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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

INFORMAÇÕES ÚTEIS

Copiado da Delegacia de Crimes Virtuais
 CONHEÇA SEUS DIREITOS!

Calúnia / Injúria / Difamação



SaferNet Brasil só pode encaminhar às autoridades competentes as denúncias de crimes contra os Direitos Humanos cuja ação penal seja pública e incondicionada à representação. Por isso a SaferNet só recebe por meio daCentral de Denúncias os casos de Pornografia Infantil, Racismo, Homofobia, Xenofobia, Apologia e incitação a crimes contra a vida e Neo Nazismo.

Os crimes de:
Ameaça (art. 147 do Código Penal);
Calúnia (art. 138 do Código Penal);
Difamação (art. 139 do Código Penal);
Injúria (art. 140 do Código Penal);
Falsa Identidade (art.307 do Código Penal);

dependem, por determinação legal, de queixa realizada pela própria vítima. Estes crimes, mesmo cometidos pela Internet, devem ser denunciados pela vítima na delegacia mais próxima da residência dela ou em uma delegacia especializada em crimes cibernéticos.

Apesar de não receber denúncias destes crimes, a SaferNet sugere as seguintes orientações para ajudar as vítimas nestes casos:

1. Preserve todas as provas

Imprima e salve:
o conteúdo das páginas ou "o diálogo" do(s) suspeito(s) em salas de bate-papo,
mensagens de correio eletrônico (e-mail) ofensivas. É necessário guardar também os cabeçalhos das mensagens;
Preserve as provas em algum tipo de mídia protegida contra alteração, como um CD-R ou DVD-R;
Todas essas provas ajudam como fonte de informação para a investigação da polícia;

No entanto, essas provas não valem em juízo, pois carece de fé pública. Uma alternativa é ir a um cartório e fazer uma declaração de fé pública de que o crime em questão existiu, ou lavrar uma Ata Notarial do conteúdo ilegal/ofensivo. Esses procedimentos são necessários porque, como a Internet é dinâmica, as informações podem ser tiradas do ar ou removidas para outro endereço a qualquer momento.

Não esqueça: A preservação das provas é fundamental. Já houve casos de a Justiça brasileira ter responsabilizado internautas que não guardaram registros do crime on-line do qual foram vítimas.

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2. Procure a Delegacia de Polícia

De posse das provas, procure a Delegacia de Polícia Civil mais próxima do local de residência da vítima e registre a ocorrência. Você também pode ir a uma Delegacia Especializada em Crimes Cibernéticos.
3. Solicite a remoção do conteúdo ilegal e/ou ofensivo

Para fazer esta solicitação, envie uma Carta Registrada para o prestador do serviço de conteúdo na Internet, que deve preservar todas as provas da materialidade e os indícios de autoria do(s) crime(s). Confira modelo de cartasugerido pela SaferNet Brasil.


Entenda a diferença entre os tipos de crime na Internet


Ameaça (art. 147 do Código Penal):
- Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente procede mediante representação.

Calúnia (art. 138 do Código Penal):
- Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

Difamação (art. 139 do Código Penal);
- Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Injúria (art. 140 do Código Penal):
- Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião, origem ou à condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 1997)


Falsa Identidade (art.307 do Código Penal):
- Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.



A ação penal, no casos de Calúnia, Difamação e Injúria na Internet, é privada ou pública condicionada à representação, e depende, por determinação legal, do registro de uma queixa-crime que deve ser formalizada perante uma autoridade policial.


Entenda a diferença entre os tipos de ação penal:


Privada: quando a lei confere somente e *exclusivamente* à vítima a legitimidade para a propositura da ação penal. Normalmente, em tais casos a existência da ação criminal diz respeito tão somente à pessoa da vítima. Entre os crimes de ação penal privada que demandam o comparecimento a uma delegacia de polícia ou juizado especial criminal estão: crimes contra a honra: injúria, calúnia, difamação.


Pública incondicionada: quando somente o representante do Estado, o Ministério Público, pode intentar a ação penal independentemente da manifestação de vontade de quem quer que seja. Para tanto, basta haver indícios suficientes de autoria e prova da materialidade do(s) crime(s). É o caso de todos os crimes contra os Direitos Humanos, objetos de denúncias anônimas recebidas pela SaferNet Brasil.


