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sábado, 30 de setembro de 2017

Uma tarde em Como





Visitar Como foi como estar, de repente, em um cenário de cartão postal. A gente não sabe para onde olha, e não consegue decidir o que é mais encantador: se o lago de Como, as casas antigas, as ruas arborizadas, a atmosfera antiga e mágica... naquele dia, éramos quinze pessoas no grupo, e fomos todos de trem de Milão para Como. Chegando lá, fomos em um passeio de barco imperdível pelo lago, no qual tentei, ao mesmo tempo, acreditar que estava realmente ali, enquanto fotografava, filmava e ficava maluca com tantas paisagens deslumbrantes. De verdade, a gente não sabe para onde olhar, e querer captar o máximo possível de imagens com a lente da câmera, mas sobretudo, com a lente do coração, para não esquecer jamais.



Antes do almoço, estávamos passando por uma loja de departamentos no centro, indo em direção a uma igreja que iríamos conhecer, quando alguém olhou na vitrina e anunciou; “Gente! Olhem só que promoção! Compre três peças de qualquer valor e pague apenas 1 euro na terceira peça!”  Foi o suficiente para que entrássemos na loja e passássemos a vasculhar prateleiras, entrar e sair de cabines, encher os braços de lenços e echarpes lindíssimos que estavam à venda, enfim, quase deixamos as funcionárias da loja malucas. 






Acho que elas devem ter dado graças depois que saímos... duas horas depois, já que estava ficando tarde, esquecemos a igreja e decidimos que seria melhor conhecer a parte alta da cidade, que acessamos através de um teleférico.


O TELEFÉRICO POR DENTRO


Maravilhoso! A vista era simplesmente deslumbrante! Do teleférico, nós olhávamos lá para baixo e era como se a cidadezinha e seu lago estivessem em um postal. Nunca pensei que um dia conheceria um lugar tão lindo. Acho que é o lugar mais lindo que já visitei.




Quando chegamos lá em cima na parte alta e saímos do teleférico, a segunda parte do encantamento começou. Mal pusemos os pés no chão, um sino começou a tocar. Era um sino de igreja, e ele tocava uma música linda. O sol estava se pondo – eram quase seis da tarde – e a maioria dos turistas já tinha ido embora. Estávamos praticamente só nós lá em cima, e os moradores. 






Tirei fotos lindas! Felizmente, gravei essa chegada, a parte na qual o sino estava tocando e as badaladas logo depois. Para mim, foi como se alguém me dissesse: “Viu? Você está aqui! Vocês conseguiram! Sonhos acontecem!” 




Continuamos subindo a ruazinha à pé, e chegamos a uma igreja lá no alto. Eu entrei nela, pensando que tinha sido dali que os sinos tinham soado. Quando entrei, ela estava escura e vazia, e uma música sacra vinha de algum lugar, bem baixinho. Apenas o altar estava iluminado, e fui me aproximando dele devagarinho, sentindo o clima de paz e silêncio exalado pelo lugar. Em pouco tempo, meus olhos se acostumaram à escuridão, e pude notar a beleza das pinturas no teto e nas paredes, a riqueza das imagens e demais detalhes.




Não sou uma pessoa religiosa, e geralmente, não gosto de igrejas e templos. Mas lá estava eu, e havia um motivo por trás de tudo aquilo. Eu senti que não estava ali por acaso. Era como voltar para casa após muitos e muitos anos longe. Então eu me sentei e agradeci. Quando dei por mim, estava chorando feito criança, mas de alegria. Eu não estava sozinha naquela igreja, e disso eu tenho a mais absoluta certeza. Só quem viveu uma experiência assim saberá do que eu estou falando.
Quando saí, abracei meu marido e disse a ele o que tinha acontecido. Então ele me confessou ter tido a mesma experiência, minutos antes.



