witch lady

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quinta-feira, 18 de setembro de 2014

TELHADOS




A chuva cai, cedo ou tarde,
Sobre todos os telhados,
Lavando as telhas
E enchendo as calhas
Que escorrem suas lágrimas...

E isto é sempre certo:
Ela cai, sempre,
Sobre todos os telhados,
Sobre cada um deles,
Sem poupar nenhum...

-E isto, é fado.





terça-feira, 16 de setembro de 2014

O HOMEM DOS IPÊS AMARELOS

Ipê que fica no jardim de um prédio, em frente à Praça da Liberdade, Petrópolis



Era uma vez
Um homem que transcenderia o tempo,
Que caminhava pelas alamedas das palavras
Entre ventos e pensamentos.
Contemplava a vida,
Fazendo a diferença
Em almas estranhas ou queridas.

Um homem de fé,
Que perdeu a fé
Nos templos, entre os homens,
E redescobriu-a entre as crianças,
E nas flores do ipê.

Era uma vez um homem
Sem meias palavras,
Sem meias verdades,
Sem metades,
Um homem inteiro,
Que veio ao mundo para encantar.

Tinha uma mensagem
(Eu a escutei):
"Amem os ipês amarelos!"
E eu amei.
"É preciso ter cuidado
Com o pássaro pousado no dedo,
Pois ele um dia, voa..."
E eu ouvi,
E ele voou...


Singela homenagem a Rubem Alves pela passagem de seu aniversário 15/09





Para Atrair Pássaros...


Quer ter pássaros em casa, cantando para você? Esqueça as gaiolas! espalhe casinhas e comedouros, e verá que eles logo estarão sempre por perto!














segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Pedaços Negros de Tristeza Pela casa...





Ando pela casa, e nos cantos, há pedaços negros de tristeza: restos de folhas queimadas, resíduos pretos que a tudo sujam quando tocam. Parece que as árvores queimadas, a quem tais resíduos pertencem, querem deixar as suas marcas em nossas casas, as marcas das dores que sentiram enquanto queimavam, covardemente atacadas por pessoas sem coração e sem visão de futuro.
Centenas de milhares de insetos, aves, mamíferos e répteis morrem sem ter para onde fugir, encolhidos de medo e de dor no calor do fogo das queimadas. 

Apesar de tudo o que é anunciado pela TV, as reportagens e campanhas de conscientização, as pessoas ainda continuam pondo fogo nas matas, causando incêndios criminosos - alguns de proporções assustadoras - causando a morte de animais e até de pessoas. Muitos perdem as suas casas devido à ação destas pessoas sem coração, cujo prazer mórbido resume-se a atear fogo e apreciar, enquanto quilômetros de mata desaparecem entre as chamas.

E eu não acredito que o façam por ignorância; não acredito que "São apenas crianças brincando", como alguns dizem. Hoje em dia, as crianças e adolescentes tem acesso à informação, e sabem muito bem dos perigos e prejuízos causados por uma queimada. Não o fazem sem saber o que estão causando. Fazem-no por pura maldade. Pelo prazer de sentir que tem o poder de alterar as vidas que os cercam ao fazerem coisas proibidas.  

Ontem eu assisti pela TV um filhote de Tuiuiú sozinho em seu ninho, abandonado pelos pais que precisaram fugir da fumaça para garantir a sua sobrevivência. O pobre animal era um símbolo desesperado da ignorância humana, de pé sobre um tronco comprido de árvore enquanto tudo à sua volta queimava. Bombeiros tentavam apagar o fogo, arriscando suas vidas a fim de garantir as vidas de outras espécies. Graças a Deus, o Tuiuiú teve um final feliz, o que, com certeza, não aconteceu com centenas de outros animais.