Pública condicionada à representação: quando o Ministério Público possui legitimidade para intentar a ação penal somente após a permissão expressa da vítima. Tal previsão legal existe para proteger a imagem e a vítima pois, em determinados casos, poderá existir demasiada exposição.

Exemplos: crime de ameaça e corrupção de menores.


quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Califórnia




Eis o meu texto "Califórnia", vencedor do concurso de contos do blog Gândavos, de Carlos Lopes. Em meio a tantos autores competentes, fico muito feliz e agradecida por ter vencido o concurso!


CALIFÓRNIA


Pisava no chão seco e farinhento da vila de Córrego Seco desde que nascera. Nome mais apropriado para um lugar, não existia. Tudo era tão seco, que até mesmo o carcará tornara-se pássaro raro. Somente os que, como Joana, não tinham outra alternativa, continuavam vivendo ali. Ela não conhecia outra vida, tendo gasto em seu caminhar, muitas solas de chinelo. De sol a sol, de solo a solo, de cacto a cacto. Sua magreza alongava-se ainda mais na sombra projetada no chão pelo sol escaldante. No alto da cabeça, carregava uma lata d’água barrenta que tinha ido buscar a dois quilômetros da sua casa. Passava pelas ruínas da velha igreja sem notar, como quem passa por uma fé que deixara de existir.
Tinha apenas vinte anos de idade, mas aparentava quarenta. Em fila, seguiam-lhe seus três meninos, aonde quer que ela fosse. O pai? Partira para a cidade grande em busca de uma vida melhor, deixando apenas uma promessa: “Um dia, eu mando buscar ocês.” Nunca mais voltou. Nunca mais deu notícias. Também, que notícia poderia chegar àquela lugar esquecido por Deus? 
Joana nem sentia saudades do marido. Tinha antes muitas outras coisas a sentir: fome, sede, cansaço, desesperança, e um medo que crispava-lhe o estômago: o de ver morrerem seus filhos. Todos os dias, chegavam-lhe histórias de crianças que morriam. Às vezes, passava um cortejo na porta de casa, um pequeno bando de gente maltrapilha carregando um pequeno caixão.
Certa manhã, antes mesmo de clarear, Joana acordou com um sobressalto: tivera um sonho ruim. Vira um de seus meninos dentro de um caixão. No sonho, estava em uma sala vazia e escura, onde, bem no meio, havia um caixão cercado de velas. Ela foi se aproximando devagar, com medo do que fosse ver, enquanto ouvia uma risada sardônica atrás de si. Sentiu um arrepio na nuca, e quando chegou bem perto, levou à mão ao peito e olhou: lá estava seu mais velho! 
Joana levantou-se correndo, e foi olhar seus meninos, e ao ver que dormiam pesadamente na esteira de palha, deu um suspiro de alívio; ainda não era naquele dia! 
Na noite seguinte, teve o mesmo sonho. A única diferença, é que o menino no caixão era o seu do meio. E na terceira noite, o sonho repetiu-se, mas era o seu mais novinho que estava morto. Joana achou que aquilo era um sinal; tinha que sair dali! Precisava ir embora, pois beber água barrenta e comer farinha com lagarto cozido não era vida para menino. Mas ir embora para onde, meu Deus? Não tinha nada, não sabia ler, mal sabia falar direito... e enquanto cismava, andando de um lado para o outro debaixo do sol, à porta de seu casebre, enquanto os meninos comiam feijão com farinha, veio de repente uma ventania; e com a ventania, uma folha de papel, uma página de revista que grudou no seu rosto.