Ainda tivemos tempo de fazer um amigo – um gato amarelo e branco, muito manso, que estava pelos arredores da igreja, com quem brincamos e tiramos fotos. O engraçado, é que semanas antes da viagem, meu marido me disse que ele tinha tido um sonho estranho: brincava com um gato, que fugia dele e dava-lhe tapinhas com a pata, mas sem arranhá-lo. Aquele gato fez exatamente aquilo! Enquanto meu marido tentava se aproximar, ele entrava e saía de um vaso de planta, escondendo-se entre as folhagens e depois aparecendo de repente, dando patadas no meu marido.





Pena que nosso tempo era curto, e deveríamos ir embora logo, pois tínhamos um trem a tomar. Mas uma parte de mim ficou naquela igreja, voando sobre a superfície daquele lago, pairando sobre aquelas montanhas, vagando feito um fantasma por entre aqueles prédios e árvores, sentando-se nos telhados para ver o sol se por. E acho que esta parte de mim jamais sairá de Como. Quem sabe, um dia eu possa voltar lá para revê-la?  Foi um privilégio ter estado naquele lugar, ter visto o que eu vi e sentido o que eu senti.




Um dia, eu quero voltar a Como.




Como? Quando? Eu não sei.



quarta-feira, 27 de setembro de 2017

DESAFIO - A MISSÃO






O convite foi da Rosélia; o desafio foi proposto pelo Toninho... (blog 
http://toninhobira.blogspot.com.br/2017/09/bc-raio-x-462017-reviver-emocoes.html)

...e pela Silvana (blog http://meusdevaneiosescritos.blogspot.com.br/) 

-Já chorou com temas de filmes ou novelas?- 

Apesar de não ser muito manteiga derretida, é claro que alguns filmes me fizeram chorar... destaco o filme “Sob o Sol da Toscana” – a cena final sempre me faz chorar, mesmo que eu o tenha assistido umas quinze vezes. O tempo todo, a heroína da história está a procura do amor verdadeiro, após um divórcio traumático por ter sido traída por um marido que confessou nunca tê-la amado de verdade. Ela se muda para a Itália, onde compra um velho casarão e passa a reformá-lo, o que faz com que sua vida mude totalmente. 

(Detalhe: este filme me fez querer conhecer a Toscana, e a Itália).

 Então um amigo conta a ela a história de alguém que vivia tentando capturar joaninhas sem ter sucesso, até que um dia tal pessoa adormeceu no jardim e acordou coberta de joaninhas que passeavam sobre ela.  Ele quis dizer que não vale a pena procurar demais, porque o que é nosso, a vida há de trazer. Não é sábio forçar situações, pois elas acontecem se e quando nós estivermos prontos para elas. 

 E a última cena do filme é justamente assim: durante uma festa de casamento em sua casa, Francis (a heroína)  senta-se para relaxar no jardim e fecha os olhos. Acorda com alguém falando com ela. É um belo rapaz, que pede licença para tirar uma joaninha que está passeando sobre o braço dela. E então eu... buáááá!

A história é linda, e nos ensina que nem sempre aquilo que pedimos à vida nos vem da forma como pedimos, ou na hora que pedimos, mas que a vida nos escuta, e providencia o que é melhor para nós. Para mim, meu recente passeio à Itália, após muitos anos de sonhar e sonhar com ela, foi uma grande realização. Estar lá e relembrar as cenas do filme foi mágico. É um lugar que eu jamais esquecerei, assim como o filme.






terça-feira, 26 de setembro de 2017

AH, OS ITALIANOS - ÚLTIMA PARTE

Ah, essas árvores da Toscana...








(continuação)

-LÍNGUAS – Antes de viajar, estudei um pouquinho de italiano em casa, sozinha. Utilizei um aplicativo e um livreto de italiano para viagem. Claro, não consegui aprender a falar, mas consegui aprender coisas bem básicas, como pedir água e informações, perguntar o preço, cumprimentar pessoas, etc. ninguém aprende a falar uma língua usando um aplicativo, muito menos, em poucos meses. Ao chegar lá, pude constatar, feliz, que a maioria das pessoas fala inglês em estabelecimentos comerciais, e até nas ruas. Pelo menos, o suficiente para se comunicarem. Portanto, não tive problemas. 

