Ela tem os nós dos dedos inflamados
De tanto bater às portas erradas.
As mãos inchadas
Já não suportam mais os anéis que não se encaixam,
Os pulsos enfaixados, quebrados,
Já não têm forças para suportar
Os dedos crispados.
E ela se senta nos alpendres,
Clamando em desespero por alguém que a ouça,
Mas sempre bate às portas erradas,
Onde não há ninguém de verdade,
Onde a saudade já nem existe – e ela é tão triste!
A solidão a deixa cega, desesperada,
E ela nem sequer percebe
A maldição que sai dos olhos enviesados,
E dos risos sarcásticos e frios,
Dos corações vazios onde ela tenta, por um momento,
Entrar e sentar-se
Desejando alento.
E ela só bate às portas erradas,
Às portas cerradas,
Tentando agradar sempre
A todo tipo de gente afetada,
E logo, seus olhos tristes se enchem de escárnio,
Seus lábios se curvam em sarcasmo,
E do seu coração, ela deixa vazar
Todo o amor que procurava
Na sarjeta mais próxima, na beira da estrada.
E ela procura por caminhos mais leves
Por dentro dos quintais cercados;
Por entre as ervas daninhas que ninguém plantou,
Ela pensa ver flores em seu delírio...
Nas luzes estroboscópicas que brilham,
Ela imagina ver o sol.
E ela torce e retorce o corpo
Tentando caber em outros espaços,
Ela se cala para dar vez a outras vozes,
Alheias vozes que lhe dizem como ser,
Do que gostar, o que fazer,
Como vestir-se, como usar aquela maquiagem
Que a deixe com cara
De felicidade.
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