-me estar ali, naquele momento, na companhia daquele cão que confia totalmente em mim, a ponto de dormir em minha presença.
VESTIDOS
Eu nunca tive tantos vestidos!...
E eles me olham, em fileiras,
Querendo ser os escolhidos.
Há brancos, verdes e vermelhos...
-Existe um bem transparente,
E outro, sagaz como um espelho!
Vestidos longos, curtos, midi,
Outros de barras tão compridas
Que se arrastam pelo chão...
Há os estampados bem alegres,
E outros, em ton sur ton,
São debruados de ilusão.
Existe um, que eu bem sei,
É como a roupa nova do rei
Que deixa à mostra o escondido...
Há um no fundo do armário
(Não o escolho; ele me escolhe)
E dele, eu tenho muito medo:
Me aperta como um espartilho,
Esmaga o peito, esse vestido!
-E ele é negro, negro, negro...
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
Simbólico
Bem simbólico o teu ato,
De escolher o mais barato.
Mas aquilo que é de graça,
Só refastela as traças.
Jamais chega ao coração
Algo morto e ressecado,
Mesmo com boa intenção
E delas, são cheia as distâncias.
Dança Comigo?...
...E se por acaso a nossa música tocar,
Eu te chamarei para dançar.
Assim, nós giraremos pelo salão do tempo,
Pó de estrelas e memórias
Caindo sobre nossos cabelos,
Enquanto abraçados,
Reviveremos a nossa história.
São tantas coisas, tantas, que vivemos!...
E o que foi bom, ressurgirá
Ao rítimo da dança,
Enquanto as dores, como longas tranças,
Prenderão os nossos passos...
Mas mesmo assim, eu te convido: dança comigo,
E olha de novo, dentro dos meus olhos:
Enxerga neles a mulher que tanto amas,
Cujos segredos desvendaste, um a um...
Ah, se a nossa música tocar,
Haverá luas e estrelas, que juntos contemplamos,
Mais uma vez, no nosso céu a brilhar!
Pois temos tanto a lembrar, tanto a viver,
Tanto a calar...
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