witch lady

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sábado, 14 de setembro de 2013

LIXO EXISTENCIAL - MEU NOVO LIVRO





LIXO EXISTENCIAL - meu novo livro



Já disponível na amazon.com.br meu novo livro de poemas, Lixo Existencial.


Para quem acredita que em meio a todo lixo existe sempre alguma coisa reciclável.


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Obrigada!
Ana Bailune

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Cartas a Theo - Vincent Van Gogh - Parte I






Trechos do livro "Cartas a Theo," que consiste em cartas trocadas entre Vincent Van Gogh e seu irmão, Theo.







"É no cemitério que eu prefiro tomar a palavra, porque ali todos pisamos o mesmo chão, e não somente pisamos o mesmo chão, mas também sempre percebemos isto."






"Aquele que ama muito realiza grandes coisas, e o que se faz por amor está bem feito."
 


"Não conheço melhor definição da palavra arte do que esta: "A arte é o homem acrescentado à natureza."; à natureza, à realidade, à verdade, mas com um significado, com uma concepção, com um caráter, que o artista ressalta, e aos quais dá expressão, "resgata", distingue, liberta, ilumina."





"... o que se passa no íntimo revela-se exteriormente? Fulano tem uma grande chama queimando em sua alma, e ninguém jamais vem nela se esquentar, e os transeuntes só percebem um pouquinho de fumaça no alto da chaminé e seguem então seu caminho. E agora, o que fazer? Sustentar esta chama interior, ter substância em si mesmo, esperar pacientemente, e no entanto com quanta impaciência, esperar, dizia, a hora em que alguém desejar aproximar-se - e ficar? Que sei eu? Quem quer que acredite em Deus, que espere a hora que cedo ou tarde chegará."



"Um pássaro na gaiola durante a primavera sabe muito bem que existe algo em que ele pode ser bom, sente muito bem que há algo a fazer, mas não pode fazê-lo. O que será? Ele não se lembra muito bem. Tem então vagas lembranças e diz para si mesmo: Os outros fazem seus ninhos, tem seus filhotes e criam sua ninhada," e  então bate com a cabeça nas grades da gaiola. E a gaiola continua  ali, e o pássaro fica louco de dor.
"Vejam que vagabundo", diz um outro pássaro que passa, "esse aí é um tipo de aposentado". No entanto, o prisioneiro vive, e não morre, nada exteriormente revela o que se passa em seu íntimo, ele está bem, está mais ou menos feliz sob os raios de sol. Mas vem a época da migração. Acesso de melancolia - "mas" dizem as crianças que o criam na gaiola, "afinal ele tem tudo o que precisa." E ele olha lá fora o céu cheio, carregado de tempestade, e sente em si a revolta contra a fatalidade. "Estou preso, estou preso e não me falta nada, imbecis! Tenho tudo o que preciso. Ah! Por bondade, liberdade! Ser um pássaro como outros." Aquele homem vagabundo assemelha-se a este pássaro vagabundo... E os homens ficam impossibilitados de fazer algo, prisioneiros de não sei que prisão horrível, horrível, muito horrível. Há também, eu sei, a libertação, a libertação tardia. Uma reputação arruinada, com ou sem razão, a penúria, a fatalidade das circunstâncias, o infortúnio, fazem prisioneiros. Nem sempre sabemos dizer o que é que nos encerra, o que é que nos cerca, o que é que parece nos enterrar, mas no entanto sentimos não sei que barras, que grades, que muros. Será tudo isto imaginação, fantasia? Não creio; e então nos perguntamos: meu Deus, será por muito tempo, será para sempre, será para a eternidade? Você sabe o que faz desaparecer a prisão. E toda afeição profunda, séria. Ser amigos, ser irmãos, amar, isto abre a porta da prisão por poder soberano, como um encanto muito poderosos. 
Mas aquele que não tem isto permanece na morte. Mas onde renasce a simpatia, renasce a vida. Além disso, às vezes a prisão se chama preconceito, mal-entendido, ignorância, falta disto ou daquilo, desconfiança, falsa vergonha."





"Agora, uma das causas pelas quais eu estou agora deslocado - e por que durante tantos anos estive  deslocado - é simplesmente porque tenho ideias diferentes das desses senhores que dão cargos àqueles que pensam como eles."



MOMENTO




Me deixa dormir
No balanço frouxo desta rede,
Me deixa matar a sede
De por um momento, não existir!

Me encerro toda
Completamente
Neste momento.

Não quero nada,
Não tenho medo,
Nem do tempo.





