witch lady

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quarta-feira, 7 de agosto de 2024

ABRA MÃO

 



Paz é um sentimento que só estará do lado de fora, estando dentro. 

Na noite passada eu não dormi. Nem por um segundo. Fiquei pensando no quanto uma pessoa tinha sido injusta comigo, mesmo eu tendo sido o melhor de mim para ela. Mas quase de manhã, vagando pela internet adormecida, encontrei um curto vídeo que me fez lembrar de algo simples e importante: A gente não tem controle sobre os atos alheios. As pessoas são o que são. Nem todo mundo vai gostar da gente. E nem é preciso que gostem! 

O aprendizado está em largar aquilo que não podemos controlar - e não podemos controlar quase nada nessa vida, e aquilo que a gente pensa que controla, é apenas ilusão. De repente alguma coisa acontece e nos mostra que o controle não está, nem jamais esteve, em nossas mãos. No budismo eles ensinam a contemplar; deixar que os pensamentos cheguem e passem. Deixar que a vida traga e leve. E na madrugada, mudei o texto do meu bios no Instagram para: "Abra mão, mas jamais quebre os próprios dedos." E quantas vezes a gente quebra os dedos tentando segurar, tentando reter!

Enquanto eu limpava a casa, logo após terminar as aulas da parte da manhã, um pensamento me veio: "Que tal pessoa encontre a paz, porque está precisando. Preocupe-se com a sua vida, com a sua paz, seja você uma pessoa grata ao invés de tentar tirar das pessoas aquilo que elas não têm para dar. Você está bem; não permita que um acontecimento aleatório, perpetrado por alguém despreparado, abale tanto as suas estruturas."

E então eu senti uma paz enorme, e gratidão porque tenho uma casa para limpar, pratos para lavar, roupas para passar e guardar. E muito mais rapidamente do que eu pensava, terminei todas as tarefas que eu tinha. 

Todo mundo tem o direito de ir embora, mas não é preciso sair batendo a porta. Mesmo assim, sempre haverá quem a bata, pensando que jamais precisará voltar. 




 




 


 


 


 




quinta-feira, 18 de julho de 2024

PALHA

 





Vasculho o entulho

Desse meu silêncio

Em busca de algo

Que eu tenha a dizer,

Uma inspiração,

Palavra parida

Do ventre da vida.


O vento fustiga,

Espalha os sentidos

Por sobre a calçada mal varrida,

Letras se confundem,

Se espalham, se afastam

Das frases não ditas.


Acho que me perco,

Penso que encontro

Um assento no olho

De um furacão.


Sou palha queimada,

Sou folha voando,

Eu sou o restolho

Após a colheita

Da desilusão.




PACIÊNCIA






Uma brisa, e eu viro a página,

Bato com força as minhas asas,

Ganho outros céus, bem longe de casa,

Sobre as ondas que se movem em um mar sem brios,

E não levo nada.


Um olhar de viés, atravessado,

E minha alma deixa tudo de lado,

A procura de paz, do que foi roubado,

E nem sequer digo nada.


Uma pedra lançada contra a minha porta,

E eu nunca mais a abro,

Deixando no alpendre o que for amargo

Até que vá embora,

Até que eu não me lembre de nada.


Um trovão além do permitido,

Uma voz que se eleve em um grito,

E eu tampo meus ouvidos,

Desço as escadas até os porões da minha alma,

E não escuto mais nada.







LUA MINGUANTE

 




Seja o que for, vai embora

Se a lua se faz minguante.

A alguns, deixa mais fortes

E a outros, claudicantes.


É como a água que busca

No solo, consolação

Após uma tempestade

Se infiltrando pelo chão.


A terra fica mais fértil

E a colheita, mais farta

Mas algumas pobres almas

Se afogam na função.


Seja o que for, sempre volta

Àquele que o criou

Sem precisar de escolta

Na força de quem mandou.








BEM NO MEIO




Havia um anjo

De pés descalços

Que caminhava bem no meio

De um coração quebrado.


