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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

DESVER

 






Ninguém poderá desver
O que foi visto,
Ou desescutar aquilo
Que lhe foi dito
Sem deixar cair do rosto
Os próprios olhos
Sem cobrir de lama e dor
Os seus ouvidos.

A verdade é como um fogo:
Esquenta e queima.
E na alma, existe um ogro
Adormecido.
-Não o queiras despertar - a inocência
É um menino abandonado,
Em um precipício.



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PEQUENOS MILAGRES

 

 





Eu acredito que vivemos milagres todos os dias, mas depois que eles acontecem, a tendência é duvidarmos deles. Nós,  seres humanos, somos naturalmente incrédulos. Além disso, quando nos atrevemos a comentar esses milagres com os outros, apesar de eles prestarem muita atenção às nossas histórias, depois de ouvi-las eles nos jogam um olhar de incredulidade ou fazem comentários depreciativos ou engraçadinhos a respeito deles, como: “Você tem certeza que não foi só coincidência?”  “Ah, sei... também vi esse filme!” E tais comentários nos desmotivam a falar sobre certas coisas, ou até mesmo nos fazem duvidar que elas realmente aconteceram.

Por isso vou relatar aqui alguns milagres que vivi ou presenciei.

 

1- O Santuário de Bom Jesus dos Montes, em Portugal – Quando visitamos esse local em 2019, algo inusitado aconteceu. Eu e meu marido estávamos em uma lojinha de souvenir, e eu estava indecisa sobre se deveria ou não levar um terço de presente para minha irmã, que tinha perdido um filho há alguns anos, e com ele, a sua fé. Quem me conhece daqui desde 2011 sabe que perdemos nosso querido Ricardo para o câncer.

A música favorita do meu sobrinho – e que eu usei em quase todos os poemas que escrevi para ele e postei no site do escritor no site Recanto das Letras – era “Times like These”, do Foo Fighters.

No momento em que comentei com meu marido que eu não sabia se deveria levar o tercinho para minha irmã ou não, esta música começou a tocar no alto falante da lojinha. Ora, qual a possibilidade de que Foo Fighters toque no alto falante de uma igreja católica tradicionalíssima em Portugal, exatamente no momento em que alguém está pensando se leva ou não um terço para alguém que perdeu a fé porque seu filho morreu? Ainda mais sendo esta música a favorita dele?

 

2- Ganesha – Aqui em Petrópolis existe um santuário chamado Vale do Amor, um belíssimo lugar de difícil acesso entre as montanhas. Lá várias religiões estão representadas em templos e jardins ao ar livre. Estávamos passeando pelo jardim quando passamos diante de uma figura que chamou minha atenção: um ser que era metade elefante e metade menino, rodeado de oferendas de flores, moedas e frutos. Algo me fez parar diante dele, e eu não conseguia seguir adiante. Meu marido voltou, e perguntou-me de quem se tratava. O primeiro nome que me veio à cabeça foi: Ganesha. Só que eu não tinha a menor ideia de quem ele era.

Seguimos o caminho e esqueci a história. Quando chegamos em casa, eu estava procurando um protetor de tela para meu computador no Google, e qual foi a imagem que me apareceu? A mesma que eu tinha visto no Vale do Amor! O menino elefante. Daís resolvi pesquisar mais sobre ele, e descobri a sua história. Basicamente, ele é uma entidade protetora que ao mesmo tempo abre os caminhos da prosperidade. De uma forma ou de outra, a figura me fascina e atrai até hoje, e tenho vários Ganeshas em casa.

Sempre que sinto que as coisas ‘travaram’, eu canto seu mantra e tudo se resolve em alguns dias.

A primeira imagem de Ganesha que adquiri aconteceu desta forma: estávamos em uma loja que vende artigos para jardim, mais ou menos uma semana após visitarmos o Vale do Amor. Eu queria comprar algumas plantas e vasos. De repente, meu marido veio falar comigo: “Você vai gostar do que eu vou te mostrar!” Eu o segui, e ele me colocou diante de uma imagem de... Ganesha!

Depois disso, adquiri várias outras que estão espalhadas pela minha casa toda.

 

3- Chico Monteiro – Há muitos anos, meu marido e eu passávamos pelo Teatro D. Pedro após sairmos do trabalho. Eu estava com muita dor de garganta há vários dias, e mal conseguia falar. Minha garganta estava cheia daquelas placas bacterianas brancas, e os remédios não estavam fazendo efeito. No letreiro do teatro estava escrito: “Só Esta Noite – Chico Monteiro – Médium.”