É só o agora
Que me importa,
Abro as janelas,
Arranco as portas
Do meu viver.

Ser, 
Agora,
Calor do sol,
Beijo de brisa,
Canto de pássaro.




Não Gostas de Mim?





Ponha os teus olhos
Em outro lugar,
Vire teu rosto
Quando eu passar.
Esqueça meu nome,
Ignore tua fome
De me decifrar!

O que te vicia,
O que te convida
A vir visitar-me,
Se minhas palavras
Te enchem de asco
Te escandalizam,
E queimam tua carne?

Recolha tua câmera
De fotografar
As almas humanas!
Ela anda sem foco,
Sem perspectiva,
Retorcendo fotos,
Maculando imagens,
Retratando intrigas!

Não gostas de mim?
-É só não me olhar,
Tão fácil, tão certo!
Eu tenho o direito
De despedaçar-me,
De reescrever-me
Nas linhas do verso!

Pareces um cão
Faminto e egoísta
Que não larga o osso,
Mas que rói as patas...
Te alongues de mim!
Por que vens aqui,
Se aquilo que eu digo
Tanto desagrada?

Se eu mato os meus versos,
Se eu sacrifico
Aquilo que chamas
De 'vera poesia,'
Faça o teu trabalho,
Macaco, te ajeites
No mofo seguro
Dos teus próprios galhos!







IRIS




O sol cintila entre os meus cílios,
E eu vejo o mundo
No entreabrir dos olhos.

Mora uma menina
Nas minhas pupilas.
Seu nome, é Iris,
E ela às vezes
Afasta os cílios,
Sai pela fenda
E vem brincar no mundo.

Faz as montanhas
De tobogã,
Pousa nas árvores,
Deita-se nas nuvens,
Pula amarelinha
Nas entrelinhas
De algum poema.

Recolhe as cores
E o cheiro das flores,
Pega, nas mãos em concha,
A chuva que cai
E aspira fundo
A terra molhada.

Cata pedacinhos da vida
Guardando tudo
Nos bolsos do vestido.

E quando ela volta
Fechando os cílios,
Espalha no chão tudo aquilo
E faz para si
Um caleidoscópio.

Vento Maldoso








Soprou um vento maldoso,
Espalhando nuvens negras sobre tudo.
A paisagem ficou cinza,
O azul do céu
Separou-se da terra.

Mas veio um sol, e brilhou,
Brilhou, derretendo as nuvens...
E o vento enfurecido
Em sua vingativa sina
Derrubou casas e árvores.

Deixou um rastro de ódio
Por onde havia passado.

Mas a natureza, a mãe,
Aos poucos, cuidou de tudo,
Plantando árvores novas,
Reconstruindo os regatos,
Trazendo de novo os pássaros.

E as árvores cresceram,
E as flores rebrotaram,
E os frutos renasceram.

Vento maldoso de enxofre,
Jamais vencerás a vida,
Não apagarás as cores,
Não calarás, dos pássaros o canto,
Não tornarás amargo
O mel dos beija-flores! 



quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Arte - Uma Reflexão






Acredito na beleza da vida, e acredito na arte. Mas que o objetivo de um artista seja, não o de destacar a si mesmo através de sua arte, mas de destacar sua arte através de si mesmo, colocando-a sempre à sua frente.

Pois ninguém fica para a posteridade; apenas a arte. Talvez fique um nome sob uma pintura, escultura, texto ou música, mas poucos saberão quem foi aquele artista no futuro, e menos ainda, alguém se preocupará em saber. Percebo muitas vezes que os mais jovens desconhecem quem foram os artistas mais antigos. Muitas pessoas abaixo de trinta anos não tem ideia de quem tenha sido Maquiavel, embora usem a expressão 'maquiavélico' para referir-se a alguém. Durante minhas aulas, às vezes falo de algumas pessoas famosas do passado recente, e meus jovens alunos não sabem quem estas pessoas foram, embora possam reconhecer alguma música, filme, livro ou outro trabalho artístico feito por eles.  E algumas destas pessoas ex-famosas que menciono, ainda estão vivas! 

Todo sabem quem escreveu Romeu e Julieta, mas alguém sabe, realmente, quem foi Shakespeare? Tudo o que sabemos dele está nos livros de história! E os livros de história matam a essência particular dos personagens.

