witch lady

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sábado, 7 de abril de 2012

Minha Mãe, Velhinha!








MINHA MÃE, VELHINHA!


Ninguém fica pra semente,
Mas sempre é surpreendente
A meneira como a velhice
Se esconde, atrás da gente,
E não mais que de repente,
Pula bem na nossa frente!

Minha mãe está velhinha,
E nos olha, entre as ruguinhas,
E algumas dores recentes...

Sob as roupas coloridas,
Pulserinhas e colares,
Cabelo penteadinho
E perfume de alfazema,
A minha mãe entra em cena.

Não quer saber de doutores,
E nem de tomar remédios...
A memória, já falhando,
Lembra sempre as coisas boas,
Mas também se esquece, à toa!

Quanto tempo 'inda lhe resta
Para que ela permaneça
Nesta vida, nesta festa?

A idade não é nada,
Pois existe muita gente
Que à flor da vida, é levada!

E quem sabe, eu possa ir antes,
E ela ainda permaneça
Por aqui, por muito tempo?

A resposta?
Está no vento...



CAMINHADA








Eu caminho pela estrada
Com o sol sobre meus ombros,
O vento entre meus cabelos
Na rua, carros passando.

Pessoas cruzam o caminho
Que faço, sem me notarem...
Cada qual com seus problemas,
Compromissos e dilemas...

Eu caminho distraída,
Mas sempre presto atenção
Na beleza que goteja
Por sobre o meu coração:

Árvores, pássaros, flores,
Casas, vento, uma canção
Que sai por uma janela
entreaberta; um violão!

Eu caminho sempre em frente,
Nunca olho para trás!
Acolhendo cada curva
E a surpresa que ela traz.

O poeta sempre enxerga
Muito além do que se vê,
Desvendando novidades
Dentro da mesma paisagem.



A rosa não mora mais aqui







Imagem deixada em um jardim,
Mancha de cor
Que aos poucos, se vai,
Deixando de si
Um perfume
Que se esvai...

Nem um som,
A não ser o das asas das borboletas,
A não ser
O beijo do vento
Que ela recebe
E deixa ir...

Uma mancha de cor,
Um perfume suave
Que, ao chegar,
Já cheira a adeus...

Não venha amanhã, venha já!
Vem olhar a rosa,
Pois ela já quer se desfolhar!
Vem olhar a rosa,
Esquece a lida,
Esquece a prosa,
Vem colher poesia
De suas pétalas macias!...Porque... depois,

A rosa não mora mais aqui,
Ela se foi para sempre,
Embora nos deixe as sementes...




A Platéia






O ator foi afastado de seu palco, e de seu público. Levado a um pequeno teatro no interior do país, em uma cidadezinha que nem estava no mapa, toda noite ele representava para um pequeno grupo de pessoas. Não havia fotógrafos, não havia notas nos jornais, e nem fãs enfileirados à porta do camarim ao final do espetáculo. Nem mesmo havia flores!

No começo, ele sentiu muitas saudades do seu público, que o aplaudia de pé ao final de cada representação, ovacionando-o durante muito tempo e jogando-lhe flores aos pés. Ele sentiu saudades da profusão de flashes que pipocavam na platéia, dos seguranças que o ajudavam a deixar o teatro e até mesmo das críticas - favoráveis ou não - nas manhãs seguinte às das estréias.

O ator, acostumado que estava à fama, custou a habituar-se àquela pequena platéia que o assistia, em silêncio, todas as noites. Seu ego, deixado na penumbra, revoltou-se. O ator passou a beber mais que de costume, e tornou-se uma pessoa amarga.

Até que um dia, teve, em seu camarim, a visita de uma jovem. Recebeu-a com alegria, achando que, finalmente, voltara a ser devidamente apreciado. Achou que, provávelmente, a moça queria seu autógrafo, ou uma fotografia sua. Talvez até desejasse passar uma noite com ele... e ela não era nada feia! Assim, convidou-a para entrar.

A moça olhou em volta, agradecendo, e sentou-se. 

"Bem," - perguntou o ator - "Como posso ajudá-la? Deseja um autógrafo? Uma foto?"

Ela pareceu surpresa: "Não... por que eu desejaria o nome de alguém escrito em um pedaço de papel? E por que uma foto sua, se mal o conheço?"

O ator pareceu ofendido, e respondeu bruscamente:

"Ora, então, diga logo o que quer e saia, pois sou muito ocupado."

Ela respondeu: "Vim aqui dizer que sua atuação esta noite foi uma das piores que já vi! Você vem a este palco todas as noites, e parece pensar que nós não merecemos o seu melhor. Será porque somos uma platéia pequena?"

