witch lady

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segunda-feira, 26 de setembro de 2022

SOLTA



Eu deixo meus olhos livres

Na paisagem da montanha.

Foco no pôr do sol, 

Presto atenção no vento 

Que passa brincando entre as lâminas

Do gramado. 


Guardo bem dentro de mim 

Tudo o que me constrói,

Deixando do lado de fora

As opiniões, os conceitos 

E as malfadadas setas.


Decidi que não sou alvo,

Mas sim a flecha certeira

Que mira nas nuvens, nas estrelas,

Nas gotas de chuva que formam  alvos

Dentro dos plácidos lagos.


O meu pensamento volátil

Me salva dos robustos monstros,

Me eleva por cima das ruínas

Onde se mexem as criaturas

Que catam no lixo da vida

Seu alimento.


Não acho que eu seja melhor,

Apenas fiz minha escolha

Baseada em equidade:

Um caminho mais vazio, por fora das bolhas,

Bem longe daquilo que chamam

De  vida em sociedade.


Não peço a ninguém que me entenda,

Muito menos, que me sigam;

O meu caminho é o mais difícil,

É só para quem não tem medo

De adormecer sozinho

No degredo.


Ah, criaturas que se mexem

Envoltas em suas ataduras!

Se ao menos olhassem as costas

Que me voltam, nas junturas,

Descobririam, estupefatas,

O nascer das próprias asas!








quarta-feira, 21 de setembro de 2022

EU

 




Eu tenho passado por mim

Inúmeras vezes

Ultimamente.

Estanco meu passo de repente

Fitando a minha imagem que passa,

E ela segue seu caminho

Indiferente.

 

Às vezes, não me reconheço,

Embora eu saiba que ela

Sou eu.

Mas ela vive em outro tempo,

O qual não mereço

E ao qual não mais pertenço.

 

Fantasmas seguem seus passos,

Mas ela, cansando-se deles,

Joga-lhes algumas migalhas,

Tralhas do inconsciente,

Que  eles, de joelhos,

Colhem  pelo chão.

 

Eu tenho dela saudades,

Mas sei que é um amor platônico

-Sempre foi, sempre tem sido,

Sempre será,

Pois os passos de quem fui

Jamais voltam no caminho,

Não olham para trás.

 

Eu tenho passado por mim

Inúmeras vezes

Ultimamente,

E quando eu me olho, compreendo

Que preciso aprender

A me esquecer,

A me deixar ir.




 

 

sábado, 17 de setembro de 2022

BIBELÔ

 



 

Todo dia eu amanheço,

Solto meu canto de dor.

Há quem diga que é alegria,

Há quem diga que é amor.

 

Pulo de lá para cá,

Olho de cá para lá

A paisagem limitada

A que alguém me condenou.

 

Minhas unhas, tão pequenas,

Crescem mais do que deviam,

Enrolam-se feito um fio

Na prisão das minhas penas.

 

Crime algum eu cometi,

Mas fui sempre condenado,

E me deixaram aqui

Esquecido, malcuidado...

 

A minha pequena história

Se arrasta sem piedade,

Não tenho nenhuma saudade,

Já que nunca tive vida...

 

Jamais haverá saída

Para tanta solidão!

Pois enquanto os outros voam,

Só mingua meu coração...


Por minha pequena ração

Diária, jamais serei grato...

Queria colher lá no mato

Aquilo que eu desejasse.

 

Meus sonhos são sobre um dia

Que alguém mais distraído,

Deixaria a porta aberta

E eu, então, escaparia!

 

Todo dia, a mesma sina,

Arremedo de alegria,

Pois alguém prendeu meu canto

Nessa sala tão vazia!

 

Sou um mero bibelô,

Objeto articulado

Sem futuro, sem passado,

Vítima da vaidade

 

Ou quem sabe, da crueldade,

De alguém frio e covarde

Que me usa para alívio

Da sua infelicidade?

 



 

METAVERSO

 



Estive assistindo a alguns vídeos sobre a grande novidade do momento, o Metaverso  (ou seria a Metaverso? Sei lá...). E se você pensa que isso vai demorar para chegar até aqui, é porque com certeza ainda não reparou que, todas as vezes em que você abre seu Instagram, Facebook  ou Whatsapp, ele está lá: um ícone em formato de lemniscata, um símbolo da geometria sagrada que representa o infinito.




Em um dos vídeos que assisti, a protagonista decidiu passar 24 horas utilizando os aplicativos do Metaverso. Ela foi a festas virtuais, participou de reuniões de negócios, seguiu um programa fitness, jogou video games... e até tomou o café da manhã no alto de uma montanha acompanhada por um lhama, que pastava calmamente ao seu lado. Bem, não se pode parar o progresso. E como não desejo ser uma daquelas velhas chatas que não sabem sequer lidar com um celular, vou me atualizando.