Dentro da noite,

Da mais negra noite,

Ele erguia nas mãos

Um pequeno archote.


Mas só ouvia seus passos

Quem calasse a própria dor,

Só encontrava

A luz dos seus braços

Quem não temia o amor.


E bem no meio

Do sol que queimava

Ao meio-dia

Havia o alívio

Da brisa das suas asas.


E todo dia, o anjo passa,

Como todo dia ele passava.

Mas só enxerga

Quem tem a fé de caminhar

De olhos fechados,


Quem acredita que amanhece,

Quem não se esquece

Que um dia, tudo passa,

E que toda escuridão

Se transforma em graça.




quarta-feira, 3 de abril de 2024

EU SÓ TENHO UMA FLOR

 





Eu Só Tenho Uma Flor

 

Neste exato momento,

Eu só tenho uma flor.

Nada existe no mundo que seja meu.

Nada é urgente.

Não há razões para que eu me preocupe.

O vento passa pelos meus ouvidos,

Tão rapidamente, que quando percebo,

Ele já se foi.

 

Mas fica-me esta flor,

A única coisa que eu tenho

E que me pertence, embora não seja minha,

Essa flor entre tantas outras,

A flor para qual eu estou olhando.

 

Se eu desviar meu olhar,

Ela se perde.





 

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

VERDADES




Alguns falam de doçura,

Desconhecem

O regurgitar das abelhas,

O mel que se transforma dentro delas,

Dentro das casas de cera.


Falam do luxo do escargot

Sem que se lembrem

De que, antes de serem servidos,

Não passavam de lesmas.


Sendo assim, não julguemos

Os processos que passamos,

Aceitemos

O vômito divino que somos

E o tempo que vivemos

Nos arrastando

Deixando rastros pegajosos

No rosto das folhas.




 


 




 



EU ANDO PELA SOMBRA

 

 





Eu ando pela sombra, pisando devagar,

Para que os monstros iluminados

Passem por mim sem me enxergar.

 

É o que eu tenho a dizer

A todo aquele que pergunta

Por onde eu ando.

 

.

.

.

 

 

terça-feira, 7 de novembro de 2023

SEM VOCÊ

 


 

Há uma palma que não segura,

Está vazia de tudo,

Cheia de finos fiapos de nada

Que esvoaçam entre os dedos.

 

Há um copo sem lábios,

As margens intactas,

O líquido, segredo intocado,

No fundo daquela taça.

 

Há um caminho sem passos,

Vazio de quem o seguia.

Há uma fileira de pedras

Que leva a uma casa

Sem alegria.

 

Há um não haver constante

Que se estende pela noite

E encontra a luz do dia.

 

Raios de sol o dissolvem,

Mas a paz é temporária,

Simples alegoria.

 

E eu sigo, tropeçando

Entre sonhos imprecisos,

Versos bruxuleantes

E palavras vazias.

 



 

 



quinta-feira, 21 de setembro de 2023

NUNCA MAIS

 

 

 

E veio a inundação,

Invadiu a casa onde eu morava

E me trancava,

Levando consigo tudo o que se escondia

Em meus porões.

O medo venceu a surpresa,

E de repente,

Eu não tinha mais nada

– Sequer a mim mesma.

 

E quando se foram as águas,

Passei vários dias raspando a espessa

Camada de lama.

Dormi ao relento, sob as estrelas,

Pois não me restou sequer uma cama.

 

E foi assim que descobri o sopro da brisa, ao ar livre,

E a chuva fresca lavou toda a noite da minha alma,

Levando-a na correnteza das suas águas.

 

O brilho das estrelas enfeitou minha dor,

E ao sol da manhã, sequei minhas mágoas.

 

Na casa, então vazia de tudo,

Eu entrei descalça,

Deixando as janelas abertas, as portas escancaradas.

Os passarinhos cantaram nas calhas

Enquanto as folhas dançaram

No piso da sala.

 

 

.

 

.