Surpresa, Joana pegou o pedaço de papel e olhou: era uma fotografia, uma imagem de um lugar onde havia um jardim verde e exuberante, cheio de flores coloridas, junto a um rio azul enorme de lindo. Havia também muitas pessoas felizes, e em uma fotografia menor, mesas com toalhas brancas cheias de pratos de comidas que ela nunca tinha provado, e um sorridente homem de branco que era tão bonito, que só podia ser um anjo de Deus! Ela nunca tinha visto tanto verde na vida, nem mesmo na época da chuva! Notou as letras sob a foto, e achou que elas deveriam dizer o nome do lugar na fotografia; decidiu que fosse aonde fosse, era para lá que ela iria! Como? Isto não importava; sentiu sua fé renascer, e da mesma forma que Deus lhe mandara a resposta, também havia de levá-la até o lugar.
Foi até a casa do ‘seu Tinoco’, o único por ali que sabia ler, e entregou-lhe a fotografia. O velho olhou-a, e após seguir as letras com o dedo, devolveu-lhe o papel, dizendo: “Esquece, filha. É longe. Ocês nunca vão chegar lá!” Mas Joana insistiu: “Me diz o nome do lugar, me diz onde é, ‘seu’ Tinoco. O resto, é com nós!” O velho balançou a cabeça, e disse com enfado: “Califórnia. É esse o nome.” Joana nem perguntou mais nada: voltou para casa, e juntando as poucas coisas que tinham, mostrou a fotografia e anunciou aos meninos, que se entreolharam, animados com a sua primeira aventura: “Se apronta, porque nós vai pra Califórnia.” E partiram naquela mesma manhã. Joana nem se deu ao trabalho de fechar a casa. No chão, o vento derrubou a única fotografia amarelada que o marido lhe deixara. ‘Seu’ Tinoco, da porta de seu casebre, viu-a partir em direção ao deserto, seguida pelas três crianças, carregando uma grande trouxa de roupa na cabeça. Ele apertou os olhos, enquanto a imagem dos quatro desaparecia, serpenteando com o calor que brotava do solo.
Meses depois, um homem caminha pelo chão árido de Córrego Seco, dirigindo-se à casa. Traz uma pequena mala de viagem, e muitas saudades e lembranças. Está feliz, pois conseguira arranjar trabalho de jardineiro na casa de um senhor muito poderoso e tão bondoso quanto rico, lá na cidade, no sul do país. Logo que conseguiu o emprego – depois de morar nas ruas, trabalhar em muitos canteiros de obra, sem carteira assinada e receber um salário abaixo do mínimo, passar muita necessidade e até mesmo fome, João - o marido de Joana- finalmente conseguira fugir do lugar onde era mantido como trabalhador escravo. Em sua fuga, acabou indo bater à porta de seu benfeitor, que vendo seu estado emocional lastimável e seu perigoso nível de desnutrição, decidiu acolhê-lo, cuidar de sua saúde e oferecer-lhe trabalho em sua casa.
Assim que ficou sabendo de sua história, deu-lhe dinheiro e mandou que fosse buscar sua família, em Córrego Seco. As crianças iriam frequentar uma escola, e sua Joana poderia ajudar nos serviços de casa.
Mas quando João chegou, não viu sinal de seus filhos e de sua Joana. ‘Seu’ Tinoco deu-lhe as notícias: “Eles foram embora. Pra Califórnia.” Agoniado, João indagou: “Mas... quando?” Seu Tinoco, montando um cigarro de palha, respondeu: “Faz uns mês... foram naquela direção!” 
Ao ver que ‘seu’ Tinoco apontava a direção do deserto, João sentiu seu coração encher-se de agonia. 
Voltou para o casebre. Deitou-se na esteira de palha semicoberta pela areia, e chorou, desejando do fundo de seu coração, que sua mulher e seus filhos tivessem conseguido alcançar a Califórnia.