Adoro tecnologia, e acho que ela veio para melhorar a vida das pessoas em muitos aspectos, desde saúde e entretenimento até qualidade de trabalho. Porém, nós, os humanos, temos os dedos podres que transformam coisas maravilhosas em grandes porcarias com um simples estalar de dedos. E o grande perigo do Metaverso, na minha leiga opinião, é que as lhamas virtuais e as montanhas de bites substituirão as reais. Pessoas de brinquedo substituirão pessoas de carne e osso. Passaremos horas e horas com aqueles enormes e desconfortáveis headsets (que, acredito, logo serão tão pequenos quanto qualquer par de óculos) na cara, vivendo uma realidade que não existe. Mas... quem pode definir o real do irreal? Uma coisa não se torna real a partir do momento em que foi criada?

Ainda temos muito chão pela frente até que possamos definir as vantagens e desvantagens da vida virtual. Eu por enquanto prefiro o cheiro das montanhas reais, e o toque da grama real nas pontas dos dedos. Gosto de sentir o sol real na minha pele, e andar sob a chuva de água real. Amo conviver com pássaros reais, flores reais, lua e estrelas reais. Nada como sentar lá fora à noitinha e escutar grilos reais, e ver vagalumes reais.

Quem sabe, em breve alguns de nós estejamos protestando em ruas virtuais pela volta da vida real?






quinta-feira, 8 de setembro de 2022

7 de Setembro

 



 


Há muito tempo eu não via uma manifestação patriota nas dimensões da que eu vi ontem. Todos os que estavam presentes o fizeram de livre e espontânea vontade. Finalmente, parece que o povo está aprendendo a valorizar o Brasil. Somos um grande país, mas infelizmente, muitos falam mal de nós lá fora (triste que sejam os próprios brasileiros que façam isso) e dão a todos uma ideia errada sobre nossa grandeza, quando deveríamos nos orgulhar do país maravilhoso que temos. 

Ao visitar alguns países da Europa, voltei para cá achando que nós temos muito, mas muito mais do que eles jamais tiveram. A diferença, é que eles valorizam cada coisa que possuem, enquanto nós não o fazemos - ou não o fazíamos. Os europeus e americanos acreditam que são grandes, e assim, cresceram. Agora espero que seja a nossa vez de mudar nosso "mindset" e começarmos a acreditar no Brasil.

E justamente por acreditar em meu país, jamais darei meu voto a quem o parasitou e depredou por anos. Jamais votarei em um ladrão redimido por um oportuno buraco na lei. Talvez as demais escolhas não sejam aquilo que eu sonhei, mas qualquer uma delas será melhor do que "reeleger um ladrão para que ele volte à cena do crime," como alguém bem já disse. 

Os resultados das pesquisas eleitorais não são verdadeiros, e não refletem a vontade da maioria. O povo nas ruas é bem mais eloquente do que qualquer pesquisa. Se alguns reclamam que o presidente transformou o 7 de Setembro em comício eleitoral, eles têm  razão, pois isso foi justamente o que ele fez; mas as pessoas que lá estavam compareceram por livre e espontânea vontade (ou necessidade). Os críticos deveriam lembrar-se que é bem mais digno fazer campanha eleitoral no 7 de Setembro a transformar o funeral da própria esposa em palanque.


É o que eu penso.


 



 



segunda-feira, 5 de setembro de 2022

ELA




Ela era uma nuvem que passa e ninguém vê,

Um poema épico que ninguém jamais leu,

Escrito à sangue no coração de Deus.


Uma pena soprada por um vento em desatino,

Folha temporã caída da árvore do destino,

Fruta  tão doce que ninguém colheu.


Ela era uma passagem bem no meio do tempo,

Que levava do Nada à Plenitude,

Mas que muitos temiam como a finitude.


Ela tinha cores claras e sempre discretas

Que compunham suas vestes na dor e na festa,

No rosto,  o mesmo riso ante o sol e a tempestade.


Ela não compreendia o que era saudade,

Pois nuvem que passa se derrete e vira rio,

E o frio se transforma novamente em verão.


Ela era o ‘sim’ que se escondia no ‘não’,

O doce reencontro após um amargo adeus,

A canção das estrelas em lenta escansão.


E ela sempre passava, e passando, ninguém via,

Ela era a eternidade vivendo em um só dia,

Era o som da palavra que ninguém ouvia.


E até hoje ela passa, e passando, se vai

Entre passos, poemas, e letras, e estradas,

Deixando as pegadas que nós, distraídos,

Com os pés, apagamos, até não restar nada.








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