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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Casa é Para Viver.




Para mim, casa é para viver. Nela, a gente coloca as coisas que gosta, pinta com as cores que prefere e constrói da maneira que acha bonito. Tanto faz a moda, os ditames do que é ou não é considerado de bom gosto -pois o tal bom gosto nada mais é que  um alinhamento frio de regras impostas pelos que se dizem especialistas em decoração.

Gosto da casa que se parece com a gente. Casa para gente morar e pendurar as lembranças que desejar em cada parede. A única coisa que eu não gosto, é sujeira e acúmulo de móveis e objetos, pois isto atravanca os espaços. Faz mal. Mas se for do meu gosto, posso pendurar cortinas laranja na sala de estar ou colocar almofadas com cores que 'não combinam' sobre o sofá. Posso servir café para as visitas em xícaras de diferentes jogos com pires de diferentes formatos.

Casa é para ser divertida. Nada de ficar demasiadamente preocupada com a poeirinha que se acumula mais rapidamente quando o tempo está seco. Depois a gente limpa. Agora, vamos assistir àquele filme sensacional, ou sentar lá fora no jardim.


Cora Coralina - Estas Mãos





ESTAS MÃOS. 


Poema de Cora Coralina, de seu livro "Meu Livro de Cordel"



Olha para estas mãos de mulher roceira, 
esforçadas mãos cavouqueiras. 
Pesadas, de falanges curtas, sem trato e sem carinho. 
Ossudas e grosseiras. 
Mãos que jamais calçaram luvas. 
Nunca para elas o brilho dos anéis. 
Minha pequenina aliança.
 Um dia, o chamado heróico emocionante: 
- Dei Ouro para o Bem de São Paulo. 
Mãos que varreram e cozinharam.
 Lavaram e estenderam roupas nos varais.
 Pouparam e remendaram. 
Mãos domésticas e remendonas.
 Íntimas da economia, do arroz e do feijão da sua casa.
 Do tacho de cobre.
 Da panela de barro.
 Da acha de lenha. 
Da cinza da fornalha.
 Que encestavam o velho barreleiro e faziam sabão.
 Minhas mãos doceiras... jamais ociosas.
 Fecundas. Imensas e ocupadas.
 Mãos laboriosas. 
Abertas sempre para dar, ajudar,unir e abençoar. 
Mãos de semeador... 
Afeitas à sementeira do trabalho
 Minhas mãos raízes procurando a terra.
 Semeando sempre.
 Jamais para elas os júbilos da colheita.
 Mãos tenazes e obtusas,
Feridas na remoção de pedras e tropeços, quebrando as arestas da vida 
Mãos alavancas na escava de construções inconclusas.
Mãos pequenas e curtas de mulher que nunca encontrou nada na vida.
 Caminheira de uma longa estrada.
 Sempre a caminhar. 
Sozinha a procurar o ângulo prometido, a pedra rejeitada. 


Poema enviado por Celso Panza. Obrigada!



Conversa com Cecília






Me disseram, Cecília,
Que a poesia
Não passa de um amontoad
De métricas e rimas,
E que é proibido
Mostrar nela sentimentosf,
Verdades, tristezas
E alegrias.

Me disseram, Cecília,
Que eu me desnudo demais,
me exponho demais,
Me mostro demais,
E que isto,
Não é poesia.

Me disseram, Cecília, 
Que poesia não é desabafo,
Não é cantoria
Do que de bom ou ruim
Nos acontece.

Mas eles a leram, Cecília?
Deitaram a alma sobre os teus versos
(Ao invés de apenas percorrem, com os olhos,
As tuas linhas),
Ouviram teu coração quebrado
Além do alinhado das rimas?
-Não?!

Agora eu entendo melhor
As mil pessoas de Fernando,
E os muitos sapos que coaxaram
No poema de Bandeira,
E o porquê Drummond desejou tanto
Ser gauche na vida!

Eles sentiram na pele
A poesia incompreendida,
A poesia-retrato
De mil faces e mil nomes, Cecília...




Poema de Sete faces - Carlos Drummond de Andrade


Quando nasci, um anjo torto 
desses que vivem na sombra 
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens 
que correm atrás de mulheres. 
A tarde talvez fosse azul, 
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas: 
pernas brancas pretas amarelas. 
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. 
Porém meus olhos 
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode 
é sério, simples e forte. 
Quase não conversa. 
Tem poucos, raros amigos 
o homem atrás dos óculos e do -bigode,

Meu Deus, por que me abandonaste 
se sabias que eu não era Deus 
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo, 
se eu me chamasse Raimundo 
seria uma rima, não seria uma solução. 
Mundo mundo vasto mundo, 
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer 
mas essa lua 
mas esse conhaque 
botam a gente comovido como o diabo. 