Resolvemos entrar e assistir a palestra. A palestra foi muito interessante e o teatro estava lotado – tivemos sorte de conseguir dois lugares na última hora. Pouco antes  do término do evento, o palestrante disse que ia fazer uma oração e pediu que quem estivesse doente, ou com familiares em casa que estivessem passando por problemas de saúde, deveria se concentrar e orar junto com ele.

Me concentrei na minha garganta e mentalmente fiz a oração. Ainda nem tinha acabado de rezar quando senti uma sensação de calor na garganta, e senti também as placas de inflamação se soltando (tive que engoli-as). E de repente, eu não estava mais com dor de garganta.

Quando a palestra terminou, entramos na fila para comprar um livro que Chico Monteiro estava vendendo, e diante dele, comentei o que tinha acontecido. Ele sorriu, me deu uma rosa branca e me disse para colocá-la em um vaso com água ao chegar em casa.

Bem, a rosa durou mais de um mês intacta!

 

4- Joelho Dolorido – Recentemente procurei três médicos para tentar tratar uma lesão no joelho. Tenho (ou tinha) extrusão do menisco e princípio de artrose. Os medicamentos não surtiram efeito algum, e o trabalho do fisioterapeuta apenas piorou o problema. A dor que eu sentia estava me impedindo de caminhar adequadamente e até mesmo de dormir bem à noite, pois doía quando eu andava, sentava, deitava, enfim – doía o tempo todo, não importava o que eu estivesse fazendo.

E tudo isso começou há apenas alguns meses, quando soubemos que retornaríamos à Itália a fim de batizarmos o Leozinho, filho de Isabela e Leo, de quem fomos padrinhos de casamento também na Itália em 2018. Desde então a dor começou e não ia embora de jeito nenhum.

Na Itália ela também não parou, mas decidi que ela não ia me impedir de fazer nada. Continuei fazendo exercícios todos os dias pela manhã, ignorando a dor. Lá eu andei muito, e quando chegávamos em casa à noite, eu tomava remédios para diminuir a dor.  Mas ela nunca passava totalmente. Então eu decidi fazer uma promessa em todas as igrejas que visitamos: eu entrava, acendia uma vela e prometia que, caso a dor passasse, eu ficaria ajoelhada em uma igreja durante 1 hora.

Mas a dor não passou.

Depois que voltamos para o Brasil, eu estava fazendo alongamentos quando escutei meu joelho fazendo um barulho bem alto, como se estivesse estalando ou quebrando. Até meu marido que estava perto escutou e perguntou: “O que foi isso?” Assustada, respondi: “Meu joelho.” Achando que eu estava para sentir uma dor muito forte, eu baixei a perna devagar (ela estivera esticada em uma cerca em um ângulo de 90 graus durante o alongamento).

Mas assim que pus o pé no chão, percebi que a dor tinha sumido. Isso foi há quase uma semana, e desde então estou bem.

Preciso achar uma igreja tranquila, na qual eu possa ficar ajoelhada durante 1 hora inteira.




 








quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

ENVELHECER É UM PRIVILÉGIO?

 






ENVELHECER É UM PRIVILÉGIO?

 

Antes de fazer esta reflexão, vamos pensar no significado da palavra privilégio; de acordo com o dicionário, privilégio significa “Direito, vantagem, prerrogativa, válidos apenas para um indivíduo ou um grupo, em detrimento da maioria; apanágio, regalia.” Ou seja, um privilégio é alguma coisa que é legada apenas a poucos. Portanto, envelhecer não é um privilégio, já que a maioria das pessoas envelhece.

 

As redes sociais tem nos ensinado que é bom romantizar situações corriqueiras, como a velhice, a maternidade, a solidão, a família, uma dieta e até nossos fracassos, como sendo algo especial. Se você é velho, isso é uma grande vantagem, pois você chegou à “melhor idade” e se tornou alguém especial. Da mesma forma, se você é jovem, branco, negro, magro, gordo, casado ou solteiro, você está vivendo algo especial – um privilégio.