Traçando o caminho do fogo, os bombeiros chegaram à casa de uma família, cujo pai admitiu ter sido o seu filho o causador da queimada criminosa. Disse: "Foi ele mesmo." E o que terá sido feito a respeito? Acredito que a melhor punição - além de alguns dias ou meses de detenção - seria levar estas pessoas e obrigá-las a resgatar animais feridos ou em fuga. Talvez assim, vendo a dor de outras criaturas bem de perto, eles tomassem consciência. Eles deveriam ser obrigados a ajudar a apagar o fogo, sentindo o calor da morte nos seus próprios rostos.

Abro as janelas de manhã, e o jardim e o telhado estão cobertos de cinzas, cinzas que o vento traz para dentro de casa. 

Hoje, as janelas terão que ficar fechadas, apesar do calor agradável e do dia lindo lá fora.



A RAÇA HUMANA





LETRA DE "A RAÇA HUMANA' DE GILBERTO GIL


A RAÇA HUMANA É
UMA SEMANA
DO TRABALHO DE DEUS

        
A RAÇA HUMANA É A FERIDA ACESA
UMA BELEZA, UMA PODRIDÃO
O FOGO ETERNO E A MORTE
A MORTE E A RESSURREIÇÃO

    
A RAÇA HUMANA É O CRISTAL DE LÁGRIMA
DA LAVRA DA SOLIDÃO
DA MINA, CUJO MAPA
TRAZ NA PALMA DA MÃO

A RAÇA HUMANA RISCA, RABISCA, PINTA
A TINTA, A LÁPIS, CARVÃO OU GIZ
O ROSTO DA SAUDADE
QUE TRAZ DO GÊNESIS
DESSA SEMANA SANTA
ENTRE PARÊNTESES
DESSE DIVINO OASIS
DA GRANDE APOTEOSE
DA PERFEIÇÃO DIVINA
NA GRANDE SÍNTESE

A RAÇA HUMANA É
UMA SEMANA
DO TRABALHO DE DEUS
A RAÇA HUMANA É
UMA SEMANA
DO TRABALHO DE DEUS




A Fé









...E  foi no templo vazio
que ela descobriu:


-A fé era a luz
Que entrava pelos vitrais
Filtrada pelas cores,
E não a escuridão do templo.

-A fé era o silêncio que calava
Nas entrelinhas das perguntas que nunca foram respondidas,
Era o que caminhava muito além das coisas aparentes,
Além da própria vida.

-A fé era o que jazia após o Amém,
Aonde nunca ninguém ia,
Lugar no qual, após a correnteza das palavras,
Ninguém pensava...

-A fé era a flor que brotava
Do vaso raso e côncavo do coração
Quando a dor apunhalava.

-A fé era amar sem saber-se amada,
Acreditar no que ninguém mais acreditava,
Era um olhar para trás e aguardar
Antes de voltar a caminhar,
Toda vez que uma outra porta se fechava.




sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Poema de Olguinha Costa





Um lindo poema da amiga Olguinha Costa. Ela tem uma página no Recanto das Letras.




INDIGENTE



EU PERCEBO 
 A MUITO TEMPO
NUVENS ESPESSAS
 QUE MUDARAM TUDO

MUDARAM MUROS
E ATÉ CÉUS
MUDOU A CIDADE
QUEM SABE ATÉ DEUS"

PERCEBI A QUILÔMETROS
QUE TUDO ESTÁ MODIFICADO
QUE AS FAMÍLIAS MUDARAM
CAMINHOS ERRARAM


TUDO AO LONGE SECOU
HOJE ESTOU DIFERENTE
NEM SEI QUEM SOU
PEITO INDIGENTE
AO LÉU FICOU


ENTÃO CONCLUO 
POR TUDO QUE ACONTECE
MORRI NAQUELA ÉPOCA
E A  MÚMIA DE MIM APARECE
PELOS CANTOS DA TERRA


NÃO , NÃO TEM MAIS JEITO
INFELIZMENTE,
MEU CORAÇÃO SAIU DO PEITO
ME DEIXANDO SEM SEMENTE


NÃO IGNORO AS DORES
NEM TENTATIVAS
MAS, NÃO ESPERE
IMPLODIRAM-ME OGIVAS

E POR MAIS QUE EU QUISESSE
NÃO CONSEGUIRIA JAMAIS ...

