witch lady

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terça-feira, 2 de maio de 2023

AS SOMBRAS DAS BORBOLETAS

 


 

 

Em um dia de sol

Meu cão se divertia,

Brincando de perseguir

As sombras das borboletas sobre o gramado,

Mas ele não as via.

 

 

E eu me lembrei de nós,

Do quanto perseguimos as sombras

Sem nunca olharmos para quem as projeta,

Sem nunca notar as cores,

Os voos, as asas abertas

Das pessoas que vivem e que moram

Dentro das casas,

Para onde retornam, à noite

Onde se escondem

Em seus casulos escuros.

 


quinta-feira, 20 de abril de 2023

EXERCÍCIO & SACRIFÍCIO

 

 

 

 


 

Devido a problemas de saúde (genética estragada e idade avançada) precisei começar um programa de exercícios. Já que detesto o ambiente das academias e devido ao meu trabalho eu não teria tempo de frequentá-las, mesmo se eu quisesse,  decidi começar em casa mesmo. Comprei um simulador de caminhada e desenterrei meus pesinhos de 3 kg, da época em que eu frequentava academia, há alguns milênios.

 

Me exercito quase todos os dias há mais de um mês (pulo um ou outro se estiver muito cansada). De manhã bem cedo, começo com 15 minutos de musculação e cinco a dez minutos de alongamento. De vez em quando faço uma aulinha do YouTube. Nas horas vagas, faço 30 minutos de caminhada no simulador (alternando alguns minutos de ritmo leve e outros de ritmo pesado até o final do exercício).

 

Se eu gosto?

 

Não. Odeio. Preferiria mil vezes assistir Netflix comendo chocolates.

Mas não é uma escolha, é pela minha saúde.

O que notei:

 

- Os níveis de açúcar baixaram bastante, mesmo antes de eu começar o remédio para diabetes; caí de diabética para pré-diabética.

- As dores nos pés que eu tinha ao me levantar pela manhã desapareceram;

- Perdi peso – não sei quanto ainda, mas pelas roupas, deve ter sido algo em torno de 4 quilos.

- Os músculos estão mais tonificados;

- A pele melhorou;

-Tenho dormido melhor;

-Estou mais bem disposta, embora nada tão milagroso assim.

-Estou com um corpo bem mais flexível;

-A postura melhorou;

-Me sinto mais bonita, pois quando experimento as roupas que escolho em uma loja, elas me vestem bem e têm bom caimento. Não preciso mais procurar por algo “adequado” ao meu tipo físico, pois tudo que eu gosto me cai bem.

-Pareço mais alta, pois a postura melhorou (acho que já mencionei isso, né?).

 

Eu recomendo: não faça como eu: antes que a idade chegue e traga com ela altos níveis de glicose no sangue, colesterol nas alturas e dores pelo corpo, exercite-se. Antes que você engorde e comece a procurar pela sua auto estima todos os dias de manhã enquanto se arruma na frente do espelho, exercite-se. Antes que seu médico perca a paciência com você e passe a te ignorar (ele sabe que você não vai tomar jeito mesmo), exercite-se.

 

É fácil? Não. É agradável? Bem, para mim, não é não. Acho que nunca vou apreciar esses momentos. Detesto suar e me cansar.

 

Mas todos os dias eu subo na tal maquininha de caminhar que fica na minha varanda panorâmica e começo minha jornada, enquanto observo as árvores, o céu, os passarinhos... e trinta minutos passam como se fossem... três horas... mas passam.

 

Às vezes ponho um capítulo da minha série favorita e o assisto enquanto me exercito (e nunca desejei tanto que um capítulo acabasse logo).

 

O segredo é procurar uma coisa que a gente não odeie tanto fazer. Me ajeitei bem com a maquininha. Talvez você se sinta bem em uma academia, ou caminhando na rua, ou se exercitando sozinho com as aulinha do YouTube, que são de graça e oferecem programas para vários níveis de sedentarismo (hahaha). O importante é começar e ter compromisso, mas sem deixar de lembrar que ninguém é de ferro, e que pular um treininho na semana não vai matar. Afinal, você não deve nada a ninguém,  a não ser a si mesmo.