Carta à Amiga







Carta à “Amiga”



Tentei responder seu email, que chegou-me em uma hora bastante difícil, mas infelizmente, quando apertei ‘enviar’ ele foi imediatamente devolvido. Como não posso respondê-lo no outro site, faço-o aqui em meu blog, onde posso expressar-me livremente, e posso apenas esperar que você o leia.

Você me falou da importância do perdão e de seguir em frente, fazendo meu trabalho como venho fazendo e ignorando ofensas indiretas. Não costumo ficar em um canto, reclamando e choramingando enquanto me apedrejam; mesmo assim, tenho procurado ser tolerante, pois a vida me ensinou que certas coisas não valem a pena, e quando eu me levanto para me defender, é porque a coisa foi longe demais. Comparando minhas reações de hoje às minhas reações do passado, sempre intempestivas, vejo que já andei um bom caminho na direção da qual você fala, mas ainda não consegui atingir o nível que você me propõe. Quem sabe, um dia? Enquanto isso, não sufocarei meus sentimentos e reagirei sempre de forma eficaz contra os que me caluniam.

Enquanto os tais textos estavam sendo mantidos em um nível indireto, fui tolerante e ignorei; logo em seguida, eles passaram a conter transcrições de palavras que eu postava, e mesmo não mencionando meu nome, a pessoa em questão referia-se a mim (hoje tenho certeza absoluta de que é a mim que ele se referia) usando palavras de baixo calão que não vou colocar aqui; Teve a ousadia de intitular uma de suas aberrações como “Senhora ‘A’”, mas mesmo assim, decidi acreditar que existem por aí muitas pessoas cujos nomes começam com a letra ‘A’, e eu ignorei. Ele comentava seus próprios textos, incitando a curiosidade dos que os liam, insinuando que, a qualquer momento, ia ‘dar uma lição’ em seu desafeto – eu. Referia-se a fatos de minha vida, como por exemplo, o de eu nunca ter sido mãe, escrevendo grosserias em relação à minha vida sexual – da qual ele nada sabe, e jamais saberá - oferecendo seu ‘brinquedinho’ para que eu o usasse, alegando que eu o desejava. Existe coisa mais torpe, mais nojenta? Mesmo assim, eu ignorei, durante meses, achando que eu poderia estar enganada.

Para mim, o menor argumento, o mais torpe, o mais nojento e repugnante que um homem pode usar para defender-se de uma mulher (uma que nem o está atacando), é o tamanho de seu pênis e seus ‘méritos’ sexuais. Isto, em minha opinião, denota uma insegurança latente quanto à própria sexualidade, além de ser uma enorme grosseria referir-se a qualquer mulher nestes termos. Tenho muita pena da esposa deste sujeitinho.

A época mencionada por ele, na qual eu teria começado meus ‘ataques’ e ‘plágios’ aos seus escritos, começou mais ou menos em dezembro – época na qual eu estava, a maior parte do tempo, acompanhando minha mãe em um hospital e uma outra pessoa de minha família em outro, e quase nem tinha tempo para pensar em amenidades. Minha mãe faleceu no dia 1 de janeiro de 2013, mas nem mesmo isto fez com que ele parasse com suas insinuações e ataques, que culminaram logo após a publicação de meus livros virtuais.

Ele passou a fazer ironias quanto ao fato de eu ser uma autora e referiu-se com desdém à minha profissão de professora, de maneira a por em dúvida se eu realmente a exerço.

Mas o que realmente culminou em uma reação de minha parte, aconteceu há dois dias, quando ele afirmou em uma de suas aberrações rebuscadas as quais ele chama de textos, que eu teria desejado a sua morte e a morte de seu bebê recém-nascido. Ah, eu não poderia engolir mais esta! Eu jamais fiz ou faria tal coisa, nem que ele fosse meu pior inimigo, pois eu sei que desejar o mal à outra pessoa é desejá-lo a si mesmo. Em minha compreensão, aquilo que desejamos ao outro volta para nós triplicado, mas não é apenas por isso que eu não desejo o mal às outras pessoas; é uma questão de princípios. 

Fiquei achando que ele poderia estar afirmando tal barbaridade ao meu respeito através de e-mails, e achei que era hora de eu tomar uma posição.

Minha primeira providência, foi a de fotografar todos os seus textos que se referiam a mim, inclusive o que tem o título de “Senhora A”, e posteriormente, o seu penúltimo, que foi retirado pela administração do site, no qual ele usava meu nome e sobrenome. Guardei-os em meus arquivos de blog e em meu computador. Sei que abrir um processo contra alguém é algo cansativo e dispendioso, mas caso ele continue a manifestar-se contra minha pessoa, não hesitarei um só segundo em acionar a delegacia de crimes virtuais e acabar com sua festa. Por isso, reunir provas e arquivá-las devidamente foi minha primeira providência.