Foi muito interessante, em certos momentos, estar no meio de um grande grupo de pessoas e escutá-las falando línguas diferentes. Uma vez, após visitarmos o Castelo Sforzesco em Milão, uma tempestade repentina causou um acúmulo de pessoas na hora da saída. Um  funcionário do museu berrava em italiano, pedindo que as pessoas saíssem pois era hora de fechar, mas ninguém arredou pé. Naquela tarde, às portas do castelo, nosso grupo protegia-se da chuva entre uma multidão de indianos, alemães, americanos, ingleses, franceses, italianos, árabes, russos e pessoas de muitas outras nacionalidades cujas línguas não consegui sequer identificar. Foi uma sensação única, inexplicável. 

Meu marido, corajosamente, comunicava-se em italiano usando gestos e também algumas palavras em inglês. Era bem engraçado... mas ele conseguia se fazer entender. Logo aprendemos, através de tentativa, erro e muita observação, a pedir confiantemente coisas como sorvete, café, água, comida em um restaurante e até informações nas ruas. Lembro de mim mesma dizendo, na sorveteria: “Un cono piccolo di pistacchio, per favore!”  

Quando a gente tem coragem e um pouco de cara de pau, a comunicação se torna bem mais fácil. Basta ser observador e não ter medo de errar. Algumas vezes fomos corrigidos, e isso foi ótimo. 

Dia de comprinhas, em Como


-SORVETERIAS – Que saudades eu tenho do gelato italiano! Eu, que adoro sorvetes, não poderia deixar de aproveitar muito bem esta parte! Eles são cremosos, densos, deliciosos... e eu que pensei que os sorvetes daqui fossem bons!
Há gelaterias em toda parte, e a clientela é grande. Italianos realmente amam sorvetes. 
Quase toda noite, quando saímos do metrô e deixávamos o grupo, voltando dos passeios, meu marido e eu costumávamos frequentar uma sorveteria que ficava perto de casa. Por volta de dez e trinta da noite, nós nos sentávamos e pedíamos o nosso gelato. O movimento era grande àquela hora: muitos pedidos de entrega em domicílio, e muitos ‘motoboys’. Depois, íamos caminhando até o apartamento, andando pelas ruas quase desertas de Milão, cansados e felizes. Nunca vou me esquecer daqueles momentos!
Uma bola de sorvete é bem grande por lá, portanto, eu quase sempre pedia o “piccolo.” O “grande” era realmente muito grande.

Parte do nosso grupo; em alguns dias, éramos quinze!


- CAFÉ – Senti saudades do café do Brasil! O nosso é de longe, bem melhor! Gosto do espresso, mas nada substitui o cheirinho e o sabor do nosso café. Tentamos comprar café no supermercado, e conseguimos, mas não havia filtro de papel. Assim, optamos pelo café solúvel instantâneo. 
No começo, quando pedíamos café em bares e restaurantes, a quantidade na xícara vinha abaixo do meio. Fiquei surpresa com a quantidade ridícula de café que era servida, até que descobrimos que se quiséssemos um pouco mais, deveríamos pedir um espresso lungo. Bem, quando digo um pouco mais, é um pouco mais mesmo! Chegava até o meio da xícara. Dava para dois golinhos. Aprendemos sobre vários tipos de café, como o macchiato, favorito do meu marido. Nós nos acostumamos com o café italiano, mas chegar em casa e preparar um café brasileiro não teve preço...


Nossa casa na Toscana


-CASTELOS – Há vários. Estão em todos os lugares. Meu sonho de conhecer um castelo foi realizado. Entramos em castelos em Milão, na Toscana e em Verona. Conhecemos também a casa de Giulietta, que é quase um castelo. Não posso descrever a sensação de estar em um castelo! Pelo menos para mim, foi muito forte e cheia de magia! É como dar um mergulho profundo dentro do passado e da história das famílias que moraram neles. Mais do que isso, é deixar a imaginação correr solta ao deparar com uma cozinha medieval, uma passagem secreta, uma janela que dá para uma paisagem deslumbrante. Sem mencionar os quadros e obras de arte que permanecem nesses lugares, retratando seus moradores e seus hábitos de vida. Destaco o Castelo de Bolognini, em Sant’Angelo Lodigiano, onde fomos padrinhos de casamento de Isabela, sobrinha de meu marido. O acontecimento, em si, era um sonho: um casamento, uma recepção. Todos felizes e bem vestidos. Uma noite da qual ninguém se esquecerá jamais. 
Ainda hoje, quando me deito, fecho os olhos e as imagens dos lugares que visitamos imediatamente povoam meu pensamento. Até chego a sonhar que nós estamos lá novamente, de volta.

