witch lady

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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Discretamente...


Tarde cinzenta
E silenciosa...
Em meu jardim,
Dormem as rosas
Que eu plantei
Com minhas mãos
E adubei
Com o que restou
Do que amei.

Discretamente
Um passarinho
Pousa na cerca
Triste e sozinho
Eleva um canto
Doce, baixinho
Como quem teme
Ser escutado.

Ele alça voo,
Vai pelas fendas
Das nuvens cinzas
Entreabertas
Some na tarde
Triste e cinzenta
E as rosas dormem
Tão bem fechadas...

As margaridas
Estão cansadas,
A grama seca
Sob as camélias
As folhas murcham
Ficando velhas
A noite as cobre
Com sua capa.

Atrás do monte
O sol responde
Ao meu chamado
E se espreguiça
Abrem as rosas
Suas corolas
As cores voltam
Discretamente...

Vai Ficar Tudo Bem...




Em 2011, algo terrível abateu-se sobre a minha família. Quem me conhece, sabe o que foi: a morte de meu sobrinho, aos 24 anos, após uma doença sofrida e prolongada.

Durante um ano, desde o diagnóstico, nós andamos juntos na corda bamba, e quando perdíamos o equilíbrio, era ele quem nos amparava; e vice-versa... pensávamos todos, com fé e otimismo, que a nossa história teria um final feliz. E o único final feliz que conhecíamos, era a cura.

Durante um ano, vimos Ricardo lutar bravamente, e ele não lutou sozinho. Teve o amparo da família e das centenas de amigos que estudavam com ele em Campos, na faculdade de biologia. Meninos que moram em várias partes do país, e que às vezes vinham aos finais de semana, após longas viagens, só para vê-lo; e todos estavam aqui, no dia de sua despedida.

Ele teve também a prova irrefutável do amor de sua namorada, Milena, que esteve sempre ao lado dele, mesmo nos momentos mais difíceis, em que a doença prejudicou seus movimentos nas pernas e atingiu as feições  seu rosto de maneira cruel. Qualquer amor que não fosse forte, naquele momento (ou bem antes dele) teria recuado.

Mas Ricardo não está mais entre nós. O milagre que esperávamos não aconteceu; ou talvez tenha acontecido da forma que não esperávamos... quem vai saber?

Durante dois anos, eu escrevi poemas para ele. Foi a minha forma de curar-me. Foi a minha maneira de permanecer viva e forte, desabafando a minha dor. Várias vezes, ao publicar meus poemas, recebia comentários de pessoas que passavam ou tinham passado por situações como a nossa: a de perder um ente querido. E todos nós um dia passamos por isso.

Infelizmente, não faço mais parte do lugar onde estes poemas foram publicados. As almas deles jazem no umbral da net. Mas juntei os melhores em um livro, sob o título 'Vai Ficar Tudo Bem.' Por que escolhi este título? Bem, era isso que eu dizia ao Ricardo, quando ele me ligava à noite, para contar-me como tinha sido o seu dia, e também, nas vezes em que ele chorava. Foi isso que eu disse a ele na última vez que o vi, deitado em uma cama no INCA, embora eu não tenha certeza de que ele pudesse me ouvir.

O livro será publicado pela editora Pimenta Malagueta, de Miriam Salles. Já vi a boneca pronta, e ficou realmente lindo... bem, dizem que para retrato de filho, não se deve acreditar em pintor pai, mas modéstia à parte, ele ficou muito bonito mesmo. Miriam fez um excelente trabalho.

 Este livro é uma tentativa de arrematar esta história, de reunir os pedaços dos acontecimentos e tentar dar-lhes algum sentido.

É um livro que, apesar de escrito por mim, não é meu.

Em breve.

Minha Oração



Deus,
Devolva-me as emoções,
Mas ajuda-me a tirar delas, a dor.
Ensina-me o perdão,
Pois sem ele,
A vida torna-se insuportável!
Não livrai-me de meus inimigos,
Pois através deles,
Aprendo; mas antes,
Ensinai-me a conviver com eles,
E quando puseres um espelho à minha frente,
Fazei com que eu enxergue.
Ensina-me a humildade,
Mas não o servilismo.
Mostra-me caminhos,
Mas deixai que eu faça a escolha.
E se houver erros,
(com certeza, eles existirão sempre),
Que me reste a dignidade
De reconhecê-los e corrigí-los
E através deles,
Aprender um pouco mais.

