witch lady

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quinta-feira, 3 de março de 2016

Absinto







Te deram uma estrela ao nascer,
E era absinto... 
Teus olhos infantis e inocentes,
Sonhavam com o amor simplificado,
Mas que mostrou-se inconsistente.

Numa tarde fria, entre lágrimas,
Tu me disseste: “Eu só queria ser feliz!”
Mas eu não pude dar-te alegria,
Não, não era eu tua fada madrinha!

As flores coloridas e formosas
Com as quais enfeitaram teus caminhos,
Eram todas elas, venenosas
E cheias de espinhos!

A felicidade que tanto desejavas,
Veio em curtos lampejos,
Fracos relâmpagos, entre raios e trovoadas,
E noites negras de puro medo!

E foram noites longas e arrastadas,
Sem sinais de qualquer amanhecer.
Os deuses para os quais rezavas
Eram todos obscenos, e não te salvaram.

-Será possível que alguém já nasça
Com esse signo, esse cálice de dor
Derramado na alma, destinada
A só penar, a só sofrer?

Finalmente, o teu amanhecer,
O ato final dessa peça sem ensaio,
A chuva benfazeja, após o raio;
Sobre tua vida, o selo da sorte,

Parece-me que o anjo cujas asas tocaste
E cujos olhos jamais viste
(Mas que também eram tristes)
Estendeu-te a mão, e te sorriu.

A tua estrela, o absinto,
Há de brilhar, e transformar-se em outra coisa,
Em giz de luz, para que escrevas em tua lousa
Entre flores e perfumes de jasmim,
A tua última palavra – aliviada: “FIM.”



Para Rosane





quarta-feira, 2 de março de 2016

Sobre Casas, Poesia e Mãos de Fada








Nunca tive mãos de fada. Sou um verdadeiro desastre para cortar, costurar, bordar ou pintar. Também não consigo produzir bolos muito bons, ou fazer com que as plantinhas cresçam bem. Infelizmente, não herdei o dedo verde de minha mãe, que pegava um galhinho meio-seco de qualquer coisa, espetava no chão, se esquecia dele e de repente, lá estava uma roseira coberta de rosas vermelhas, ou então uma pé de fruta.

Não tenho a habilidade de Tia Rosa, que fazia bolos de maçã tão fofos, que pareciam aerados. Os meus ficam "massudos" e pesados. Nem sempre dão certo. Não sou como minhas irmãs, que cortam e costuram qualquer coisa, de roupas a cortinas e almofadas maravilhosas. Cada um com suas habilidades...

Na escola, tive aulas de bordado. Ainda me lembro dos meus paninhos riscados, as linhas tortas passando sobre os riscos, cheias de pequenos nós. A professora acabou desistindo de mim, tal a minha falta de jeito. Pouco antes de minha mãe morrer, falei-lhe sobre minha vontade de aprender um trabalho manual; ela me comprou uma revista e um CD que ensinavam a bordar, passo a passo. Porém, nunca assisti ao video. Ela sabia fazer aqueles pontos complicados e maravilhosos, e quando eu era criança, também tentou me ensinar, mas foi em vão. Minha mãe ensinou minhas irmãs a costurar na nossa velha máquina Singer de pedal. Uma delas fazia pantalonas tão boas, que as amigas compravam tecidos e pediam que as costurasse para elas (era o final dos anos 70). Quando chegou a vez de me ensinar, fui uma verdeira negação como aprendiz: até hoje, não consigo nem colocar a linha na máquina. Ela se perde entre tantos furinhos e caminhos, vais-e-voltas... a coisa não acontece!

Mas acho que sei cuidar bem de uma casa, limpar, arrumar, enfeitar. Consigo fazer uma comida simples e muito boa, mas sem sofisticações. 

E sei escrever poemas. Não sei se meus poemas são bons, mas eles me servem. Para mim, a casa é um poema que a gente escreve e nem percebe, pois nós escolhemos tudo o que está dentro dela, e acho que há muita poesia nisso; mesmo que peguemos um galho de flor na beira da calçada e o coloquemos em uma garrafa de vidro sobre  a mesa de jantar, existe nesse gesto muita poesia. 

Minha cabeça é um turbilhão de coisas que chegam e me pedem para colocá-las no papel. Também escrevo contos, ou seja, esboços de contos, pois se fosse escrevê-los como é para ser, acabaria (como já aconteceu muitas vezes) perdendo a paciência, então ponho as ideias no papel como elas me chegam, sem revisões e sem pretensões. Dou-lhes voz porque elas me pedem. Às vezes, tenho uma história na minha cabeça com começo, meio e fim. Sei exatamente aonde quero chegar, mas de repente, um dos personagens me rouba a caneta e segue por outro caminho totalmente diferente. E eu deixo ele ir.

