segunda-feira, 13 de outubro de 2025
VIDA
sábado, 20 de setembro de 2025
O AMOR
O AMOR
O amor talvez esteja
Entre o que me prometeram
E o que me foi negado,
Entre aquilo que me deram
E o que me foi tomado,
Entre a noite desabrida
E o meu sono agitado,
Entre a paz da margarida
E o centro do tornado,
Nas alegrias da vida
E no Mistério selado,
Entre a palavra não dita
E o grito alucinado,
Entre a presença maldita
E o adeus inusitado,
Entre o olhar comovido
E o olhar dissimulado,
Entre uma língua fendida
E o sorrir falsificado,
Entre o que não entendi
E jamais foi explicado.
O amor é uma palavra
Que tilinta, frouxa e fraca
No meu coração fechado.
NEGLIGÊNCIA
Escorrega devagar
Aos poucos
De dentro de mim
Deixando uma casca
Solta,
Totem que o vento desmancha.
Algo de mim
Escorrega, feito lava,
E esfriando, endurece
Num solo onde nada cresce
E então permanece
Fria,
E você nem nota.
Você me perde
Todos os dias,
Um pouco de mim sai pela porta
Ah, mas isso não faz diferença...
Estou ao teu lado, aparentemente,
E é isso que te importa.
domingo, 7 de setembro de 2025
O CHÃO
O CHÃO
O chão é um bom lugar para um recomeço,
Ou até mesmo um descanso após o tropeço,
Para alguém se deitar e contemplar o céu.
Os olhos têm tempo de olhar as pegadas
De cada pessoa, no meio das estradas
Onde quem caiu as vê do avesso.
O chão é a chance que todos nós temos
De criar novas asas, ver o que vivemos,
Ajustar as cordas, afinar as teclas,
Até que as feridas estejam bem secas.
E o chão... ah, tem sido meu local preferido
Pra curar os meus medos, catar o que é meu,
Dar a mim o valor que eu tenho merecido
E o amor gratuito que ninguém mais me deu.
Ana Bailune
sexta-feira, 1 de agosto de 2025
À JANELA
Quem era aquela moça
Que ficou à janela?
Passei por ela, há alguns dias,
E quase a reconheci.
Seus olhos tinham um brilho estranho,
O sorriso discreto era feliz,
E a sua alma sozinha
Não pertencia a nenhum rebanho.
Nossos olhos se encontraram
Por um breve momento,
E pelo olhar, ela me disse
Aquilo que sobre mim mesma,
Eu já não sabia há algum tempo.
Quem era aquela moça
Que ficou à janela,
E me acenou, de repente,
Quando eu já estava longe?
Deixou cair um lenço verde
Que voou até as nuvens,
Mas secou meu desalento.
Quando eu olhei para trás
Querendo saber quem era,
Ela já tinha entrado.
E já nem sei se houvera moça
Ou se fora simplesmente
Uma miragem, criada
Por um coração quebrado.
segunda-feira, 21 de julho de 2025
MOTIVOS
terça-feira, 8 de julho de 2025
A ÁRVORE
Quando uma folha cai da árvore,
Ela não volta jamais.
Solta-se,
Desce sinuosamente, pousando no gramado,
Bem devagar.
E então, ela acaba de secar.
A árvore solta o que está seco,
O que morreu,
O que a intoxica.
Assim, gera frutos plenos,
Repletos de açúcar
E sem cica.
sábado, 21 de junho de 2025
DESAPRENDA
Desaprenda
E se desprenda
Da rede invisível que sufoca.
Questione, e nunca, jamais,
Se abandone!
Não deixe que ninguém te ensine,
A auto indulgência, a pena,
-Nem mesmo este poema!
Olhe sempre com os olhos fechados,
Olhe para dentro, mesmo que os olhos ardam,
Ou caiam desse rosto escandalizado!
Desaprenda, e enfim,
Compreenda!
Escute além do que é dito,
Entenda o que está escondido
Além da explicação!
Aprenda a ser visionário,
Adivinha, médium, sensível,
Não tenha medo de ser risível
Muito menos, de ser julgado!
Nesse mundo de hoje em dia,
A coisa mais necessária
É não aceitar verdades impostas,
As bostas que nos empurram
Gargantas abaixo.