Depois, acionei a administração do site e denunciei seu último texto, que foi retirado. Nem fiz questão de que ele retirasse os muitos outros que escreveu sobre mim. Podem ficar lá em seu mural, alertando as pessoas sobre quem ele realmente é. Igualmente, a administração solicitou que eu retirasse meu texto, “Será que é para mim,” no qual eu pedia explicações sobre se a pessoa a quem ele se referia em seus escritos era mesmo eu – ainda dei a ele uma chance de se retratar. A este texto, ele deixou um comentário (que também arquivei) afirmando minhas suspeitas.

Nestes momentos, a gente fica se perguntando por que estas coisas acontecem. E não acontecem apenas comigo, pois a todo momento, leio relatos de pessoas que estão passando por coisas parecidas na internet. Escrever é uma grande responsabilidade, e um grande perigo, pois jamais sabemos se o que escrevemos poderá atingir negativamente a alguém, mesmo que nosso trabalho não tenha esta intenção. Mas quando isto acontece, há uma grande chance de que tudo tenha sido apenas um mal-entendido, e comunicar-se com o escritor pode ser a única maneira de desfazê-lo. No meu caso, eu não pude, já que estava bloqueada na página em questão, e não tinha nenhum endereço de email do sujeito.

Mas a vaidade de quem lê, na maioria das vezes, é o motivo para estes desentendimentos; recentemente, fui quase trucidada por uma senhora apenas porque deixei um comentário na página de um de seus desafetos. E eu nem sabia que eles estavam brigados! Também causa desentendimentos a mania de achar que as pessoas estão copiando o que escrevemos, apenas porque opinamos diferentemente sobre um assunto que a pessoa abordou. E às vezes, nem lemos o texto que a pessoa escreveu! 

Estou relendo “O Retrato de Dorian Gray.” Ontem à noite, uma frase do personagem Henry tocou-me profundamente: “Todo efeito que produzimos nos traz um inimigo. Para sermos populares, devemos ser medíocres.”

Bem, jamais serei deliberadamente medíocre a fim de contentar alguém. Continuarei fazendo meu trabalho, enquanto o mesmo for para mim uma diversão e uma necessidade, e seguirei sempre em frente, deixando para trás estas coisas abomináveis que acontecem e sempre acontecerão. 

Sei que sou malquista por muitos, justamente porque não deixo barato as ofensas que me dirigem, mas não vou ‘fazer amigos’ através do silêncio ao bullying virtual. Acho que o bullying tem que ser revelado, o bully tem que ser exposto, porque às vezes ele pode estar escondido atrás de uma conduta aparentemente adorável, simpática e  sábia. O bullying pode vir daqueles cuja verborragia impressiona aos incautos, encanta aos sonhadores e engana aos mais sagazes. 

Não vou compactuar com esse tipo de coisa, e jamais protegerei canalhas atrás de minha própria reputação.

Obrigada pela sua mensagem, e é isto que eu tenho a dizer.



Choraminguado






Choras
Minguado
Às janelas
Do passado.

Recolhes
As pedras,
Refregas,
Medras.

Resfolegas
Fuças
As gentes
Que antes
Trazias
Aos dentes.

Finges
Que sentes
O que jamais 
Sentes.

Choramingas,
Respingas
Um sangue
Demente.

E então,
De repente,
Te mostras
Carente!

Sob
Tuas solas,
As carnes
Da gente.

Os nossos
Pedaços
Por entre teus dentes.

Na lua da unha
O sangue pisado
E choras,
E comes
O bolo
Solado,

Que é feito
De um trigo
Deveras
Mofado.

E à alma
Que assolas
Te sentes 
Vingado!

E choras, e choras,
Mas choras
Minguado.

Fingido,
Fingido,
Teu pranto
Oxidado...

Recolhes 
As setas
Que havias
Lançado...