Poesia em casa acontece quando a gente olha para um canto, vê que está faltando alguma coisa, e de repente colocamos um paninho de croché ou uma almofadinha e sentimos que ficou melhor, mais bonito e aconchegante. Poesia é aquela pequena mancha no sofá, a rachadura antiga na parede, a tinta descascando no muro, a colcha velha de tricô ou de patchwork - coisas que ajudam a contar a história de uma casa. Deus me livre de uma casa impecável, dessas que a gente vê nas revistas, por onde a poesia passa bem longe. A gente pode sentir a poesia quando, em uma noite de sábado silenciosa, depois que todo mundo foi dormir, nos levantamos para beber água; vamos descalços até a cozinha na casa semiescurecida, e escutamos o relógio tiquetaqueando. Caminhamos sobre os tapetes e corredores, e nos sentimos protegidos nesse lugar que é tão nosso, que é tão a nossa cara: a casa. 







terça-feira, 1 de março de 2016

DE VIDRO





She Was Happy



Oh, she had nothing,
And was nobody
When she was happy.

Her days were lighter,
People much kinder
When she was happy.

Her smile, so tender,
Her sweet surrender
Was not for posing
When she was happy.

Long time ago,
When innocence
Was in her soul...
-And she was happy.

And then she turned
Into a doll
Before the cameras
For grown-up boys
To look and play with.

Her smile became
So artificial,
Her eyes were empty 
And all they wanted
Was to posses her,
Body and soul.

And when she died,
Sad, cold and dry,
Her last thought, was
For the old days,
(The days she missed)
When she was happy...










A ÁRVORE CAÍDA










As folhas arrastadas pelo vento
Crepitavam no asfalto quente.
Na beira da estrada, o tronco caído.
Galhos murchando de tristeza
Querendo ser novamente sombra, abrigo de aves,
Mãe de muitos frutos,
Origem, flauta de brisa, descanso...

Passei sobre seu manso morrer,
Silencioso e lento,
E o que mais me feriu, foi o seu silêncio,
Que não se queixava, e a ninguém culpava!

Doeu-me, porém, relembrar, e calar, e saber
Que cada um de nós
Ergueu o machado fatal e amputou um galho,
Dia após dia, palavra por palavra,
De olhos abertos, de olhos fechados,
Até a queda fatal, o último talho...





sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Infelizmente, Extremamente Contemporâneo








Pensamentos de Adolf Hitler - um dos homens mais letais que já pisou este planeta. Infelizmente, temos que admitir a atualidade de seus pensamentos, e também aceitar que o mundo não mudou quase nada após o nazismo. Continuamos cometendo os mesmos erros.







“Torne a mentira grande, simplifique-a, continue afirmando-a, e eventualmente todos acreditarão nela” 







“Que sorte para os ditadores que os homens não pensem.”







“Toda propaganda tem que ser popular e acomodar-se à compreensão do menos inteligente dentre aqueles que pretende atingir.” 







“O Cristianismo é uma invenção de cérebros doentes.” 







“A natureza é cruel; então também estamos destinados a ser cruéis. Temos de ser cruéis. Temos de recuperar a consciência tranquila para sermos cruéis.” 








“O vencedor não será perguntado se ele falou a verdade.” 






“A propaganda não pode servir à verdade especialmente quando possa salientar algo favorável ao oponente.” 







“Na guerra eterna a humanidade se torna grande - na paz eterna, a humanidade se arruinaria.” 







“Qualquer aliança cujo propósito não é a intenção de iniciar uma guerra é sem sentido e inútil.” 








“Onde Napoleão falhou, obterei sucesso, vou desembarcar nas praias da Inglaterra.” 







“De um fraco cosmopolita transformei-me (em Viena) num grande anti-semita.” 






Mudar-se








Tem gente que detesta a confusão das mudanças. Montes de coisas que a gente tem que decidir se leva com a gente ou se doa ou descarta; Todo o trabalho de embrulhar louças e objetos frágeis em toneladas de folhas de jornal e depois arrumar tudo em caixas etiquetadas. E, chegando na nova casa, desembalar tudo, lavar e guardar nos devidos lugares - processo que pode durar muitos dias, ou até mesmo meses!

Já passei por isso quatro vezes ao longo da minha vida, e adorei todas elas! A gente tem que remexer nos armários, e acaba encontrando coisas que já tínhamos esquecido que estavam por lá - algumas delas, achávamos que tínhamos perdido! E daí, quando percebemos, estamos sentados diante de uma pilha de livros que gostaráimos de reler. E começamos ali mesmo. Ou quem sabe, encontramos velhas fotografias de viagens ou datas comemorativas, onde pessoas que não vemos há muito tempo, nos olham de volta; algumas delas, jamais voltaremos a encontrar. Simplesmente, se foram de nossas vidas, ou deste mundo.

Eu adoro chegar em uma casa nova e decidir onde colocar as minhas coisas até que ela tenha cara de lar, até que ela se pareça comigo e com meus novos sonhos e objetivos. É como se um novo recomeço nos estivesse sendo oferecido. Andar por um novo bairro, cumprimentar novos vizinhos...