 

Eu não consigo enxergar a vida como sendo um privilégio, já que estamos todos vivos! A vida para mim é esse grande mistério, pois não tenho ideia sobre de onde ela vem, onde começou, quando terminará, se existe um propósito para estarmos aqui ou se existe algo depois que ela termina. Na verdade, sei tanto quanto todo mundo, ou seja: nada. Tudo o que se afirma a respeito da vida ou da morte é especulação.

 

Mas voltando ao tema ‘envelhecer’, ao escrever este texto tenho 60 anos e quase 3 meses de idade. Não posso dizer que envelhecer tem sido bom, pois com a velhice, chegam várias questões difíceis sobre saúde, finanças (aposentar-se no Brasil significa viver com muito pouco dinheiro), preconceitos, medos, dores físicas e morais. Estarmos velhos é difícil. Porque os mais jovens nos olham de forma diferente, como se a velhice significasse nececessariamente senilidade, incompetência profissional ou ideias ultrapassadas.

 

Mas aqueles que afirmam que o importante é ter uma mente jovem, não entendem que ao pensar desta forma estão jogando fora as experiências acumuladas e a sabedoria adquirida, talvez em troca de procedimentos estéticos que deixam os rostos todos iguais (e que não fazem ninguém parecer mais jovem) e atitudes de adolescentes que não caem nada bem em pessoas mais velhas. Vejo muitas pessoas velhas que querem recuperar o tempo perdido através de relacionamentos com pessoas mais jovens, ou usando roupas inadequadas ao seus corpos, ou frequentando academias não pela saúde física, mas tentando obter os músculos de um fisioculturista. Lamento por eles. Porque ainda não compreenderam que cada idade deve ser vivida quando chega o tempo.

 

Para mim, a velhice é um tempo de reflexão e um certo descompromisso. É claro que cuidar da saúde e da aparência é importante, assim como manter a mente atualizada. Mas perseguir esses ideais desesperadamente como se eles fossem manter você vivo por mais tempo, prolongando uma juventude que já não existe mais, é caminhar à beira do ridículo. É sinal de desespero, não de sabedoria.

 

Eu cheguei à minha velhice. O que eu quero, hoje? Desfrutar daquilo que conquistei em minha juventude: minha casa, meu marido, meus cães, a companhia de algumas pouquíssimas pessoas. Quero ler muito, escrever muito, ouvir boa música, viajar, ou apenas ficar sentada no jardim sem fazer nada. E quero comprar roupas novas (porque eu adoro andar muito bem vestida) e cuidar da minha saúde, mas sem neuras. Não me interessa parecer mais jovem, ser ‘sexy’ ou encher meu corpo de hormônios para focar na sexualidade. Para mim, esse tempo já passou. Sexo é bom quando acontece naturalmente.

 

Não tive filhos, portanto não tenho netos. Não tenho compromisso com nada. Sou uma pessoa praticamente livre. Construí minha vida para ser assim, para chegar onde cheguei. Não me arrependo de nada, e não quero mais nada, a não ser o que já descrevi acima. As opiniões das pessoas não me preocupam. Não me encaixo nas definições alheias.

 

Não tenho medo da morte, e não lamento a proximidade dela. A proximidade da morte me traz perspectiva. Ela me lembra que tudo acaba, que tudo é finito. E não faz diferença, na verdade, quando eu estiver em meu leito de morte, pensar em alguma coisa que deixei de fazer ou gostaria de ter feito, porque a morte é o selo final, é o cadeado que encerra esta vida, caso haja outra após esta ou caso não haja nada. E se não houver nada, ou se houver alguma coisa, não fará sentido nenhum tipo de arrependimento.





 

 

 

 


 

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

MANIPULAÇÃO

 


 

 

De todas as formas de interação humana, a mais sórdida talvez seja a tentativa de manipulação. E muitos pensarão, ao ler a primeira frase deste texto, que a palavra "sórdida" talvez soe forte demais, mas eu penso que ela é a palavra exata para descrever manipuladores.

 

O manipulador atrai suas vítimas de várias maneiras, e algumas delas são:

 

 - Através do elogio exagerado;

 - Através da insinuação de fraqueza ou incompetência, colocando o outro como seu único possível salvador;

 - Criando situações a fim de envolver sua vítima em uma teia falsa de gentileza, mas por trás de tanta "bondade",   escondem seus interesses excusos em impor certos pequenos favores, de forma que a vítima pense, "Como eu poderia dizer não após tanta gentileza?"