Minguado,
Minguante
Minguado,
Minguado!







quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Um Aviador Irlandês - poema de William Butler Yeats (traduzido)






An Irish Airman Foresees His Death
(Um aviador Irlandês Prevê Sua Morte)





I know that I shall meet my fate
(Sei que devo encontrar meu destino)

Somewhere among the clouds above;
(Em algum lugar, nas nuvens la´em cima)

Those that I fight I do not hate,
(Aqueles contra com quem luto, eu não odeio)

Those that I guard I do not love;
(Aqueles a quem eu protejo, eu não amo)

My country is Kiltartan Cross,
(Meu país é uma cruz  de Kiltarton)*

My countrymen Kiltartan's poor,
(Meus conterrâneos, os pobres de Kiltarton)

No likely end could bring them loss
(Nenhum fim provável poderia trazer-lhes perda)

Or leave them happier than before.
(Ou deixá-los mais felizes do que antes)

Nor law, nor duty bade me fight,
(Nenhuma lei, nenhum dever  mandou-me lutar)

Nor public men, nor cheering crowds,
(Nenhuma pessoa pública, nem os aplausos da multidão)

A lonely impulse of delight
(Um solitário impulso de satisfação)

Drove to this tumult in the clouds;
(levou-me a este tumulto nas nuvens)

I balanced all, brought all to mind,
(Eu ponderei sobre tudo, trouxe tudo à mente)

The years to come seemed waste of breath,
(Os anos vindouros pareciam um desperdício de fôlego)

A waste of breath the years behind
(Um desperdício de fôlego, os anos passados)

In balance with this life, this death.
(Em equilíbrio com esta vida, esta morte)


*Kiltartan é um baronato em County Galway, Irlanda




William Butler Yeats








A BAD DREAM - KEANE

(Um sonho ruim)


Why do I have to fly
(Por que eu tenho que voar)
over every town up and down the line?
(sobre cada cidade, acima e abaixo da linha do horizonte?)
I'll die in the clouds above
(Morrerei nas nuvens lá em cima)
and you that I defend, I do not love.
(E você, a quem defendo, eu não amo)

I wake up, it's a bad dream,
(Eu acordo, é um sonho ruim)
No one on my side,
(ninguém ao meu lado)
I was fighting
(eu estava lutando)
But I just feel too tired
(mas eu simplesmente me sinto cansado demais)
to be fighting,
(para estar lutando)
guess I'm not the fighting kind.
(acho que não sou do tipo que luta)

Where will I meet my fate?
(Onde encontrarei meu destino?)
Baby I'm a man, I was born to hate.
(Meu bem eu sou um homem, nasci para odiar)
And when will I meet my end?
(Quando encontrarei meu fim?)
In a better time you could be my friend.
(Em tempos melhores, você poderia ser meu amigo)

[chorus]
I wake up, it's a bad dream,
(Acordo, é um pesadelo)
No one on my side,
(ninguém ao meu lado)
I was fighting
(eu estava lutando)
But I just feel too tired
(Mas eu simplesmente me sinto cansado demais)
to be fighting,
(para estar lutando)
guess I'm not the fighting kind.
(acho que não sou do tipo que luta)
Wouldn't mind it
(não me importaria)
if you were by my side
(Se você estivesse do meu lado)
But you're long gone,
(mas você se foi há muito tempo)
yeah you're long gone now.
(sim, você se foi há muito tempo agora)

Where do we go?
(Aonde vamos?)
I don't even know,
(Eu nem sequer conheço)
My strange old face,
(Minha estranha velha face)
And I'm thinking about those days,
(E estou pensando sobre aqueles dias)
And I'm thinking about those days.

I wake up, it's a bad dream,
No one on my side,
I was fighting
But I just feel too tired
to be fighting,
guess I'm not the fighting kind.
Wouldn't mind it
if you were by my side
But you're long gone,
yeah you're long gone now.




Ladram Os Cães... - um poema meu






"Ladram os cães, e a carruagem passa..."
E assim segue a vida, e suas desgraças
Indiferentemente ao sol que brilha
Por sobre a trilha em que ela segue só...

Passa a carruagem, ficam as marcas,
Ecos de latidos desmancham-se em pó
E palavras ditas caem pela estrada
E em pouco tempo, tornam-se nada...

Desmancha-se a flor antes do nascer
Num desabrochar contrário à vida
Esmagadas ao peso das tais rodas...

Passa a carruagem, como passamos,
Rompem-se as cordas que seguram os anos
Transforma-se o verbo  no sal das feridas...


