No solo imperfeito da minha vida,
Um dia me disseram que só se conhece verdadeiramente o que é amor depois que se tem filhos. Não vou comentar o absurdo desta afirmação, pois não é esse meu objetivo. Também já me disseram que pais verdadeiramente amorosos farão qualquer coisa por seus filhos, o que para mim soa como uma afirmação igualmente absurda.
Porém, eu acredito que o amor que um pai ou mãe têm por seus filhos é um sentimento muito forte, e através desse sentimento, um pai ou uma mãe podem pretender justificar comportamentos inadequados de seus filhos, até mesmo condutas criminosas.
Da mesma forma, sempre ficamos sabendo de histórias sobre filhos manipuladores, que se utilizam do amor dos seus pais a fim de conseguirem o que desejam deles. Para mim, isso não é apenas falta de respeito: pode ser um sinal de psicopatia latente.
Assim como muitos relacionamentos de amor ou amizade se tornam tóxicos, relacionamentos entre pais e filhos também podem se tornar tóxicos, por exemplo, quando há abusos de um dos lados, manipulações, maus-tratos... ou condescendência. Se os pais tentam justificar o comportamento criminoso de um filho, ou se negam a assumi-lo, eles estão concordando com ele e contribuindo para que ele continue a ter o mesmo comportamento. Por mais honestos e bem-intencionados que os pais sejam, esse tipo de conduta não é certo.
E é grande o número de pais que acabam prejudicando a si mesmos e aos seus relacionamentos de amizade ou familiares a fim de passar panos quentes em filhos mimados e voluntariosos. Muitas pessoas admiráveis perdem a confiança dos outros devido a esse comportamento condescendente.
Se o seu filho vem à minha casa e, por mau comportamento ou desobediência, quebra um objeto valioso que me pertence; e se eu reclamo com você sobre o acontecido, e ao invés de repreender seu filho oferecendo-se para ressarcir meu prejuízo, você o justifica dizendo, “Isso é coisa de criança”, eu não vou convidá-lo para minha casa novamente. Talvez nossa amizade fique abalada. E com toda certeza, seu filho vai continuar agindo da mesma forma em todas as casas para as quais for convidado. Logo, os convites vão se tornar cada vez mais raros.
Por mais honesto, admirável, corajoso e arrojado que alguém possa ser, todo mundo tem um calcanhar de Aquiles. Para alguns, os filhos são seu ponto fraco. Mas isso não ajuda a ninguém – nem aos filhos, nem aos pais. O amor paterno não deveria jamais servir de justificativa para que se faça vista grossa aos erros dos filhos, mas deveria ser uma afirmação de autoridade e dedicação verdadeira de um pai ao punir seus filhos quando isso se tornar necessário. Porque o que é errado para um, deve ser errado para todos.
Hoje eu acordei com a voz de minha mãe e uma música antiga na cabeça. Durante um sonho, ela estava falando comigo sobre algumas coisas dais quais ela tinha saudades. Lembro-me de estar sentada no chão da sala da casa dela, onde morávamos, conversando sobre várias coisas. De repente, me veio à cabeça uma música antiga, dos anos 70, chamada “The Mexican.” Eu era apenas uma criança quando uma de minhas irmãs comprou aquele disco, que reunia sucessos da Rádio Mundial. Ainda posso ver a espiral verde, símbolo da gravadora Som Livre, rodando na vitrola enquanto o disco tocava.
Bem, ao acordar pensando na música, fui procurá-la no Spotify, sem a menor esperança de encontrá-la; afinal, quem se lembraria de uma música que nem fez tanto sucesso assim? Bem, mas bastou digitar o nome da música e eu acabei achando-a! Foi muito estranha a sensação de ouvi-la novamente após mais de quarenta anos!
De repente, eu olho para o nome da banda que estava interpretando essa nova versão, gravada em 2007, e qual não foi a minha surpresa ao lê-lo: Babe Ruth. Ruth era o nome de minha mãe. Antes de hoje, eu nunca tinha ouvido falar nessa banda.
De manhã, à janela da casa, enquanto eu contava ao meu marido sobre o sonho e a coincidência dos nomes (especulávamos sobre o quanto as coincidências são ou não são nada mais que simples acaso), meus olhos pousaram entre uma pequena abertura entre os muros de duas casas vizinhas, e o que vejo? Uma planta que minha mãe adorava – um arbusto com flores vermelhas chamado Hibisco Colibri. Tínhamos um grande arbusto desta planta no quintal dos fundos da casa. Quando pequena, eu costumava retirar as flores para sugar o líquido doce que elas produziam, e minha mãe vivia ralhando comigo por isso.
Se eu tinha qualquer dúvida sobre ter sido coincidência ouvir a música no sonho e depois descobrir que o nome da banda era o mesmo de minha mãe, a certeza veio quando vi as flores: coincidências não existem, e há coisas na vida que estão bem além da nossa pequena compreensão.
QUEM ESTIVER CURIOSO SOBRE A MÚSICA, EIS O LINK:
Algumas rosas, no quintal dos fundos,
Querem saber o que vai lá no mundo:
Elas rastejam até o alto muro
E sem ligar a todo o meu cuidado,
Vão espiar o vizinho do lado.
No meu quintal, exibem os espinhos,
Mas as corolas coloridas pendem
Sobre o telhado da vizinha casa;
Valeram a pena, tantos cuidados?
Da mesma forma, existe gente assim,
Que nós regamos, que nós ajudamos,
Mas ao florir da sua ingratidão,
Vão se mostrar só no terreno alheio,
Usam o esteio que lhes conferimos
E nos regalam com os seus espinhos.
Eu não sei quanto a você,
Mas eu sinto cheiro de nuvem
Pouco antes de chover.
Um cheiro de água contida,
Dessas, que escorrem da vida
Quando algo vai morrer,
Ou de estrela frustrada
Que não consegue brilhar
E por isso chora, embaçada,
Ou de praia abandonada
Onde não há marinheiros
Peixes, algas ou jangadas.
Eu não sei quanto a você,
Mas eu sinto cheiro de nuvem
Bem antes da tempestade.
Sei que que quando desabarem
As nuvens trarão consigo
Toneladas de saudades.
Este é um post para divulgação do livro de Gabriele Sapio - Wyna, Daqui a Três Estrelas. Trata-se de uma história de ficção científica, cuj...