Às vezes, quando eu te olho
Me lembro do quanto eras jovem,
Me lembro do quanto eu mudei
E de que jamais crescemos...
Apenas demos as mãos
E saímos a brincar
Lá fora, nesse jardim
Onde o sol se derramou
Com seus raios, em mil feixes
Sobre nossa juventude,
E a tempestade caiu
Sobre nós, com seus trovões,
Derrubando das roseiras
As rosas que tinham brotado,
E o outono deu seus frutos
Que comemos, tão famintos,
Nos caminhos que seguimos
Tentando encontrar respostas,
Vislumbres do infinito...
Às vezes, quando eu te olho,
Me lembro que já choramos
Já sorrimos, já amamos,
Já sofremos, no entanto
Acho que jamais crescemos...
Somos aquelas crianças
Que um dia, se encontraram
Às portas deste jardim
E que bem juntas, sonharam
Com cores de primavera,
Com as chuvas do verão,
Com as rosas que brotaram,
Desfolharam pelo chão.
Às vezes, quando eu te olho,
Meus olhos se enchem d'água
Pela sede que nos mata,
Pelas fontes que secamos.
Uma vez, houve um verão
No qual nós amanhecemos,
E depois, anoitecemos
Desatentos, nos perdemos...
Às vezes, quando eu te olho,
Me dá um nó na garganta
Pois eu nos vejo crianças
De mãos dadas, pelo tempo
Que murchou as esperanças,
Amareleceu lembranças
E nós dois não percebemos.
Às vezes, quando eu te olho,
Sinto um fôlego surgir,
Dá vontade de sair
Descalça pelo jardim
E acolher nossas crianças
Que há tempos, nós perdemos
E dizer que não se assustem,
Afinal, nunca crescemos!...