"Não existe vitória em uma guerra injusta. E toda guerra é injusta."






Visita à Janela





Visita à Janela


As leves cortinas de voil
Balançavam ao vento,
Hipnoticamente.

Trouxeram à tona, lembranças
Nas barras das saias,
E um passado velado.

A paisagem da janela
Modificou-se,
Ganhando um tom sépia
Enquanto lá fora,
Crianças brincavam.

Eu era uma delas.

Jogamos bola,
Fizemos roda,
Brincamos de cantar...

A tarde morreu,
A noite avançou...

Balançou a cortina,
Quebrando o encanto.

Sobre Quem Não Nos Aprecia







A vida real é bem menos complicada do que a vida que inventamos através da nossa imaginação e supervalorização daquilo que aqueles que não nos apreciam cismam em afirmar a nosso respeito.




 

ORIGEM



Pousei minha mão sobre a tua,
Teus olhos, para sempre fechados...
Minha origem, meu caminho,
Que um dia fora traçado...

E o que não foi dito, ficou
Para sempre, em teus lábios cerrados!

Minhas pontas ficam soltas
Pois o cordão foi cortado...

Há uma certa liberdade
No adeus que está marcado,
Mas virou pesar o peso
Que eu havia carregado!

Todo o medo, toda a dor
De repente, libertados!
Percebemos que houve amor
E tudo será perdoado...



Dignidade




A morte nos dignifica,
De alguma forma.
Tornamo-nos ausentes
E as pessoas tendem a lembrar-se
E sentir saudades.

Às vezes,
Elas passam a finalmente
Compreender-nos,
Pois nos escutam
Pela primeira vez
Através do nosso silêncio.

E até mesmo aquilo
Que mais odiavam em nós,
Torna-se apenas
Um traço de personalidade.

Existe, sim,
Na morte, a dignidade
Que às vezes, nos eterniza
E que noutras, nos confere
Um honroso esquecimento...

De repente, somos heróis,
Sábios, anjos, quase deuses!...

Escrevem nas nossas lápides
O que nunca nos disseram:
"Aqui jaz... saudoso... amado..."
E quase , mas quase tudo,
De repente, é perdoado!

Passamos a existir
Somente em fotografias
E velhos filmes de família,
Onde o melhor é mostrado.

Quem sabe,
Nos escrevam um poema?
-Quem sabe...

Mas há na morte
Uma incrível dignidade!






terça-feira, 3 de setembro de 2013

Maturidade - O que ela Ensina?





Estive pensando, e contando os anos... na noite passada, antes de dormir, abri a gavetinha da mesa de cabeceira e deparei com uma velha fotografia de quando eu tinha dezoito anos e trabalhava em uma loja. Lá, eu apareço com a cabeça apoiada na mão, sorrindo, o cabelo cortado no estilo 'Blitz' (grupo famoso nos anos oitenta) e a juventude saltando pelos poros. Naquela época, eu não tinha ideia do quanto minha vida se transformaria. Nem sequer desconfiava que muitos dos sonhos que eu considerava impossíveis, tornar-se-iam realidade, e que alguns deles, ao invés de sonhos felizes, mostrar-se-iam um tremendo pesadelo.

Antes de dormir, recordei vários fatos de minha vida; alguns que na época considerei importantes, mas que depois, revelaram-se os de menor impacto em minha vida, e outros, que negligenciei, mas aos quais deveria ter prestado mais atenção. Mas recordei-os sem arrependimentos, sabendo que tudo faz parte do aprendizado: o que acertamos e o que erramos, principalmente.

Eu costumava preocupar-me demasiadamente com o que os outros estavam pensando de mim, e ser aceita era a coisa mais importante do mundo, e para isso, eu estava disposta a esquecer minhas próprias convicções. Meu objetivo era encontrar um lugar entre os humanos, nem que para isso eu tivesse que matar o que havia de mais humano em mim, e aceitar humilhações como se fossem elogios: "Veja, estão me notando!" Tomava como exemplo de sabedoria pessoas egoístas, que só pensavam em si mesmas e no quanto poderiam tirar vantagem dos outros. Embora eu jamais tenha me tornado como elas - acho que, instintivamente, eu sabia que aquilo não era o certo - eu me cercava destas pessoas e as chamava de amigos.