Ninguém mais se lembra de como era Shakespeare, pois aqueles que conviveram com ele - sua família, amigos, conterrâneos - estão todos mortos. Não ficaram as rugas do seu rosto, o cheiro de sua pele, a maneira como ele olhava o céu de manhã, a voz, o riso, o choro. Sua essência morreu junto com ele, e aos poucos, foi apagada pela borracha do tempo. Sua obra ainda permanece, mas seus personagens não são ele.

O mesmo se dá com todos os artistas de todos os tempos. Ainda mais nos dias de hoje, onde a fama é artigo de consumo, onde pessoas aparecem e desaparecem da mídia com a rapidez de um trovão. Hoje, conhecido e celebrado; amanhã, totalmente relegado ao anonimato. Não vejo ninguém nos dias de hoje que eu possa imaginar como sendo reconhecido daqui a cinquenta anos.

Há as obras, e as melhores permanecerão por mais tempo. Mas seu destino é o mesmo: serão esquecidas.

Cedo ou tarde,  tornar-se-hão ruínas pelas quais alguém um dia passará e indagará: "Quem viveu aqui?  Quem cantou esta música? Quem pintou este quadro? Quem ergueu estas pilastras?" E mesmo que as ruínas sejam escavadas, e se encontrem os esqueletos e objetos daqueles que lá viveram, apenas a morte terá sido encontrada. Nunca mais os risos, os passos, as vozes, os olhares, os pensamentos, as palavras, os cheiros, o por do sol nos telhados daquelas casas e ruas que antes fervilhavam de vida.

O destino de tudo é a morte e o esquecimento, e eles se deitam sobre as pessoas e suas criações como a poeira sobre os móveis de um cômodo que não é mais usado.



Se te abaixasses, montanha - Cecília Meireles








Se te Abaixasses, Montanha




Se te abaixasses, montanha, 
poderia ver a mão 
daquele que não me fala 
e a quem meus suspiros vão. 

Se te abaixasses, montanha, 
poderia ver a face 
daquele que se soubesse 
deste amor talvez chorasse. 

Se te abaixasses, montanha, 
poderia descansar. 
Mas não te abaixes, que eu quero 
lembrar, sofrer, esperar. 






Cecília Meireles, in 'Poemas (1947)'

Chá




Chá


Chá de maçã com pouco açúcar,
Torradas com manteiga e mel...
Pela janela, um pedacinho
Uma nesguinha azul de céu.

De gole em gole, sorvo o chá
Que tem um gosto de passado,
No fundo da xícara, memórias
Com o açúcar cristalizado.

Licor de chocolate; um trago,
O friozinho pela fresta...
O crepitar do fogo, as chamas,
Dançando na lareira, em festa.

Passa por mim a vida inteira
Entretecida aos fios de lã
Da manta que me agasalha
Enquanto eu mordo uma maçã.

No corredor, o tique-taque
Quebra o silêncio dessa tarde.
A casa viva me vigia,
E eu adormeço, eu adormeço...

Nem mesmo sei se é de verdade
O chá, o mel, o chocolate...
Na sonolência eu me esqueço...
Até que um cachorrinho late.






MENINA








MENINA


Levava o carinho nas pontas dos dedos,
E todo o frescor da vida brotava...
Menina brincando, com a paz sonhava
Sem dores ou cismas; menina sem medo.

Mas veio o inverno que enregelou
As telas e cores que a artista pintou...
Rasgou-se o vestido, turvou-se-lhe a vista
Das lágrimas tantas que ela derramou!

Cresceu a menina, murcharam as flores
Daquele jardim de amor que plantou
Chegou a saudade, e junto, a dor.

As pedras jogadas feriram-lhe a fronte
E jaz no passado o que dela restou:
História esquecida... haverá quem a conte?


terça-feira, 10 de setembro de 2013

EPIGRAMA






EPIGRAMA


Adoro Cecília Meireles. Ela foi a primeira poeta que li por livre e espontânea vontade, sem ter sido por imposição dos professores de Língua Portuguesa e Literatura. Ainda era criança, e eu a conheci ao passar por uma banca de livros usados, no calçadão das Lojas Americanas ("point" famoso entre os jovens naquela época). O livro era "Olhinhos de Gato." Já li e reli aquele livro tantas vezes... e nunca me cansei dele. A poesia e a prosa de Cecília Meireles falam ao coração de quem as lê de maneira suave e eficaz. Hoje, ainda tenho aquele livro, e mais alguns que adquiri ao longo da vida.