"Como assim, como você se atreve a vir aqui ofender-me? Não sabe que sou o maior ator do país? Vocês deveriam tratar-me melhor, deveriam agradecer-me por estar aqui, passando esta temporada!"

"Um ator que faz distinção entre suas platéias não merece reconhecimento. Pensa que não percebemos o pouco caso na sua atuação?"

O ator ficou perplexo. Caiu em si. Era verdade! Ele vinha dando de si bem menos do que geralmente dava ao seu público em grandes cidades, apenas porque aquelas pessoas estavam em menor número e moravam em uma cidade pequena. Ele desculpou-se com a moça, e agradecendo-lhe, prometeu que faria melhor dali em diante.

Na noite seguinte, ele representou com todo o fervor de que foi capaz. Arrancou aplausos da pequena platéia, que ao final do espetáculo, apladiu-o de pé. 

Compreendeu que não importa onde estejamos, devemos fazer o nosso melhor sempre. Não pelos aplausos - que são apenas uma consequência de um trabalho bem feito - mas em respeito ao trabalho em si. Aquilo que fazemos deve ser feito pelo ato, pela realização que nos proporciona, e não por causa das opiniões alheias a respeito do que fazemos. O prazer desfrutado durante a execução de um trabalho é o que mais importa. Pois quem não ama seu trabalho e não o executa com gratidão, alegria e dedicação, esteja aonde estiver, não merece reconhecimento.



sexta-feira, 6 de abril de 2012

haikais








haikais -


Cheiro de musgo
Vem da terra molhada
Doce umidade



Rio que corre
Libélulas imensas
Matando a sede



Um raio de sol
Transpassando as folhagens
Das verdes copas



Cigarras cantam
No escuro da floresta
Tarde que morre




















Hortências azuis
Olhavam-se no espelho
Riam no vidro.


Do azul do céu
Serviam-se as hortências
Sem cerimonias...


Cachos de flores
Quais manchas azuladas
Em tons degradé











GAIA





Sentada na grama, pensei ouvir vozes.
E não era o murmúrio do vento,
Nem o cantar dos passarinhos.
De repente, o mundo fez silêncio,
E percebi que as vozes
Vinham da terra, 
Vinham do solo.

E ela dizia que estava cansada,
E que preparava-se para adormecer
Um longo, longo sono,
Para então voltar a despertar.
Disse também, que enquanto dormisse,
Apagaria a luz do sol e das estrelas,
Silenciando todas as criaturas vivas
Para que seu sono pudesse ser profundo.

Ao ver-me assustada, a terra sorriu,
E lembrou-me que ela voltaria a despertar,
Chamando de volta todos os seus filhos
Que ela tivesse posto a dormir
Cobrindo-os com camadas de terra e ondas do mar,
Um dia...