TUDO QUE FOMOS
FICOU NO TEMPO LÁ ATRÁS

MELHOR GUARDAR
O QUE POR ACASO SOBROU
ALGUMAS CARTAS AMARELAS
E (FALSAS) JURAS DE AMOR


DEIXA COMO ESTÁ...

NOS SONHOS DA NOITE
ONDE NÃO POSSO COMANDAR
É CONTIGO QUE EU SONHO
E FICA DIFÍCIL ACORDAR


EU PERCEBI
 A MUITO TEMPO

EU PREFERI NEM NOTAR
TUDO TEM SEU PRÓPRIO TEMPO
NÃO TEM COMO FAZER VOLTAR ...







quinta-feira, 11 de setembro de 2014

HAIKAIS






Céu encoberto
Glacé cinza de nuvens
Caindo em gotas.



As andorinhas
Desgovernado voo
Chuva chegando.



Na correnteza
Resvalam pouco a pouco
Minhas tristezas.



Surge arco-íris
Partindo a vida em cores
No pó das gotas.





quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Passagem




Ironia...

Nós olhamos para a vida
Que passa diante dos olhos,
Colorida fantasia,
Mas não a vemos passar...

Apuramos os ouvidos
Destilamos os sentidos
Tentando enxergar o mar,
Mas não prevemos as ondas...

E enfileiramos os dias
Como fazemos com as contas
De um infinito colar,

Sem saber que ele arrebenta,
Sem saber que ele naufraga
Quando menos se esperar...




Imagem: Ana Bailune, editada pelo Google

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Matsuo bashô - Criador do Haikai

Portrait-of-Basho-Watanabe-Kazan-detail-




Matsuo Bashô (1644-1694) foi o criador do haikai.





Matsuo Bashô nasceu em 1644, na pequena cidade de Ueno, na província de Iga e faleceu em Osaka, em 1694. O seu nome de nascimento era Matsuo Kinsaku, mas, muitos anos depois, quando já era um conhecido poeta, mestre na sua arte, adotou o pseudônimo de Bashô, agradecido aos seus discípulos que tinham plantado uma bananeira de jardim (bashô) junto da sua modesta habitação. A vida de Bashô foi uma permanente caminhada em busca do conhecimento e do contacto com a Natureza, procurando atingir a perfeição na expressão poética, tendo conferido grande beleza e dignidade literária ao gênero poético designado haiku ou haikai. Este gênero poético continua na linha da poesia tradicional japonesa. É um dos mais notáveis géneros poéticos da literatura universal e, possivelmente, aquele que apresenta a forma de expressão mais breve e concisa. Cada poema é constituído por dezassete sílabas métricas distribuídas por versos ou segmentos de 5-7-5 sílabas. Teve origem numa forma poética mais antiga, o tanka, que é constituído por trinta e uma sílabas distribuídas por cinco versos de 5-7-5-7-7 sílabas métricas.



Algumas de suas criações, traduzidas:


Nesta noite
ninguém pode deitar-se:
lua cheia.


E tu, aranha
como cantarias
neste vento de outono?


Relvas de verão
sob as quais os guerreiros
sonham.





Extingue-se o dia
mas não o canto
da cotovia


Quimonos secando
ao sol. E a pequena manga
da criança morta.


De tantos instantes
para mim lembrança
as flores de cerejeira.





Ruídos nas ramas.
Trêmulo, meu coração detem-se
e chora na noite...


Mesmo um velho cavalo
é belo de manhã
sobre a neve


Do orvalho
nunca esqueça
o branco gosto solitário





A cigarra... ouvi:
nada revela em seu canto
que ela vai morrer


Já é primavera:
Uma colina sem nome
Sob a névoa da manhã.