 

O manipulador realmente pensa que seus problemas podem ser jogados sobre as costas de outras pessoas. Envolvem-se em confusões ou fazem promessas difíceis de serem cumpridas, contando com a ajuda e o suporte das pessoas que os cercam. E ai de quem estiver na mira de um manipulador! Ver-se-há tão envolvido, que pensará que  lhe resta apenas o constrangimento de um "sim" torto e caduco que atrapalhará todos os seus planos; um sacrifício involuntário que jamais esteve disposto a fazer, mas que de repente, parece ser a única saída a um possível constrangimento.

 

Mas eu aprendi que existe sim, uma outra saída  às tentativas de manipulação alheia: e ela é a palavra "NÃO", repetida calmamente quantas vezes forem necessárias, olho no olho, sobre um discreto sorriso. Não será um momento agradável, mas é necessário a quem não deseja ser vítima das armadilhas da manipulação. E o manipulador poderá passar a odiar quem lhe diz na cara a palavra "NÃO." Mas quem não se importa em obter validação alheia, quem não teme a desaprovação e a solidão, e não precisa que 'gostem' de si, sobreviverá.

 

E eu sempre me pergunto, diante de uma tentativa de manipulação: por que a criatura não me disse logo no início o que realmente queria? Por que essa necessidade de levar o outro para dentro do inferno mentiroso disfarçado de paraíso que ele mesmo criou? Por que a mania de tentar dobrar o outro à sua vontade, até mesmo tentando mostrar as possíveis vantagens (inexistentes) que o outro teria, caso cedesse às suas sutis exigências?

 

Eu desenvolvi para minha vida o seguinte princípio: tentar ser independente de qualquer pessoa, o máximo possível, e só solicitar ajuda quando for estritamente necessário, sem perturbar os outros com os meus problemas. Porque eu acredito que respeitar a paz alheia é essencial. Porque eu penso que ninguém está aqui para se sacrificar por mim. E porque eu compreendo que aquilo que a  quem pede parece ser apenas um pequeno favor, pode representar um grande constrangimento e um problema na vida do outro. 

 

Manipulação? Sinto o cheiro de longe.

 

Nem tente.

 

"Ah, mas ele vai ficar zangado se eu disser não!"

 

Dane-se.

 

Ana Bailune

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

VIDA

 





Passarinho pousado no muro da casa
Carrega no bico a intenção do ninho.
Borboleta azul de grandiosas asas
Recém libertada da dor do casulo.

Cai a chuva formando poças d’água,
Que refletem um céu que é só de promessas.
Um cão abandonado no meio da praça
Com um galho de árvore ele faz sua festa.

Passarinho não sabe se os ovos chocarão,
Borboletas não sabem para onde vão.
A chuva e a poça sequer se conhecem,
O cão com seu galho se esquece da fome.

Com caneta e papel, lá vem o tal homem,
Cismando, arrotando sua filosofia...
E é ele o que menos tem sabedoria
Mas crê na mentira que ele mesmo cria.








sábado, 20 de setembro de 2025

O AMOR

 




O AMOR

 

O amor talvez esteja

Entre o que me prometeram

E o que me foi negado,

Entre aquilo que me deram

E o que me foi tomado,

Entre a noite desabrida

E o meu sono agitado,

Entre a paz da margarida

E o centro do tornado,

Nas alegrias da vida

E no Mistério selado,

Entre a palavra não dita

E o grito alucinado,

Entre a presença maldita

E o adeus inusitado,

Entre o olhar comovido

E o olhar dissimulado,

Entre uma língua fendida

E o sorrir falsificado,

Entre o que não entendi

E jamais foi explicado.

 

O amor é uma palavra

Que tilinta, frouxa e fraca

No meu coração fechado.

 

 

 

 

Ana Bailune


NEGLIGÊNCIA

 




Algo de mim se perde,
Escorrega devagar
Aos poucos
De dentro de mim
Deixando uma casca
Solta,
Totem que o vento desmancha.

Algo de mim
Escorrega, feito lava,
E esfriando, endurece
Num solo onde nada cresce
E então permanece
Fria,
E você nem nota.

Você me perde
Todos os dias,
Um pouco de mim sai pela porta
Ah, mas isso não faz diferença...
Estou ao teu lado, aparentemente,
E é isso que te importa.










domingo, 7 de setembro de 2025

O CHÃO

 




O CHÃO 


O chão é  um bom lugar para um recomeço, 

Ou até  mesmo um descanso após o tropeço, 

Para alguém se deitar e contemplar o céu. 