FOTOS ANTIGAS




Sonhei que examinava velhas fotos de família. Enquanto ia abrindo as páginas do álbum, os acontecimentos ali retratados tomavam vida e ganhavam movimento. Vi fotos de uma festa de São João na casa de minha irmã. Meus sobrinhos ainda eram pequenos, meu cunhado tinha cabelo e a Tia Rosa estava viva. Até meu pai aparecia em uma das fotos...
Vi fotos de uma menina tímida, que acreditava que seus sonhos eram impossíveis. Ela nunca acreditaria, se alguém, naquela época, lesse seu futuro e dissesse como seria sua vida hoje. Não sou mais aquela menina magrela, insegura, complexada. Na foto, ela anda entre as pessoas, tentando não aparecer muito, não querendo incomodar.
Vi pessoas que um dia fizeram parte de nossas vidas, mas que hoje desapareceram completamente em algum lugar no infinito tempo. Eu já não pensava nelas há séculos. Algumas viveram entre nós por um período muito curto, mas deixaram marcas profundas; outras, ficaram mais tempo, deixando marcas profundas ou não. Algumas ainda, ficaram por um período tão breve que nem sequer me lembro de seus nomes. Mas todas estiveram conosco um dia.
Vi minha mãe bem mais jovem. Minhas irmãs. Meu irmão. Vi cães e gatos que tivemos.
Acho que sei o motivo deste sonho:
Sábado. Andávamos pela Rua l6 de Março após o almoço, conversando animadamente e planejando o resto do nosso dia. A rua estava movimentada e alegre. Eu estava contente, pois tinha acabado de comprar um casaco que vinha namorando há duas semanas, e estava de mãos dadas com meu marido, a pessoa que mais amo no mundo. O céu encoberto, uma leve brisa soprando. Quase frio. Para mim, um dia perfeito.
Foi quando o vi.
Após a reforma do Centro Histórico de Petrópolis, colocaram banquinhos de madeira ao longo das calçadas. Ele estava sentado em um deles. Sujo, totalmente envelhecido, o olhar perdido em algum lugar bem longe dali, fixo nos pés das pessoas que passavam na calçada. Estava só. Eu ainda vinha longe, quando o avistei. Achei seu rosto familiar, mas não consegui identificá-lo de imediato. Ainda estávamos longe um do outro, quando ele ergueu a cabeça e nossos olhares se cruzaram. Rapidamente, ele desviou os olhos . MAs eu continuei olhando para ele. Mas ainda não tinha certeza...
Voltei no tempo há uns vinte e cinco anos atrás. Lembrei-me de nossa adolescência, ele em nossa casa ouvindo música, nós dançando no som do Serrano F.C., andando pelas avenidas de Petrópolis e aprontando todas. Lembrei-me de uma linda casa no Quarteirão Brasileiro onde ele morava. Lembrei-me que um dia eu até tivera uma quedinha por ele, e por isso, minha carteira da escola era toda desenhada com carinhas do Cebolinha, personagem de Maurício de Souza, pois esse era o apelido dele. Isso, antes dele começar a namorar minha irmã. Então ele se tornou, durante algum tempo, quase um membro da família. 
Viajamos juntos para Cabo Frio uma vez, junto com toda a minha família; ele e minha irmã já namoravam. Foi uma época muito divertida.
Todas estas lembranças vieram à minha cabeça como um relâmpago. Apertei a mão de meu marido. Seria ele? Eu não estaria confundindo? Aquela pessoa velha, extremamente magra , que vestia roupas sujas e surradas seria mesmo ele, aquele jovem engraçadíssimo, cheio de vida e com todas as oportunidades pela frente?
Nisso, eu já estava passando quase em frente ao banco onde ele estava sentado. Meu marido também o olhou. Ele ergueu os olhos novamente, mas eu ainda não tinha certeza. Até que ele murmurou um "oi" constrangido. Quase forçado. Reparei que lhe restavam poucos dentes. Respondi com um outro "oi" ainda incerto.
Era ele! Compreendi isso quando já estava a alguns passos adiante. falei com meu marido sobre o que tinha acontecido, meu coração pulando em minha garganta. Ele respondeu: "Mas aquele homem é um mendigo! Você tem certeza?"
Sim, eu tinha. Era ele, era o Cebolinha.
Um personagem do meu passado. Senti-me péssima por não ter feito nada, mas o que eu poderia ter feito?
Lembrei-me da última vez que o encontrara, ali na 16 de Março, há mais ou menos quinze anos. Ele estava bem, e carregava um menino no colo. Seu filho. Mandou lembranças para todos lá em casa. Não, não poderia ser a mesma pessoa. Mas era!
Ele não queria que eu o tivesse visto. Notei que se sentia muito constrangido. No que será que ele pensou quando me viu?
Será que eu deveria ter parado, perguntado a ele o que tinha acontecido, se ele precisava de alguma coisa? Ele teria apreciado isso? Não sei... mas tive a impressão que ele não queria que eu falasse com ele, tanto que desviou os olhos quando me viu pela primeira vez. Na verdade, não sei se errei ou acertei. Se minha atitude foi covarde ou sensível.
Acho que por isso, tive esse estranho sonho. Resgatei alguns personagens do meu passado, muitos dos quais já tinha me esquecido. Acho que isso faz parte do amadurecer.
A vida dá voltas. Isso é um cliché, mas é a mais pura verdade. Como seria, se soubéssemos , com certeza, no que nos transformaríamos daqui a alguns anos? Eu sou outra pessoa, ele é outra pessoa, você também é. Mas vê-lo fez com que eu me desse conta disso. Foi como um tratamento de choque, uma coisa que a vida queria que eu percebesse mas não estava conseguindo fazer com que eu enxergasse. E quando não enxergamos o que a vida quer nos mostrar, ela o esfrega em nossa cara.
A vida é um susto. A vida é imprevisível. A vida é uma surpresa, e deve ser vivida como tal. Se não tomarmos cuidado... 







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EU SÓ TENHO UMA FLOR

  Eu Só Tenho Uma Flor   Neste exato momento, Eu só tenho uma flor. Nada existe no mundo que seja meu. Nada é urgente. Não há ra...