 

.

 

 

Todo final representa um recomeço, por mais que doa, e dói terrivelmente quanto mais tentamos "segurar" o que se foi. Porque,

 

 

Nunca mais não é "Te vejo daqui a alguns dias,"

Nunca mais não é "Vou ali e já volto,"

Nunca mais não é como "Um dia nos reencontramos para um café,"

Nunca mais é bem depois que se acabaram 

A esperança e a fé.

 

Nunca mais não é "Talvez um dia,"

E de nada adianta rezar mil Padre Nossos

Ou Ave-Marias,

Porque nunca mais é acaboufim,

Até que se perceba

Que nunca mais é um rio de amor jorrando

Sem um mar que o receba.

 

Nunca mais é como uma lápide sobre o peito,

Que vai doer por muito, muito tempo,

Até que se aceite, de fato,

Que nunca mais é cadeado,

Nunca mais é para sempre,

É fato consumado.

 

 

 

 



segunda-feira, 11 de setembro de 2023

TE OUÇO

 

 





Porque é a vida,

E porque há vindas

E por que há idas...

 

Ninguém escapará

Desse ir e vir,

Ninguém vai ficar...

 

E hoje, eu te ouço,

Ah, voz que não fala,

No som do silêncio...

 

À porta de casa,

No meio da sala,

No meu desalento...

 

Mas mesmo sabendo

De toda a saudade,

Da dor que hoje sei,

 

Eu tudo faria

Ainda uma vez,

E mais outra vez!

 

Porque nessa vida,

Deixar de amar

Por medo da dor,

 

É só covardia,

É um condenar-se

A um vil desamor...

 

 

Hoje, quando penso na Leona, no Aleph, na Latifah e em todos os animaizinhos que tive e que perdi ao longo da vida, sinto muita gratidão porque os céus me deram a honra de cuidar deles aqui, de amparar suas vidas em minhas mãos, e de ter tido a chance de rir muito com eles, desfrutar muitas tardes sentada com eles na varanda escutando as cigarras e os grilos ao chegar da noite, e de poder chegar em casa e ter suas festinhas e demonstrações de alegria só pela minha simples presença.

 

Agradeço por desfrutar de sua proteção, companhia, amor, cumplicidade, e poder ter aprendido tantas coisas através deles e contribuído para a evolução deles como seres espirituais que são. Gosto de imaginar uma casinha azul lá longe, num lugar onde não sei, onde eles todos estão sendo cuidados e me esperam. E mesmo que essa casinha esteja apenas na minha imaginação, é bom ter em mente essa fantasia que me consola e que me ajuda a caminhar sem a presença deles.

 

Fico tão triste quando vejo animais sendo maltratados, principalmente quando são maltratados  por seus tutores, que os espancam, abandonam ou acorrentam! 

 

Minha irmã já recolheu vários desses animaizinhos quebrados, e consertou-os, restaurando a saúde física e emocional deles, cuidando deles até o final de suas vidas. Eu não tenho essa estrutura emocional que ela tem para consertar almas.

 

E ontem ela trouxe aqui em casa o Pipoca, uma dessas criaturinhas quebradas e restauradas, e ele veio para brincar um pouco com o meu Mootley que ainda está enlutado pela perda da Leona, sua amiga há 9 anos. Os dois pareciam já se conhecer há muito tempo, pois a amizade que demonstraram um pelo outro foi instantânea. 

 

Depois que o Pipoca foi embora com minha irmã e minha sobrinha, o Mootley comeu sua ração pela primera vez em duas semanas. Antes, só comia alguns pedacinhos de frango e biscoitos. A presença deles aqui em casa parece ter limpado um pouco a tristeza do ar. Foi bom ter pessoas em volta da mesa, vozes, cãezinhos brincando de novo no jardim. 

 

E assim a gente vai vivendo, e se despedindo da minha Leona. Porque todo adeus causado pela morte é adeus para sempre. Mesmo assim, gosto de pensar na casinha azul.

 


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