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quarta-feira, 3 de junho de 2015

CASAS FRIAS







Aqui em Petrópolis, é muito comum encontrarmos casas frias. Certa vez, minha irmã morou em uma, que ficava no bairro Duchas. Era até bonitinha, mas durante a noite, crescia um mofo peludo e verde sobre a porta da geladeira. Eu achava até bonito, embora fosse muito inconveniente. De manhã, ela saia limpando tudo com um pano.

Durante sete anos, eu mesma morei em uma casa onde não batia sol durante o inverno. No verão, era ensolarada, clara e muito arejada, mas quando chegava o mês de maio, o sol se escondia por trás das árvores que ficavam em um morro atrás da casa, e só voltava a dar as caras em meados de agosto... lembro-me que eu tinha que deixar as portas dos armários abertas ao sair, para arejar, e eles eram cheios daqueles produtos anti-mofo, espalhados em todas as prateleiras e entre os cabides. 

Na casa onde moro hoje, há alguns dias de inverno em que o chão da área de serviço se cobre de umidade. Ainda bem que esses dias são bem raros, e logo vão embora. E olha que a a minha casa é arejada e muito ensolarada!

 Passeando por algumas ruas de Petrópolis, como a Avenida Presidente Kennedy, a gente pode ver o musgo verde entre as pedras dos muros. Eu acho bonito, parece veludo.

Gosto do inverno, e dos lugares frios. Há muitas maneiras de se aquecer uma casa: podemos ter uma lareira, por exemplo, ou comprar um aquecedor elétrico. Fazer um bolo na cozinha, em um dia frio, também deixa tudo mais quentinho. Acho delicioso sentar-me no sofá, enrolada em um cobertor, a fim de assistir a um filme ou ler um livro! Ah, o privilégio de poder engatar em uma faxina sem suar! O trabalho fica mais leve e flui melhor.

À noite, a gente se enrola nos edredons e cobertores, e dorme o sono dos justos... sempre contando com a ajuda preciosa das pernas do cara-metade enroladas nas minhas.

No jardim, minhas orquídeas, as que eu mandei amarrar nas árvores, estão cheias de botões, e mal posso esperar para vê-las floridas... o ipê já prepara-se para florescer em setembro, as folhas caindo sobre o gramado úmido. Acordo pela manhã, e a paisagem está toda coberta de uma densa névoa branca, que deixa apenas os picos das montanhas de fora, cobrindo todo o resto, dando a tudo um toque surreal. E conforme a manhã avança, a neblina vai sendo dissipada, dando lugar a um sol que aquece sem exageros...

Hora de abrir as janelas e portas da casa, colocar mantas e cobertores sobre os peitoris das janelas, e pendurar os tapetes na varanda...




ADÉLIA PRADO







“Amor pra mim é ser capaz de permitir que aquele que eu amo exista como tal, como ele mesmo. Isso é o mais pleno amor. Dar a liberdade dele existir ao meu lado do jeito que ele é.” 








Casamento


Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.






"Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra."








Ensinamento

“Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
“Coitado, até essa hora no serviço pesado”.
Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.”







“Pior que medo de alma do outro mundo é o medo da alma do mundo do outro”







sábado, 30 de maio de 2015

Morrendo






Ando morrendo a cada dia,
Aos poucos, voluntariamente.
Ando morrendo de repente,
Sempre que posso, e que consinto.

E a morte não é inimigo,
Traz, cada vez, uma elegia
Intercalada a mil perguntas
Que eu respondo, se consigo.

E se não posso respondê-las,
Deixo-as todas bem guardadas
Naquela caixa amarrotada
Onde descansam os mistérios.

E a minha morte derradeira,
A que há de vir, a verdadeira,
Quem sabe, mostre o hemisfério
Onde se encontram as respostas.









sexta-feira, 29 de maio de 2015

A BELEZA ESTÁ EM TUDO!














TE DEVORO





Respiro fundo
E te provo,
Com os olhos
Te devoro,
Com a mente
Te possuo,
Toco leve
Com as pontas
Dos meus dedos
A bainha
Da tua roupa.

-Te adoro!

Tua voz
Me acende,
Tua risada
Me enternece,
Teu olhar
Me descasca
Tal qual fruta
Suculenta,
Saborosa,
Mato a fome
Do teu caule
Em minha rosa.





quarta-feira, 27 de maio de 2015

NADA







O nada
Nada diz,
Nada ouve,
Nada afeta,
Nada quer,
Nada oferta,
Nada sente,
Nada causa,
Nada sabe,
Nada aprende,
Nada ensina,
Nada acha,
Nada salva,

Nada fere.

Se cismo
Sobre o nada,
Já não é nada, 
É algo.

Se me afeta,
É algo,
Se me fere,
É algo,
Se me espeta,
É algo,
Se me ofende,
É algo,
Se provoca
Minha fala,
Meu discurso,
Minha crítica,
Minha fúria,
Meu sorriso
De desprezo,
Reação
Ódio ou asco,
Já é algo,
E o algo
É sempre mais,
Muito mais
Que apenas 
Nada.