Deus,
Que eu não dê tanta importância
Ao que pensam de mim,
Ao que falam de mim,
Ou como me julguem.
Dai-me a força de caráter
Para pairar com serenidade
Sobre estas coisas.
Ontem mesmo, Deus,
Recebi um de seus recados.
Alguém contou-me uma história, dizendo:
"Um dia, recebi um chute,
Mas foi bom,
Pois ele me fez andar para frente."
Mas se for necessário, Deus,
Fazei com que eu volte sobre o caminho
E reveja lições,
Mas que depois,
Eu siga em frente.

Deus,
Eu sei muito bem
Que Contigo, não há negociações,
Preferências,
Proteção,
Piedade,
Lenitivo para nossas frustações,
Perdão para as nossas tolices,
Interesse por nossas insignificantes mazelas...
Ou seja, Contigo, não encontreremos
Nada daquilo que tolamente buscamos
Com nosso ego superinflado.
Em teu seio,
Encontraremos apenas e simplesmente
A verdade,
Não sobre os outros,
Mas sobre nós mesmos.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

A FESTA



Era uma festa, um baile,
Com muitos risos e brilhos
E uma orquestra que tocava
Da vida, cada estribilho.

Havia gente espalhada
Pelos salões e sobrados,
Alguns, de caras lavadas,
Outros, bem mascarados!

A valsa tocou, solene,
Convidando para a dança...
Alguns vestidos de gala,
Já outros, qual pajelança...

(Ouviam-se gargalhadas
De mulheres que dançavam
Disfarçadas como fadas
E de outras, mais astutas,
Vestidas de prostitutas).

Havia reis e rainhas
Princesas, e muitos sapos
Desejando ser beijados
À luz das velas acesas.

Sobre as mesas, partituras
De minuetos calados
Que nunca serão tocados,
Pois o que foi censurado
Desapareceu das linhas.

Havia céu e inferno,
Jardins de múltiplas flores,
Uma chuva que caía
Lavando o sangue das rinhas.

E no meio do salão
Mil casais rodopiavam!
Viviam a doce ilusão
De amar  e serem amados...

Era servido à vontade
Um licor vermelho sangue
Que apagava a saudade
Deixando a memória estanque,

Mil vidas se derramavam
Mil mortes eram choradas...
E bem no meio de tudo,
Ouviam-se as gargalhadas!

Esperanças que caíam
ao chão, eram pisoteadas
Por mascarados que riam
E não eram mais que nada!

Ao final daquela festa
Vislumbrou-se tosca cena:
Ao retirarem-se as máscaras
De todos os convidados

Foi visto que mais da metade
De todos os mascarados
Nem sequer tinham os rostos
Diferentes uns dos outros!

E dos cem mil convidados
Reais, bem poucos restavam
E andavam tão perdidos
No salão esvaziado.

FACES VIRTUAIS



Tinha mil e uma faces,
E personalidades,
Todas elas, verdadeiras.

Era o deus que criava
Seus personagens,
Distribuindo-os pelo mundo...

Apaixonavam-se,
Odiavam,
Matavam,

Morriam...

Causavam dores e espanto,
Alegrias e surpresas,
Faziam amigos
E inimigos...

Tocavam vidas,
Depois, sumiam
E renasciam
Com outras faces.

A quem com eles
Se envolvesse,
Sobrava apenas
Um grande vazio,
Pois eram pó
E ao pó, voltavam!

Quantas almas cabem
Dentro de um só ser?
Ficará sabendo
Quem pagar para ver...

E eu, de um canto,
Assisto a tudo,
E não entendo
Não compreendo,
Quem é real
No virtual!

*******************

A VERGONHA



Alguns sentimentos são associados à morte, em expressões populares: morrer de medo, de tristeza, de inveja, de vergonha. Talvez seja porque estes sentimentos, quando perdem o controle, podem realmente, matar alguém. Às vezes, a pessoa a quem eles são dirigidos, mas na maioria das vezes, a pessoa que os sente e não consegue controlá-los. Já é sabido que estas e outras emoções negativas podem desencadear uma série de doenças (recomendo, a quem se interessar pelo assunto, leituras sobre doenças psicosomáticas).

Mas hoje eu escolhi falar sobre a vergonha.

