witch lady

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quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Eu Poderia Sim








Eu poderia sim, te amar,
Me aconchegar na curva calma do teu braço,
Deitar, feliz, minha cabeça em teu regaço,
Ficar aqui, deixar de lado um outro passo.

Eu poderia, sim, te amar,
E me entregar ao doce sopro de um momento,
Deixando ir todos os medos, com o vento,
Deixar fluir todo o encanto do momento.

Eu poderia sim, te amar,
E me esquecer, mais uma vez, das mil promessas
Que eu deixei no travesseiro, ao partir,
E não temer, se o chão ceder e se abrir
Mais uma vez, e como sempre, me tragar.






terça-feira, 8 de agosto de 2017

Chateações






Às vezes me surgem chateações. Não sei de onde elas vêm. Parece que as coisas ficam amarradas, ou então dá a impressão de que cada passo é difícil, como se os pés estivessem presos à lama movediça que fizesse de cada um deles, um esforço e um sacrifício. Nada dá certo. As portas estão fechadas.

Vou lá para fora. Há um gramado verde para deitar e olhar as copas das árvores. Há dois cães ávidos por brincadeiras e afagos. Há tantos passarinhos cantando nas árvores, esperando serem alimentados. Fecho os olhos e presto atenção aos ruídos do dia: lá longe, alguém canta.O motor de um carro. O vento nas folhas da mata em frente. Cães latindo em algum lugar. Um rádio ligado. Vida.

Vida.

Às vezes, as respostas que esperamos não chegam, não acontecem. É sempre tão difícil aguardar o tempo das coisas! Para algumas, o tempo parece voar, enquanto para outras, ele se arrasta languidamente... por isso eu chego a pensar que não existe um tempo, mas vários. Há tantas coisas no ar, esperando para acontecer! Elas me olham, enfileiradas, aguardando algum sinal que eu não entendo...

Mas lá fora, os olhos fechados, os cães aconchegados a mim, o calor do sol do inverno me deixa mais tranquila. Tudo dá certo sempre. Mesmo quando eu achei que tudo tinha dado errado, a única coisa que aconteceu é que as coisas aconteceram como eram para acontecer, e não como eu queria. E depois das lágrimas secas, eu vi que tudo continuava, e para frente... porque vida não acata estagnação. As coisas podem demorar, às vezes, mas elas sempre acontecem, se a gente bater e esperar um pouco até que as portas se abram. Talvez o tempo esteja caminhando muito devagar, mas ele está caminhando. Ele ouviu as batidas. Se resolver não abrir, é porque não era para ser.




WRITING







Whatever the matter,
Writing
Always makes me feel
Much better





SOBRE A FELICIDADE









DA FELICIDADE

Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!
Mario Quintana





Saber encontrar a alegria na alegria dos outros, é o segredo da felicidade.
Georges Bernanos




A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz.
Sigmund Freud




Há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons.
Carlos Drummond de Andrade




A felicidade de um amigo deleita-nos. Enriquece-nos. Não nos tira nada. Caso a amizade sofra com isso, é porque não existe.
Jean Cocteau





O ciumento passa a vida a procurar um segredo, cuja descoberta lhe destruiria a felicidade.
Axel Oxenstiern



A felicidade não é um prêmio da virtude, é a própria virtude.
Baruch Espinoza




É difícil dizer o que traz a felicidade. A pobreza e a riqueza, por exemplo, já fracassaram.
Kin Hubbard




Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.
Fernando Pessoa



Mas os meus escritos são as minhas horas de felicidade. Mesmo naquilo que eles tiverem de cruel. Preciso escrever assim como preciso de respirar, porque o corpo me exige.
Albert Camus



sexta-feira, 4 de agosto de 2017

MELODIA INTERROMPIDA









A música parou no ar
E o silêncio deu voz ao bater das asas dos pássaros
(Ou seriam as asas dos anjos?)

Uma melodia começou a tocar, bem baixinho,
E uma alma seguiu seu rastro:
“Pérola negra, te amo, te amo...”





Imagine...






Hoje o Spotify me veio com a sugestão de uma playlist: "As Músicas Mais Lindas do mundo." Entre elas - todas muito lindas - de repente começou a tocar "Imagine." Sempre amei esta canção, embora ela hoje ela tenha sido tocada tantas vezes, que alguns a considerem "batida demais."

