witch lady

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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

MOMENTO




Me deixa dormir
No balanço frouxo desta rede,
Me deixa matar a sede
De por um momento, não existir!

Me encerro toda
Completamente
Neste momento.

Não quero nada,
Não tenho medo,
Nem do tempo.





É só o agora
Que me importa,
Abro as janelas,
Arranco as portas
Do meu viver.

Ser, 
Agora,
Calor do sol,
Beijo de brisa,
Canto de pássaro.




Não Gostas de Mim?





Ponha os teus olhos
Em outro lugar,
Vire teu rosto
Quando eu passar.
Esqueça meu nome,
Ignore tua fome
De me decifrar!

O que te vicia,
O que te convida
A vir visitar-me,
Se minhas palavras
Te enchem de asco
Te escandalizam,
E queimam tua carne?

Recolha tua câmera
De fotografar
As almas humanas!
Ela anda sem foco,
Sem perspectiva,
Retorcendo fotos,
Maculando imagens,
Retratando intrigas!

Não gostas de mim?
-É só não me olhar,
Tão fácil, tão certo!
Eu tenho o direito
De despedaçar-me,
De reescrever-me
Nas linhas do verso!

Pareces um cão
Faminto e egoísta
Que não larga o osso,
Mas que rói as patas...
Te alongues de mim!
Por que vens aqui,
Se aquilo que eu digo
Tanto desagrada?

Se eu mato os meus versos,
Se eu sacrifico
Aquilo que chamas
De 'vera poesia,'
Faça o teu trabalho,
Macaco, te ajeites
No mofo seguro
Dos teus próprios galhos!







IRIS




O sol cintila entre os meus cílios,
E eu vejo o mundo
No entreabrir dos olhos.

Mora uma menina
Nas minhas pupilas.
Seu nome, é Iris,
E ela às vezes
Afasta os cílios,
Sai pela fenda
E vem brincar no mundo.

Faz as montanhas
De tobogã,
Pousa nas árvores,
Deita-se nas nuvens,
Pula amarelinha
Nas entrelinhas
De algum poema.

Recolhe as cores
E o cheiro das flores,
Pega, nas mãos em concha,
A chuva que cai
E aspira fundo
A terra molhada.

Cata pedacinhos da vida
Guardando tudo
Nos bolsos do vestido.

E quando ela volta
Fechando os cílios,
Espalha no chão tudo aquilo
E faz para si
Um caleidoscópio.

Vento Maldoso








Soprou um vento maldoso,
Espalhando nuvens negras sobre tudo.
A paisagem ficou cinza,
O azul do céu
Separou-se da terra.

Mas veio um sol, e brilhou,
Brilhou, derretendo as nuvens...
E o vento enfurecido
Em sua vingativa sina
Derrubou casas e árvores.

Deixou um rastro de ódio
Por onde havia passado.

Mas a natureza, a mãe,
Aos poucos, cuidou de tudo,
Plantando árvores novas,
Reconstruindo os regatos,
Trazendo de novo os pássaros.

E as árvores cresceram,
E as flores rebrotaram,
E os frutos renasceram.

Vento maldoso de enxofre,
Jamais vencerás a vida,
Não apagarás as cores,
Não calarás, dos pássaros o canto,
Não tornarás amargo
O mel dos beija-flores! 



quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Arte - Uma Reflexão






Acredito na beleza da vida, e acredito na arte. Mas que o objetivo de um artista seja, não o de destacar a si mesmo através de sua arte, mas de destacar sua arte através de si mesmo, colocando-a sempre à sua frente.

Pois ninguém fica para a posteridade; apenas a arte. Talvez fique um nome sob uma pintura, escultura, texto ou música, mas poucos saberão quem foi aquele artista no futuro, e menos ainda, alguém se preocupará em saber. Percebo muitas vezes que os mais jovens desconhecem quem foram os artistas mais antigos. Muitas pessoas abaixo de trinta anos não tem ideia de quem tenha sido Maquiavel, embora usem a expressão 'maquiavélico' para referir-se a alguém. Durante minhas aulas, às vezes falo de algumas pessoas famosas do passado recente, e meus jovens alunos não sabem quem estas pessoas foram, embora possam reconhecer alguma música, filme, livro ou outro trabalho artístico feito por eles.  E algumas destas pessoas ex-famosas que menciono, ainda estão vivas! 

Todo sabem quem escreveu Romeu e Julieta, mas alguém sabe, realmente, quem foi Shakespeare? Tudo o que sabemos dele está nos livros de história! E os livros de história matam a essência particular dos personagens.

Ninguém mais se lembra de como era Shakespeare, pois aqueles que conviveram com ele - sua família, amigos, conterrâneos - estão todos mortos. Não ficaram as rugas do seu rosto, o cheiro de sua pele, a maneira como ele olhava o céu de manhã, a voz, o riso, o choro. Sua essência morreu junto com ele, e aos poucos, foi apagada pela borracha do tempo. Sua obra ainda permanece, mas seus personagens não são ele.

O mesmo se dá com todos os artistas de todos os tempos. Ainda mais nos dias de hoje, onde a fama é artigo de consumo, onde pessoas aparecem e desaparecem da mídia com a rapidez de um trovão. Hoje, conhecido e celebrado; amanhã, totalmente relegado ao anonimato. Não vejo ninguém nos dias de hoje que eu possa imaginar como sendo reconhecido daqui a cinquenta anos.

Há as obras, e as melhores permanecerão por mais tempo. Mas seu destino é o mesmo: serão esquecidas.

Cedo ou tarde,  tornar-se-hão ruínas pelas quais alguém um dia passará e indagará: "Quem viveu aqui?  Quem cantou esta música? Quem pintou este quadro? Quem ergueu estas pilastras?" E mesmo que as ruínas sejam escavadas, e se encontrem os esqueletos e objetos daqueles que lá viveram, apenas a morte terá sido encontrada. Nunca mais os risos, os passos, as vozes, os olhares, os pensamentos, as palavras, os cheiros, o por do sol nos telhados daquelas casas e ruas que antes fervilhavam de vida.

O destino de tudo é a morte e o esquecimento, e eles se deitam sobre as pessoas e suas criações como a poeira sobre os móveis de um cômodo que não é mais usado.



Se te abaixasses, montanha - Cecília Meireles








Se te Abaixasses, Montanha




Se te abaixasses, montanha, 
poderia ver a mão 
daquele que não me fala 
e a quem meus suspiros vão. 

Se te abaixasses, montanha, 
poderia ver a face 
daquele que se soubesse 
deste amor talvez chorasse. 

Se te abaixasses, montanha, 
poderia descansar. 
Mas não te abaixes, que eu quero 
lembrar, sofrer, esperar. 






Cecília Meireles, in 'Poemas (1947)'

Chá




Chá


Chá de maçã com pouco açúcar,
Torradas com manteiga e mel...
Pela janela, um pedacinho
Uma nesguinha azul de céu.

De gole em gole, sorvo o chá
Que tem um gosto de passado,
No fundo da xícara, memórias
Com o açúcar cristalizado.

Licor de chocolate; um trago,
O friozinho pela fresta...
O crepitar do fogo, as chamas,
Dançando na lareira, em festa.

Passa por mim a vida inteira
Entretecida aos fios de lã
Da manta que me agasalha
Enquanto eu mordo uma maçã.

No corredor, o tique-taque
Quebra o silêncio dessa tarde.
A casa viva me vigia,
E eu adormeço, eu adormeço...

Nem mesmo sei se é de verdade
O chá, o mel, o chocolate...
Na sonolência eu me esqueço...
Até que um cachorrinho late.






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