Quem nunca sentiu vergonha? E quem nunca percebeu que, na maioria das vezes, a vergonha é um sentimento muito mais associado ao que fazem as pessoas próximas, do que ao nosso próprio comportamento? Por exemplo: podemos sentir vergonha da amiga escandalosa, do pai alcóolatra, do marido violento, do patrão agressivo... sentimos vergonha de estar em locais públicos em companhia de certas pessoas.

Mas o sentimento da vergonha também pode estar associado a nós mesmos. Sentimos vergonha de nossas roupas, quando não as achamos adequadas a uma situação. A maioria de nós sente vergonha até mesmo do próprio corpo! Alguns sentem vergonha de sua condição social ou do seu grau de instrução. A consequência da vergonha pode ser a construção à nossa volta, de um mundo imaginário; daí, surgem as imagens (falsas) do marido perfeito, da infância maravilhosa, do status elevado.

Mas seja qual for o tipo de vergonha que sentimos - de nós mesmos ou de pessoas próprias - a vergonha destrói. Ela começa por associar-se à mentira, a fim de combater aquilo que nos envergonha. Depois, ela mina nossa autoestima, e nos faz ter medo de que descubram  a verdade sobre nossas fantasias. As pessoas podem pensar que alguém é totalmente frio e seguro de si, quando na verdade, é apenas movido pelo fantasma da vergonha, tentando assim, parecer imbatível. Daí, pode resultar a agressividade.

Quem sente vergonha, acha que deve alguma coisa a alguém. Preocupa-se demasiadamente com a opinião alheia. Acho importante, quando sentimos vergonha, nos perguntarmos o que está causando este sentimento, porque o fato é que quando eu sinto vergonha da amiga escandalosa, eu tenho medo do que os outros vão pensar DE MIM por estar na companhia dela; minha vergonha não é por ela, é por mim mesma! Não seria, então, resultado da minha insegurança?

É verdade; algumas pessoas realmente MORREM de vergonha. Fecham-se cada vez mais em si mesmas, por vergonha de terem suas fraquezas descobertas - como se todas as pessoas não tivessem seus defeitos e fraquezas. Admitir-se frágil e vulnerável, para mim, é uma demonstração de força. Não ter vergonha de si mesmo, ou de pessoas próximas, amando-as como elas são, é sinal de maturidade. Todos estamos neste mundo pelos mesmos motivos, e embora alguns estejam mais à frente na caminhada, não estamos muito distantes uns dos outros. Se estivéssemos, não estaríamos aqui, todos convivendo no mesmo planeta.

Então, ter vergonha por que?

COMPETIÇÃO - FÚRIA DE TITÃS





Eu às vezes me pergunto o porquê dos seres humanos terem criado a necessidade de competir, de mostrarem quem, dentre nós, é o melhor, o mais preparado, o bonzinho. A todo momento, a raça humana sai por aí, criando opostos: bom/mau; inteligente/estúpido; competente/incompetente. Nem sequer atentam para o fato de que todos nós, em diferentes momentos da vida e em diferentes funções, passamos por estes extremos! A necessidade de competir é tão grande, que as pessoas matam e morrem por  aquilo que eles chamam de “vitória!”


Vencermos  a nós mesmos, todos os dias, superando defeitos, aprendendo a ser pessoas melhores – não melhores que as outras, mas melhores que nós mesmos- já é uma tarefa tão difícil...


Uma vez, alguém me disse que a própria natureza é que nos fez competitivos, e citou a seleção natural como exemplo; na natureza, apenas os mais fortes sobrevivem. Mas alguém aí já viu leões competindo para ver quem é capaz de abater o maior número de presas? Não! Eles não são estúpidos a esse ponto... abatem apenas a presa que lhes saciará a fome naquele momento.


Nós não precisamos comer uns aos outros para sobreviver.


Mas o que há por trás do desejo de competir? O que se esconde sob a capa do título de ‘vencedor,’ tão almejado hoje em dia? Talvez uma enorme insegurança e uma falta de satisfação e aceitação pessoal tão grandes, que é preciso disfarçá-las, trazendo-as para fora, jogando-as sobre os outros.


Para que alguém segure a taça de ‘vencedor, é necessário que muitas pessoas, na maioria das vezes tão ou mais competentes, ergam a triste taça de ‘perdedor.’ Vencer nem sempre significa ser o melhor; a toda hora, vemos isso em concursos de beleza e de canto, eventos esportivos, etc. porque todo mundo pode ter um dia ruim, em que a capacidade pessoal de realização esteja embotada.