E John Lennon nos pedia que imaginássemos um mundo ideal, sem religiões, sem fronteiras, com todos vivendo em paz. E ele mesmo morreu vítima da violência de alguém que o admirava (e talvez também o invejasse), talvez para lembrar ao mundo que a perfeição não é daqui. Somos seres tão imperfeitos, que caminhar sobre uma terra de perfeição seria, no mínimo, um absurdo. Ainda temos muito o que caminhar, tropeçar, cair de cara, e mesmo assim, talvez a humanidade nunca chegue lá.

Mesmo assim, eu tento colher no dia a dia tudo o que eu posso para tornar a vida mais bonita. E acho que todo mundo pode fazer isso. 

Mas de que adianta, reclamar dos políticos, do "golpe", da desigualdade social, da corrupção, e continuar agindo de maneira a alimentar tudo isso em volta de nós? O que eu vejo quando olho as postagens no Facebook e nas demais redes sociais, são pessoas que reclamam de tudo, mas não fazem um esforço, por menor que seja, a fim de melhorarem a si próprias. Assim, a canção de John Lennon - que também nunca foi perfeito, basta ler a biografia dele para saber - fica cada vez mais distante da realidade. Acho que foi uma canção marco. Porque ela foi gravada e lançada no exato momento em que as pessoas começaram a perder a humanidade de forma mais acelerada.

Os hippies dos anos 60 falavam de paz & amor, mas se drogavam e jogavam bombas em policiais, matando, sequestrando e roubando, e não professavam aquilo no qual diziam acreditar. Políticos que deveriam zelar pelo bem estar do povo, bem, melhor nem comentar... 

É muita falsidade. Talvez por isso o nome da canção seja "Imagine." Porque no reino da imaginação, tudo é possível, até mesmo a paz mundial e a justiça social entre povos belicosos, interesseiros, egoístas e falsos.




terça-feira, 1 de agosto de 2017

Folhas Secas







Existe uma palavra
Cuja pronúncia faz desabar pontes,
E um sopro de pensamento que a contenha
Fecha todas as janelas,
Tranca todas as portas.

Existe uma palavra morta,
As mãos cruzadas sobre um peito vazio,
Uma palavra que morreu de frio
E fica de cócoras, à beira do caminho,
A assombrar qualquer pessoa
Que tentar chegar.

Existe uma palavra azeda, maldita,
Que vem de um sentimento mortal
Para qualquer relação,
Uma palavra que faz brotar o mofo
Dentro de cada coração.

Não ouso dizê-la – sequer penso nela,
Que esta palavra fique trancada lá fora,
E que jamais chegue a mim
O bafo fétido do seu funesto fôlego,
O trôpego passo do seu andar travado,
Que deixa tudo tristemente abandonado,
E deixa entre os caminhos apenas folhas secas.





Essas Almas







Essas almas que me chegam
Com seus corações quebrados
Que eu pego com cuidado 
Na concha da minha mão...

A tristeza de saber
Que não posso consertá-los!
Então, eu tento assoprá-los
Para que não ardam tanto.

E elas me falam de tudo
Que se chama desencanto,
E eu empresto meus ouvidos,
E às vezes, as palavras;
(-Saem mais aliviadas
Ou será só ilusão?)

Essas almas que me chegam
Derramando em meus espaços
As tristezas represadas,
E o cansaço dessa vida
Que às vezes, é madrasta,
-No final, todas se vão...

Um dia, eu passo por elas,
E nossos olhos se encontram...
Muitas vezes, nem palavras,
Nem sequer um cumprimento;
Entre o vento que separa
Nossas almas já estranhas,
Um silêncio constrangido
Pelo que foi partilhado
Naquele tempo roubado,
Naqueles raros momentos.




segunda-feira, 31 de julho de 2017

Não Tem Como Não Partilhar...











Justiça Divina





"...Nunca pensei em fazer peregrinações solitárias em busca da verdade, da paz ou de um centro espiritual; apenas estudava muito e acreditava na recomendação de um profeta: Viaja em ti mesmo. Era viajando para dentro, e não para fora, que esperava um dia ter direito a alguma sabedoria.