 

 

 



quarta-feira, 19 de abril de 2023

A MINHA ALMA

 

Ilustração de O Livro Vermelho, de Jung


 

A minha alma hoje mora

Na beira de uma estrada

Por onde ninguém passa.

Sentada, ela sempre aguarda

(Mas sem expectativas)

Uma manhã sem auroras.


Às vezes, ela descansa

Na copa de uma árvore

Plantada na encruzilhada.

Num galho, minha cauda enrolada

Assim, meio por acaso,

Me balança sobre o nada. 


A minha alma vã medita

Em uma caverna profunda.

Do fundo, eu enxergo a lua

No céu de uma noite infinita,

Mas embora eu às vezes grite,

O eco não responde.


Minha alma não tem nome,

Mas ela sempre usa o meu.

E ela repete uma prece

Pelo que de mim morreu

Numa entrega abençoada,

De uma dolorida fome.





 


 






quarta-feira, 12 de abril de 2023

DALAI na LAMA

 


 



 Para quem ainda não sabe do que se trata esta fotografia, ela é sobre um evento que ocorreu há dois dias com a presença do "líder espiritual" Dalai Lama. Era um evento público, e um menino se aproxima do tal líder e este pede que ele o beije na boca; o menino, constrangido e sob risadas conciliadoras da audiência, o obedece. Então, após encará-lo por alguns segundos, Dalai Lama estende a língua e pede que o menino a sugue. As imagens estão desfocadas, então não sabemos se o menino o obedeceu; dizem que não. Mas fico pensando na exposição desta criança, e no efeito psicológico  que isso terá sobre ele durante todos os anos vindouros da sua vida.


 Porque uma pessoa que ele e sua família respeitam demonstrou que não tem respeito por eles, e revelou tendências pedófilas, além de humilhá-lo em público. Não sei se as risadas da platéia foram conciliatórias, do tipo "Sua Santidade está só brincando, pois sendo Sua Santidade, ele tem dieito a fazer o que quiser", ou se eles riram por constrangimento, por acharem que não havia mais nada que pudesse ser feito, ou talvez tenham rido de nervoso mesmo. Mas o fato é inegável, imperdoável, execrável.


 A lição que isso nos deixa é a de que não devemos - não podemos - confiar em ninguém, e muito menos, endeusar pessoas ou depender de alguém para nos desenvolvermos espiritualmente. Religiões são sobre ganhar dinheiro fácil às custas dos outros, e todos aqueles que pregam perfeição, impondo-a aos outros, têm suas podridões escondidas - e elas podem ser incomensuráveis. 


 Cristo não mandou ninguém fundar igrejas ou templos. Ele apenas pediu que espalhassem a Sua palavra. Buda iluminou-se debaixo de uma árvore, e não dentro de um templo, o que prova que há mais sabedoria em uma árvore e em sua contemplação do que em qualquer ser humano. Tudo o que precisamos saber está na natureza, e nós a trazemos dentro de nós. O local de onde surgem as nossas perguntas também guarda as respostas - pelo menos, aquelas que estamos preparados para ter, ou merecemos saber.


 Seja seu próprio guru.





 

terça-feira, 28 de março de 2023

FOTOS ANTIGAS

 




Caíram da nuvem

Imagens antigas,

Pessoas já mortas

Ou ainda vivas.

Olhando seus rostos

Sorrisos e poses,

Eu logo pensei:

-Ah, se elas soubessem

Naqueles momentos

O que eu hoje sei!


Então me recordo

De todas as vezes 

Que eu as condenei...


Mas vendo as pessoas

Nas fototografias

Estudo os semblantes

E quase vislumbro

A grande verdade

Que eu nunca enxerguei:


Que eram pessoas,

Nem boas, nem más,

Apenas pessoas,

Tentando viver,

Tentando criar

Momentos felizes


Mesmo quando erraram

Tentando acertar,

Quando se calaram

Temendo falar,

Quando gargalharam

Para não chorar,

Quando se fecharam

Por medo de amar.







sexta-feira, 24 de março de 2023

FRASES PRESAS






 Amarga, eu? Não; só não desperdiço  a minha doçura com quem não merece.


 Calada, eu? Não; só não desperdiço a minha fala com quem não me compreende.