Eu sempre ficava intrigada com os vários poemas de Cecília cujos títulos eram "Epigrama." O dicionário define: 

Por J. Argemiro (SP) em 24-07-2009


O vocábulo epigrama era de uso comum no latim clássico (de onde foi absorvido pelo português), mas apresenta etimologia grega. Compõe-se do prefixo epi, que neste caso quer dizer em cima de, sobre, acoplado ao elemento de composição grama , que aqui tem o sentido de sinal ortográfico, inscrição, glosa, adendo, anotação. Epigrama, pois, quer significar qualquer mensagem gravada em cima de alguma obra ou objeto (vasos ornamentais, monumentos, esculturas, lápides, muros, livros, paredes, tumbas etc.), em forma de grafitagem caligrafada, inscrições, epitáfios, dedicatórias ou identificação de produção artística. Na literatura, representa o gênero poético criado na Grécia e popularizado em Roma, consistente em poesias curtas (alguns poucos versos ou estrofes) de conteúdo concentrado e incisivo, de fácil memorização e agradável leitura, geralmente marcadas pelo humor satírico mordaz ou zombeteiro, crítica social, maledicência pessoal, malícia picante ou duplo sentido. São idéias, pensamentos, máximas, mexericos, intrigas ou anedotas redigidos em formatação poética de escala textual reduzida e alta densidade de conteúdo com desfecho impactante (similar à chave de ouro dos sonetos). Em português há o coletivo acantologia (coleção ou antologia de epigramas).

Alguns exemplos de epigramas poéticos: 1) O caminho por onde se sobe / é o mesmo por onde se desce (Heráclito) 2) O doutor Saracura / a curar começara; / mas enquanto ele cura / o doente não sara (Pe. Correa de Almeida).3) Sou político e me arranjo / no ninho da cobra-cega. / Parte de mim soca o anjo / que a outra parte carrega (José Argemiro); 4) ?Ai, Maria! Vem depressa, / desaperta este culote! / Eu me sufoco, ai que temo / estourar como um foguete! / - Nanhanhãzinha está tão bela! / Mas, enfim, dá tantos ais ... / - Oh, espera! Estou bonita? / Pois, então, aperta mais. (Joaquim Manoel de Macedo).

Eis aqui um deles, de Cecília Meireles:

Epigrama n. 12

A engrenagem trincou pobre e pequeno inseto
E a hora certa bateu, grande e exata, em seguida.

Mas o toque daquele alto e imenso relógio
dependia daquela exígua e obscura vida?

Ou percebeu sequer, enquanto o som vibrava,
que ela ficava ali, calada mas partida?

E também:

Epigrama n.10

A minha vida se resume
desconhecida e transitória,
em contornar teu pensamento.

sem levar dessa trajetória
nem esse prêmio de perfume
que as flores concedem ao vento.


Enfim; Cecília, com toda a sua elegância e sabedoria, construía lindos epigramas.

Mas um de meus poemas favoritos dela, é "Criança." Forte, pungente. Já o transcrevi em uma de minhas páginas. Também aprecio demais este, que não é um epigrama, pois que é longo demais, mas encerra o mesmo tom irônico e sarcástico dos epigramas:

Gargalhada

Homem vulgar! Homem de coração mesquinho!
Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.
Dobra essa orelha grosseira, e escuta
O ritmo e o som da minha gargalhada:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Não vês?
É preciso jogar por escadas de mármore baixelas de ouro,
Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais,
vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas,
destruir as lâmpadas, abater cúpulas,
e atirar para longe os pandeiros e as liras...

O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada.

Mas é preciso ter baixelas de ouro,
compreendes?
-e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.
E as lâmpadas, Deus do céu!
E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trêmulas... 

Escuta bem:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Só de três lugares nasceu hoje esta música heróica:

Do céu que venta,
Do mar que dança,
e de mim.

Belíssimo, não?

Uma outra característica da poesia de Cecília Meireles, é o verso livre, solto, sem a preocupação obsessiva com métricas e rimas. Alguns deles, são quase prosas poéticas. Como em Taverna, que colocarei aqui em um pequeno trecho:

Bem sei que, olhando pra minha cara,
pra minha boca triste e incoerente,
pros gestos vagos de sombra incerta
que hoje sou eu,
minha loucura se faz tão clara,
minha desgraça, tão evidente,
minha alma, tão descoberta,
que pensam: "Este, não bebeu..." (...)

Maravilhosa!


Parceiros

Wyna, Daqui a Três Estrelas

Este é um post para divulgação do livro de Gabriele Sapio - Wyna, Daqui a Três Estrelas. Trata-se de uma história de ficção científica, cuj...