Outono já frio; 
eu penso no meu vizinho -
como viverá? 



É um Beija-flor em pleno voo!




Dia de Jardineiro





Dia de jardineiro. As plantas e a terra sendo mexidas. A grama cortada. Aromas maravilhosos cruzam o ar. Os passarinhos não vem aos comedouros, desconfiados do movimento.

"Por favor, Edson, vê se planta estas mudas de azaleias no canteiro junto ao muro. É melhor, não acha?"





E algumas plantas mudam de lugar. Coloco violetas nos vasos onde antes estavam plantadas as azaleias, mas elas estão sem flores, e vejo que preciso comprar mais flores - sempre tenho vasos de flores espalhados na varanda da casa e no muro junto à cozinha: margaridinhas coloridas, violetas, calanchuês, ciclâmens. Gosto das cores. Gosto da sensação que a gente tem quando chega em casa e, ao  descer as escadinhas do jardim, depara com a varanda florida.





E o Edson capina, afofa a terra, replanta as azaleias, corta a grama, varre tudo. O que seria de mim sem ele... Num instantinho, ele pega o pé de manjericão, que adora se espalhar pelo canteiro de temperinhos, e coloca-o em seu lugar. Digo: "Cuidado com as hortelãs, não vá arrancá-las! Andam tão fraquinhas!"




Olho os vasos de orquídeas, tão maltratados e lembro-me que tenho que adubá-los para que a próxima floração seja bonita. Por enquanto, jogo-lhes um pouco d'água. Pego os talos de espinafre que sobraram do almoço e após passá-los no liquidificador, jogo o sumo sobre a terra das  roseiras. Costumo colocar de tudo nas plantas: cascas de batata e outros legumes, sobras de comida... tudo batido no liquidificador.




Enquanto cuidamos das plantas, o Mootley passa correndo, um tufo de grama pelo de urso na boca... saio correndo atrás dele: "Mootley, devolva isso aqui!" É claro, não consigo pegá-lo! E o gramado de pelo de urso que fica em volta do cedro vai ficando cada vez mais ralo... mas ao olhar para cima, vejo que o cedro parece que cresceu. A copa está se espalhando mais. Ótimo para sombrear o calor do verão!



O meu ipê amarelo este ano deu poucas flores, está mais magrinho... talvez seja a falta de chuvas. E o dia vai passando, o sol vai se encaminhando devagarinho para trás da Pedra do Retiro. Edson recolhe suas coisas após o café e vai embora. "Até a próxima!" 

Os passarinhos voltam a encher os comedouros. 




segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Terra Prometida

Terra Prometida


Eu te prometo um pedaço de terra
Para chamares de teu,
Tomado à força bruta de uma guerra.

Eu te prometo a paz hipócrita que esperas
Exposta nas raízes sangrentas
Das arrancadas oliveiras.






Eu te prometo a terra derradeira,
Esta, na qual descansarás,
E que pesará, a cada dia do futuro,
Sobre os ombros das tuas crianças.

Eu te prometo a mais justa das vinganças,
Aquela, que não tem tréguas,
E não descansa nem nos dias santos,
Nos quais balbucias graças
E quebrantos.

Eu te prometo uma justiça mais que justa,
Que crescerá bem forte, a cada dia,
No pus que brota de cada pústula
Libada pelas lagrimas inimigas,
Justiça adubada pelos dejetos das injúrias.

E os teus filhos hão de correr por estes campos nus de vida,
Repletos de ossos e ruínas,
Os olivais da Palestina,
Onde nada há de crescer,
A não ser...

A árvore que produz o fruto amargo
E venenoso,
De norte a sul
Ao sol insosso,
Abençoada pelo Deus que te auxilia,
Ao qual adoras,
O Belzebu.




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O Tucano O TUCANO   Domingo de manhã: chuva ritmada e temperatura amena. A casa silenciosa às seis e trinta da manhã. Nada melhor do que me ...