Passei grande parte de minha adolescência e juventude pensando que eu não era interessante, inteligente ou bonita; nem sequer me importava em expressar o que eu pensava, simplesmente porque eu tinha certeza absoluta que ninguém estaria interessado em ouvir (e não é que eu estava certa?).

Mas o tempo passou, e  eu amadureci.

E o que significa, para mim, amadurecer? Bem, pode significar muitas coisas... mas a mais importante de todas, é descobrir que quem define o meu lugar na vida, sou eu, e não os outros. Não fico mais horas me torturando quando alguém chega para mim, e sem conhecimento de causa afirma: "Você é isto, e isto e mais aquilo." Porque hoje, mesmo nos momentos em que eu não tenho muita certeza  sobre quem eu sou, tenho certeza sobre o que eu NÃO sou! E que as pessoas sempre terão opiniões sobre todos e sobre tudo, mas que opiniões são apenas opiniões...

Hoje, não sinto mais a menor necessidade de 'ser aceita' ou estar em algum grupo, 'rodeada de amigos.' As horas mais felizes do dia, são aquelas em que passo sozinha - rezando, lendo, escrevendo, cuidando de minha casa, curtindo meu jardim e  a natureza, brincando com meu cão, passeando na rua, assistindo a um bom filme, fazendo minhas contribuições (mesmo que pequenas) para o mundo e para as causas nas quais acredito.

Sentir-me excluída de algum grupo significa apenas uma coisa: não era para eu estar ali. Aquelas pessoas não são importantes para mim, e não sou importante para elas. Só isso. Que sejam felizes à sua maneira, pois eu não preciso delas, e nem elas de mim. E não há melancolia alguma nesta descoberta; apenas alívio! Alívio de saber que às vezes, o que a vida escolhe para mim pode ser a melhor coisa. Alívio de poder confiar, quando os caminhos se fecham em alguma direção... e ao invés de insistir, como eu desesperadamente fazia, respirar fundo e seguir por outro lado, e ver outras portas se abrindo para mim; portas bem melhores.

Maturidade é saber que eu sou quem eu sou, e gosto de mim assim. Se alguém mais gostar, muito bem. Senão, que se dane.

Maturidade é sentir-me confortável dentro da pessoa que eu olho no espelho todos os dias, saber de onde ela veio e não sentir nenhuma vergonha ou sentimento de inadequação por isso, e saber que sou honesta, nada tenho a esconder, nunca desejei o mal de ninguém, não uso de artifícios para 'ser aceita' seja em que grupo for. É encontrar novos caminhos, dar a volta quando uma porta se fecha, sem lamentações, e descobrir que foi melhor assim. Por que tortura-me? Por que insistir em relacionamentos que tornaram-se desnecessários, ou que fazem com que eu me sinta desconfortável? Por que desejar estar entre pessoas que sinceramente não me apreciam, e nem se importam com o fato de eu estar feliz ou não?

Para alguns, o que mais importa é tomar, tomar, tomar... sem jamais parar para pensar ou agradecer pelo que a vida e as outras pessoas lhes proporcionaram, e a partir do momento em que escutam um 'Hoje eu não posso" ou "Sinto muito, mas não...", passam, imediatamente, a nos odiar e falar mal de nós. Por que insistir em relacionar-me com pessoas assim?

Acho que, entre outras coisas, o que a maturidade traz, é leveza. É uma vontade de respirar fundo e sentir o ar limpo e leve. É uma mania de olhar para o passado e ver o quanto ele foi importante, mas que ele não me define completamente; o que me define, hoje, são as escolhas que eu faço, as decisões que eu tomo, as coisas e pessoas que eu amo e me amam de verdade. É olhar para frente com confiança e não sentir nenhuma ansiedade em relação à vida ou à morte, sabendo que no fim, tudo se acerta.

E como deixe em comentário a um texto de Marilene: A vida real é bem menos complicada do que a vida que inventamos através da nossa imaginação e supervalorização daquilo que aqueles que não nos apreciam cismam em afirmar a nosso respeito.



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