GANHAR X PERDER
Sempre abominei todo tipo de competição, talvez por já ter tido, mais de uma vez, a prova de que nem sempre quem vence, é realmente o melhor. Tudo pode depender também daquilo que está sendo vivenciado no momento pessoal de quem compete, sem contar com os padrões pré-estabelecidos que classificam as pessoas em vencedores e perdedores. Muitas vezes, não queremos o novo; queremos apenas a repetição daquilo que consideramos o melhor, sem dar chances à inovação.
Estou lendo - muito lentamente, devido à minha dificuldade latente em compreender todo e qualquer conceito matemático - o livro " O Andar do Bêbado", de Leonard Mlodinow. Cheguei ao trecho em que ele comenta sobre como nossas expectativas afetam a realidade das coisas.
Ele conta que em 1963, três pesquisadores acrescentaram corante vermelho ao vinho branco, e pediram que um grupo de 'especialistas' analisassem a qualidade do vinho, sendo que uma das amostras permaneceu como vinho branco. Os especialistas avaliaram as amostras com corantes como sendo mais doces que a amostra de vinho branco puro, pois pensaram tratar-se de vinho rosé; na verdade, eram todas amostras de vinho branco.
Noutra ocasião,em 2008, trocaram o conteúdo de uma garrafa de vinho caríssimo por vinho barato. Os voluntários classificaram o vinho como excelente em relação a um vinho barato que foi usado como comparação, sem saberem que as duas garrafas continham o mesmo vinho barato.
Que vença o melhor?
Tive a ocasião de preparar-me para testes de Cambridge com alguns outros professores que trabalhavam comigo. Havia uma das professoras cujo conhecimento da língua era bastante grande, e que, como eu, já contava alguns anos de experiência no ensino do Inglês. Mas ela não tinha o hábito de ler. A fim de passar com boas notas em um exame como este, é necessário saber ler rapidamente , e ao mesmo tempo, interpretar corretamente a leitura, já que o tempo de cada etapa da prova é cronometrado.
Ela passou com média "C", e eu passei com média "A". Mas isso significou, realmente, que eu era "melhor" do que ela? Ou que eu apenas conseguia ler mais rápido, por ter cultivado o hábito da leitura desde criança, e ter mais sangue-frio do que ela quanto à pressão do tempo? O fato de eu ter conseguido passar com "Exceptional" na parte escrita não teria sido devido a uma habilidade natural? Pode-se julgar como 'melhor' alguém que tem habilidades naturais para uma certa atividade, se comparado a alguém que não tem?
Detesto preparatórios de Inglês, pois sempre achei que eles não provam nada, ou quase nada. Já vi pessoas cuja rotina de trabalho exige que falem inglês com fluência, o que eles fazem muito bem, sendo reprovadas no famigerado teste Bullats, simplesmente por não conhecerem o formato da prova e não conseguirem ler rapidamente. Estas mesmas pessoas que foram reprovadas, escrevem e-mails para os estados Unidos diariamente, participam de conference calls, entretém americanos quando eles vem ao Brasil, viajam aos Estados Unidos e outros países a negócios e são fluentes na língua. Mas, como não passaram no temido Bullats, não são promovidas, ou pior, perdem seus empregos.
A vida nem sempre é justa.
Seguimos pela vida, competindo, julgando, vencendo e perdendo. Não percebemos que a vitória é apenas o avesso da derrota; que às vezes, ambas estão separadas apenas por alguns segundos, ou milésimos de segundos, ou até mesmo pelo julgamento pessoal de um outro ser humano - sujeito à falhas, como qualquer um.
Tudo isso é estúpido e vazio.