Não se ponha em qualquer lado,
Não tente escolher o certo
Ou apontar o errado,
Fique em silêncio,
Mas tenha sempre aceso
O discernimento!
Não tente impor coisa alguma,
Mas não aceite sem mastigar
E sentir o gosto daquilo
Que querem que você engula
E que pode até matar!
Aprenda a erguer limites
E acima disso tudo,
A aguentar a solidão
Por mais que ela grite.
quinta-feira, 12 de junho de 2025
ESTRANHEZA
Eu sou de outro país,
De outra época, há muitos anos,
Milênios, talvez.
Não sei quem me fez,
Mas jamais me esqueci
De quem me desfez.
Eu venho de alguma galáxia
Muito distante,
Não tem alguém que a alcance,
Ou alguém que fale a minha língua
Ou cure a minha íngua.
Quem me olha, nem percebe
Que eu já não estou,
Que eu fui embora
Há muito tempo,
Sou uma folha verde que caiu mais cedo
Derrubada pelo vento.
quarta-feira, 11 de junho de 2025
FREIRAS DANÇANTES, PADRES CANTANTES, PASTORES MIRINS E AFINS
Não tenho nada contra freiras dançantes e padres cantantes.
Bem, se isso fosse totalmente verdade, eu não estaria escrevendo este texto.
Não sigo religião nenhuma, embora leia muito sobre quase todas elas – catolicismo, budismo, espiritismo, protestantismo, hinduísmo, bruxaria, umbanda, e até mesmo satanismo. Porque eu gosto de saber. Gosto de conhecer, mesmo não seguindo. Sigo páginas de pastores, budistas, agnósticos, macumbeiros, enfim, não tenho preconceitos.
Meu único problema é com a hipocrisia.
Eu acredito que, quando um sacerdote se coloca sob uma denominação religiosa, ele deve seguir o que aquela denominação prega. Freiras maquiadas dando entrevistas em podcasts e dizendo que amam quando as elogiam pela sua aparência, não me parecem confiáveis. Padres cantantes cheios de botox, que viram influencers e passam a se vestirem com calças apertadas e roupas caríssimas de marca, também não me parecem confiáveis. Budistas que descriminam este ou aquele grupo de pessoas por causa de suas preferências políticas, não seguem os preceitos do budismo. Pastores que exigem que seus fiéis façam 'pixes' altíssimos em suas contas, não me parecem honestos. Talvez essas pessoas sejam ótimas, mas não nasceram para o sacerdócio. Poderiam ser excelentes filósofos, escritores, influencers... mas padres, monges, pastores e freiras, não.
Acredito que todos já viram algum trecho em vídeo daquele pastorzinho fake que não conhece a Bíblia fazendo pregações - chega a ser bizarro. O moleque foi criado para ser uma máquina de arrancar dinheiro de otários. E como tem otários dispostos a contribuir com esses absurdos! Cada fala dele é uma encenação, algo ensaiado exaustivamente. Fizeram uma lavagem cerebral na criança e criaram um monstro.
Por isso, não sigo nenhuma religião. Cada uma é uma coleção de absurdos abençoados por um deus que não existe e jamais existirá na minha vida. Porém, a cada um o direito de fazer o que quiser, só não tentem me converter a nada. Prefiro essa minha religiosidade solitária– que também não pretende converter ninguém - praticada dentro da minha casa e em meu jardim. Gosto da oração que sai do coração todos os dias, da gratidão sincera pelas mínimas coisas, da vela acesa apenas pela luz que ela propaga, do incenso que queima pelo seu perfume. Gosto daquele deus que habita dentro de mim e que não me entrega nada, a não ser a mim mesma, a não ser a natureza, a não ser a paz de uma noite bem dormida.
Gosto do Deus que me ampara e protege do mal, principalmente do mal que existe dentro de mim mesma, pois é através dele que o mal que vem de fora pode encontrar um caminho até mim. E quando o mal consegue penetrar, esse deus me ensina a me limpar, e ele volta exatamente para aquele que o enviou.
Minha religião?
O sol, a chuva, a natureza, os bons livros, as orações ditas no silêncio da minha casa, os animais, a solidão escolhida conscientemente e que só é quebrada quando eu quero.
O que isso me traz?
Paz. Exatamente o que o mundo me tira.
terça-feira, 3 de junho de 2025
O QUE É A VIDA?
