Aniversário de D. Franci, diretora do Colégio Progresso. A filha e ela. Eu, lendo o discurso. |
segunda-feira, 26 de maio de 2014
Felicidade
Felicidade, na verdade
É palavra monossilábica.
Bastava o "fe",
Ali, na Cidade,
Soubéssemos ser felizes...
Mas necessitamos de mais,
Necessitamos de "dades",
Nos proclamamos sempre
Donos da verdade...
Assim, rimamos sem rir,
"Felicidade" com "maldade",
"Iniquidade" e uma vontade
De possuir o que é livre,
Classificar, etiquetar
E separar
Os complementos
Da mesma paisagem.
Fico com o "Fe" da felicidade,
Que não se explica,
Não tem motivos,
Nem verdades.
sexta-feira, 23 de maio de 2014
O Profeta
Do alto da minha torre
Envolta em neve e luar
Olho um mundo a contorcer-se
Competir e labutar.
O silêncio me acompanha,
Eloquente não-falar...
No bordado da minha fronha,
Nenhum sonho a se sonhar.
Do alto da minha torre
Pego um raio de luar
Desço ao mundo, falo aos homens,
Da importância de amar.
E eles me ouvem um pouco,
Mas logo prendem os dedos
Nas engrenagens do tempo
E consideram-me louco.
Volto ao alto da minha torre
Esquecendo as profecias...
Já não há gente no mundo,
Somente almas vazias
Que já nem tem esperanças,
São inúteis, mortas, frias,
Vem a névoa, encobre a torre
-Quem sabe, eu desça outro dia?...
quinta-feira, 22 de maio de 2014
Bichos em Casa
Na foto: Latifah, em primeiro plano, e nosso saudoso Aleph... imagem de 2008. |
"Não quero mais bichos. Eles dão muito trabalho, e quando se vão, a gente fica sofrendo... este é meu último cachorro/gato/passarinho/peixe..."
Você se identificou com esta declaração? Quantas vezes você já disse sobre bichos: "este é o último?" E logo depois, passou por uns olhos apaixonantes e pidões, cativantes e doces... e pronto: foi o suficiente para começar tudo de novo?
Bichos dão trabalho, ficam doentes e morrem antes da gente. Causam muitos sofrimentos quando vão embora e muitas preocupações quando viajamos ou precisamos nos ausentar de casa por um tempo relativamente longo. Mas por que não conseguimos resistir a eles? Qual a magia de um bichinho de estimação?
Para mim, eles trazem doçura à vida, alegria à casa. Uma casa sem bichos parece que fica faltando alguma coisa... a gente anda por ela e não vê nenhum pelo ou pena, nenhuma cadeira mordida ou almofada no cantinho. Não há buracos no quintal, cocôs no gramado, plantas comidas, sofás arranhados. A gente acorda de noite e não há nenhum rom-rom por perto, nem o som da respiração de um cão. Não se escutam latidos ou portas sendo arranhadas. De manhã, nenhum som de alguém clamando por comida e carinho.
Uma casa sem bichos é quase triste... mas eu já prometi a mim mesma que a Latifa é minha última cadelinha. Eu tinha dito o mesmo quando o Aleph ficou mais velho, até que ela apareceu, presenteada por amigos. Os dois encantaram nossas vidas por sete anos, até que ele se foi, e ela ficou sozinha, e se não fosse por ela, teria sido bem mais difícil suportar a perda dele; agora, idosa, tem nos dado muitas preocupações com exames, crises de falta de ar, clínicas veterinárias e noites sem sono devido aos problemas nos pulmões. Já choramos muitas vezes, perdemos as esperanças, recuperamos as esperanças. E afirmamos, veementemente, que nunca mais teremos bichos em casa; afinal, bichos vivem um bom tempo, e logo seremos cinquentões... teremos tempo, saúde ou paciência, daqui a dez anos? E se precisarmos nos mudar para um apartamento?
Nunca mais teremos bichos em casa. Mas hoje meu marido me falou de uns cães para doação que viu no jornal local. Havia uma cadela Rottweiler, e um lindo cão vira-latas também, e... acho melhor corrigir a minha afirmação: "Nunca mais é tempo demais!"
quarta-feira, 21 de maio de 2014
Rubem Alves, de Novo, e Sempre!
Pensamentos do escritor e educador Rubem Alves - de quem sou fã incondicional, e de "carteirinha" - do livro "Paisagens da Alma"
Numa clínica psicológica estava escrito: "Distúrbios da aprendizagem." Ainda não vi em clínica alguma anunciado "Distúrbios da Ensinagem."
É preciso esquecer os nomes de Deus que as religiões inventaram para encontrá-lo sem nome do assombro da vida."
Não. Não escrevo o que sou. Escrevo o que não sou. Sou pedra. Escrevo pássaros. Sou tristeza. Escrevo alegria. A poesia é sempre o reverso das coisas.
Enganamo-nos quando confundimos as pessoas com seus atos. Ninguém é idêntico àquilo que faz. É só isso que nos permite odiar o pecado e amar o pecador.
