A WEB é cheia de psicólogos, psiquiatras, cientistas comportamentais, videntes e especialistas em relacionamento humano. Só de ler o que alguém escreve, eles elaboram teorias inteligentíssimas sobre a sua personalidade, estilo de vida, gostos e caráter. São impressionantes, esses especialistas da WEB! Eles adoram escrever discursos sobre quem eles insistem em dizer que não são nada, que tem "inteligência mediana," são iletrados, gramaticalmente ignorantes , espiritualmente atrasados, ególatras e doentes mentais. Basta que alguém conteste as suas teorias incontestáveis, e pronto: lá vem eles! Precisam provar que estão com a razão, e para isso, usam como suporte os seus muitos anos de estudo, as palavras dos filósofos e sábios (que, segundo eles, nossas mentes medianas não são capazes de alcançar) e mandam ver nos xingamentos. A sabedoria é, realmente, muito temperamental!
De repente, aquele que apenas ontem nos seguia e elogiava, muda de ideia e passa a não gostar da gente, tudo por causa de três palavrinhas que, quando ditas online, passam a ser o foco de muitos desentendimentos, rixas e desafetos: "Eu penso diferente."
E quando isso acontece, é porque nós não compreendemos. Somos incapazes de alcançar a mente de algum grande filósofo e sábio da humanidade, morto há centenas de anos - que eles, naturalmente, compreendem como se tivessem vivido na mesma época que eles e os conhecido pessoalmente. Ah, nós somos apenas vermes ignorantes!
Mas tem uma coisinha que eu não entendo: por que a "Sabedoria" perde tanto tempo a comentar sobre o que ela considera o dejeto, o nada, o ignorante? A sabedoria discute com a ignorância para quê? Autoafirmar-se como sabedoria? E a sabedoria necessita de autoafirmação? Eu sempre pensei que a sabedoria fosse tão sábia, mas tão sábia, que não perdesse tempo argumentando com os não-sábios, porque a sábia sabedoria deveria saber que um dia, à sua maneira, todo mundo acabará sabendo alguma coisa. Sempre achei que um dos atributos da sabedoria fosse, exatamente, a generosidade com aqueles que ela considera ignorantes.
Na WEB, quando a sabedoria não consegue convencer seus "adversários" através de seus argumentos baseados em citações de famosos, ataca a sua gramática. Mas saber gramática não significa tanto nessas épocas de corretores de texto automáticos. Acho que o que eu aprendi de gramática até hoje já me serve bem, e como eu não tenho a menor intenção de tornar-me professora de língua portuguesa, assim está bom. Saber ou não saber conjugar um verbo não deixa ninguém em posição superior ou inferior, principalmente quando a primeira pessoa se esconde atrás de uma terceira, conjugando um verbo impreciso e cheio de pronomes velados.
Mas, o que mais me deixa com vontade de rir, é quando a sabedoria aborda a ignorância com o seguinte discurso: "Bem que já tinham me falado sobre você!" E daí eu respondo: "E você não acreditou???"