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sábado, 12 de maio de 2012

À PROCURA DE UM POETA




A palavra arrebenta as entranhas
Da terra, como uma raiz
Que invade os telúricos espaços
À procura de abertos braços.

Às vezes, a palavra brota
Na água que cai numa chuva
Molhando  a mão do poeta
Vestindo -a como uma luva.

A palavra é leve, e flutua
Na boca da brisa e do vento
E aterrisa, lentamente,
Na pista do pensamento.

À procura de um poeta
Andam todos os poemas
E gritam, até que lhes ouçam,
Ou morrem, de pura pena...



sexta-feira, 11 de maio de 2012

Sinto-me Feliz Porque...



Sinto - me feliz porque
Apesar de não ter tudo
Que até hoje, almejei ter,
Eu amo tudo o que consegui,
E tudo o que me foi legado.

Sinto-me feliz porque
A minha casa me suporta,
Com todo o meu peso, meus limites,
Do lado de dentro da sua porta.

Sinto-me feliz, pois tenho livros,
Para ler, reler, pensar, aprender,

Posso, de vez em quando,
Fazer pequenos passeios
Por esse mundo afora
E algumas longas viagens
Por dentro de mim mesma...

Sou feliz, pois tenho ao meu lado
Alguém que, apesar de me conhecer,
Me ama!

Sou feliz a maior parte do tempo,
E quando não estou feliz,
Eu choro, do lado de dentro
Da minha casa,
E a minha dor escorre, purificada,
Pelas calhas dos poemas
Que eu escrevo.

Orquídeas



Ela não sabe o que é beleza,
Ninguém lhe disse.
Por isso, é feliz,
Não tem quaisquer
Parâmetros de comparação.

Cada uma tem sua cor,
Seu formato,
E quando a luz incide sobre elas,
Lançam diferentes cintilações,
Tons mais frios
Ou mais quentes.

Algumas são muito raras,
Híbridas e caras,
Enquanto outras, nascem felizes
Na copa de qualquer árvore,
Em qualquer madeira podre,
Mas nem por isso, tem menos beleza.

As orquídeas, assim como todas
As outras flores,
Entregam-se à vida sem medos,
Sem pudores...
Símbolos da inocência que muitos almejam
E outros, proclamam ter.




MEDO dos SANTOS




Tenho medo dos santos
E seus olhares mansos,
Palavras demasiadamente doces,
Ocultos quebrantos!

Debaixo das  auréolas,
As rodas giram, giram...

Tenho medo dos santos
E seus dedos longos,
Rijos, pontiagudos,
Suas bocas que arredondam-se
Em "Ohs" mudos...

Tenho receio
De seus estigmas,
Suas orações sussurradas,
Seus dogmas e enigmas.

A quem rezam?

Tenho medo dos santos
E de suas maledicências
Disfarçadas em bênçãos!
Tanta perfeição, tanta bondade,
Tanta abnegação e civilidade!...
Sua mania
De sempre oferecerem
A outra face!

Santos
São psicopatas.

Ferida



Faltam pedaços, faltam bordas
Mas no Todo estou contida
Rosa efêmera, ferida,
Mas cheia de vida.

Às vezes solta-se
Mais uma pétala,
E cai ao chão, rendida...

Outra brota, consistente,
Da fonte da vida.




quinta-feira, 10 de maio de 2012

Andar Comigo



Meus passos são largos
E ziguezagueiam...
Por vezes,
Desnorteiam!

Eu sei pisar duro,
Mas também flutuo,
E quando flutuo,
Te deixo no escuro...

Eu sumo na esquina,
Bem antes que a vires,
Eu peço carona,
Me sento ao meio-fio,
Chupando laranja,
E morro de frio!

Meu passo é ligeiro,
Meu alvo é certeiro!
A ponta da echarpe
Roçando o teu queixo
Deixando o meu cheiro:
É o que  presenteio!

Escuta o que dizem
De mim; mas duvides,
Sou alvo de muitos,
Amada por poucos,
Os que são mais loucos!

Não andes comigo
Se tens preconceito,
Se morres de medo,
Se hesitas, claudicas,
Não andes comigo,
Dizem que não presto,
Dizem ...

SABER VIVER



Me diz, alguém por aí
Sabe o que é viver?
Saber viver é viver
Exatamente como você?

A criança não pergunta,
Se diverte, e assim, vive...
O homem do campo labuta,
E o viver, é ver a fruta...
O pássaro canta no galho,
E cantar, voar, é viver...

Para mim, viver é ser,
E o que é ser?
-É viver!
Viver, sendo o que se quer,
Do jeito que eu sei fazer...
E deixar que cada um
Decida o que é seu viver!

Eu te Conheço



Eu te conheço
Há muitos anos.

Sei a história
De cada ruga
No teu rosto.

Sei porque cerram-se
Assim, de repente,
As tuas sobrancelhas...

Sei o motivo
Desse brilho repentino
No teu olhar,
E o momento antes
Da lágrima rolar.

Sinto o menor rubor
Da tua face,
Mesmo que disfarces.

Vejo o tremor
Nas tuas mãos
Quando alisas, assim,
Os teus cabelos.

Eu te conheço
Há muitos anos,
Mas não sei o quanto
Isto é bom ou ruim.

Só sei que moras
Dentro de mim,
E que existe em teu coração
Algum lugar
Que eu não conheço,
Que eu não alcanço.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

o pêndulo




Na ponta de um fio,
Entre a sombra e o sol
Um coração oscila.