Fria, eu? Não; só não desperdiço meu calor humano com quem nada me acrescenta.


Indiferente, eu? Não; só não desperdiço a minha atenção com quem me ignora.


Polêmica, eu? Não; só não guardo mais o lixo que jogam nos meus ouvidos  dentro de mim. 


Ausente, eu? Não; só não vou mais onde sei que sou apenas tolerada, e não realmente bem-vinda.


 Melancólica, eu? Não; sou feliz por dentro, e não fico rindo à toa feito uma hiena.






 




 


 




segunda-feira, 13 de março de 2023

AVE MARCIANA - Edmund Cooper

 


Gostaria de deixar claro de que este texto não se trata de uma resenha, mas de uma reflexão. Contém  spoilers.



Quando eu era criança – oito anos de idade, para ser mais precisa – meu avô por parte de mãe faleceu. Ele tinha 71 anos, e deixou-nos um pequeno legado de livros, mas infelizmente, a maioria deles foi relegada a uma enorme fogueira em um dia fatídico no qual minha mãe precisou sair e minha irmã adolescente decidiu fazer uma faxina na casa. Entre os livros, havia uma coleção completa de Henry Durville, “A Sciência Secreta” (Com ‘sc’ porque era assim que se escrevia ‘ciência’ na época), edição 1929, um livro sobre Rosa Cruz, outros sobre espiritismo e um livro de bolso – um romance  de ficção científica, com o título Ave Marciana, de Edmund Cooper, edição de 1967. Dos livros acima citados, apenas este último e três fascículos da coleção de Henry Durville foram salvos da Inquisição literária promovida por minha irmã, pois minha mãe chegou em casa antes que a toda a sentença fosse executada.

Eu peguei no chão o livro Ave Marciana, e limpando da capa a fuligem, fui para um canto e comecei a lê-lo. Acho que eu tinha 9 anos. Não consegui tirar os olhos do livro. A história era sobre seres humanos que, partindo da Terra em 2025, foram parar em um planeta distante após 26 anos de viagem nos quais permaneceram em suspensão a maior parte do tempo. Sendo assim, não envelheceram. Foram parar em Altair 5, um planeta onde a vida estava saindo do estado primitivo, e as pessoas ainda demonstravam certa selvageria, executando sacrifícios humanos para aplacar Aru-re, o seu deus sedento de sangue. Dos que chegaram ao planeta, apenas um sobreviveu: Paul Marlowe, ou Por-me-lo, como ficou sendo chamado pelos habitantes do planeta. E ele sobreviveu justamente por sua decisão de tentar compreender os hábitos locais, adaptando-se a eles, sem julgá-los ou tentar modificá-los, por saber que a população não estaria preparada para tal.

Ao terminar o livro, com um nó na garganta, pois muita coisa ali fazia um sentido enorme para mim (sentido esse que eu não sabia expicar aos nove anos de idade), apenas alguns meses depois eu o reli. E acho que o reli ainda mais algumas vezes, pois reler um livro onde seus personagens preferidos morrem no final, faz com que eles temporariamente ressuscitem. É como rever velhos amigos.

Quando me casei, minha mãe tinha ido morar com minha irmã, e outra leva de livros foi queimada na transição – entre eles, Ave Marciana e meus velhos amigos que moravam nele. Passei anos da minha vida tentando encontrar outra edição do livro sem obter sucesso, até que recentemente digitei Edmund Cooper no Google e consegui achar sua edição em inglês, intitulada A Far Sunset. Baixei a versão e-book na Amazon.

É incrível o quanto a gente redescobre coisas velhas e descobre coisas novas ao reler um livro após muitos anos, e após muitas mudanças na nossa capacidade cognitiva e na nossa vida pessoal. Ave Marciana estava ali, com todos os seus personagens, e nuances importantes que eu não tinha notado nas primeiras leituras. Os personagens pareciam mais fortes e coesos, e me falavam de forma bem mais eloquente. Foi emocionante o encontro de Paul Marlowe, ou Pol-mer-lo, com a nave mãe do planeta Marte, que telepaticamente contou a ele as origens de todos os povos do Universo, inclusive a humana, e a conexão entre todos eles. Uma nave que mantinha contato com outras naves, escondidas em outros planetas, onde as civilizações que lá chegaram eram mais ou menos evoluídas, ou tinham sido extintas. A nave contou a ele que as questões que as pessoas tinham sobre quem tinha quatro dedos ou cinco dedos nas mãos tiveram origem há centenas de anos, em um tempo onde absolutamente todos tinham cinco dedos nas mãos.