Chegando em Veneza...


Fim desta série de crônicas sobre os italianos. Mas ainda vou escrever muitas outras sobre esta viagem, pois ela foi o sonho de uma vida inteira...



Casal mais lindo! Uma honra sermos seus padrinhos!




segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Ah, os Italianos! - Parte II

Pôr do sol em Florença... jamais esquecerei.




Continuação do texto anterior



LIXO – Quando fui jogar o lixo fora pela primeira vez, deparei com uma fileira de recipientes, cada qual para um tipo de lixo específico. Voltei para dentro de casa carregando meu único saco de lixo, e comecei a separar tudo. Alguém me disse que os potinhos, garrafas e recipientes deveriam ser lavados antes de serem descartados, e passei a fazer disto um hábito. Há também saquinhos plásticos específicos para cada tipo de lixo, mas pulei essa parte, pois não estavam disponíveis na casa e ficaria um pouco caro compra-los.

Aqui na minha cidade houve uma campanha há alguns anos pela reciclagem de lixo, e comecei a separar e lavar todo o meu lixo, mas parei de fazer isso quando vi o caminhão de lixo chegar e o funcionário juntar tudo e jogar no triturador. Estava perdendo meu tempo.


Castelo de verdade, na Toscana


MODA – Milão é conhecida como a capital da moda, e as pessoas realmente se vestem bem, mas sem exagero ou ostentação. O que me chamou muito a atenção, é que as mulheres da minha idade e mais velhas, na sua maioria, não tingem cabelo. Assumem os fios brancos, que são mantidos em lindos cortes e penteados. Assumem a idade que têm, sem deixarem de se cuidar e ser muito elegantes e bem vestidas. Não me lembro de ter visto mulheres “malhadas” ou “Bombadas”. Também não vi rostos siliconados e deformados por botox. O que vi, foram mulheres magras, na sua maioria, elegantes, muito bem vestidas e bonitas. Elas sentam-se nos cafés que existem aos montes pelas calçadas, caminham pelas ruas levando seus cães nas coleiras – e não se constrangem em recolher as fezes destes em saquinhos plásticos – e parecem ser felizes.

Eu um dia fiquei algum tempo sentada em um daqueles cafés num final de tarde, com meu marido e mais uma pessoa, e fiquei observando enquanto os milaneses passavam por mim, entrando e saindo de prédios antigos e maravilhosos, muitos acompanhados de seus cães. Pensei que uma vida assim não me faria mal...

San Gimigniano


CÃES- Parece que as pessoas na Itália adoram cães! Não vi nenhum cão abandonado, mesmo em uma cidade onde até os mendigos têm cães, e cuidam muito bem deles! Porém, às vezes eu percebi que alguns cães, apesar de gordinhos e parecendo ser amados, traziam os pelos emaranhados e sujinhos... acho que essa coisa de tomar poucos banhos também vale para eles. Uma cena marcante, que não fotografei por respeito, se deu bem próximo a Duomo: Havia uma moça sentada no chão, sobre um cobertor. Ela chorava muito, e tinha um cão preto dormindo ao lado dela. Era uma mendiga, jovem e muito bonita. Quem sabe, uma imigrante? Quando passamos de volta, ela estava indo embora. E o cão atrás dela, carregando na boca um urso de pelúcia encardido. Foi triste, e lindo, ao mesmo tempo.

Os cães na Itália têm acesso livre a mercados, calçadas e praças, trens e metrôs, ônibus e lojas, restaurantes e pontos turísticos em geral. Ser cachorro na Itália deve ser bom! Bem que eu me imaginei com o Mootley e a Leona, andando pelas ruas de Milão...