Acho que viver seria bem mais simples se cada um cuidasse de seu próprio cantinho, varresse a própria calçada, e colaborasse com o outro, ajudando quando puder e não estragando as coisas ‘do outro lado.’ Assim, quem sabe, a palavra ‘competição’ tornar-se-ia algo bem mais interessante, como por exemplo, ‘colaboração?...’


Publicado no RECANTO DAS lETRAS em: 29/07/2011 08:39:16

Tranquilidade




Ah, é bom poder desfrutar de tranquilidade!

Cada vez mais, a vida vem me ensinar que a minha tranquilidade está em mim mesma, e não no que vem de fora! Dar murros em pontas de faca para quê? O importante, é sempre tentar de novo. Reerguer-se. Procurar novos caminhos, quando os velhos caminhos tornam-se tortuosos demais, e passam a ser um tormento, ao invés de uma ligação entre nosso caminhar e nosso destino.

Graças a Deus, existem outros caminhos! E não é possível que pelo menos um deles não seja o certo.

É importante conseguir proporcionar corretamente os acontecimentos, não deixando que algo ruim ocupe todo o espaço que resta, pois sempre restam muitas coisas boas para cada coisa ruim que me acontece. Basta ficar calma... esperar a resposta...

Eu estava em dúvida sobre uma decisão tomada. Achava que talvez voltar atrás fosse uma boa solução, e foi o que eu fiz. Mas descobri que o que eu tinha deixado para trás, fica melhor lá atrás, onde deixei. Mas foi preciso voltar e me machucar novamente, para poder cortar definitivamente os laços. Acho , sem falsa modéstia, que agi muito certo, e tive coragem, pois jamais é fácil cortar laços.

Mas há muito tempo, eu tomei a decisão de viver a vida sem arrastar pesos mortos e coisas mal resolvidas  atrás de mim. Quero que meu passo seja leve. E chega de olhar para trás! O caminho é para frente.

E as lições que levamos da vida, não tem peso.

SILÊNCIO





No silêncio lento,
Me acalmo
E vejo ainda
O que eu tenho:

Tenho um jardim
Com passarinhos,
Grama cortada,
Um céu em cima;
Tenho uma casa
Várias janelas,
Tenho uma porta
E cadeados.

Tenho canções
No meu pendrive,
Tenho endereços
No meu email.
Tantas pessoas,
Tantos contatos...

Pensando bem,
Eu nada tenho!...

Penso melhor:
Existe a vida,
Com a vontade
De ser vivida,
Existe um cão,
Um coração,
O meu trabalho,
Os meus poemas...

Pensando bem,
Valerá, sempre,
Da vida, a pena!

Tenho uma pena!...
 

ILUSÔES




Não importa
Quantas vezes 
Caias ou levantes.
Nada se altera,
Quer sejas manso
Ou sejas fera.

A tua vida
Ao terminar
Só deixará 
Um triste rastro
Que se apagará,
E mesmo que deixe
Uma bandeira
Em algum mastro,
O tempo, atento,
A rasgará.

A vida atua
Sobre as pegadas
E as apaga
Sem deixar traços.

As traças comem
Tuas roupagens,
Os vermes sorvem
A tua carne.

E a tua alma
Sobrevivente
Será lembrança
Que se apaga
E o tempo leva
Sem deixar nada!

*************


"Vaidade das vaidades, tudo é vaidade..." - Eclesiastes

CORREDEIRAS




Rolam pelas corredeiras
As histórias que juntei
Em uma vida inteira!

Palavras destruídas,
Derretidas
Pelas águas rápidas...

Frases desfazem-se
Ao baterem nas pedras,
Deixando letras pelas margens...

Vem os pássaros
E as recolhem no bico,
Alçando um voo eterno...

Onde irão pousar?

Rolam pelas cachoeiras
Da minha ausência
As histórias que escrevi,
Contei,
Vivi e chorei...

Minha memória
É afogada
Nas corredeiras, entre as pedras,

E eu olho, lá do fundo,
A claridade do céu
Enquanto morro...

Parceiros

Wyna, Daqui a Três Estrelas

Este é um post para divulgação do livro de Gabriele Sapio - Wyna, Daqui a Três Estrelas. Trata-se de uma história de ficção científica, cuj...