A gente tenta
Conter a emenda
Que aos poucos, abre,
E se arrebenta...
Manter a linha,
Não ter partidos,
Não se lembrar,
Não ter contendas...
A gente tenta
Acreditar
Que o amor existe,
Nalgum lugar
Que deveria,
Mas lá não está...
Quem te amaria,
É quem te esquece,
Te ignora,
De ti, nem sabe...
E algumas horas,
Inventa histórias,
Conta bobagens,
Desata os laços
Sem cerimônias
Pois nada és
Que lhe importasse!
Só há mentiras,
Nunca houve nada
Que os unisse,
Somente mágoas,
Dores, ciúmes,
Invejas torpes,
E um desejo
De dominar,
De competir,
De superar,
E rebaixar!
A gente pensa,
E então, repensa
Que nada vale,
Que a distância
É a solução
Porque nem todos
Terão a sorte
De serem amados,
Serem queridos,
E respeitados
Dentro do seio
De onde brotaram.
E todo o amor
Oferecido
Morreu à míngua
Do ressentido,
Foi desprezado,
Ignorado,
Jogado fora,
E criticado...
A gente pensa
Que alguém, um dia,
Rirá contigo
Quando chegar
A tua vez
De se mostrar,
Vencer, brilhar...
E então, percebe
Que está sozinho,
Ninguém ficou,
Ninguém ligou,
Ou se importou...
Não houve abraços,
Ou parabéns,
Não houve passos,
Não há ninguém
Que te deseje
Um belo dia,
Ou que se agrade
Da alegria
A partilhar...
Não há lugar
Na vida deles
Pra tua vida,
Não há guarida,
Pois desde sempre
Tu foste a estranha,
A diferente,
Que não se encaixa,
Mas tu não vias
(Ou não querias),
O que estava
Te esperando
No fim do dia!
Nunca houve nada,
Tu foste apenas
Aquela que
Não se encaixava,
A diferente,
A que dizia
Coisas estranhas,
A que sentia
De forma estranha,
A que enxergava
O que ninguém
Queria ver...
A vida segue,
Não há espaços
Para lamentos,
Para teatros,
A gente tenta
Acreditar
Que há um motivo
Para isso tudo,
E até pensa
Justificar
Assumir erros
Que, desde sempre,
Não nos pertencem...
E sente culpa
Sem ter motivos,
E sente pena
De quem te odeia,
E fica achando
Que afinal,
Nós é que erramos,
Desenvolvemos
A tal da Síndrome
De Estocolmo
Pelo algoz...
Pobres de nós!
Não tem mais jeito,
Não há mais chance
Para o desfeito,
Não há mais volta
Para o que foi
Sem nunca ter
Sido, de fato,
E mesmo que
Um novo dia
Surja, do nada,
Por sobre tudo,
Haverá sempre
A noite escura
Por trás do sol,
A negra mancha
Que não sai mais,
Não tem mais jeito,
Não tem perdão!
Porque a gente
É diferente,
É esquisita,
É muito estranha,
E não se encaixa,
E não agrada
A gente é nada
Pra quem não ama
O que nós somos.