Ah, Veneza... impossível descrever.


MENDIGOS -  Há muitos mendigos pelas ruas de Milão, principalmente, próximos à Catedral. Me pareceram imigrantes – há muitos por lá, e a maioria deles são indianos, africanos e muçulmanos. Alguns vendem flores e outros artigos nas ruas. Acho que estes não são moradores de rua. O problema, é que eles se aproximam da gente, e praticamente nos obrigam a segurar as flores, dando a entender que estão nos presenteando, e logo depois voltam, cobrando por elas. Se tentamos devolvê-las, eles insistem até que alguém perca a paciência. Isto foi muito chato e inconveniente. Não gostei desta tática de venda!

Em Florença, vimos quando um africano foi preso por tentativa de furto, e logo depois, um grupo de africanos corriam pelas ruas, tendo policiais uniformizados e à paisana em seu encalço. Mas diferentemente daqui, eles furtam, mas não parecem carregar armas nem matar ninguém. Florença está cheia deles, e também de policiais disfarçados.

(CONTINUA...)






domingo, 24 de setembro de 2017

AH, OS ITALIANOS! - Parte I




Eu em Veneza - Gondoleiro!



Durante nossa curta estadia na Itália, não ficamos em hotel. Alugamos um pequeno apartamento em Milão, o que nos obrigou a fazer coisas que turistas que ficam em hotéis geralmente não fazem: ir ao supermercado, cozinhar, jogar o lixo fora, pedir informações na rua, usar o transporte público. Todos os lugares que visitamos foram alcançados através de caminhadas, trem ou metrô – apenas quando fomos à Toscana alugamos um carro, devido à distância. Isso nos deu uma ideia de como o povo realmente vive por lá, e do quanto nós aqui no Brasil estamos distantes deste ideal.
Não sou do tipo que gosta de voltar de uma viagem falando mal do Brasil, criticando tudo e exaltando as qualidades do país visitado, porque sei muito bem que quem viaja como turista não vê certas coisas negativas que só quem mora lá sente. Não existem lugares perfeitos em país nenhum do mundo.
Porém,  é impossível não fazer algumas comparações, e estas são algumas das coisas que pude observar:



-TRANSPORTE PÚBLICO - O transporte público é muito eficiente. Todos os meios de transporte público, incluindo os ônibus, vão anunciando as paradas em alto-falantes e painéis colocados dentro deles de forma estratégica; assim, sabemos exatamente onde estamos. Pensei na minha cidade, e no quanto isso facilitaria a vida dos turistas que circulam por aqui. Os ônibus e trens são limpos, muito limpos! Estão em ótimo estado de conservação, e os usuários cuidam para que continuem assim (diferentemente daqui). Tudo anda no horário, sem atrasos ou falhas. Se eles afirmam que o metrô passará daqui a dois minutos e trinta e um segundos, isso realmente acontece. As pessoas entram e saem organizadamente, sem empurrar. 




-MOTORISTAS X PEDESTRES – Assim que chegamos, ao atravessar uma rua, observei o seguinte fato: não havia carros à vista. Uma senhora parou junto à faixa de pedestres, e logo após outra, e mais pessoas foram fazendo a mesma coisa, sem atravessar a rua. Coloquei o pé na faixa, perguntando ao meu marido: “Por que elas não atravessam? Não há carros se aproximando”!  Ele me segurou discretamente, respondendo; “Veja! O sinal está fechado para nós”.  E assim que o sinal abriu, todos atravessamos. Quando há sinal de trânsito, os motoristas os respeitam, assim como respeitam as faixas de pedestres. E quando não há, os motoristas param o carro e dão a vez a quem está atravessando a pé.





- BARES, RESTAURANTES E LANCHONETES – Todos aguardam a vez, sem tentar furar a fila. Certo dia, entrei no que eu achava que fosse o final de uma fila, ficando atrás de uma senhora que estava sendo atendida. Não reparei que a fila era do outro lado. Assim que ela saiu e tentei me dirigir ao atendente, ele muito polidamente me explicou que atenderia primeiro o senhor ao lado, que tinha chegado primeiro. Fiquei com muita vergonha, e me desculpei. Nos restaurantes, não existem os dez por cento compulsórios por prestação de serviço, e apesar de dizerem que aqui no Brasil o pagamento é opcional, ele sempre é incluído no final da conta.