Os portugueses se horrorizaram ao saber que os índios matavam as pessoas e as comiam. Os índios se horrorizaram ao saber que os portugueses matavam as pessoas e não as comiam. Tudo depende do ponto de vista.
Há pessoas que se convertem por causa de uma grande experiência espiritual solitária. Outros não se convertem: apenas se mudam da sua solidão para uma comunidade que os acolha. A experiência de pertencer, de não estar sozinho, é tão gratificante que é capaz de digerir qualquer ideia esquisita. Chupado entre amigos, o limão é doce.
Distúrbios de Aprendizagem e Ensinagem
"Numa clínica psicológica estava escrito: "Distúrbios de Aprendizagem." Ainda não vi em clínica alguma anunciado "Distúrbios de Ensinagem." " - Rubem Alves
Esta frase de Rubem Alves levou-me a uma reflexão sobre o número exagerado de crianças e adolescentes que hoje classificam-se como hiperativos, com distúrbios de aprendizagem ou TDA. Lembro-me que nos meus tempos de escola, estas coisas não existiam; o que existia, eram alunos que estudavam e alunos que não estudavam. E no final do ano, quem não estudasse, não passava. Pronto.
Talvez eu esteja sendo simplista demais, mas acredito que há um certo exagero (Ok, não apenas um certo exagero, mas um exagero realmente exagerado) a respeito destas (des)classificações. Hoje em dia, há uma certa complacência quando os pais, psicólogos e educadores citam estes distúrbios como desculpa para a pura malandragem ou para a educação inadequada em casa devido ao despreparo dos pais. Acredita-se que tudo pode ser 'traumático' para a criança, e repreender é o mesmo que tolher a criatividade e a espontaneidade dos pimpolhos... se um dos pais dá uma simples palmada corretiva nos filhos, pode responder processo por maus-tratos e até mesmo perder a guarda da criança ou adolescente.
Aqui mesmo, em minha cidade, uma escola que é considerada a melhor de todas, incentiva a competição entre os alunos, e separa-os em grupos A, B e C (veladamente, vencedores, medianos e perdedores), sendo que alunos de um grupo não se misturam com os outros. Isto para mim não é educação, é tortura. Por outro lado, lembro-me que quando minha sobrinha era pequena, a escola onde ela estudava dava aos alunos total liberdade para desenhar e rabiscar aonde bem quisessem; ela chegava em casa e queria fazer a mesma coisa, e saía desenhando nas paredes da casa... e a "educadora" aconselhava os pais a permitir que a criança "se expressasse livremente!"
Para mim, educar é mostrar limites, ensinar a convivência, a tolerância, a solidariedade (os alunos que sabem mais devem ajudar os que tem dificuldades). Educar é mostrar que existem regras na sala de aula, onde o professor deve ser respeitado como a autoridade maior. Professor não é colega, por mais bacana que ele seja. E mais do que tudo, estes conceitos, em minha opinião, devem ser formados em casa. O aluno deveria chegar à escola sabendo que as pessoas devem ser respeitadas e que o ambiente de uma sala de aula é feito para a integração e aprendizagem, e não para bagunçar.
Quando eu era pequena, meus pais deixaram claros estes conceitos; havia a hora para estudar e fazer os deveres de casa, e não tinha discussão! Ai de mim se um dos professores mandasse bilhetinhos para meus pais reclamando de falta de disciplina... hoje em dia, quando isso acontece, os pais vão até a escola e reclamam do professor, alegando que ele não tem didática para lidar com os alunos. E neste clima de permissividade, justificativas e desculpas embasadas pela psicologia mal-empregada, crescem a maioria das crianças de hoje, sem disciplina e sem direção. Por não concordar com esse tipo de coisa, deixei de lecionar em escolas.
A responsabilidade pela educação dos filhos é dos pais, e não dos professores. Alunos indisciplinados, rebeldes, agressivos e preguiçosos não são responsabilidade da escola, e nem sempre sofrem de distúrbios psicológicos. Muitas vezes, tudo o que eles precisam é de direcionamento, limites, diálogo com os pais, orientação, e se preciso, punição sim, por que não? Algumas horas sem computador e um final de semana sem futebol ou videogame podem ser bastante eficazes.
Mas vivemos em uma sociedade na qual ser professor, ao invés de honra, significa vergonha e desonra, do ponto de vista dos alunos e de alguns pais. As crianças são deixadas à solta, e algumas vezes, são incentivadas ao preconceito, bullying, violência e competição. Há alguns dias todos assistimos pela TV o caso do pai que acompanhou o filho e ambos, em público, surraram quase até a morte um outro rapaz com quem o filho deste brutamontes tivera uma discussão. Isto é educação? Alunos brigam em sala de aula e colocam o vídeo na internet. E nada é feito para punir estes acontecimentos. Alunos batem nos professores, ameaçam-nos de morte e até os matam! E a culpa, é da falta de didática dos professores? Um professor tem que dançar funk em sala de aula para chamar a atenção dos alunos? Imaginem só, tendo uma jornada de até doze horas de trabalho! Quem chegará inteiro ao final do dia?
terça-feira, 20 de maio de 2014
A Vingança das Flores
As flores me olham quando eu passo,
Balançam suas leves cabeças e riem,
Em sinal de desaprovação:
-"Estúpida criatura humana,
Nem és capaz de cumprir uma promessa
Que há tanto tempo, fizeste a ti mesma!"