Quando jovem, imaginei que  a justiça Divina sempre aparecia na hora certa e fazia o possível para merecê-la; não por fé, mas por medo. Vi, à medida que os anos passavam, que não era bem assim: Deus, afinal, nos deixa muito por conta própria e minhas crenças eram ingênuas. Vi pessoas decentes se darem mal e canalhas vivendo cada vez melhor. Deixei de entregar tanto à vida e aos céus, passei a pedir ajuda a mim mesma e as coisas começaram a melhorar. Achava que estava me desenvolvendo mas a vida continuava do mesmo tamanho: um tédio, todos os dias previsíveis, e cheia de problemas e obrigações. Uma vida pequena - tinha que admitir - que, provavelmente, não seria uma encruzilhada dramática entre o bem e o mal; poderia ser apenas uma viagem sem sentido até a morte. Depois da morte, talvez, a viagem fosse intensa e cheia de revelações. Mas durante a vida, não. Não podemos nem mesmo escolher se vamos de carruagem ou de canoa, não temos este poder. Só podemos decidir se vamos ou não continuar viajando; e as pessoas e situações que encontramos no caminho também não dependem de nós: são o nosso karma."


-Maria Helena Nóvoa, em "O Espelho da Lua."-




DÊ DAQUILO QUE TE SOBRA, E NÃO DAQUILO QUE TE FALTA – Ou A Cultura da Culpa








Às vezes eu me revolto pelas coisas que eu vejo acontecendo no mundo: tantas guerras e mortes, tantas crianças abandonadas... mas noutras, eu penso que as coisas estão exatamente da forma como deveriam estar. O mundo é um reflexo daqueles que vivem nele, e ele reflete – da mesma forma que um espelho – aquilo que a maioria de nós estamos projetando. 

Os países que são devastados pelas guerras são sempre os mesmos, e tem sido assim desde os primórdios da existência humana. Sinceramente sinto muito pelos que lá nasceram e convivem com esse estado de coisas, principalmente, pelas crianças; porém, ao longo de milhares de anos, nada fizeram para tentar mudar tal situação. Permanecem submissos, vitimados, cultivando dentro de si motivos racistas e “religiosos” para que tais conflitos continuem sendo sustentados. E ao serem recebidos em outros países como refugiados, a maioria deles não aceitam a cultura local, mas fecham-se em grupos radicais e protegem terroristas.

Desde muito cedo, somos submetidos à cultura da culpa, que nos é pregada através das religiões (Fora da caridade não há salvação) que pregam que devemos nos sacrificar pelas outras pessoas e fazermos por elas o que elas mesmas deveriam estar fazendo. Devemos doar mais do que podemos, sacrificando-nos da mesma forma que a viúva sacrificou-se no templo ao doar seu único óbolo. Mas ninguém sabe se, ao final daquele dia, a viúva passou fome, ou foi ajudada por alguém.  A política e seus partidos do povo fazem a mesma coisa: devemos tirar dos ricos e doar aos pobres, cuja única obrigação, é receber. Afinal, eles são vítimas da sociedade. 

Você é culpado pela situação deles. Eu sou culpada. Eles, não. 

A mídia também contribui sobremaneira para a cultura da culpa ao mostrar propagandas de ONGS e instituições de caridade, expondo crianças doentes e macilentas na África e dizer que nós devemos adotar uma delas, fazer doações e nos sentirmos culpados. O que a mídia não mostra muito, é que nos países africanos, a AIDS e a fome proliferam não apenas devido a governos corruptos, mas também porque as pessoas se recusam a usar preservativos por motivos “religiosos.” Porém, estes motivos religiosos não as impedem de colocar no mundo centenas de milhares de crianças que passarão fome, sofrerão e morrerão antes de completarem cinco anos de idade, e nem de manter gorilas fêmeas em cativeiro como escravas sexuais. E todo mundo já sabe que a AIDS é uma doença que surgiu através destas práticas. 

Mas a culpa é minha. 

