Os silêncios formam rios entre as vidas,
Rios cheios de distâncias e naufrágios
Cujas superfícies
Jamais são agitadas
Por qualquer vento.
E os corações transbordam histórias,
Memórias e adeuses,
Desaguam ressentimentos
Que tornam estes rios cada vez mais densos...
Os silêncios não tem barcos,
E mil coisas naufragadas
Permanecem, para sempre, no fundo negro
E inatingível,
Aumentando as distâncias.
Não chegam mais os cantos dos pássaros,
Os risos das crianças,
As tardes encantadas, onde à volta de uma mesa,
Derramavam-se lembranças...
E as ondinas, caladas,
Choram sobre as pedras
Pela vida tão displicentemente desprezada,
Como se não tivesse sido nada,
Como se fossemos todos estranhos,
Como se não tivessem havido momentos!
Alguns caminhos se fecham
Entre os rios e os silêncios,
E nunca mais, em nenhum tempo,
As distâncias poderão ser alcançadas!...
Mas na outra margem, alguém sentado
Segura ainda um fio de esperança
Por tudo o que foi vivido
E que pode ser lembrado...
E embora o fio seja frágil,
A ele este alguém se agarra,
Pois não lhe resta mais nada.
E passam, uma a uma, as estações,
Do caloroso verão ao frio inverno,
Até que não reste mais nenhum sinal
Do rio, do silêncio, da distância
Dos náufragos e dos sobreviventes
Ou daquele fio de esperança...
Mesmo assim, um sentimento sempre terno
Há de permanecer no âmago
Daquelas águas estagnadas.
Um dia, alguém há de se lembrar
E um suspiro, apenas, será o selo
Sobre cada arrependimento
Por mais que tardio,
Por tudo que ficou naquele rio.
*