Os olhos têm tempo de olhar as pegadas

De cada pessoa, no meio das estradas

Onde quem caiu as vê do avesso.


O chão é  a chance que todos nós temos

De criar novas asas, ver o que vivemos,

Ajustar as cordas, afinar as teclas,

Até  que as feridas estejam bem secas.


E o chão... ah, tem sido meu local preferido

Pra curar os meus medos, catar o que é  meu,

Dar a mim o valor que eu tenho merecido

E o amor gratuito que ninguém mais me deu.


Ana Bailune






sexta-feira, 1 de agosto de 2025

À JANELA

 




Quem era aquela moça

Que ficou à janela?

Passei por ela, há alguns dias,

E quase a reconheci.

Seus olhos tinham um brilho estranho,

O sorriso discreto era feliz,

E a sua alma sozinha

Não pertencia a nenhum rebanho.


Nossos olhos se encontraram

Por um breve momento,

E pelo olhar, ela me disse

Aquilo que sobre mim mesma,

 Eu já não sabia há algum tempo.


Quem era aquela moça

Que ficou à janela, 

E me acenou, de repente,

Quando eu já estava longe?

Deixou cair um lenço verde

Que voou até as nuvens,

Mas secou meu desalento.


Quando eu olhei para trás

Querendo saber quem era,

Ela já tinha entrado.

E já nem sei se houvera moça

Ou se fora simplesmente

Uma miragem, criada

Por um coração quebrado.







segunda-feira, 21 de julho de 2025

MOTIVOS

 



Deve haver algum motivo pelo qual as folhas caem das árvores, mas jamais retornam a elas. E também deve haver um motivo pelo qual os rios correm para o mar, mas o mar jamais devolve aos rios suas águas. E as lagartixas viram borboletas, mas as borboletas nunca voltam a ser lagartixas. E as pupas viram cigarras, mas as cigarras não voltam a ser pupas.

E depois, tudo desaparece.

Dizem que voltamos ao Todo e renascemos transformados em outras pessoas, sem lembranças de quem fomos. Se é assim, então é como morrer totalmente.  Porque jamais voltaremos a ser quem somos. É pior do que se fôssemos apenas a memória de um computador que é frequentemente formatado, não deixando nenhuma memória na máquina. Somos os arquivos irrecuperáveis. O computador fica, mas isso não significa nada, pois ele é reprogramado e vira outra coisa com outra função. Assim, só temos esta vida, pois se houver uma próxima, nós não seremos nós. 

Nada faz sentido. E talvez o sentido seja este.





terça-feira, 8 de julho de 2025

A ÁRVORE

 

 





Quando uma folha cai da árvore,

Ela não volta jamais.

Solta-se,

Desce sinuosamente, pousando no gramado,

Bem devagar.

 

E então, ela acaba de secar.

 

A árvore solta o que está seco,

O que morreu,

O que a intoxica.

Assim, gera  frutos plenos,

Repletos de açúcar

E sem cica.





sábado, 21 de junho de 2025

DESAPRENDA

 

 

 




Desaprenda

E se desprenda

Da rede invisível que sufoca.

 

Questione, e nunca, jamais,

Se abandone!

 

Não deixe que ninguém te ensine,

A auto indulgência, a pena,

-Nem mesmo este poema!

 

Olhe sempre com os olhos fechados,

Olhe para dentro, mesmo que os olhos ardam,

Ou caiam desse rosto escandalizado!

 

Desaprenda, e enfim,

Compreenda!

 

Escute além do que é dito,

Entenda o que está escondido

Além da explicação!

 

Aprenda a ser visionário,

Adivinha, médium, sensível,

Não tenha medo de ser risível

Muito menos, de ser julgado!

 

Nesse mundo de hoje em dia,

A coisa mais necessária

É não aceitar verdades impostas,

As bostas que nos empurram

Gargantas abaixo.

 

Não se ponha em qualquer lado,

Não tente escolher o certo

Ou apontar o errado,

Fique em silêncio,

Mas tenha sempre aceso

O discernimento!

 

Não tente impor coisa alguma,

Mas não aceite sem mastigar

E sentir o gosto daquilo

Que querem que você engula

E que pode até matar!

