Vem, chega mais perto e senta aqui comigo,
Dê-me a tua mão, e vamos contar as nuvens que passam...
Elas levitam e transformam-se em grandes animais,
Depois, desaparecem pouco a pouco, desmanchadas...
Assim é a vida: transformação e movimento,
E somos como as nuvens: passamos sem notar
Num céu ora claro, ora tempestuoso,
Crivado de estrelas que há muito já se apagaram...
-Ilusão! Eis o que debrua o limiar da existência!
Pois o olho só alcança aquilo que ele percebe,
Enquanto outras coisas vão ficando entre mistérios
Que a vista jamais capta, que o pensamento não vê!
Mas não é o momento de ficarmos tristes,
Ainda não, não enquanto passam as nuvens,
Enquanto as formiguinhas, enfileiradas, trabalham,
Enquanto os passarinhos voam de galho em galho...
Escuta: não existe uma canção passando com o vento?
Por dentro da tristeza, brotam sementes de alegria...
E tudo é passageiro, nada permanece,
E mesmo que a saudade nos alcance um dia,
Ainda não é o momento de ficarmos tristes!
Eu sei que pendem dos galhos da árvore da vida, gotas pesadas...
Que um dia, vão cair, acarretando-nos mágoas;
Mas por enquanto, desfrutemos da paz que ainda nos resta,
Pois não sabemos quando será o final da festa.
Ainda não é o momento de ficarmos tristes,
Digamos uma prece pelo que ainda existe...