Obs: "gauche" é uma palavra francesa que significa desajeitado, acanhado, deslocado ou simplesmente esquerda.





Os Sapos, de Manuel bandeira

Enfunando os papos, 
Saem da penumbra, 
Aos pulos, os sapos. 
A luz os deslumbra. 

Em ronco que aterra, 
Berra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi à guerra!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 

O sapo-tanoeiro, 
Parnasiano aguado, 
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado. 

Vede como primo 
Em comer os hiatos! 
Que arte! E nunca rimo 
Os termos cognatos. 

O meu verso é bom 
Frumento sem joio. 
Faço rimas com 
Consoantes de apoio. 

Vai por cinquenta anos 
Que lhes dei a norma: 
Reduzi sem danos 
A fôrmas a forma. 

Clame a saparia 
Em críticas céticas:
Não há mais poesia, 
Mas há artes poéticas..." 

Urra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 

Brada em um assomo 
O sapo-tanoeiro: 
- A grande arte é como 
Lavor de joalheiro. 

Ou bem de estatuário. 
Tudo quanto é belo, 
Tudo quanto é vário, 
Canta no martelo". 

Outros, sapos-pipas 
(Um mal em si cabe), 
Falam pelas tripas, 
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!". 

Longe dessa grita, 
Lá onde mais densa 
A noite infinita 
Veste a sombra imensa; 

Lá, fugido ao mundo, 
Sem glória, sem fé, 
No perau profundo 
E solitário, é 

Que soluças tu, 
Transido de frio, 
Sapo-cururu 
Da beira do rio...


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Escrito à Tinta



Quando eu estava para completar dez anos de idade, minha mãe me chamou e perguntou-me o que eu preferiria ganhar de aniversário (o dinheiro era pouco): uma bola perereca, daquelas que quicam bem alto quando a gente as joga no chão - eu adorava jogar bola e era doida para ter uma daquelas-, ou canetas esferográficas e um caderno de dez matérias igual ao da minha irmã mais velha que já cursava o ginásio. Eu ia começar a quinta série ginasial no ano seguinte, e não via a hora de poder começar a escrever à tinta e ter todas as matérias da escola em um só caderno, ao invés de ter que carregar todos os dias os vários caderninhos encapados com um feioso plástico amarelo.
Eu queria as duas coisas: a bolinha e o caderno com as canetas. Mas minha mãe me disse que eu teria que escolher, pois eles não poderiam comprar as duas coisas. Escolhi o caderno, embora só fosse começar a usá-lo no ano seguinte – estávamos em setembro. Deixei para trás, embora não sem certa nostalgia, a bolinha que pulava bem alto. Simbolicamente, deixei para trás a minha infância.
No ano seguinte, com muito orgulho, comecei a usar meu caderno de dez matérias – que eu considerava uma grande mudança em minha vida, pois representava minha passagem para o ginásio, o que significava que eu já era “grande” e não teria mais apenas uma “Tia”, mas vários professores: um para cada matéria. Minha mãe já havia me dito que eu teria que tomar muito cuidado para não errar ao escrever, pois era muito difícil apagar a tinta da caneta. Mas é claro que eu cometi erros. Muitos! No início, usava a parte azul daquelas borrachas de duas cores que, supostamente, deveriam apagar palavras escritas à lápis e caneta, mas ficavam as manchas, os espaços puidinhos nas folhas. Depois, passei para os corretores de texto, que deixavam uma mancha branca, e a caneta escorregava em cima deles quando a gente escrevia por cima. Às vezes, a caneta ‘estourava.’ Eram muito comuns, naquela época, canetas que estouravam e manchavam toda a página. Quando aquilo acontecia, eu arrancava a página e recomeçava, mas eu sabia que sempre ficava faltando uma folha quando eu fazia aquilo, e cadernos custavam caro. Assim, eu procurava ser o mais cuidadosa que eu podia. Afinal, eu queria que meu caderno tivesse a melhor aparência possível, pois sempre fui muito caprichosa com as minhas coisas.
Fui crescendo. Mais tarde, fui trabalhar em uma loja de roupas masculinas de luxo que pertencia ao meu cunhado e minha irmã. Um dia, ela me veio com um enorme caderno preto chamado “livro de registros fiscais”, e me disse que eu deveria escrever ali os nomes dos clientes que compravam, os números das notas fiscais e os valores das compras. Detalhes: eu não podia rasurar de jeito nenhum! “Mas... e se eu errar?”, perguntei; minha irmã me olhou e disse: “Você simplesmente não pode errar, ou os fiscais virão em cima da gente.” Bem, eu errei... várias vezes. Só o medo de saber que não podia errar, já fazia com que eu errasse. Lembro-me da letra desenhada com cuidado, meio-tremida de medo. E a cada vez que eu errava, eu passava pedaços de noites em claro, visualizando a capa preta e ameaçadora do temível caderno de registros fiscais, e  pensando nos malvados fiscais... que jamais vieram!
E assim o tempo foi passando, e eu me tornei uma moça perfeccionista, envergonhada, crítica e rígida, que tinha sempre muito medo de errar. Preferia não pronunciar nada a falar uma besteira. Preferia não tentar fazer alguma coisa a cometer um erro. Apesar de ter sido uma moça muito bonita, eu era cheia de complexos e preferia passar despercebida, pois vivia me comparando às outras meninas, e aos meus olhos, elas eram sempre muito melhores, mais ricas e inteligentes e bem mais bonitas do que eu. 
Mas conforme eu amadureci, percebi que tudo isso é uma grande bobagem. Viemos aqui para tentar, errar, fazer de novo, e errar, e tentar de novo, e cair, e levantar quantas vezes forem precisas. E mesmo que existam pessoas que nos apontem e nos critiquem, isto apenas significa que estamos chamando a atenção, e que não passamos em branco. Hoje, eu quero continuar escrevendo no meu caderno à tinta, e enchendo-o de borrões e puidinhos toda vez que eu tiver que corrigir algum erro. Quero que as folhas fiquem amassadinhas de tanto eu lê-las e relê-las. Quero poder partilhar as coisas que eu escrevo neste caderno, trocar experiências, colocar fotografias e figuras de coisas que vi, lugares que visitei, pessoas que conheci, saudades que eu guardo. E no final, quando eu estiver na última folha, quero poder assinar meu nome sem medos e sem vergonha alguma, sabendo que as marquinhas daquilo que apaguei, as páginas que arranquei e ficaram amassadas pelo caminho, os borrões de tinta, tudo, tudo, fez parte do meu caminho, da minha história e do meu aprendizado.




quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

POSSO PROVAR






Se eu quiser, posso provar
Que estrelas são vermelhas,
Que é frio no verão,
Que é quente no inverno.

Se eu quiser, posso provar
Que há dores nos sorrisos,
Que há anjos no inferno,
Demônios no paraíso.

Posso provar que na vida
Nem tudo é o que parece,
E o que aparece, não é
Nem a ponta do iceberg...

Se eu quiser, posso provar
Para que todos enxerguem,
Que os joelhos esfolados
Não estão assim por rezar...

Mas deixo à cargo do tempo
As palavras e as provas
E que tudo se revele
Quando chegar o momento.






CANTINHOS











A CRÔNICA



Estive pensando sobre as crônicas. Geralmente, o que eu escrevo é como se fosse uma fotografia do meu pensamento, e não me atenho a estilos, pois prefiro deixar as palavras surgirem e se acomodarem dentro do texto como elas quiserem. Porém, como tenho recebido algumas críticas ultimamente, alegando que não tenho talento como cronista ( e como poeta, contista ou seja lá qual for o estilo literário), decidi pesquisar mais sobre o assunto. Afinal, é através das críticas que mais aprendemos. Comecei com uma pesquisa rápida em um de meus sites preferidos, a Wikipedia, que diz (as partes em destaque sublinhadas no texto, foram escolhidas por mim):