EDUCAÇÃO








UMA PEQUENA COLETÂNEA DE FRASES SOBRE EDUCADORES E EDUCAÇÃO, GARIMPADAS NA INTERNET.





"Um excelente educador não é um ser humano perfeito, mas alguém que tem a serenidade para se esvaziar e sensibilidade para aprender." - Augusto Cury






"Nós nos recusamos a ser o que você queria que nós fôssemos. Somos o que somos, é assim que vai ser. Você não pode me educar." - Bob Marley




"Educar verdadeiramente não é ensinar fatos novos ou enumerar fórmulas prontas, mas sim preparar a mente para pensar." - Albert Einstein




"O que um professor estressado não entende mesmo é que é necessário educar com educação." - Sandro Alves Bilac




"Ensinar é aprender. Ensinar não é transmitir conhecimentos. O educador não tem o vírus da sabedoria. Ele orienta a aprendizagem, ajuda a formular conceitos, a despertar as potencialidades inatas dos indivíduos para que se forme um consenso em torno de verdades e eles próprios encontrem as suas opções." - Ivone Boechat




"O educador não se norteia pela capacidade de convencer, mas pelo despertar das possibilidades que permitem a cada um encontrar a própria resposta." - Luiz Roberto Bodstein





"O educador é um poeta da vida, mostrando aos seres humano que devemos gerir a emoção da vida." -  Congo




"Educar não é fazer repetidores, mas criadores de soluções novas aos problemas. É contribuir para que os alunos formulem perguntas e busquem respostas. Isso vai nos dar mais trabalho do que pensamos, porém os ganhos serão incalculáveis." - Edigleide Rabelo





"Não é querer escrever o tempo todo bonito, e sim tentar educar, incentivar a boa leitura e interpretação sem abscindir meus leitores."- Melissa Hadassah






E as melhores de todas, de Oscar Wilde: 


"A educação é uma coisa admirável, mas é bom recordar que nada do que vale a pena saber pode ser ensinado." - Oscar Wilde




"Vulgaridade: nome que damos ao procedimento dos outros. "
Oscar Wilde






terça-feira, 26 de maio de 2015

SOBRE PERDER UMA CASA






Gostaria de partilhar com vocês um trechinho do livro que estou lendo no momento, "Teu é o Reino," de Abilio Estévez. Nesta passagem, ele fala de alguém perdeu sua casa após uma tempestade, da dor e da sensação de vazio, orfandade e desproteção repentinas. Segue:

"...foi nessa hora funesta que Consuelo teve consciência de que ficara sem casa. Não existe perplexidade que se possa comparar. Acontece que quando uma casa é levada pelo mar, você não perde apenas um teto onde se proteger da intempérie, da chuva, do frio, do luar, não perde apenas o lugar onde sonhos, grandezas e mesquinharias estão a salvo do olhar (severo) do outro, de quem escruta e examina para descobrir em que parte do corpo se esconde sua fraqueza, onde você guarda o que não deve ser visível, acontece que você não perde só aquilo que protege e dá calor, o lugar que permite que você seja o mais você de todos os vocês que mostra, acontece que uma casa não é só o Lugar, aquele do refúgio e do pudor, uma casa é também o armazém das suas lembranças, onde você guardou as caixas de bombons, já sem bombons, cheias de cartas e fotografias, aquela imagem da modelo de revista a quem você quis se igualar, o lugar onde compartilhou quimeras e terrores, o lugar onde lavava a roupa (que é uma forma de purificação), e onde tomava banho (que é uma forma de se igualar ao Senhor), e onde dormia (que é uma forma de se aproximar do mistério), uma casa é também o lugar de defecação (que é a forma de ir se acostumando a devolver à terra o que é da terra), e o lugar do amor (que é uma forma de cada qual experimentar o gozo da expulsão do Éden), e o lugar onde você tem a ilusão de que uma porção do Universo lhe pertence, o único em que pascal deixava de sentir terror diante dos espaços infinitos, já que é também o lugar construído à sua escala, onde você não se sente uma mísera partícula num plano infinito no tempo e no espaço, é por limites ao Universo e dizer de modo categórico Este é meu lugar, e é bom porque é meu lugar. Assim explicou Consuelo aos seus parentes a sensação de ter perdido a casa."

A história de Consuelo e sua casa perdida continua de maneira comovente. Não é lindo este texto? 

Que todos que perderam  suas casas possam reconstruir o seu lar, e ter de volta essas paredes que nos guardam, dão conforto, privacidade e proteção. Que cada um tenha dentro de si, sempre, onde quer que estejam,  a imagem da casa, do lar verdadeiro, onde estão seus objetos mais queridos, suas lembranças mais amadas...



segunda-feira, 25 de maio de 2015

A WEB





A WEB é cheia de psicólogos, psiquiatras, cientistas comportamentais, videntes e especialistas em relacionamento humano. Só de ler o que alguém escreve, eles elaboram teorias inteligentíssimas sobre a sua personalidade, estilo de vida, gostos e caráter. São impressionantes, esses especialistas da WEB! Eles adoram escrever discursos sobre quem eles insistem em dizer que não são nada, que tem "inteligência mediana," são iletrados, gramaticalmente ignorantes , espiritualmente atrasados, ególatras e doentes mentais. Basta que alguém conteste as suas teorias incontestáveis, e pronto: lá vem eles! Precisam provar que estão com a razão, e para isso, usam como suporte os seus muitos anos de estudo, as palavras dos filósofos e sábios (que, segundo eles, nossas mentes medianas não são capazes de alcançar) e mandam ver nos xingamentos. A sabedoria é, realmente, muito temperamental!