Mas apesar de amar mudar, acho que ainda ficarei nesta casa por muito tempo, pois adoro o lugar, os vizinhos e a casa. Aqui, bati um recorde de permanência: enquanto nas outras casas nós permanecemos por exatos sete anos, nesta já estamos há onze. Só morei mais tempo em uma casa quando era ainda solteira - a casa dos meus pais, onde vivi durante vinte e seis anos. Às vezes me pergunto se terminarei meus dias aqui.

Mas acredito que, se nós envelhecermos, esta casa vai ficar muito difícil de manter, e teremos que nos mudar para algum lugar bem menor. Mudar de casa é um exercício de desapego. O que levaremos conosco?

Algumas pessoas não conseguem se livrar de nada. Não doam nada, não vendem, não emprestam e não trocam. Porém, continuam adquirindo coisas e mais coisas. Conforme vão envelhecendo, suas casas vão se transformando em lugares atravancados e empoeirados, por onde fica difícil cuircular ou até mesmo, respirar.  Limpar? Tarefa hercúlea, praticamente impossível! Acho que elas pensam que, de alguma maneira, estas coisas as segurarão aqui, mantendo-as vivas: "Tenho muita coisa para cuidar." Mal sabem elas que a morte é democrática, não tem preconceito de classe social, e não se importa se quem ela leva é rico ou pobre, jovem ou idoso, se possui muitas coisas ou não. Apegam-se a objetos como se eles fossem a garantia de que permanecerão vivos por mais tempo. E então, fica tudo por aí...

Depois que eles morrem, ficam os copos de cristal que nunca foram usados, o aparelho de jantar que nunca foi partilhado em uma mesa, a colcha bordada pela avó que permaneceu anos e anos trancafiada no fundo do armário em um saco com naftalinas, roupas e mais roupas que pertenceram a várias fases da vida e que poderiam ter aquecido o inverno de muitas pessoas, livros que poderiam ter sido doados a escolas e hospitais, e sobre os móveis, bibelôs que serão jogados fora sem a menor cerimônia. 

Eu não quero ser assim. Não quero ter esse grau de apego às coisas. Adoro tudo o que tenho, mas não quero que aquilo que eu tenho me possua. Sou muito grata por saber que as coisas tornam a minha vida mais fácil, mas que seu tempo comigo vai passar, e então elas pooderão continuar sendo úteis a outras pessoas. 

Quando nos mudamos para esta casa, nossos pertences couberam em uma viagem de caminhão. Hoje, como a casa é maior, eles aumentaram, mas se tivesse que me mudar para um lugar menor, sei que o faria sem me lamentar pelas coisas que ficariam para trás. Vez ou outra, faço um "esvaziamento" de espaço. Acho que a vida fica mais leve...




quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Passam as Águas








Sob a ponte passam as águas.
Sobre ela, passam as mágoas.
Sob e sobre, tudo passa,
Passam as águas, passam as mágoas.

Passam as dores e os horrores,
Passa o que nunca mais passava.
Passam amores e rancores,
Passam os barcos e as algas.

Passa o medo de sonhar,
E a noite também passa.
Passa o medo de acordar,
Quando a tristeza  também passa.

Sobre a ponte, sob a ponte,
Passam as almas que se foram
Na mais longa das viagens;
E a saudade, um dia, passa.

Passa o passado em tons  sépia,
Busca um futuro que não passa...
Segura na mão o presente,
Pois que ele também passa.

Sob a ponte, sob os olhos,
Sob os dedos, só não passa
A essência do que fomos
Fica, da vida, a graça.





You Don’t Know Jack!










If you really want to know
Something about me,
All I can tell you is that
My life’s a speck of dust
-In this I trust.
Apart from that,
I don't know much
And you don’t know jack.














domingo, 21 de fevereiro de 2016

ASSINATURA









Tenho, de cada gesto e palavra,
A escritura,
E dou gargalhadas
Daquilo que normalmente constrange.

Diante de tudo, um único rosto:
Seja alegria, dor, ironia, desgosto.
Estar inteira, e por completo
No meu céu ou inferno predileto.

Não , não há qualquer necessidade,
De desvelar o que está claro,
De encobrir o que é gritante
Se até meu ódio é diletante.

Piso com patas de elefante,
E espio com olhos de lince
Tudo aquilo que me cerca,
Tudo aquilo que me atinge.

Fascinam-me deveras
Enigmas e esfinges,
Olhares de fera
Palavras de estilingue.

E sob tudo o que permeio,
Do começo ao fim, e no meio,
Da lucidez à loucura,
Deixo, inconteste, hoje, e sempre,
A minha velha assinatura.



Ana Bailune


I'LL CRY








I'll CRY


When there's nothing else to try for,
I'll cry.

When rivers are blood,
My sadness will flood
Over a dry land.

I'll walk through the meadows
That once were alive,
 Transpassing their shadows
Remembering light.

I'll kneel on the sand
And face a dead sea
Where only death dives
And mourn for these times.

When nothing else matters,
I'll cry.










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Wyna, Daqui a Três Estrelas

Este é um post para divulgação do livro de Gabriele Sapio - Wyna, Daqui a Três Estrelas. Trata-se de uma história de ficção científica, cuj...