Então, eu as colho em um buquê bem apertado,
E as amarro, todas juntas em um vaso
Que coloco em algum canto escuro da sala.
Penso em, mais tarde,
Brincar de mal-me-quer.
Em resposta, elas murcham.
domingo, 18 de maio de 2014
Domingo de Manhã
Acordo mais tarde, por volta das oito da manhã. O marido ainda dorme.
Olho lá para fora, abrindo uma greta entre as cortinas, e vejo o gramado cheio de folhas secas esperando para serem varridas. Silêncio, pois quase todo mundo dorme até mais tarde aos domingos.
Desço; na sala, a baguncinha deixada pelo sábado: almofadas espalhadas, coisas em desordem sobre a mesa de centro. Pelos de cachorro no assoalho. Na cozinha, algumas louças que não foram lavadas. Abrir janelas, arrumar tudo?... Espreguiçar-me. Hoje, não vou sair para caminhar... preguiça. Tempo nublado, friozinho leve...
A casa no domingo de manhã é sempre tão serena! Não há a preocupação de correr para arrumar tudo antes dos alunos começarem a chegar. Posso andar pela casa de pijamas e chinelos, espreguiçando-me calmamente, ou sentar-me na varanda com um livro por uma boa meia-hora... quem sabe, uma ou duas? Depois eu arrumo; depois eu faço tudo. Depois...
Há que se aproveitar a vida, e para mim, aproveitar a vida significa desfrutar desses momentos pequenininhos, em silêncio, só os passarinhos e raios ainda úmidos do sol... andar pela minha casa, a casa que eu conheço e aprendi a amar. Olhar nos olhos do meu cão ainda cheios de soninho, acariciar a sua barriga, ver se aquela rosa já abriu.
Depois, fazer café e sentar-me ao computador, ainda com a xícara, para escrever um pouquinho.
Pressa? Pra quê?
sexta-feira, 16 de maio de 2014
O Estigma da Dona-de-casa
A moça, constrangida ao responder à pergunta sobre sua profissão, disse quase entre os dentes, rosto corado: "Não trabalho." Diante do olhar espantado de sua interlocutora, arrematou: "Sou dona-de-casa." A outra ergueu as sobrancelhas, e após um minuto de silêncio constrangedor (durante o qual poderíamos imaginar o que ia nas cabeças de ambas), ela respirou fundo, deu um sorriso amarelo e pediu licença.
A primeira, dona-de-casa, decidiu ficar em casa e dedicar todo o seu tempo para cuidar dos filhos; a outra, preferiu seguir sua carreira, dividindo-se entre casa, marido, filhos e trabalho (não necessariamente nesta ordem).
Cada uma fez a escolha que melhor lhe coube; eu não saberia dizer qual das duas está certa ou errada; mas acho que ambas merecem ser respeitadas.
Por que essa indignação contra a mulher que resolveu não trabalhar fora e ter uma carreira importante? Será que a função das donas-de-casa não é importante? Não entendo o motivo que algumas pessoas encontram de censurar as mulheres que decidiram viver uma vida mais simples, fora do mercado de trabalho estressante e competitivo. Bem, adrenalina não é para qualquer um! E podem acreditar, o trabalho dentro de uma casa pode ser bastante árduo, e igualmente importante.
Acho que as donas-de-casa estão se tornando uma espécie em extinção, por puro preconceito! Quem fica em casa sente-se diminuída diante das que trabalham fora. Ora, é apenas uma escolha diferente, que não significa ser "Amélia!"
Que cada uma de nós tenha o direito de ser feliz como bem escolher; se passamos anos tentando sair daquele estado de submissão aos homens, por que não respeitarmos o direito de cada uma de viver a vida que desejar? Por que as mulheres estão se tornando censuradoras de mulheres?
Portas
"...A força da natureza que impele a vida para frente e fecha as portas atrás dela para que jamais recue." - A Ciência dos Espíritos - Eliphas Levi
A vida passa, e fecha as portas
Atrás da barra das suas saias
Guardando a chave, enquanto passa...
-Não volta jamais, e não se volta.
E o que fica atrás das portas,
Veste-se em véu só de mistério
Leve, bordado de pretéritos
A adornar nossos cabelos
(Embora não possamos vê-los).
E o que segue em frente, nunca
Alcançará o que deixou,
Leva as lembranças nos artelhos
E numa caixa, a esperança.
"...Sendo a fé uma graça que é necessário merecer, Deus nunca a impõe a ninguém, mesmo após a morte." - Eliphas Levi
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