A nave telepática era Aru-re - Deus. Era ela que determinava tudo o que acontecia na superfície de Altair 5. Era com ela que os seres vivos se comunicavam, achando que o faziam com um ser transcendental. Ela era a origem das sementes que se espalharam no Universo para tentar salvar o que restara da civilização marciana após a destruição da vida no planeta Marte.

O final da história, apesar de tê-la lido tantas vezes, foi surpreendente, pois na época em que li pelas primeiras vezes, não entendi a motivação de Paulo Marlowe em permanecer no planeta, mesmo após ter tido a única chance de retornar à Terra, e mesmo sabendo que tendo se tornado rei daquele povo, representante direto do deus Aru-re, seria sacrificado para que outro rei pudesse surgir, e Aru-re, renascer nele, como mandava a tradição. Desta vez, compreendi os motivos de Pol Mer-lo e a morte de Paul Marlowe.

Ainda vou reler “A Far Sunset.”  Este livro me levou de volta a lembranças da minha infância, meu avô, minha família, a casa onde morávamos, cenas de minha vida que eu já tinha perdido. Ele reacendeu em mim a inocência daquela época, e também mostrou que um bom livro será sempre um bom livro, não importa quantas vezes alguém o tenha lido, e sempre mostrará algo novo que o leitor não tinha percebido na leitura anterior.





EDMUND COOPER




quinta-feira, 9 de março de 2023

DOR


 



Dos teus olhos, lágrimas.

Da tua boca, magma.

Algo a se quebrar

No teu diafragma.


 Na palavra, lástima

Devagar, se alastra...

Sobre a pele pálida

Tua dor é vasta.


 Cálido querer

Aos poucos, se arrasta

Ganha a rua, e quer

Se banhar de sol.

 

E no arrebol,

Vida a renascer...

Tecitura fina

(Ainda transparente)

De uma nova rima.






 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

TRANSFORMAÇÃO






 

É que já não me ocupo em construir outras memórias,

E às vezes, eu me esqueço de lembrar do que esqueci.

Me falta paciência  para ler a minha história,

E o tempo já passou muito mais do que eu vivi.

 

Lembranças se misturam com o que eu jamais vi,

Não sei de onde vêm essa memória diluída

Que cisma de pairar – talvez algum livro que eu li?

É pouca coisa vindo, mas é tanta coisa ida!

 

Os anos que passaram ultrapassam os que restam,

E hoje eu só quero... já nem sei dizer o quê!

Talvez fechar os olhos, deixando o barco correr,

Ou balançar na rede, sem pensar no que é viver.

 

Já sei que a experiência nem sempre é sabedoria,

Mas em alguma parte, acho que amadureci:

Pois minha grande meta é viver o dia a dia...

O que antes me matava, hoje apenas me faz rir!

 


sábado, 18 de fevereiro de 2023

VERBO







Teus verbos hoje

Estão todos no passado.

Pegadas se apagam,

Mas existe tua voz

Em cada canto,

E quando eu passo,

As cortinas dançam, 

Me enlaçam

Imitando o teu abraço.


À noite, 

Te ouço na conversa dos grilos,

E te reecontro

No brilho fosco da lua

 Dissolvido na névoa

Que cobre as montanhas,

E ao abrir dos meus olhos

No sonâmbulo silêncio

Da madrugada,

Eu olho o travesseiro, 

E não entendo

Como podes ainda ser tanto,

Já não sendo.






sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

SOL E AREIA



 

 

 

Sol e areia,

Céu como fundo.

 

Nada existe nesse mundo

Que me divida

Ou me distraia de mim mesma.

 

O deserto aqui fora

Reflete

O deserto aqui dentro.

 

Eu me sento, bem no meio

(Me desculpem se não respondo)

À porta, sob o alpendre.

Aprecio, diariamente,

Inúmeros sóis se erguendo

E se pondo.

 

 



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