 

Aprenda a erguer limites

E acima disso tudo,

A aguentar a solidão 

Por mais que ela grite.

 

 

 

Ana Bailune

quinta-feira, 12 de junho de 2025

ESTRANHEZA

 





Eu sou de outro país,

De outra época, há muitos anos,

Milênios, talvez.

Não sei quem me fez,

Mas jamais me esqueci

De quem me desfez.

 

Eu venho de alguma galáxia

Muito distante,

Não tem alguém que a alcance,

Ou alguém que fale a minha língua

Ou cure a minha íngua.

 

Quem me olha, nem percebe

Que eu já não estou,

Que eu fui embora

Há muito tempo,

Sou uma folha verde que caiu mais cedo

Derrubada pelo vento.

 .



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.



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quarta-feira, 11 de junho de 2025

FREIRAS DANÇANTES, PADRES CANTANTES, PASTORES MIRINS E AFINS

 


 

Não tenho nada contra freiras dançantes e padres cantantes.

 

Bem, se isso fosse totalmente verdade, eu não estaria escrevendo este texto.

 

Não sigo religião nenhuma, embora leia muito sobre quase todas elas – catolicismo, budismo, espiritismo, protestantismo,  hinduísmo, bruxaria, umbanda, e até mesmo satanismo. Porque eu gosto de saber. Gosto de conhecer, mesmo não seguindo. Sigo páginas de pastores, budistas, agnósticos, macumbeiros, enfim, não tenho preconceitos.

 

Meu único problema é com a hipocrisia.

 

Eu acredito que, quando um sacerdote se coloca sob uma denominação religiosa, ele deve seguir o que aquela denominação prega. Freiras maquiadas dando entrevistas em podcasts e dizendo que amam quando as elogiam pela sua aparência, não me parecem confiáveis. Padres cantantes cheios de botox, que viram influencers e passam a se vestirem com calças apertadas e roupas caríssimas de marca, também não me parecem confiáveis. Budistas que descriminam este ou aquele grupo de pessoas por causa de suas preferências políticas, não seguem os preceitos do budismo. Pastores que exigem que seus fiéis façam 'pixes' altíssimos em suas contas, não me parecem honestos. Talvez essas pessoas sejam ótimas, mas não nasceram para o sacerdócio. Poderiam ser excelentes filósofos, escritores, influencers... mas padres, monges, pastores e freiras, não.

 

Acredito que todos já viram algum trecho em vídeo daquele pastorzinho fake que não conhece a  Bíblia fazendo pregações - chega a ser bizarro. O moleque foi criado para ser uma máquina de arrancar dinheiro de otários. E como tem otários dispostos a contribuir com esses absurdos! Cada fala dele é uma encenação, algo ensaiado exaustivamente. Fizeram uma lavagem cerebral na criança e criaram um monstro.

 

Por isso, não sigo nenhuma religião. Cada uma é uma coleção de absurdos abençoados por um deus que não existe e jamais existirá na minha vida. Porém, a cada um o direito de fazer o que quiser, só não tentem me converter a nada. Prefiro essa minha religiosidade solitária– que também não pretende converter ninguém - praticada dentro da minha casa e em meu jardim. Gosto da oração que sai do coração todos os dias, da gratidão sincera pelas mínimas coisas, da vela acesa apenas pela luz que ela propaga, do incenso que queima pelo seu perfume. Gosto daquele deus que habita dentro de mim e que não me entrega nada, a não ser a mim mesma, a não ser a natureza, a não ser a paz de uma noite bem dormida.

 

Gosto do Deus que me ampara e protege do mal, principalmente do mal que existe dentro de mim mesma, pois é através dele que o mal que vem de fora pode encontrar um caminho até mim. E quando o mal consegue penetrar, esse deus me ensina a me limpar, e ele volta exatamente para aquele que o enviou.

 

Minha religião?

 

O sol, a chuva, a natureza, os bons livros, as orações ditas no silêncio da minha casa, os animais, a solidão escolhida conscientemente e que só é quebrada quando eu quero.

 

O que isso me traz?

 

Paz. Exatamente o que o mundo me tira.

 



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DESVER

  Ninguém poderá desver O que foi visto, Ou desescutar aquilo Que lhe foi dito Sem deixar cair do rosto Os próprios olhos Sem cobrir de lama...