A partida de nossa colega Maria Cecília - A Flor Enigmática - deixou-me esta reflexão
Hoje estamos aqui. Mas quantos de nós sabemos o quanto caminhamos na beirada da vida? Hoje, somos criaturas enigmáticas que se pensam rasas, mas afogamo-nos em profundidades assim que alguma coisa nos tira do frágil equilíbrio em que nos encontramos.
Hoje estamos aqui. Escrevemos nossos poemas, espalhamos pelo mundo palavras e cenas de vida. Achamos que seremos eternos através de nossas palavras, e acreditamos, realmente, que elas nos farão mais fortes e presentes nas almas das pessoas; mas de repente, vem a ventania, e nos arranca de nossos galhos, jogando-nos, flores frágeis, nas correntezas tumultuadas e enigmáticas de um incerto adormecer. E ficam aqui as nossas obras - poemas, crônicas, pensamentos e palavras - até que alguém decida o que fazer com eles; apagá-los? Fazer um backup e colocá-los em algum CD que um dia alguém encontrará, ou que será perdido? Colocá-los em um livro?
Esquecê-los?
Hoje, estamos aqui; eivados de tolo orgulho pelas nossas aparentes 'conquistas' que, acreditamos, nos farão transcendentes. Mas quando formos embora, elas ficarão aqui; não as levaremos conosco! Ficarão à mercê de quem se disponha a decidir o que fazer com elas. Ou talvez, quem sabe, sejam copiadas por outras pessoas que tomarão para elas a autoria do que escrevemos. E de nada adiantará revoltarmo-nos, pois nada poderá ser feito.
Hoje estamos aqui. Amanhã?... Melhor não pensar! Talvez a graça da vida esteja no dom de não pensar demasiadamente. Melhor que continuemos a ser canais para nossos poemas, e que tenhamos sempre a generosidade e a humildade para espalhá-los por aí, para quem desejar ler, sem a pretensão de que os possuímos. Porque, na verdade, hoje eles estão aqui; amanhã...