Ora na sombra, ora na luz...
Ora, apenas.

O fio é longo e flexível,
E o coração,
Leve.

A brisa é o beijo
Que balança
O coração.

Ora na sombra, ora na luz...
Ora, apenas.

Na ponta de um fio,
Um coração
Breve.

O CHEIRO DA MORTE



Pelos longos corredores
Insinuante e friamente
Flutuam as saias da Morte.
Senhora infame, profana,
Altiva, irônica, lânguida,
Mantém suspenso o machado
Para criar expectativas.
Nunca se sabe, exatamente,
Quando ela o vai baixar.

Finalmente alguém lhe pede
(De olhos fechados, a rezar)
Para que ela seja breve
E leve a quem quer levar.
Mas a Morte é caprichosa,
E nunca chega sem dor...
E ainda há quem repita
Que a Morte tem cheiro de flor...

EU VELHA



Já não sou mais nenhum brotinho, e nem sinto isso a maior parte do tempo, a não ser quando me olho no espelho mais demoradamente - e sem roupas. Mas um dia, a casa cai para todo mundo, até mesmo para você que me lê, vinte aninhos, tudo em cima, início de carreira... rá! A Lei da Gravidade é infalível! Maldito Newton...

Tenho pensado no que será a minha vida quando eu estiver velhota. Sempre penso em mim como uma pessoa bastante solitária, devido a minha preferência pela solidão e pelo fato de não ter tido filhos (pelo menos, não vou sofrer da Síndrome do Ninho Vazio! No máximo, a Síndrome do Canil vazio...).

Bem, sendo uma velhota solitária - contando com a probabilidade cientificamente comprovada não sei por quem de que os homens batem as botas antes das mulheres, que ficam por aqui, para ter mais um pouquinho de diversão sem cuecas para lavar - penso nas coisas que farei: com certeza, vou assitir TV pra caramba, e se meus olhos ainda aguentarem, vou ler muito. Meus alunos de Inglês há muito terão debandado, não mais aguentando as músicas que eu dava para eles durante as aulas, de umas bandas com nomes esquisitos, como Queen, ou Keane, e de cantores velhotes, como Justin Timberlake, Madonna e Lady Gaga, dos quais eles nunca ouviram falar. E também não concordarão quando eu os deixar ajoelhados sobre o milho durante meia hora por não terem feito o dever de casa.

Acho que com o tempo, vai ficar meio-difícil cuidar de cães Rottweilers pesadões e comilões, que fazem imensos cocôs no gramado, os quais minha coluna cervical me impedirão de limpar; terei gatos. Dezenas deles. Eles ficarão soltos pela casa, dormindo sobre camas, poltronas, muros, e até sobre a mesa da cozinha. Velhos tem lá suas manias... e quando eu morrer, se alguma coisa me restar, deixarei para eles, nomeando um de meus sobrinhos como tutor.

Serei uma daquelas velhas eremitas, que os garotos da vizinhança se divertem em perturbar, e minha casa fará parte dos seus ritos de passagem: quem conseguir pular o muro e tocar a campainha, sem ser apanhado pela minha bengala, poderá entrar para o clube. A polícia já me conhecerá, e estará acostumada aos meus telefonemas noturnos, quando eu sempre reclamarei por causa das algazarras que os "marginais" (filhos de meus vizinhos) estão fazendo na rua.

Às vezes, colocarei no CD player (já há muito ultrapassado), meus discos de rock, e ficarei dançando dentro de casa, queimando incensos e cantando. Os vizinhos vão me ver pela janela, e chamarão as crianças para ver "Aquela velha maluca aprontando de novo." Talvez eu comece a fumar, pois aos oitenta anos, o que terei a perder? E por que não, maconha?

Talvez eu tente seduzir o entregador de pizza ou o encanador... quem sabe?

Acho que serei uma velha chique, pois sempre fui muito vaidosa. Usarei muitos pretinhos básicos, pouca bijuteria, e minha marca indelével continuará sendo  Ninna Ricci.

Se hoje tenho alguns problemas por dizer o que penso, imaginem só aos oitenta! Mas todo mundo vai relevar e até achar engraçadinho, então a culpa será deles.

Coisa que não vou fazer, é ir aos bailes da Terceira Idade, pois as músicas que eles tocam lá são muito chatas. Detesto bolero e pagode. Talvez eu funde um Clube da Terceira Idade para Apreciadores de Rock e Hip-hop. Até lá, estes serão rítmos ultrapassados.

Um belo dia, a vizinhança começará a sentir um cheiro nauseabundo no ar. Perceberão que já não apareço há algum tempo, e alguém vai chamar a polícia. Meus amigos policiais invadirão a casa, e me encontrarão na cama, vestindo uma camisola preta de rendas e usando batom vermelho, cercada de livros e gatos famintos. Eu estarei pairando acima deste cenário, rejuvenescida e novamente bonitona, quando de repente, aparecerá um túnel, ao finaldo qual uma luz branca muito forte dirá: "Aqui você não entra!" E me mandarão de volta a outro corpo, imediatamente!

Aí sim, na minha próxima encarnação, serei rica, famosa, gostosa e muito poderosa!

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Wyna, Daqui a Três Estrelas

Este é um post para divulgação do livro de Gabriele Sapio - Wyna, Daqui a Três Estrelas. Trata-se de uma história de ficção científica, cuj...