De repente, aquele que apenas ontem nos seguia e elogiava, muda de ideia e passa a não gostar da gente, tudo por causa de três palavrinhas que, quando ditas online, passam a ser o foco de muitos desentendimentos, rixas e desafetos: "Eu penso diferente."

E quando isso acontece, é porque nós não compreendemos. Somos incapazes de alcançar a mente de algum grande filósofo e sábio da humanidade, morto há centenas de anos - que eles, naturalmente, compreendem como se tivessem vivido na mesma época que eles e os conhecido pessoalmente. Ah, nós somos apenas vermes ignorantes! 

Mas tem uma coisinha que eu não entendo: por que a "Sabedoria" perde tanto tempo a comentar sobre o que ela considera o dejeto, o nada, o ignorante? A sabedoria discute com a ignorância para quê? Autoafirmar-se como sabedoria? E a sabedoria necessita de autoafirmação? Eu sempre pensei que a sabedoria fosse tão sábia, mas tão sábia, que não perdesse tempo argumentando com os não-sábios, porque a sábia sabedoria deveria saber que um dia, à sua maneira, todo mundo acabará sabendo alguma coisa. Sempre achei que um dos atributos da sabedoria fosse, exatamente, a generosidade com aqueles que ela considera ignorantes. 

Na WEB, quando a sabedoria não consegue convencer seus "adversários" através de seus argumentos baseados em citações de famosos, ataca a sua gramática. Mas saber gramática não significa tanto nessas épocas de corretores de texto automáticos. Acho que o que eu aprendi de gramática até hoje já me serve bem, e como eu não tenho a menor intenção de tornar-me professora de língua portuguesa, assim está bom. Saber ou não saber  conjugar um verbo não deixa ninguém em posição superior ou inferior, principalmente quando a primeira pessoa se esconde atrás de uma terceira, conjugando um verbo impreciso e cheio de pronomes velados.

Mas, o que mais me deixa com vontade de rir, é quando a sabedoria aborda a ignorância com o seguinte discurso: "Bem que já tinham me falado sobre você!" E daí eu respondo: "E você não acreditou???"


quinta-feira, 21 de maio de 2015

PASSARINHO NA JANELA








Passarinho na janela

Olhando os tons da paisagem

Onde, há momentos, voava.



Descansa as penas cansadas,

Dobra o canto sob as asas

Pensando em não mais cantar...



O céu lá em cima se move,

As nuvens fecham o azul

-Ele não quer mais voar...



Mas vem o vento e segreda

Nos ouvidos pequeninos:



"A vida é abrir as asas,

É voar por sobre as casas,

É pousar nos parapeitos

Nos galhos dos pensamentos,



É molhar de mel o bico,

É deixar nascer o canto,

Aceitar e amar sem medos

Teu dom de ser passarinho...



Teu lugar não é aqui,

Vem comigo, e eu te levo

Nos meus braços, amiguinho..."



E o passarinho suspira,

Pois ouve a voz do destino

E com ela ele se vai.



Passarinho está bem alto,

Lá de cima, olhando o mundo,

Não mais se sente sozinho...




segunda-feira, 18 de maio de 2015

Casas da Infância






Onde mora a sua infância? Onde ela ficou?

Você já voltou à casa onde morava quando era criança? Na sua imaginação, talvez ela seja bem maior do que realmente era. Afinal, você cresceu. Lá ficaram os seus heróis,  seus melhores momentos e quem sabe, alguns segredos guardados sob as pedras do jardim ou a tábua do assoalho. 

Minha casa da infância ainda é acessível, pois uma de minhas irmãs mora lá. Mesmo assim, ela hoje está diferente. Porque aquela não é mais a minha casa. Pelo menos, não hoje. Se eu fechar os olhos, posso escutar o ruído da panela de pressão e minha mãe cantarolando na cozinha, ou o jogo ouvido por meu pai no rádio domingo à tarde, ou os latidos e miados dos muitos  cães e gatos que tivemos. Talvez eu ouça a voz da vizinha chamando minha mãe através do muro que dividia as casas, e os ecos de algumas de suas conversas. Pode ser que eu escute nossas vozes ecoando pelas paredes da casa. Não me surpreenderia se eu ouvisse meus amigos chegando e me chamando para ir brincar no "campinho" ou na rua. 

Mas se eu abrir os olhos e olhar em volta, verei que a casa da minha infância não existe mais. As paredes e o chão ainda estão lá. Alguns vizinhos ainda moram ali perto, outros mudaram-se, e ainda outros morreram. A casa que eu hoje visito é a casa de minha irmã.

A casa da minha infância só existe hoje em um único lugar: a minha imaginação.



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