Todo dia eu amanheço,
Solto meu
canto de dor.
Há quem
diga que é alegria,
Há quem
diga que é amor.
Pulo de lá
para cá,
Olho de cá
para lá
A paisagem
limitada
A que
alguém me condenou.
Minhas
unhas, tão pequenas,
Crescem
mais do que deviam,
Enrolam-se
feito um fio
Na prisão
das minhas penas.
Crime algum
eu cometi,
Mas fui
sempre condenado,
E me
deixaram aqui
Esquecido,
malcuidado...
A minha
pequena história
Se arrasta
sem piedade,
Não tenho
nenhuma saudade,
Já que
nunca tive vida...
Jamais
haverá saída
Para tanta
solidão!
Pois
enquanto os outros voam,
Só mingua
meu coração...
Por minha
pequena ração
Diária,
jamais serei grato...
Queria
colher lá no mato
Aquilo que
eu desejasse.
Meus sonhos
são sobre um dia
Que alguém
mais distraído,
Deixaria a
porta aberta
E eu,
então, escaparia!
Todo dia, a
mesma sina,
Arremedo de
alegria,
Pois alguém
prendeu meu canto
Nessa sala
tão vazia!
Sou um mero
bibelô,
Objeto
articulado
Sem futuro,
sem passado,
Vítima da
vaidade
Ou quem sabe,
da crueldade,
De alguém
frio e covarde
Que me usa
para alívio
Da sua
infelicidade?