Nós crescemos ouvindo os adultos dizerem que devemos nos sacrificar pelos que estão em volta. Fazer aquilo que nós amaríamos fazer, indo contra a vontade dos pais, é ingratidão. Existem muitas pessoas que se tornam profissionais medíocres, infelizes e insatisfeitos, pois seguem a carreira que os pais ou um dos pais lhes impuseram. E a cultura da culpa vai se expandindo dentro de nós, ao ponto em que, ao nos sentirmos felizes ou realizados, a culpa borre imediatamente a paisagem, fazendo com que a realização de nossos sonhos se transforme em sentimentos de amargura, egoísmo e irresponsabilidade: “Morar em uma casa assim quando tantos não têm onde morar? Comer em restaurante quando tantos não têm o que comer? Vestir roupas caras quando tantos estão nus? Ajudar animais de rua quando há tantas crianças que precisam ser adotadas (como se fosse a mesma coisa)? Passar o tempo livre descansando, viajando ou assistindo TV enquanto alguém na família precisa de nossa ajuda ( porque não soube organizar o seu tempo de forma mais inteligente)? Culpa, culpa, culpa... não é à toa que existem tantas pessoas deprimidas. A culpa corrói por dentro. 

Sem falar nos adultos que jamais amadurecem, não crescem, não souberam cultivar sua independência, sua inteligência emocional, e que continuam pendurados feito apêndices em algum membro da família, achando que é obrigação destes que os ajudem, façam as coisas para eles, paguem suas contas, vivam suas vidas. Porque afinal, quem deixaria de ajudar alguém tão fragilizado? Somente quem não tivesse coração! 

E tais pessoas usam da cultura da culpa a fim de conseguir que as outras mais fortes façam tudo por elas. Elas são os filhos que não pediram para nascer, ou os pais que vivem reclamando porque os filhos não ligam todos os dias. Elas são o amigo (a) que liga no meio da noite porque teve uma discussão com o namorado(a), ou o que vive pedindo dinheiro emprestado e nunca paga. Elas também são as tias que têm um ‘probleminha de saúde’ indefinido e que por isso não podem trabalhar, e as crianças ‘traumatizadas’ porque os pais são separados. Elas são os maridos violentos que logo se arrependem e prometem que não vão fazer aquilo nunca mais, e as mulheres que procuram por ajuda quando são espancadas, mas que viram feras quando alguém tenta colocar o agressor na cadeia. Elas são as pessoas frágeis, e são responsabilidade nossa – pelo menos, foi o que nos ensinaram.

Assim, de repente, vemos as pessoas “fortaleza” adoecendo e morrendo aos poucos de males como depressão, doenças cardíacas, dores na coluna, úlceras estomacais, e outras, todas elas causadas pela cultura da culpa. Uma culpa que a pessoa que adoece não tem realmente, mas que a sociedade ensinou-lhe que é dela. Na verdade, elas sofrem de vampirismo. Têm seu sangue, seu tempo, sua saúde e sua energia sugados pelos membros mais “frágeis.”  Elas adoecem porque ninguém pode viver várias vidas ao mesmo tempo. Já é muito difícil resolver os próprios problemas, quanto mais, os problemas de todo mundo. As dores na coluna e os problemas estomacais são o primeiro sinal. 

Não sou contra ajudar a quem precisa, mas aprendi a duras penas que ajudar não significa, jamais, substituir. Eu doo daquilo que eu possuo, nunca do que me falta; doo daquilo que eu tenho e que sei que não vou precisar. Eu faço doações das roupas que não preciso, do tempo livre que eu acho que posso doar, das palavras que eu acho que serão ouvidas. Também doo às crianças da África, mas não me sinto culpada pela situação delas.  Ajudo animais de rua quando eles cruzam o meu caminho, mas acho que recolher animais em minha casa quando não tenho condições de cuidar deles, não resolverá o problema dos animais abandonados; pelo contrário, só incentivará o abandono, pois as pessoas que recolhem animais passam a vida lidando com os que são abandonados nos portões de suas casas quase todos os dias.

Existem momentos em que todos precisamos de ajuda. Mas esses momentos não podem ser recorrentes, e muito menos, eternos. Não estique mais o seu braço para que bebam do seu sangue até que se fartem. Não faça mais isso para ninguém. Que cada pessoa aprenda a deixar de se vitimizar e seja responsável por seus próprios atos. Pode ser que depois de tomar esta decisão, você passe a ter bastante tempo livre; afinal, muitos se afastarão de você. Mas apenas os que realmente interessam ficarão.






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