ALIMENTAÇÃO – Antes de viajar, tinha lido em um site que os italianos sempre preferem tomar água e vinho durante as refeições. Chegando lá, prestei atenção e vi que esta é a mais pura verdade! Não vi refrigerantes, sucos, conhaques ou outras bebidas em nenhuma mesa. Logo que nos sentamos, o garçom logo pergunta: “Vão querer água”? Também constatei que a comida dos italianos é quase sem sal, com poucos temperos, e não provei alho ou cebola em nenhum prato que comi. Eles preferem ervas. O pão é mais durinho, menos saboroso que o daqui, mas quando a gente come, não se sente pesado ou fica com azia depois.  A manteiga (chamada “burro”) é branquinha e também quase não leva sal. O molho de tomate é tomate puro, e não fica tão pegajoso na massa quanto o daqui. A pizza é fininha feito papel e tem poucos ingredientes. Prefiro a daqui... a massa é difícil de cortar, mesmo sendo fininha. 

As porções são pequenas... a primeira vez que comemos em um restaurante, quase tive um ataque quando o garçom trouxe meu macarrão e só tinha um pinguinho no meio do prato! Mas fui saboreando os pãezinhos, tomando água e vinho, comendo a massa devagar... e quando terminei, estava satisfeita! Ainda sobrou espaço para o inevitável gelato. 

A “insalata” (salada) não pode faltar, e muitas vezes, ela é tão grande, que podemos compartilhá-la, ou comê-la como prato único. 

No mercado, as verduras e legumes vêm lavadas e embaladas em bandejinhas, e custam mais caro do que aqui. Mas os queijos mais finos, que aqui podem custar uma verdadeira fortuna, lá são muito baratinhos, e eu me refastelei! As sacolinhas de compras são cobradas: $0,50 centavos de Euros cada. A maioria das pessoas levam as sacolinhas de casa. É comum ver donas de casa empurrando aqueles carrinhos de tecido nas ruas. Fui uma delas durante algum tempo! 

Entrar em um açougue em Milão me fez sentir vergonha dos açougues daqui! São tão limpos, que não se vê sangue, resíduos de qualquer espécie (normalmente encontrados nestes estabelecimentos) ou sequer se sente cheiros. Tudo brilha. Tudo é milimetricamente organizado em vitrines. Tudo é imaculadamente limpo. Os funcionários usam branco. Suas mãos e unhas estão limpas. Enfim... lembrei-me de um açougue aqui em Petrópolis (já fechado) onde a gente precisava tapar o nariz quando passava por ele. E dos caminhões estacionados nas portas dos açougues, reabastecendo-os de carne (carcaças penduradas, as portas abertas pegando poeira da rua, os uniformes imundos dos funcionários que não usam máscaras ou luvas. E o cheiro...

(continua...)












































sábado, 23 de setembro de 2017

VOLTANDO...

Veneza




Olá, pessoal!

Estive fora por uns dias, realizando um grande e muito antigo sonho: conhecer a Itália! Foi uma experiência transformadora visitar a terra do meu avô e dos meus bisavós. Cada momento foi vivido com muita intensidade, e inicio uma série de crônicas e poemas para contar sobre as coisas que vi, senti e vivi. Para ficar na lembrança. Porque escrever e fotografar são as melhores formas de se lembrar de tudo.

Começo com esta crônica:


San Gimigniano



PARA QUEM NÃO ESCREVI

Estes textos não foram escritos para quem já viajou muito e sabe mais do que eu. Não pretendo afirmar isto ou aquilo a respeito de um povo e de um lugar que mal conheci, pois foram apenas quinze dias de viagem – dois dos quais ficamos em casa, nos recuperando: eu, de uma forte gripe, e meu marido, de uma inflamação no tendão.

