Pensamentos e um texto de Gabriel Chalita
"Ter coragem é, sobretudo, ter certeza de que a fascinante aventura da vida não perderá os seus mais atrevidos e sedutores momentos".
"Aos velhos e jovens professores,aos mestres de todos os tempos que foram agraciados pelos céus por essa missão tão digna e feliz.Ser professor é um privilégio. Ser professor é semear em terreno sempre fértil e se encantar com a colheita. Ser professor é ser condutor de almas e de sonhos, é lapidar diamantes."
"O universo da procura é mais rico que o da descoberta."
"Razão sem emoção, alma sem corpo e dever sem prazer são maniqueísmos que prejudicam o equilíbrio das coisas."
"Ora a chuva poetiza a vida, ora o sol,
as vezes brincam de chegar juntos. As vezes
trazem o arco-íris para completar o espetáculo.
e vão embora. E ficam em nós".
"Não há poesia sem dor. A vida nasce da dor. O amor mais amado surge depois de uma dor prolongada. Amor de mãe!"
CECÍLIA,SILÊNCIO,SOLIDÃO E PERENIDADE
Tu o disseste, Cecília. "Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde foi nessa área que os livros se abriram, e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano."
Tu o disseste, Cecília: "Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade."
Tu o disseste, Cecília. "Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno."
Pariu poemas. E pariu uma constelação. As três Marias, suas filhas com o pintor português Fernando Correia Dias: Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda.
Tu o disseste, Paulo Rónai. "Considero o lirismo de Cecília Meireles o mais elevado da moderna poesia de língua portuguesa. Nenhum outro poeta iguala o seu desprendimento, a sua fluidez, o seu poder transfigurador, a sua simplicidade e seu preciosismo, porque Cecília, só ela, se acerca da nossa poesia primitiva e do nosso lirismo espontâneo... A poesia de Cecília Meireles é uma das mais puras, belas e válidas manifestações da literatura contemporânea."
Tu o disseste, num improviso, Manuel Bandeira: "Cecília, és tão forte e tão frágil. Como a onda ao termo da luta. Mas a onda é água que afoga: tu, não, és enxuta."
Tu o disseste, Mário Faustino, voz dissidente. "D. Cecília publica demais. O melhor que se poderia fazer em prol de sua glória seria preservar o "Romanceiro" completo, fazer uma antologia de seus cinqüenta grandes poemas ("Mar absoluto" seria o maior contribuinte) e queimar o resto. Mas não nos esqueçamos de perguntar; quantos poetas em nossa língua já assinaram cinqüenta grandes poemas? A outra pergunta que nos ocorre: por que D. Cecília publica tanto?"
Mas a academia desmentiu a dissidência. Ainda que in memoriam. Entregou a ela o Prêmio Machado de Assis de 1965, pelo conjunto da obra. Foi a primeira mulher a receber essa láurea da Academia Brasileira de Letras. E foi assim que, depois da morte, deixou de ser sozinha.
Mas outro ramo da intelectualidade lhe prestou homenagem: a principal sala de concertos do Rio de Janeiro, no Largo da Lapa, recebeu a denominação de "Sala Cecília Meireles". E foi assim que, depois da morte, deixou de ser silêncio.
Cecília Meirelles é estrela de nossa poesia, perene como esta confissão:
Aqui está minha vida.
Esta areia tão clara com desenhos de andar
dedicados ao vento.
Aqui está minha voz,
esta concha vazia, sombra de som
curtindo seu próprio lamento.
Aqui está minha dor,
este coral quebrado,
sobrevivendo ao seu patético momento.
Aqui está minha herança,
este mar solitário
que de um lado era amor e, de outro, esquecimento.
Atualmente Chalita é professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, professor do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU e Membro de Conselho Editorial da Revista Profissão Mestre. É membro da União Brasileira de Escritores, da Academia Paulista de Letras e recentemente foi eleito por unanimidade na Academia Brasileira de Educação.
Apresenta, através do Sistema Canção Nova de Comunicação, o programa Papo Aberto, pelo rádio e pela televisão. (Wikipedia)