Matamos toda a magia
Que ainda havia no mundo!
Cortamos as asas das fadas,
Banimos todos os anjos,
Enterramos gnomos e faunos...
Já não nos resta mais nada!
A meia-noite é calada,
Não existem mais portais,
Não há mais círculos mágicos
Que possam nos proteger.
O azul aveludado
Do coração das florestas,
Antes, tão misterioso,
Não conta com vagalumes
Ou mágicas criaturas.
As crianças riem das lendas
Que nossos avós nos contavam,
Não há monstros nos armários
Ou fantasmas sob as tendas,
Ninguém mais as observa
Na escuridão do quarto.
Das copas das velhas árvores,
Só as corujas nos olham,
Não há mais céu nem inferno,
Não há demônios a temer
Ou santos que nos atendam.
As princesas não mais beijam
As faces feias dos sapos,
Preferem os príncipes prontos,
Bem vestidos e engomados,
Belos e desencantados.
Não há mistérios no ar,
Os corações são tão rasos!
E a magia do viver
Transformou-se em mero acaso.