Estes textos não são para aquelas pessoas que a gente encontra nos aeroportos, junto as quais ficamos até meio-envergonhados de demonstrar nossa surpresa e maravilha diante de coisas que, para elas, são simples e rotineiras; enquanto o sol nasce sob as asas do avião, em cores maravilhosas, e nós, os simples mortais comuns que não viajam muito, tiramos fotografias e damos suspiros de admiração, tais pessoas dormem tranquilamente. Enquanto ficamos ansiosos por passar no free shop e comprar perfumes, elas passam por nós de cabeça erguida em direção a um destino certo e com hora marcada. Enquanto paramos para olhar os cartazes nos aeroportos, ou lemos as plaquinhas sob os monumentos em cidades históricas, estas pessoas olham seus relógios e afundam os rostos nos jornais.

Estas pessoas, cidadãs do mundo, passam rapidamente pelas lojinhas de souvenirs, e sentam-se nos cafés das cidades históricas com ares entediados lendo ou conversando, enquanto nós passamos por elas fotografando tudo e carregando sacolas cheias de comprinhas.

Eu não escrevi estes textos para quem já esteve na Itália muitas vezes, ou para quem já conhece o mundo todo. Tais pessoas com certeza os acharão simplórios, equivocados ou quem sabe, pretensiosos. Escrevo para lembrar, em primeiro lugar, das coisas lindas que pude ver, e do meu antigo sonho realizado. Escrevo porque não quero esquecer. Escrevo para que as imagens das fotografias que eu obtive – mais de duas mil imagens – não percam seu significado, e que eu possa olhar para elas e me lembrar do que vi, do que estava sentindo quando as obtive, de onde eu estava, quem estava comigo, do que eu aprendi.





sábado, 2 de setembro de 2017

Até um Dia!









Olá, pessoal!


Por motivos pessoais, estarei fora da rede durante alguns dias. Volto em breve!


Abraços!




terça-feira, 29 de agosto de 2017

Sobre a Vida e a Morte





Este é um comentário que acabo de deixar no blog Vida Alta, de Claudio Poeta:


Mais um blog que silencia. Mais uma alma que ficará perdida no espaço cibernético. Poemas, idéias e ideais que fizeram diferença para alguém, que os criou, postou e cuidou deles. E agora, todas estas idéias permanecerão online Deus sabe por quanto tempo, até que alguém as apague os simplesmente se apodere delas. 

Às vezes escrever faz surgir estas angústias... passamos tanto tempo criando textos online, colocando a alma e o coração em poemas e crônicas, contos e discursos, para então tudo se perder e ser esquecido. Seremos todos esquecidos. Estaremos todos perdidos e ausentes para sempre. Isto me faz questionar a importância de escrever: para que tanto tempo e tanta dedicação, se tudo se acaba, se tudo é esquecido? para que aprender tanto, ler tanto, escrever tanto, falar tanto?

Para que pensar tanto? Mudar o mundo, mudar a nós mesmos... qual o objetivo disso tudo?

A vida será sempre um mistério, e nós junto com ela. A morte talvez nos traga algumas respostas, ou pelo menos, alguma paz.





sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Cântico Negro





Uma reflexão, um poema de José Régio

"Vem por aqui" --- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
--- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se levantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
--- Sei que não vou por aí.

                      José Régio

O VERNIZ DAS "CONVICÇÕES"







Neste imenso mundo que tornou-se tão pequeno devido ao efeito das redes sociais, diferentes ideias são propagadas a todo momento. Seus autores, que quase sempre escondem interesses escusos, pretendem soar originais, modernos, liberais e abertos ao novo. Ao construírem seu império de ideias, que é constantemente frágil e sem alicerces, tais “Imperadores da Verdade” o cobrem com camadas de verniz de boa qualidade para que ninguém note as imperfeições, falácias e absurdos que ele contém. E basta uma leve arranhada na superfície para trazer à tona a podridão de tais impérios das ideias.