A crônica é, primordialmente, um texto escrito para ser publicado no jornal. Assim o fato de ser publicada no jornal já lhe determina vida curta, pois à crônica de hoje seguem-se muitas outras nas próximas edições.
Há semelhanças entre a crônica e o texto exclusivamente informativo. Assim como o repórter, o cronista se inspira nos acontecimentos diários, que constituem a base da crônica. Entretanto, há elementos que distinguem um texto do outro. Após cercar-se desses acontecimentos diários, o cronista dá-lhes um toque próprio, incluindo em seu texto elementos como: ficção, fantasia e criticismo, elementos que o texto essencialmente informativo não contém.
Com base nisso, pode-se dizer que a crônica situa-se entre o jornalismo e a literatura, e o cronista pode ser considerado o poeta dos acontecimentos do dia-a-dia. A crônica, na maioria dos casos, é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou seja, o próprio escritor está "dialogando" com o leitor. Isso faz com que a crônica apresente uma visão totalmente pessoal de um determinado assunto: a visão do cronista. Ao desenvolver seu estilo e ao selecionar as palavras que utiliza em seu texto, o cronista está transmitindo ao leitor a sua visão de mundo. Ele está, na verdade, expondo a sua forma pessoal de compreender os acontecimentos que o cercam.
Geralmente, as crônicas apresentam linguagem simples, espontânea, situada entre a linguagem oral e a literária. Isso contribui também para que o leitor se identifique com o cronista, que acaba se tornando o porta-voz daquele que lê.
Em resumo, podemos determinar cinco pontos:
-Narração histórica pela ordem do tempo em que se deram os fatos.
-Seção ou artigo especial sobre literatura, assuntos científicos, esporte etc., em jornal ou outro periódico.
-Pequeno conto baseado em algo do cotidiano.
-Normalmente possui uma crítica indireta.
Muitas vezes a crônica vem escrita em tom humorístico. Exemplos de autores deste tipo de crônica no Brasil são Fernando Sabino, Leon Eliachar, Luis Fernando Verissimo, Millôr Fernandes.

No site Brasil Escola encontrei o seguinte:

A crônica é uma forma textual no estilo de narração que tem por base fatos que acontecem em nosso cotidiano. Por este motivo, é uma leitura agradável, pois o leitor interage com os acontecimentos e por muitas vezes se identifica com as ações tomadas pelas personagens.

Você já deve ter lido algumas crônicas, pois estão presentes em jornais, revistas e livros. Além do mais, é uma leitura que nos envolve, uma vez que utiliza a primeira pessoa e aproxima o autor de quem lê. Como se estivessem em uma conversa informal, o cronista tende a dialogar sobre fatos até mesmo íntimos com o leitor.

O texto é curto e de linguagem simples, o que o torna ainda mais próximo de todo tipo de leitor e de praticamente todas as faixas etárias. A sátira, a ironia, o uso da linguagem coloquial demonstrada na fala das personagens, a exposição dos sentimentos e a reflexão sobre o que se passa estão presentes nas crônicas.

Como exposto acima, há vários motivos que levam os leitores a gostar das crônicas, mas e se você fosse escrever uma, o que seria necessário? Vejamos de forma esquematizada as características da crônica:

• Narração curta;
• Descreve fatos da vida cotidiana;
Pode ter caráter humorístico, crítico, satírico e/ou irônico;
• Possui personagens comuns;
• Segue um tempo cronológico determinado;
• Uso da oralidade na escrita e do coloquialismo na fala das personagens;
• Linguagem simples.

Portanto, se você não gosta ou sente dificuldades de ler, a crônica é uma dica interessante, pois possui todos os requisitos necessários para tornar a leitura um hábito agradável!

Reparem que não coloquei, em momento algum, minha opinião pessoal sobre o que vem a ser uma crônica. Preferi colocar trechos de textos que, melhor do que eu possa fazê-lo, a descrevem.

Mas concluo através do que aprendi lendo estes e outros textos sobre o assunto: escrever uma crônica demanda ter passado por uma determinada experiência. Impossível escrever uma boa crônica sem que haja envolvimento pessoal do autor sobre o que ele observa e descreve, e imprescindível que ele coloque nela seus sentimentos pessoais, despertados pela experiência que ele narra. A crônica, para mim, é um pedaço da vida - muitas vezes, extremamente pessoal. 

Uma boa crônica deve ser interessante, e o bom cronista é capaz de tornar qualquer assunto - até mesmo o mais corriqueiro - interessante. Não sei se sou uma boa cronista, mas tento sempre melhorar. Melhor do que ficar criticando o trabalho alheio através de emails sem jamais ter escrito uma crônica. Muitas vezes, sabemos definir, na teoria, o que é uma crônica, ou um poetrix, ou um soneto. Para isto, basta que estudemos e memorizemos um texto sobre o assunto. Mas escrever é bem diferente do que simplesmente citar teorias.

Acredito que a crônica é para quem não tem medo de se expor. É para quem nada deve e nada teme.



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EU SÓ TENHO UMA FLOR

  Eu Só Tenho Uma Flor   Neste exato momento, Eu só tenho uma flor. Nada existe no mundo que seja meu. Nada é urgente. Não há ra...