ENCONTRO MARCADO
Às vezes, me vem em sonhos,
Cabelos em tons de sépia
Um tom de voz que nem me lembro
Um olhar sempre distante,
Perdido em lugares ermos.
Está diante de mim,
Ao mesmo tempo, distante,
E ao segurar minha mão,
Me conduz a um lugar
Que fica sempre adiante,
Mas que eu não posso entrar.
Se me fala, o faz sempre
Com os lábios bem cerrados.
A paisagem da distância
No olhar envidraçado.
E quando acordo, mal lembro
Daquele encontro marcado
Sem ter hora e sem saudade,
Entre o meu tempo e o outro tempo,
Um caminho enviesado,
Marcado na eternidade.
MEMÓRIA
Uma tarde morrente.
As últimas luzes tentam iluminar a mesa da cozinha.
A mulher se debruça ao acaso
Sobre as folhas de jornal que embrulhavam os ovos:
Velhas notícias.
Chia a panela de pressão
Enquanto a menina tenta terminar as tarefas da escola.
Mãe e filha ausentes,
Cada qual no seu mundo;
Um mais colorido, outro mais profundo,
Tão profundo, que ela se agarra às boas lembranças
A fim de não se afogar.
A criança, em seu mágico mundo da imaginação,
Entre noves fora e multiplicações
Olha para fora, para as folhas do coqueiro na casa vizinha,
E cria esta memória.
sexta-feira, 23 de maio de 2025
NOSSA CASA AGORA É VERDE
O PADRE É POP?
“Estou pensando em largar tudo,”
ele afirmou. E espero que largue mesmo.
Em primeiro lugar, largue a
batina. Largue também as convenções sociais e assuma-se como é. Largue a
necessidade de validação através de outras pessoas, e largue essa vaidade e
esse ego imensos que tomaram conta de você. Largue a imagem de padre que ainda
permanece apenas para encher estúdios e lotar shows. Largue da necessidade de
postar cada coisinha sobre sua vida pessoal, pois nesse mar de tubarões, o que
mais atrai é sangue.
Largue tudo isso, e seja apenas o
que é: um excelente escritor e influencer digital. Um ser humano cheio de
falhas e defeitos como qualquer um de nós, mas que tenta acertar e se
encontrar. Só que ninguém se encontra negando aquilo que é, mentindo a si mesmo
e a todo mundo. E nesse Leito do Eterno Desencontro é onde se deitam a
depressão, a síndrome do pânico e a ansiedade.
Largue tudo isso. Largue-se. Seja
feliz.
quarta-feira, 30 de abril de 2025
LIBERDADE
O que não brota de dentro
Não cresce do lado de fora.
Por vezes, será preciso
Regar com o próprio sangue
A fraca raiz que chora,
Para que um dia, o riso
Possa nascer sob os lábios
Que hoje em dia, se crispam.
É preciso dizer não,
É preciso ir embora,
Gritar ao mundo o que dói,
Por sobre o medo que aflora
Para que os que ficam, possam
Em um futuro longínquo
Viverem tempos de glória.
É preciso ter coragem,
E isso não é tão fácil...
Existem foices que cortam
Sempre que alguém ergue um braço.
Que possa haver, mesmo assim,
Uma voz, uma canção
Que possa escrever um “fim”
Sobre o que foge à razão.
terça-feira, 22 de abril de 2025
CALADA
É que às vezes
Me bate um cansaço
Que estanca o passo,
Paralisa o olhar,
Afrouxa o laço.
Um enorme cansaço
De ter que explicar,
De fazer a memória
Esquecer
Para poder continuar.
Não é que ainda doa,
Pois a pele frágil
Já cicatrizou,
E a dor que doía
Do espinho nas solas
Há muito passou.
É apenas cansaço
Ao ouvir um “Por que?”
E saber que a resposta
Daria outra história...
Tão longa e absurda
Seria a estrada
A se percorrer!
E assim, a palavra
Escorre entre os dentes,
Jaz, dependurada
Na ponta do lábio,
E tomba, calada
No meio da rua
É pisoteada,
E silenciada
Antes de ser dita,
Antes de dizer.
Parceiros
VIDA
Passarinho pousado no muro da casa Carrega no bico a intenção do ninho. Borboleta azul de grandiosas asas Recém libertada da dor do casulo...