O que não falta, são seguidores acéfalos e cordatos, que amontoados pela necessidade de serem guiados por alguma causa, passam a erguer bandeiras e aceitar ideias alheias sem sequer um momento de reflexão. Afinal, todo mundo quer ser aceito, e nos dias de hoje, ser aceito significa soar moderno, liberal e seguir a maioria. Qualquer um que defenda algum valor antigo – como se todos os valores antigos fossem preconceituosos e desnecessários – é acusado de velho, primitivo, preconceituoso ou fascista.

A vulgaridade, a intolerância, a distorção de valores, a ignorância e o egoísmo correm à solta por aí. E ai de quem não seguir na mesma direção!

Eu tenho meus valores e minhas ideias. Sei que posso estar errada em algumas delas, e por isso, gosto de conversar, discutir, comparar, debater. Mas quando sinto que estou em um meio onde tudo o que se quer é ser contra esses valores, não importa o quanto eles possam ter um eco verdadeiro, eu me retiro, pois é inútil discutir quando os sujeitos da discussão estão determinados a não pensar, não refletir.

Assim, feministas xingam de burras, machistas e retrógradas qualquer outra mulher que não concorde com seus valores; partidários da esquerda consideram fascistas todos os que não fazem coro com eles, e partidários da direita consideram comunistas todos os que não carregam a mesma bandeira que eles. Nós X Eles. Todos dizem lutar pelo direito de igualdade e contra o preconceito e o separatismo, mas fazem exatamente o contrário. Todos dizem-se não preconceituosos, mas se alguém discorda de suas convicções, imediatamente o repelem com pedras e paus, demonstrando inconsistência e a volatidade de seus vernizes. Todos pregam a liberdade de escolha, desde que os outros escolham as mesmas coisas que eles.

Seus posicionamentos? “É assim, e pronto.” Ponto final. Se você pensa diferente, é burro. Se propõe uma reflexão mais aprofundada, é intrometido e quer aparecer. Não sabem argumentar, não sabem manter a calma, não conseguem conduzir uma conversa com alguém que pense de outra forma sem partir para a grosseria, o abuso, o xingamento e a falta de educação. Talvez por estarem cientes de que suas convicções não resistem a uma análise mais aprofundada. Sabem muito bem que não têm a supremacia da verdade, como gostam de se gabar.

São eles os burros, intolerantes, fascistas, ridículos, preconceituosos, machistas.





quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Exageros do FeMIMIMInismo Atual







Circula um textão pelo Facebook (bem escrito, by the way) no qual a autora afirma que nos dias de hoje, aqueles que afirmam gostar de mulheres não as apreciam como elas realmente são. Condena a plastificação feminina que acontece pelos artificialismos impostos pela sociedade (em minha opinião, são as próprias mulheres que os impõe) como cirurgias plásticas e exercícios físicos exagerados, por exemplo. Até aí, eu concordo.

Porém, o texto continua, citando comportamentos que, segundo a autora, são exageros desnecessários, pois quem gosta realmente de mulher deve gostar também dos cheiros que ela exala, das pernas e axilas não depiladas, da falta de cuidado com a pele, unhas, cabelos e corpo. Uma mulher, diz a autora, não deveria preocupar-se em usar maquiagem, tingir cabelo, cuidar da higiene, pois, sugere a autora,  a mulher empoderada não liga para essas coisas. 

Mas eu duvido que exista alguma mulher que goste de um homem que tenha cabelos oleosos e sujos, mau-hálito, unhas pretas, cheiro de suor e maus modos. Todo mundo deve se cuidar, pois é muito desagradável ficar perto de alguém que cheira mal, não sabe se comportar (mesmo que arrotar, soltar gases, limpar o nariz e escarrar sejam coisas perfeitamente naturais aos humanos) e não tem apreço pela própria aparência. 

Da mesma forma, não é nada agradável ficar em uma casa que cheira a gordura rançosa, roupa suja e banheiro público mal cuidado. E eu não vejo nenhum mal em uma mulher cuidar do local onde vive. É uma questão de higiene, e isso não quer dizer que ela seja “mulherzinha”. 

Nossos corpos e lares exalam cheiros desagradáveis quando não cuidamos bem deles, e cuidar de si e do local onde se vive é essencial.




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